quarta-feira, março 21

Datas



Neste 14/3 o universo perde um de seus maiores físicos teóricos que por essas bandas passou. Stephen Hawking com toda sua genialidade e mesmo preso a doença progressiva, sem cura por enquanto, esclerose lateral amiotrófica (ELA), foi sem dúvida depois de, ou junto com Albert Einstein, uma das mentes mais admiráveis que se tem notícias. Morre o homem fica o legado, a fama não importa. Curiosamente ou propositalmente Hawking resolve partir exatamente no aniversário de morte de Einstein e no de dia do Pi (aqui ó para tamanhas coincidências), “constante deste, um número infinito que é representado pela 16ª letra do alfabeto grego” – dicionário de simbolos.com.br – seu valor 3,14 é data para inglês ver. Para nós 14/3 não significa nada, apenas uma quarta-feira chata como outras, modorrento como todo meio de semana se apresenta. Se você gosta de futebol então é um dia especial para você. Caso contrário, é um meio de nada. 
Foi-se a preguiça da segunda e terça, mas não nasce a expectativa do fim de semana. Bom, quartas são quartas e esta em particular comemora o tal dia do Pi. Aposto que isso agora muda sua vida para sempre.

Física/matemática não me pertencem, assim como muitas outras datas criadas num à toa de dar dó. Vereadores adoram este expediente e criar uma data é projeto digno de deliberação por semanas. Quanta riqueza de pensar!

Pois olhe, fico mesmo é espantado com a imaginação das gentes. O ócio criativo junto com alta remuneração cria pérolas. Após longa e exaustiva pesquisa (uns 15 minutos talvez), e sem receber um centavo (como sou altruísta), trago para você algumas datas muito importantes, as quais, com toda certeza, mudarão sua vida para sempre. Espero que esta pequena contribuição de conhecimentos inúteis lhe seja útil algum dia.
Vamos a elas:

03 de janeiro – Dia do Juizado de Menores. Tem mais de 18? Então esquece.
08 de janeiro – Dia da Rotação da Terra. Ébrios talvez se interessem pela data.
14 de janeiro – Dia do Treinador de Futebol. Estes coitados merecem canonização, pois pulam de emprego em emprego.
15 de janeiro – Dia do Adulto. Que dia é esse?
18 de janeiro – Dia Internacional do Riso. Só rindo.
30 de janeiro – Dia da Saudade. E tem dia para senti-la?
14 de fevereiro – Dia Mundial do Amor. Amor com dia marcado.
23 de fevereiro – Dia da Escrita à mão. Essa já dançou, pois escrever hoje em dia é ato de bravura, principalmente usando-se palavras inteiras.
02 de fevereiro – Dia Mundial das Zonas Úmidas. Duplo sentido. E as zonas secas, perfumadas e com cortinas de veludo vermelho?
28 de fevereiro – Dia do Engolidor de Espadas. Meu Deus, mude o cardápio!
10 de março – Dia do Sogro.
14 de março – Dia dos Carecas. Criado provavelmente por em, movimento contra fabricantes de perucas,
17 de março – Dias dos Fãs de Séries de TV e Cinema.
Não dá para comentar todos, deixo para sua imaginação. Aproveite e envie e-mail, telefone, faça manifestações nas ruas, crie o dia que te agrada sobre qualquer coisa. Aposto que seu político de estimação vai adorar. E segue a lista:
31 de março – Dia Mundial do Backup.
13 de abril – Dia do Beijo.
26 de abril – Dia do Goleiro.
28 de abril – Dia da Sogra.
03 de maio – Dia do Sol.
12 de maio – Dia do Silêncio.
20 de maio – Dia do Humorista.
22 de maio – Dia do Esclarecimento sobre os malefícios do trote telefônico. Este é especial, adverte o Ministério da Saúde.
27 de maio – Dia do Vendedor Lotérico. São tantos assim? Ah, tem os anões do orçamento, esqueceram?
31 de maio – Dia do Aeroporto.
05 de junho – Dia do Pedestre. ¨Morreu atropelado atrapalhando do transito”.
22 de junho – Dia do Orquidófilo.
27 de junho – Dia do Quadrilheiro Junino.
08 de julho – Dia Mundial da Alegria.
13 de agosto – Dia Mundial do Canhoto – Dia da Esquerda?
20 de agosto – Dia do Vizinho. Esse é duro de aguentar.
23 de agosto – Dia da Injustiça. É justo?
09 de setembro – Dia do Alcoólico Recuperado. Um brinde!
17 de setembro – Dia da Compreensão Mundial. Patrono Trump.
22 de setembro – Dia dos Amantes.
25 de setembro – Dia da Tia Solteirona. Aqui estão de sacanagem.
22 de setembro – Dia da Banana- Engorda e faz crescer.
12 de outubro – Dia do Torcedor Corintiano. Juro que existe. Quem criou? Vicente Mateus provavelmente.
10 de novembro – Dia da Pizza – Em Brasília todo dia.
11 de novembro – Dia do Origami.
12 de novembro – Dia do Supermercado.
13 de novembro – Dia da Gentileza no Trabalho.
19 de novembro – Dia do Tênis de Mesa.
21 de novembro – Dia da Saudade do Jornalista Falecido.
10 de dezembro– Dia do Palhaço. Todos nós Brasileiros deveríamos vestir luto nesse dia.
Ah, fica a sugestão. Dê trabalho para seu parlamentar de estimação e envie sugestões, pois ele irá adorar ter o que fazer.
Que tal Dia do Chulé, Dia da Dobradinha, Dia da Preguiça, Dia do Ovo Frito, Dia da dor de Calo, Dia do Quiabo, Dia do Mingau de Milho verde, Dia do…

