sexta-feira, abril 19

Zoológicos ilógicos

Foto de Are zoos good or bad for animals?

Estranhos os humanos. Não bastasse a ira com que se digladiam por riquezas materiais e crenças, não bastasse o ódio genético que nutrem por aqueles que discordam de seus deuses, em Jihads pessoais, chegam ao ponto de se tornar homens-bomba, armarem armadilhas para que explosões e estilhaços esquartejem inocentes em mais um inimaginável atentado como o da maratona de Boston.

Estranhos os humanos. Houve um tempo em que faziam muito sucesso os circos de horrores como “The Sideshow”, de P.T. Barnum. Segundo Alan Seaburg, do Universalist Historical Library, Barnum era dono de circo no século 19 e viajou por toda a América levando pessoas estranhas com doenças bizarras. O circo se chamava Ringling Bros and Barnum & Bailey Circus e apresentava ao público, ávido por estranhezas, figuras como Joseph Merrick, o homem-elefante; Myrtle Corbin, a mulher de quatro pernas; Mary Ann Bevan, a mulher mais feia do mundo; Mademoiselle Gabrielle, a mulher pela metade, e tantos outros humanos repletos de sentimentos e muito sofrimento, que, só como atrações grotescas, conseguiam sobreviver e, miseravelmente, obter sustento graças às suas deformidades. Sempre haverá gente a se deleitar com o sofrimento alheio.
Para essas pessoas, suas doenças raras eram seu único ganha-pão. Em século ainda sob o manto da escuridão científica, nada mais restava a elas senão a humilhação pública. Se eram voluntários ou não, impossível saber.

Hoje, a ciência explica a maioria dessas anomalias de ordem genética: doença do homem-árvore, mal de arlequim, doença dos vampiros, a família azul de Troublesome Creek. Uma lista imensa poderia ser aqui apresentada.

Estranhos os humanos. Dos circos de pessoas para os circos com animais e zoológicos foi um pulo. Na verdade antecedem os circos dos horrores. Mas Barnum, esperto que só, logo percebeu que quanto mais horror mais dinheiro. Os bichos deram lugar às deformidades e ao padecer alheio.

Os circos contemporâneos já não se atrevem a utilizar animais. As bem-sucedidas campanhas pelos circos sem bichos deram resultado positivo mundo a fora.

Sobraram os zoológicos. O debate é acirrado e não vai acabar tão cedo. O jornalista Ivan Santos, muito oportunamente, levantou o assunto e sabemos bem que vai render pano para manga. Sou visceralmente contra zoológicos desde criança. O que para a maioria era entretenimento para mim era suplício.

Pedro Ynterian, presidente internacional do “Great Ape Project” defende este ponto de vista com clareza especial: “Exibir publicamente uma galinha não é o mesmo que um primata ou um elefante, animais com inteligência superior. Um chimpanzé tem 99,4% do nosso DNA, se relaciona com as pessoas, odeia algumas e ama outras. É tortura colocá-lo num recinto fechado. Em pouco tempo fica louco.”

Deixo bem claro que, particularmente, acho que nem galinha deveria ser assim exposta. Pego carona e bandeira de Ynterian e do jornalista Gregório José: “Os zoológicos poderiam virar centros de resgate e cuidado, mas sem visitação”.

O buraco é mais embaixo, a briga é outra. A luta é pela preservação de nossos biomas e batalha pelo fim de traficantes de animais.

Rever conceitos é sempre importante para crescer. Ou assim fazemos, ou acabamos afundados no admirável mundo novo de Aldous Huxley, sem ética, sem amor, sem sentido.

Muito estranhos nós, humanos.
Muito estranhos nós, humanos. "Pobre de mim, pobre de nós"  canta  Flávio Venturini em sua "Linda Juventude".










Publicado no Jornal Correio em 19/04/2013

quarta-feira, abril 17

Pelo fim dos zoológicos

Foto da web


Jornalista

Levantamos, na última segunda-feira, o tema da extinção dos zoológicos no Brasil porque o assunto está em discussão no mundo civilizado. No mês passado, milhares de cidadãos independentes desfilaram por ruas de grandes cidades brasileiras e, especialmente, nos Estados Unidos da América do Norte com denúncias contra o cruel confinamento de animais em zoológicos. O slogan da campanha foi Crueldade nunca mais! A essência da ação proclama que “nenhum animal, doméstico ou selvagem pode ser eticamente torturado por decisão humana”.

