terça-feira, janeiro 29

Vida Simples





Dedicado a Públio M15

Vila miúda. De um lado descampado de pasto a perder de vista, aqui e ali uma mancha de matinha a preservar nascentes. Perigoso de banhar, território de bichos de querer longe. Sem mais ter para onde ir, habitavam terra e copa de árvores. Bichos peçonhentos que nem gente humana. Cobra rasteira aprendeu escalar tudo no rastro de ninho de passarinho. No chão, contam, até pisada de onça grande no barro beira córrego eram avistadas.

Pra toda banda aranhas de todo feitio, cor e tamanho. Veneno, muito veneno. Passarinhada fazia ninhal, pois fruta do mato e até de quintal tinha muita. Sementes levadas por morcegos e outros bichos. Festa só. Não havia menino que não cobiçasse as mangas enormes em amarelo/vermelho/roxo, as goiabas de tamanho assim, jambos carnudos, pitangas e amoras maiores do que o ovos de garnisé vindas lá de Guernsey, longe canal da mancha e soltas aqui, agora cantavam em português fluente.

Abelhas zumbiam em trabalho sem parar e, cada oco, pequeno que fosse, era rico em mel de favo. Das miudinhas sempre fartura: Jataí-itajaó, Inhanti, Lambe-suor, Marmelada, Moça branca, Mané-de-abreu, Arapuá, Abelha Cachorro, Tataira, Caga fogo, Mirim Preguiça. Eram tantas tribos, que se tornava difícil contar. Cada um dava um nome.

Orquídeas de pouco ver enfeitavam o tudo. Contam que gringo foi lá, retratista de natureza, visitou as ilhas verdes do demeio do pasto, voltou mais nunca. Veio até avião da capital com gente de busca, mateiros da região de experiência seguiram junto, cães de farejo agudo, mas nada se achou. Nunca.

Alguns contam que foi vingança das manchas, pois queriam não era retrato, era levar para longe nossas riquezas frágeis. Paraíso perigoso. Tinha o doce, tinha o ardume, arrastando, beirando cada pau caído, o susto e a morte. Melhor não ir. Deixar quieto as manchas fervendo vida, prudência. Beleza não era para ser vivente que de lá não fosse. Contar de lá era o que ficava. E disso a vila era sábia.

Se de um lado era pasto, virando para o poente era parte areia e findava no mar. O sustento de quase todos vinha da pesca. Um dia o lugarejo fora beira-mar, mas vento veio carregando toda areia das praias nossas e até da África. Vinha em tempestade. Açoite no corpo e na alma. Casas foram recuando, recuando, recuando. Por tantas vezes povoado se afastou do mar que pouco se via. O vento deu sossego, mas caminho ficou longe. Assim o andar da porta de casa até o barco amarrado na areia beirando mar, transformou-se no dia a dia das gentes daquele lugar.

Não demorou turista descobrir o recanto. Avisados do que havia do lado de lá, nem se aventuravam no medo. Armavam barracas na praia sob sombra de belas e viçosas castanheiras. Pequenos comércios de peixe, camarão, lagosta, moquecas, siris e seus parentes guaiamus, rendiam bom sustento nos meses de férias. Depois disto, era solidão mansa, silêncio frio de paz.

Morador por nome eu não sei, mas apelidado de Xaréu, por conta de uma história de um desses de mais de seis quilos que diz ter fisgado, mas que na hora de embarcar rabiou e fugiu água a fundo, era com frequência questionado. — Xareú de seis quilos? Conte outra! E era risada que só. Manso, da paz, mas sistemático, nunca ligava. Restava saber se verdade era, mas que Xareú ficou assim apelidado, isso ficou.

No verão dos turistas Xareú inventou e montou barraca de pau e folha de sapé a vender café, leite morno, rosca, pão e biscoitos fritos pela mulher, para os famintos da cidade.