Post Scriptum:

Para não ser como tantos oportunistas da web, aí vão as fontes pesquisadas: Wikipédia pt.wikipedia.org/wiki/Datas_comemorativas, Mega Curioso www.megacurioso.com.br/, Superinteressante , super.abril.com.br/ www, dicionariodesimbolos.com.br.





Veterinário e escritor


Publicado em Uberlândia Hoje 

quarta-feira, março 14

Olha o trem




Posso te garantir meu caro amigo e hoje, em particular, minhas amigas, dedilho esse contar em pleno 8 de março, passou eu sei mas assim foi, dia internacional da mulher. Particularmente e sendo bem lugar comum, acho que todos os dias pertencem a vocês. Pode acreditar, não é lamechice de minha parte não, é constatação. Assim através de amores passados, esquecidos e principalmente pelo iluminado amor que junto a mim está, companheiro, escudeiro “amiga para todas as horas, várias faces de uma só pessoa” e de minha filha maravilhosa, envio meu carinhoso abraço a todas as mulheres guerreiras desse vasto mundo. O mundo é de vocês Marianas, Marílias, Marias que não vão com as outras.

Há assunto ainda fervilhando aqui em minha cabeça de vontade de contar. Quase passo o meu espaço falando de vocês o que seria ótimo, mas não posso perder o fio da meada, senão como poeira de estrada quando passa caminhão, levanta dispersa e some nas palhadas, nos pastos, nas manchas de mato. Chuvisco fino que não chega a molhar.

História que aqui reconto me foi contatada, não carrego os créditos do caso nem posso dá-los pois ao mundo pertencem, talvez até conheça, mas o registro tem que ficar.
Em pequena cidade em pé de serra, vazia de barulhos e de gente, três meninos cresceram juntos, claro que havia mais crianças no pequeno grupo onde ainda se usava “Caminho Suave” e à vezes até palmatória. Mas esse trio era diferente, amizade siamesa, xifópaga. Podia contar, onde um estava era só passar olho e achavam-se os outros. Se por acaso um era pego roubando fruta em quintal castigo para os três. Cresciam pé no chão alegres e pregados. Frango caia de maduro de poleiro, direto na panela ou fogueira. Os pais dividiam e pagavam o vizinho enfezado com a traquinice.

Adolescentes, hormônios à flor da pele, suavam frio/quente, êxtase ao espiar as meninas nuas em banho de cachoeira. Exaustos, pernas bambas, seguiam em alegre silêncio até se prostrarem em gramado e bancos de praça. Nenhum pio, apenas as estrelas como companheiras. Logo, recompostos a algazarra de sempre. Três que valiam mil em contar detalhes e fechar de olhos.