Aqui perto de nós, no Parque do Sabiá, há um zoológico, onde animais que nasceram livres foram capturados violentamente, confinados e condenados a viver numa prisão suja até a morte. Isto é crueldade inaceitável nos dias atuais. Um leitor deste espaço escreveu-me dizendo ser contra o confinamento em jaulas, mas a favor do “aprisionamento de animais em buracos confortáveis”. Maravilha! No Zoológico do Parque do Sabiá, a crueldade é praticada abertamente contra bichos da selva que lá sofrem confinados para serem exibidos ao público que os trata como objetos de divertimento. Isto é “sadismo humanitário”. Não encontramos outra expressão para classificar tamanha barbaridade.

O prefeito Gilmar Machado, que é um educador respeitado, pode aproveitar a ocasião para dar um bom exemplo ao Brasil se decidir fechar definitivamente o confinamento de animais no Parque do Sabiá. Em vários zoológicos do Brasil, a sádica crueldade praticada contra animais, especialmente primatas, é irracional. Como vivem, se alimentam, adoecem e morrem os bichos no Parque do Sabiá? Poucos sabem e a maioria das pessoas não se interessa pelo destino deles.

Que razão há hoje em manter animais confinados para entretenimento, lazer ou educação ambiental? Hoje há outras formas de divertimento e de conhecimento da vida animal. Zoológico é equipamento de lazer medieval que não tem mais razão de existir numa sociedade civilizada. O médico-veterinário William Stutz, respeitado cientista-pesquisador da fauna, sobre o assunto escreveu: “Quer mostrar, quer ensinar? Que transformem essas penitenciárias da fauna em salas de projeções bem equipadas onde um público bem acomodado poderia conhecer toda a exuberância da vida animal, em filmes sobre vida selvagem livre em seu ambiente natural”. Fica esta sábia sugestão para o prefeito Gilmar Machado refletir.

Jornal Correio em 17/04/2013

sábado, abril 13

Sábado e chuva

Fez se noite às 9:20 da manhã, minha caminhada/corrida diária via ter que esperar. Os bichos estão quietos, espero o canto de Bem-ti-vi e o grito da curicaca anunciando a estiada


terça-feira, abril 9

Outdoors






A aplicação de uma lei um pouco antiga, mas nunca efetivamente usada, derrubou os painéis publicitários do “hipercentro”. Megalomaníacos somos ou importadores de modismos?

O que de tão hiper temos por lá? Miúdo em tamanho se comparado a cidades maiores. De hiper temos, hiperbarulho de dia e à noite, hiper tumulto de carros trafegando em vias estreitas, hiperfalta de educação de motoristas e pedestres que inundam as ruas com papéis e tocos de cigarro. E óbvio, hiper-engarrafamentos. Em certas horas, impossível passar por lá e não ficar agarrado. Temos ainda hiperfalta de estacionamento. Enfim, saímos de lá geralmente com uma hiper dor de cabeça, hipermau-humor ou hipertensos.

Só sendo zen para enfrentar aquele pedaço de Uberlândia que, se revigorado poderia transformar-se em um dos melhores pontos da nossa cidade para lazer e convivência. Basta proibir entrada de carros e instituir calçadões, arborizar à exaustão, que logo teremos cantos de passarinho e barulho de criança brincando. Eu disse “basta isso?”, estou sendo ao extremo simplista. Retiro, pois. Bem sabemos que ninguém em tempo algum se disporá enfrentar a fúria de lojistas, a ganância de bancos e a preguiça nossa de cada dia. Andar dois quarteirões para pagar uma conta? Nem pensar, queremos é parar bem à frente do comércio ou serviço, com ou sem zona azul. Por falar nisso é no que se transformou o “hipercentro”, numa zona; antes de atirar-me pedras pela denominação, sugiro uma visita ao “Aurélio”, 12º significado do vocábulo “zona”.

Todos nós só temos a felicitar o poder público pela aplicação da tal lei contra poluição visual naquela área. Mas não podemos nos furtar a registrar os efeitos colaterais graves de tal medida.

