"Se for falar mal de mim me chame, sei coisas horríveis a meu respeito" (Clarice Lispector)
terça-feira, maio 30
Poema para uma poesia
(para "As três" de Ly Sabas)
As pedras têm o curioso hábito de permanecerem caladas.
Pacto.
São cúmplices de momentos únicos
Sempre fechadas em si mesmas.
Confidentes
não se oculta segredos das pedras,
compartilha
William H. Stutz/ maio 2006
sábado, maio 27
Plantio
Colhi viçosas mudas de grama nascidas em brita, pedra seca e rude
grama cuiabana
plantei em chão fértil, fofa terra de cultura
Morreram todas.
Tem gente que é assim, árida
william h. stutz
quarta-feira, maio 24
quarta-feira, maio 10
Dois mundos
Dois mundos
Caminhos os há, difícil é saber qual seguir.
Terra batida, atoleiros ou asfalto.
Caminho cósmico – estrelas.
Via Láctea sinalizada – estrada de sonhos.
Misteriosa magia. Aquecia por dentro de prazer só de pensar.
Deitada no telhado frio do curral vigiava o mover dos astros.
Encantada com a viagem anunciada.
Trecho infinito a percorrer.
Belo luminoso. Volta e meia uma luz mais agitada cortava seu campo de visão, de vigília a devaneio.
Visitantes estelares ou um simples balão meteorológico a espiar nuvens, mares e ventos?
Um paranóico avião espião em busca de novas ameaças imaginárias?
Balança a cabeça como a espantar a idéia.
Quanta falta de poesia. Eram com certeza alienígenas vestindo impecáveis uniformes prateados. Raça evoluída com ânsia de dividir conhecimento. Gente do bem, vindos de muito longe.
Já os havia visto em ocasiões diversas.
Em sonhos, durante enfadonhas preleções matinais na igreja. Durante as aulas de matemática, nos intermináveis almoços e jantares familiares. Principalmente quando tias e primos desconhecidos por lá aportavam – vinham da cidade. Chatos. Principalmente os primos com seus tênis de grife e palavreado entrecortado, meias e preguiçosas palavras sem nexo. Eles cheiravam ar condicionado e sanduíche de shopping.
Debochavam em silêncio de suas roupas e de sua botina mateira.
Mas a presença deles era mais comum à noite, logo depois de seu pai desligar o motor da energia. Eles gostavam muito do escuro ou da fraca luz do candeeiro. Visão acostumada à escuridão do cosmo, devia ser isso.
Uma estrela cadente cruzou o céu, passou raspando a copa da mangueira, iluminou o pasto.
Mãe do ouro.
Caminhos os há. E em breve teria que escolher o seu. Não queria a cidade – traçou o dos céus, para lá é que ia longe, bem longe.
Breve, muito em breve.
William H. Stutz/ maio 2006
terça-feira, maio 9
Janela
Mundo cinza, sem cor, sem brilho mundo mudo sem som ou vento fechado em quarto escuro sem janela.
Apenas o caos o silêncio e muito, muito sofrimento
Mundo cinza sem vida, sem amor.
Áspero sem cânticos ou simples canção.
Sem céu, sem estrelas ou lua, escuro.
Apenas amarga, profunda e inimaginável solidão.
Não meu mundo
Meu mundo é brando e leve é alvo
é límpido como a mais recente e fresca neve.
Janela de um estonteante azul céu, límpido e musical
por ela, sempre a adentrar o aconchegante aclarar matinal.
O meu mundo? Meu mundo é a janela!
Sempre aberta, sem paredes ou quarto.
Hoje sobre o mar amanhã sobre a terra.
Janela multicolorida sem dono, dolo ou fechadura
Meu mundo minha janela, está sempre pronto a se abrir.
Bastando amiga, é simples, um sincero afago ou a mais leve candura
sexta-feira, maio 5
quinta-feira, maio 4
Consolo
Para uma amiga em dor certa feita escrevi, sê Fênix.
Usufrui do direito quem tens ao sofrimento real, ele é teu e único.
Necessário.
Mas lembra-te, a vida segue inexoravelmente seu curso. Atropela os incautos, deslumbra os afoitos, premia os justos e corajosos.
Após amarguras sentidas transforma-te, sê a grega e mitológoca ave, que além de seu eterno retorno das cinzas é capaz de suportar pesadas cargas. Ressurge exuberante e mais sábia, mais serena.
Desvenda os mistérios que regem nosso universo, eterno, possível, prazeroso.
Sê feliz querida amiga, sê feliz.
William H. Stutz/ abril 2006