O tempo. “Medida arbitrária da duração das coisas”.
A pequena cidade não os cabia mais. Buscar rumo, não tinha jeito. Resolveram fazer concurso do Banco do Brasil, carreira promissora, futuro certo. Bota um estudar sem fim.
Vendas, botecos e zona. Tinha sim. Era pequena mas como manda a tradição a zona lá estava e sempre cheia, inclusive em dias de semana. Um terror das matronas.

Dizem que foi lá que nasceu a história do vendedor de panelas que, ao ser surpreendido pela noite em suas andanças, buscou pouso no único hotel da cidade. Banho tomado resolveu sair para aventura. Perguntou ao porteiro do hotel onde ficava a igreja. Com sorriso de mineiro cordial indicou direção. O mascate pegou o oposto: — Uai moço, a igreja é prá lá!
Maroto, respondeu em cochichos — Eu vou é pra zona sô, pelo que sei é sempre do lado contrário das igrejas. Padre ia deixar ser diferente?

Pois nem tempo tinham os três. Era um estudar que só. Montanhas de apostilhas chegavam quase todo dia pelo correio.
A prova foi na Capital. Belo Horizonte os recebeu barulhenta e com seu trânsito agarrado de sempre.
Exame feito, agora era esperar resultado.

Meses de agonia depois e pronto toca a comemorar. Fecharam todos os bares e vendas da cidade. No último, vendo que não iam embora o dono proclamou: – Toma a chave dos fundos. Vocês vão marcando o que beberem no caderno e depois acertam, vou dormir, o, leiteiro passa cedo. Só não vão me botar fogo na venda!

A luz tinha caído como sempre e lampião de querosene iluminava o ambiente. Naquela noite o gato do armazém dormiu em paz sobre seu saco de arroz preferido e nem camundongo ousou botar bigode fora da toca, tamanho furdunço.

Dia amanhecendo, abraçados seguiram para a estação de trem, cada um ainda com uma garrafa de Fernet pela metade.
Tontos se jogaram no banco da velha estação se deixando ficar. Passou hora e mais hora. Num sobressalto o rapaz acordou. Cabeça doía que só. A luz do amanhecer entrava por seus olhos como zagaias afiadas. Na ponta do banco o cabo da polícia estava sentado com as mãos entre pernas e dedos entrelaçados. Sem nem olhar para o rapaz que conhecia desde molecote, com voz paternal lhe murmurou:
— Tá vendo, estudou tanto e agora que ia assumir o posto perdeu o trem. Seus amigos embarcaram tontos, mas foram. Tem vergonha não?
O moço aprumou, coçou cabeça e assim, do nada, começou com risada miúda, que foi crescendo, crescendo até transbordar em gargalhada de rolar no chão. A cabeça doía, mas o riso era impossível de segurar.
Sem entender nada o cabo já ia ficando era assustado.
Enlouqueceu rapaz? Eu vou é chamar o doutor e seu pai.
O moço ainda no chão de tanto rir, que doía corpo inteiro:
— Carece não cabo, carece não. É que na verdade só eu passei. Só eu é que ia viajar, os amigos vieram foi me trazer aqui na estação.
Levou semana para os outros voltarem.








Publicado em

Jornal Uberlândia Hoje
Jornal Voz Ativa Ouro Preto - MG
Diário de Uberlândia


quinta-feira, março 1

Paranormal

Chegou em casa esgotado, dia estafante de pouco fazer, mas a cabeça não parava. Como sempre abriu as janelas para que o doce ar da tarde empurrasse o cheiro de casa fechada. Cheiros de madeira dos poucos móveis, do incenso queimado na noite anterior. Sonhos e lembranças ainda presos fugiam com a brisa leve e tomavam rumos desconhecidos. Jogou-se preguiço em sofá pequenino. Só então se deu conta dos latidos chorosos vindos do quintal e do arranhar de porta. Tão detonado estava que não pôs atenção que seu companheiro cão o aguardava ansioso. Já sem a botina, só de meia, correu abrir porta da cozinha. Festa assim, de poucos ou de ninguém recebia. O vira-lata puro, de nome Pistache, ficava eufórico toda vez, por menor que fosse a sua ausência. Ao voltar era sempre recebido como um deus.