Tal qual bando de periquitos em roça de milho quando espantados, os painéis em revoada migratória alçaram voo de escurecer os céus, e da noite para o dia, foram pousar nos bairros. Saíram de canto para, com sua feiura agressiva, fincar pés em outros. Metastaticamente disseminaram-se como câncer incontrolável, que, após cirurgia retorna atacando outras partes do corpo urbano e com muito mais ferocidade.

Basta uma volta pelas principais vias de acesso aos bairros para notar o ataque de tão horroroso meio de comunicação/publicidade. Não bastasse a fealdade destas armações com suas tortas pernas de pau, o péssimo gosto do anunciado também contribui para piorar tudo.

Já perdemos o horizonte para construções que descaradamente desrespeitam as leis de uso e ocupação do solo, já perdemos o nascer do sol para muros de condomínios horizontais.

Roubam-nos agora a brisa, o correr solto do vento, criando verdadeiros corredores de horror, trens-fantasma de parques de diversão. Sobram sustos e feiura, vão se os horizontes em uma terra plana e bela por natureza. A lei é maravilhosa e deve ser aplicada, mas para todos e em todos os locais. Viver já anda tão complicado que não merecemos tamanha agressão visual, às vezes bem à nossa porta. A criação de áreas específicas para a colocação destes painéis deveria passar por consulta pública também. Podemos democratizar a beleza? A escolha pode ser nossa? Quem acha que sim levante a mão. Faço minhas as palavras de Eduardo Afonso, secretário de Serviços Urbanos: “Queremos (Todos) uma cidade limpa, sem poluição visual e sonora”. Todos.



Publicado no Jornal Correio em 9 de Abril de 2013

segunda-feira, abril 8

30 anos de SMS

Mais fotos em breve. Parabésns a todos nós !!!!!

Clica na foto que amplia !



terça-feira, abril 2

Bicho perigoso



Maria Sibylla Merian

Google homenageia 366º Aniversário da naturalista Maria Sibylla Merian

 


Maria Sibylla Merian, naturalista pioneira

Escrito por Atila Iamarino,  biólogo e doutor em microbiologia

Metamorfose da Thysania agrippina por Merian.

Maria Sibylla Merian (1647-1717) foi uma naturalista alemã bastante dedicada ao estudo de insetos. Filha de pai artista e criada pelo padrasto que era pintor, Maria Sibylla foi estimulada a desenvolver seu talento artístico, que usou para publicar seu primeiro livro, com pinturas de flores em 1675.

Numa época em que os insetos eram considerados animais demoníacos e por isso desprezados, Maria Sibylla se dedicou a estudá-los, atividade predominantemente masculina na época. Seu segundo livro, A maravilhosa transformação e a estranha nutrição vegetal das lagartas, publicado em 1678, traz desenhos completos do ciclo de vida das borboletas e, com isso, apresenta um processo desconhecido pela maioria da população: a metamorfose.

Depois de se separar do marido, outra atitude bastante incomum na época, Maria Sibylla foi morar em Amsterdã, capital da Holanda. Lá, conheceu os animais tropicais vindos do Suriname, que era então colônia açucareira holandesa, tal como o Brasil foi de Portugal. Deslumbrada com os animais e animada por estudá-los na natureza, partiu para outra realização até o momento feita apenas por homens: uma expedição naturalista aos trópicos.

No Suriname, ela estudou e pintou diversos tipos de planta (como a bananeira e o abacaxi) em seus ambientes naturais. Em 1705, de volta à Holanda, publicou seu último livro, Metamorfose dos insetos do Suriname.

Na época em que Maria Sibylla viveu, travava-se uma disputa entre os cientistas sobre a origem dos animais. Alguns pensavam que os insetos se originavam da lama e da sujeira, de acordo com a ideia da geração espontânea da vida. Outros cientistas acreditavam que a vida somente poderia se originar de outra vida. Como os trabalhos de Maria Sibylla mostravam que as borboletas eram geradas por outras borboletas, seus estudos reforçavam a segunda ideia.

Como não redigia seus livros em latim, língua usada pelos cientistas da época para comunicar suas descobertas, seu trabalho completo, com descrição de mais de 186 espécies, e seu pionerismo permaneceram desconhecidos da comunidade científica por muito tempo.