Contei, era sistemático e teimoso. Tinha sistema. Manhã azul/férias. Chega turista branquelo leite, todo cor da bunda.
— Bom dia!
— Dia!
— Queria um café com leite e uma rosca com manteiga.
— O café com leite eu vendo, rosca também, mas manteiga só no pão. Aqui não se come rosca com manteiga. Onde já se viu fato assim? Resmungou perdendo o humor.
— Moço, mas eu vou pagar. É só passar a manteiga na rosca e pronto! Retrucou o turista.
— Aqui não! Se quiser manteiga é só no pão, na rosca nunca, vendo não.
— Tá certo. Mas o senhor vende a manteiga por pacote ou quilo? Pode ser?
Abriu sorriso, ia dar negócio. — Aí eu vendo.
— Então me vê quatro roscas e um tablete de manteiga.
Xareú feliz a embrulhar as roscas, primeira venda do dia. Prometia.
Deu estalo em Xareú. Parou, desritmou o empacotar. Olhou para o teto de sapé por onde entravam tímidos raios de sol. Um deles acertou em cheio seu olho, piscou forte no desviar.
— Não, vou vender mais não! Enrugando a testa.
— Mas por que santo homem? Eu vou levar daqui!
— Acha que sou bobo? Você vai é passar manteiga nas roscas! Aqui não violão! Manteiga só no pão!

E lá se foi um irritado visitante a pisar firme na areia.
Eita! Povo da cidade esquisito, irrita atoinha que só!






Veterinário e escritor
Publicado em Diário de Uberlândia em 27 de janeiro de 2019

terça-feira, janeiro 22

Fumaça


A noite chegou mansa. Horário de verão complica a vida de todo ser vivente, custa a escurecer e o amanhecer demora mais um pouco. Particularmente gosto, pois posso aproveitar um pouco mais o fim de tarde. Confesso, chego ao fim de semana cansado de um não sei o quê. Fico imaginado as gentes que moram na terra de Papai Noel dos Natais cada vez mais difíceis pois a vida não está para peixe nem peru. Na Lapônia, que fica encostada no círculo Ártico, acontecem em alguns períodos "noites sem noites". É quando o sol nunca some na linha do horizonte, corre por ele de ponta a ponta, mas não desaparece. Assim têm luz vinte e quatro horas por dia, durante meses. Coitado dos poetas, dos seresteiros, dos namorados. Gilberto Gil se lá vivesse, jamais teria composto Lunik 9, pois jamais chegaria a "hora de escrever e cantar e não haveria derradeiras noites de luar".

Aquela noite, que mansa chegou, seria diferente. Lua nova, escuridão total, canto longe de alguma Mãe-da-lua, pensando ter perdido sua companhia. Os Urutaus são assim, melancólicos. Carga pronta, caminhão esperando o amanhecer na olaria para seguir viagem.

Assim do nada, do fundo do breu, uma risadinha arranhada na carroceria do velho D-9.500 de 1958 mais conhecido por "barriga d'água" por conta do eterno vazamento do bloco do motor. Um cachorro vigia uivou, de medo. Logo outra risada mais aberta, seguida de outra e mais outra. Depois de certo tempo o que se ouvia era um gargalhar de milhares. Risos de doer o estômago, como quem boa e bem contada piada, ou caso, ouviu. Aquele riso aberto de quem vê alguém levar um tombo em lodo de pedra de riacho e a seguir perguntar com dentes travados: Machucou? Diante da negativa despenca em gargalhar a plenos pulmões. As risadas não paravam. Depois de muito tempo, um movimentar sem fim deu lugar ao riso. Inquietação geral, despencar de lugar algo, esborrachar em chão com som seco, tosses, risos, delírios acéfalos.

Pela manhã, rebordosa geral. Todos para o caminhão. O chacoalhar martelava cada pedaço. Ressaca assim nem de cachaça de carotinho, de cinquenta centavos, nem de vinho doce de mesa, garrafão bebido no bico. Quem disse que conseguiam ficar em formação ali na carroceria? Para espanto geral mal se mantinham, e não era o balanço de estrada esburacada não, a zoeira estava dentro de cada um. Volta e meia, quando o vento conseguia levantar parte da lona que os cobria e uma brisa gostosa entrava sem educação, o alívio era breve. Alguns mais resistentes ainda davam longas, sinistras e sonoras gargalhadas. Motorista e ajudante se entreolhavam arredios na boleia.

Aqueles tijolos, depois da queima de toneladas de droga tipo cocaína, crack, cigarro falso do Paraguai - esse deve ser um mata-rato - toneladas de "Maruamba" em forno de cerâmica pela Polícia Federal , por muito tempo não iriam prestar para levantar paredes, podia até bater prumo, mas logo, do nada efeito "poltergeist" amaneciam de ponta cabeça equilibrados em apenas um cabo de enxada. No meio da linhada assentada, um risinho arranhado se faria ouvir e logo a algazarra novamente se instalaria.