Pistache entrou feito um foguete casa adentro, subia e descia as escadas que levavam ao quarto como um louco. Latia, quase falava pedindo carinho e atenção. Aquela bagunça durava alguns longos minutos e só parava depois de muito afago e coçar de barriga.
Companheiro aquietado, segue-se a rotina solitária. Abre a geladeira sem procurar nada, só costume. Confere a marmita do almoço e vê que vai dar para a janta tranquilamente, pois sobrou muito.
O tempo se fechava para chuva. Resolveu ficar quieto em casa. Subiu de dois em dois os degraus rumo ao banheiro.

Já no chuveiro, pensou ouvir vozes no andar de baixo. Fechou a torneira e pôs atenção. Nada, imaginação apenas.
Retornou ao revigorante banho cantarolando. Poucos segundos, vozes novamente.
Tem alguma coisa errada, se fosse gente estranha Pistache daria sinal. O vira-lata dava notícias de tudo, mas o bicho estava quieto…

Enxugou rapidinho e de pulo vestiu uma bermuda larga e confortável.
Nesse meio tempo escurecera. As sombras delicadas da noite tomavam conta de toda a casa. Luz agora só no quarto onde se vestia.
Ao apagar o único brilho luz percebeu um clarão a piscar embaixo. A luz fazia movimentos e se espalhava por toda sala. Que estranho. Nada de tenebroso lhe passou pela cabeça, tipo fenômeno sobrenatural, um poltergeist da vida. Nada do tipo, mas que era estranho era.

Desceu com mais cuidado do que de costume e, por precaução, não acendeu luz alguma.
Qual foi sua surpresa. Ao entrar na sala de televisão, a mesma estava ligada e Pistache super atento a olhar a luz de um canal sem sinal. Pronto, agora só me falta sair alguém daí de dentro e arrastar o cão. Sorriu. Bateu a mão sobre a cama que lhe servia de sofá a procurar o controle remoto, mas foi só virar as costas e entrou na tela um programa de televisão, desses de pregação e tira-capeta, com o som nas alturas! Tomou um susto louco. O coração veio à boca. Olhou Pistache e este continuava a olhar firme para a tela, desconfiado.

Mas cadê esse danado de controle que não acho? Aí sim acendeu luzes, revirou tudo, quando novamente o canal mudou para uma novela qualquer por si só. Eita, que tem muita coisa esquisita aqui! Manualmente abaixou o volume que ainda estava no máximo, ensurdecedor. Não suportava barulho. Outra vez canal mudou sem explicação, filme antigo agora.
Não tá certo. Sentou no improvisado sofá e botou reparo no ambiente. Pistache a seus pés, olhos vidrados na tela. Ele não era disso, aqui tem coisa.
Não conseguia fazer ligação com nada. Os canais mudavam, o som aumentava e diminuía sozinho, como se a televisão tivesse ganhado vida própria.

Foi quando resolveu atentar para o cachorro e sua seriedade ali. Mexia a orelha direita o som aumentava. Bobagem, pura coincidência, mas ficou velhaco, o bicho mexeu a orelha esquerda o som diminuiu de sumir. Epa!
Passou a mão no lombo do danadinho e esse destampou a abanar o rabo, aí ele viu, os canais começaram a passar em incrível velocidade, no ritmo certinho do abanar.

Era demais, mas só tinha uma explicação. Pistache comeu o controle remoto e de alguma forma agora seus movimentos comandavam a TV. As orelhas o som, o rabo os canais. Olhe, levou um bom tempo para assimilar tudo isso e ensinar o cão a se concentrar, para não atrapalhar um programa ou filme a ser visto. A paz voltou a reinar e hoje, além de latir carinhosamente em amores quando o dono chega em casa costumeiramente esgotado, Pistache já coloca a televisão em seu canal preferido. O amor é lindo. Repito, por conta desta e outras, prefiro bicho a gente.
Tá rindo de quê? Acha que é gozação? Não está acreditando no ocorrido? Te levo lá para ver. Só não pode ser na hora em que passa filme da Lessie, aquela Rough Collie, no Telecine Cul, pois democraticamente a prioridade é dele, o cão. Fica o convite, mas traz o vinho.






Publicado em Jornal Uberlândia  Hoje