Se seu trabalho tivesse sido divulgado em latim na época em que foi realizado, poderia ter influenciado os rumos da ciência ao fortalecer ideias contrárias à geração espontânea da vida a partir da matéria bruta, ideias que também haviam sido exploradas e questionadas por outros cientistas, como Francesco Redi (1626–1698), por volta de 1668.

Fonte: Science blogs - Rainha Vermelha

Um pouco  do trabalho de Maria Sibylla 

segunda-feira, abril 1

Dedo em martelo





Foto da radiografia  de meu dedo pós cirurgia

Existem coisas que acreditamos só acontecer com os outros. Alguns meses atrás estava eu a limpar azulejos de banheiro em dia de faxina.

Em janeiro completaram-se 6 anos que não temos ajudante em casa. Enquanto nossos filhos eram pequenos era simplesmente impossível ficar sem alguém para nos dar apoio, mas, hoje, crescidos, cada um faz a sua parte e, assim, conseguimos juntos tocar as tarefas domésticas.

Com divisão de afazeres tudo fica fácil. Além do mais, as despesas geradas com ajudante são altas, se você for correto, o que sempre fomos. Carteira assinada, férias, licença-maternidade, tudo à risca como determina não apenas a lei, mas a nossa consciência pouco dada à escravidão alheia. Sai caro.

Eu a limpar azulejo, quando em descuido, dedo escorrega e bate firme no piso. A primeira falange do dedo médio, no popular, a ponta do dedo, simplesmente entortou, formando um ângulo reto quase perfeito. Tentei colocar no lugar sem sucesso. Não havia dor alguma.

Hospital lá fui eu. Atendido por competente ortopedista, com um simples apalpar, depois confirmação radiológica, o diagnóstico: dedo em martelo. Nunca tinha ouvido falar disso. Vivendo, aprontando e aprendendo. A solução deu frio na boca do estômago: cirurgia. Introduz-se um pino na ponta do dedo que atravessa os ossos e fica o pendoado e sofrido pedaço de mim em posição normal. Ali ficaria por seis semanas. Um pequeno gancho do lado de fora, broto de Wolverine do interior das Minas.

Medo natural de sala de cirurgia; tinha passado por poucas e boas recentemente. O sentimento de impotência e fragilidade companheiro de outras intervenções. Mas como não havia outra solução lá fomos nós.

Mais uma vez faço questão de citar a competência do ortopedista que, com destreza e agilidade, em poucos minutos colocou o gancho, lá estava, mas sem patente de capitão.

Semanas estranhamente cômicas. Não faltou dia sem engarranchar em algo. Toalhas, roupas ao vestir, suplício. Aos enroscos e trapalhadas passaram-se os dias sem que eu pudesse fazer o que mais gosto: sair em expedições de captura e estudo de escorpiões e morcegos. Suportei valentemente.

Chegado o dia marcado, lá fomos nós para retirar o metal. Com segurança e mão firme em mais uma demonstração onde se misturam saber e prática, com simples alicate, lá se foi o pino imobilizador. Passou alguns exercícios e pediu retorno.
Observou-se que o dedo não tinha voltado totalmente para o lugar. Manteve ligeiro entortar, coisa pouca. Outra cirurgia foi recomendação.

Muito serviço, viagem marcada, ficou para depois.

Meses se passaram e vou eu postergando essa nova passagem por tratamento. Além do que, me acostumei com a ponta agora ligeiramente caída. Por incrível que pareça, vem até facilitando minha vida em algumas atividades. Digitar é uma delas, o dedo já está virado para o teclado, ficou simples alcançar algumas teclas como o “cê-cedilha” e os acentos.

Ficou também fácil manusear minhas pinças, tanto no campo quanto em laboratório na lida diária com meus bichos. Até abrir lata de cerveja ficou mais fácil.

Desconheço as consequências em longo prazo de não restaurar a funcionalidade normal desse meu ex-quase-dedo em martelo.
Mas vou levando assim mesmo, virou marca registrada. Só não posso, nem devo usá-lo como conhecido gesto obsceno. Fica virado para mim, pega mal.




Publicado Jornal Correio em 1º de abril de 2013