Pedreiro assentava hoje, no dia seguinte encontrava confusão de formatos de paredes. Os tijolos, muito doidos, não conseguiam ficar parados em pilhas. Farra do bode no transporte até a obra, depois só confusão. E cadê peão para trabalhar nessa obra?

Roubo frase, nem acredito, "Max Payne" um game antigo : “Não sei quanto aos anjos, mas o medo é que dá asas aos homens...”


Publicado em Diário de Uberlândia em 18 de janeiro de 2019


Dura vida




Abriu a boca em bocejo de engolir o mundo. Acordou tarde, havia passado quase toda a noite a campear comida. Tinha revirado latas de lixo e terrenos baldios, onde a estupidez humana ficava escancarada, diante das montanhas de sobras que ali jogavam com vontade. Um dia quase tomou saco repleto de tranqueiras na cabeça, lançado sem a menor cerimônia por cima de um muro.

Desconfiava que, se eles não viam o lixo este deixava de ser problema deles. Assim, era mais fácil jogá-lo de lá do muro, não lhes dando atenção. Tipo o ditado mais dito no mundo: "o que os olhos não vêem o coração não sente". Vai nessa toada para você ver onde vai parar, digo eu.

Quanta tarouquice desse povo. Mal sabiam que ali se criavam ratarias gigantescas, que esperavam ansiosamente o momento de entrar nas casas dos parvos que os alimentavam sem saber, a espalhar doenças e destruição. Como disse o escorpião de Esopo, dando de ombros antes de se afogar, é a natureza deles.

Evitava tais territórios por dois motivos: a concorrência era grande e os restos ali atirados eram sempre de péssima qualidade.
A humanidade pronta a submergir por escolha e atitudes próprias.

Deu-se conta de que seu corpo doía todo. Talvez a posição de dormir. Ademais, o sereno da madrugada não tinha secado de todo e o sol ainda estava longe, no risco do horizonte. Deu uma chacoalhada e seguiu caminho. A fome o empurrava. Outra lata de lixo, um saco a rasgar e fuçar, à cata de algo que lhe abrandasse um pouco o incômodo. Sabia que a hora não era das melhores, mas como a penumbra não havia rendido nada tinha que se arriscar às claras.

Não demorou muito a ser xingado por um que vinha e quase levou um pontapé. Sentiu o vento do chute, mas esquivou-se como deu. Quanto mau humor matinal. Pensando nas contas a pagar? Gastou mais do que podia nas festas? Nesta época sempre encontrava nos sacos das sobras, recibos vencidos, IPTU, IPVA, imposto de renda, contas de lojas e vendas. Comprar é fácil, pagar, sacrifício. Como essa gente gosta de posar de importante. Gastam sem poder e vivem duras penam para pagar, quando é que pagam. Uma roda viva de sofrimento desnecessária. Basta pôr freio. Ele não devia um tostão. Também, não tinha nada, não carregava o peso de excessos. Vivia das sobras e lhe bastava.

Nesse meio pensar, um cachorro saiu em disparada a latir em sua direção. Não dava para fugir. Parou encarando o bicho. Olho no olho. O cão ladrava em fúria, espumava pelos cantos da boca, olhos vermelhos de um ódio instintivo. Não atacava. Latiu até ficar rouco. O olhar e a falta de medo foram decisivos para evitar confronto. Ainda latindo, pêlos em pé da nuca ao cavador do rabo, o cão foi devagarzinho se afastando. Virava quando em vez e ainda dava com seus olhos nele fixos. Saiu resmungando. Logo achou um bicicleteiro para aporrinhar.

Imóvel, coração ainda aos pulos de um medo que conseguiu não demonstrar, músculos tesos, respirou fundo e foi relaxando aos poucos. Agora não sabia o que doía mais. Fome ou corpo?

Achou melhor parar um pouco. Jogou-se em um beco aparentemente seguro. De uma calha lá no fundo corria uma água. A sede provocada pelo encontro com a fera lhe havia secado por inteiro. Sem cerimônia bebeu com avidez. Sentiu gosto de sabão de bola, mas nem isso o impediu. Bebeu como se fosse água do mais límpido riacho de mata fechada, vindo de cachoeira iluminada por sol da manhã. Fechou os olhos e ouviu o canto de passarinhos de todas as cores. Uma borboleta pousou em seu nariz.
Abriu os olhos e o que viu foi uma horrenda varejeira lhe beliscar as ventas. Com tapa a expulsou de seu breve sonho.

Tentar levantar ligeiro lhe repuxou a espinhela. Sem pressa, arqueado, se enrolou como pode. Tinha que descansar. Um ronco oco se fez ouvir em seu estômago. Não aguentava mais. Voltou ao sonho, ao riacho, se banhou nos respingos fortes da queda d'água, rolou na grama macia e manso subiu em árvore linda, de onde se via o fim do mundo em verde e montanhas. Nada disso existia mais. Só roça gigante, um deserto verde baixo sem vida para ele e para todos outros que ali moravam. Migrou forçado para a cidade, virou mendigo da natureza. Ali onde raras árvores existiam, tentava sustento. Seu alimento principal eram as lembranças, a fartura, a paz perdida.

Vida de gambá na cidade era dura e arriscada, mas tinha que sobreviver. Não havia lugar para fugir, mas algo lhe empurrava sempre - dia há de vir, as florestas voltarão a reinar. Dormiu exausto.

William H Stutz
Veterinário e escritor



Publicado em Diário de Uberlândia em 14 de Janeiro de 2019

sexta-feira, janeiro 11

Transporre - Efemérides

Desde que a lei seca que passou a vigorar no trânsito brasileiro já começou a fazer lá seus efeitos tanto no comportamento de motoristas quanto nos valores humanos. Que fique bem claro que considero a mistura álcool-direção explosiva. Mas a celeuma criada não podia ser mais inspiradora.

Na toada que vai, não raro ouviremos conversas diferentes sobre futuros casamentos. É fim do antipático e nefasto requisito tão presente na conversa de mesquinhos e dos de coração de pedra: bonita e rica, perfeita para casar.

De agora em diante tende a ser mais ou menos assim:
- A moça é um partidão, até que não é muito bonita não, é remediada de dinheiro, mas tem carteira de habilitação e olha que lindo: não bebe nadinha e detesta bombons de licor. Casal perfeito, será? Noites de sábado e futebol de domingo, o futuro maridão bebe em paz, patroa conduz.

Dia desses sentado em uma roda, tomando cerveja básica é claro, todos vizinhos a pouca distância de casa e nenhum dirigindo, fica o registro, surgiu a ideia de implantarmos em Uberlândia e com pretensões de expansão para todo país, prestação de serviço inusitado especialmente para os fins de semana, sugestivo nome veio à baila: Transporre.

Isso mesmo, seria um serviço de vans adaptadas para os apreciadores de uma boa cerveja gelada nos bares, nos clubes e mesmo nos churrascos e reuniões em casa de amigos sejam eles ainda solteiros ou cujas companheiras também ingerissem álcool. Assim todos poderiam sair tranquilos e moderadamente apreciar suas bebidas preferidas e guloseimas etílicas sem correr risco de infringir a lei. Seria o transporte solidário dos boêmios de carteirinha, dos poetas, namorados e seresteiros, que por ação da bebida não podem, como cantou um dia Gil, correr, mesmo chegada a hora de sorrir e cantar talvez as derradeiras noites de luar.

Apesar do nome sugerido em reunião de boteco, o serviço não é dirigido àqueles que de forma irresponsável consomem bebidas alcoólicas. Serviço Vip para bebuns ou não Vips, enfim um serviço diferenciado para os que sabem realmente apreciar sabores, seja uma loura gelada, uma cachacinha mineira de engenho ou bombons de licor, biotônicos Fontouras e até para os usuários de desodorantes e perfumes que em sua composição contenham o ilícito álcool.

E para as oktoberfest da vida e outros eventos de vulto onde haja venda de bebidas já estamos pensando em grandes ônibus com ar condicionado e serviço de bordo: café quente extraforte, caldos variados e marmitex caprichados para repor energias e atenuar os efeitos da bebida; será o Transporrão da madrugada.

O mais importante é que deve sempre valer a importante e inquebrantável regra não só em função de leis, mas em função do bom senso, da responsabilidade e da civilidade: Se dirigir não beba jamais, mas se beber chama o motorista abstêmio do Transporre, garantia de festa segura e tranquila para todos.






Publicado em Diário de Uberlândia em 06 de janeiro de 2019

quinta-feira, janeiro 3

Preceitos diários




Sou exageradamente dado a reflexões. Pode parecer bobagem, mas não tem uma manifestação a meu redor que eu não busque um motivo, uma razão para tal. Só as gentes humanas com suas posturas já deveriam preencher meu tempo, pois tenho por sistema levar grande parte dos acontecimentos do dia para cama comigo.
Por que tal pessoa age assim com tanta maldade acumulada?
Por que a figura atropelou propositalmente aquele gato?
E assim vai. As reflexões que demandam tempo prefiro levar para o leito. O silêncio da noite nos permite ir mais longe.
As reflexões leves do cotidiano me trazem paz. O motivo do canarinho tanto cantar, o céu de um azul deslumbrante, cada fruto de nossa horta colhido em movimentos ritualísticos de agradecimento. Estes e tantos outros reverberam em belas auroras boreais em pleno trópico, brilham como o mar ao nascer do dia em puro ouro líquido.

Temos um calendário da Seicho-No-Ie, presente de alguma amiga para minha companheira de caminhada.
Só, pois ela está em viagem, já me sinto mais pele, propenso a introspecção. A solidão assim é tão pesada...Virei o calendário para o dia de hoje e assim encontrei:

"Não há ninguém que seja pobre na infinita abundância da natureza."

"Havia muitas flores brancas em uma árvore velha e isso era muito bonito. Além disso, uma fragrância maravilhosa vinha dessas flores e se espalhava por todos os Lugares ... Que abundante riqueza permeia a natureza! Apesar de estarem envolvidos nessa abundância, as pessoas pensam que são pobres ou se sentem solitárias."
Seicho Taniguchi, Junsui Ni Ikiyou

Tão apegado ao pensar nunca havia me feito a pergunta maior sobre o rolinho que girava todo santo dia, talvez pelo fato de ainda, como os hamsters, acordar por etapas. Quem os tem ou já os teve, sabe do que estou falando. Mas o que é a Seicho-No-Ie? Lá me pus a buscar resposta direta sem rodeios e assim encontrei:

"É um ensinamento de amor que prega que o ser humano é filho de Deus, que o mundo da matéria é projeção da mente e, também, nos revela qual é a nossa verdadeira natureza. É uma filosofia que transcende o sectarismo religioso, pois acredita que todas as religiões são luzes de salvação que emanam de um único Deus."

Perfeito para mim, pois pego gomo doce de todas as religiões sem praticar nenhuma. Já lhes disse gnóstico em outras escritas.

Assim, segui para o outro ritual do dia a pensar no que li;
“Não há ninguém que seja pobre na infinita abundância da natureza.”
Não quando foi escrito, mas não serve mais para nossos dias, onde vivemos o destruir gradual de tudo que vive. Destruímos florestas, secamos rios, rasgamos a terra em desmesurada ganância. As poucas leis que seriam para proteger as espécies viventes vão caindo uma a uma, em dominó de negociatas espúrias, a beneficiar meia dúzia de pouco pensar.
Sim, estamos cada vez mais pobres, miseráveis de vida, no que depende a “infinita abundância da natureza.”
Último recurso para alguns de nós é defender causas que não queremos acreditar perdidas e repetir o jargão "a natureza encontrará seu caminho". Acrescento que para tal, careçe eliminar a raça mais nociva sobre a terra, nós humanos.

Continuando, "Apesar de estarem envolvidos nessa abundância, as pessoas pensam que são pobres ou se sentem solitárias."
Não meus queridos, estamos pobres sim, estamos solitários mesmo juntos. Olhe ao seu entorno e repare o que já se perdeu e não retorna nunca mais. Não apenas matéria, mas emoções, sentimentos, amores.
Não me levem por pessimista neste último texto de um agonizante 2018. Tento apenas trazê-los a minha companhia em reflexão maior, de criação, de reconstrução de sentimentos e ambiente. Desejo sim, para todos, um ano novo de muito repensar. Façamos um trato. Plante uma árvore. Se não der cultive um vaso. Se não der regue as plantas do vizinho. Se não der, ...Vai dar! Somos os tutores do planeta. Vamos fazer nossa curta viagem prazerosa e mais leve. Ainda há tempo! O muda, mas é um simples virar de página, como os preceitos diários.
Feliz Ano Novo de coração a todos! Virem as páginas do que estar por vir com carinho e atenção


Publicado em Diário de Uberlândia em 30 de dezembro de 2018 ( Último texto do ano)