sexta-feira, fevereiro 21

Ideias

Meu prezado e bom amigo, assim ainda te considero muito. Mesmo depois de ter me excluído de seu Facebook e Whatsaap e jogado para escanteio minhas mensagens. Poxa, até do Twitter me tirou! Não trocar 140 letras comigo mais? Como marcar aquele encontro de boteco ligeiro, geriátrico agora? Fiquei triste. Ainda não tentei o telefone, mas pelo que me consta também não atenderá minhas ligações. Por um lado concordo com você, também faço faxinas periódicas em contatos que não contatam, apenas usam as redes sociais para te vigiar, saber de sua vida, coisa de fofoqueiro baixo mesmo.

Tem muita gente que quer quantidade de seguidores. E lá sou algum mestre guru, líder de seita ou outra coisa que o valha para ter seguidores? Não quero números, queria e quero qualidade. Gente que sabe postar com sabedoria, troca mansa de sentimentos, belas fotos, sugestões de livros, lugares e ares, piadas de bom gosto, sarcasmo comedido e uma gozação ou outra principalmente sobre nossos times de coração. Você sabe que torço para dois times: O meu Galo vencer e o seu time perder. Mas sempre brincamos a vida toda com isso e sabemos que não foi a razão da fúria, da erupção que, como lava incandescente, levou a cinzas tão antiga amizade. Pompeia com seus corpos petrificados, apenas pó e nada mais?

Futebol não foi nosso caso. Raramente, uso as redes sociais para debates mais acirrados, seja o assunto qual for: cinema, teatro, televisão, futebol, política. Não uso e explico, não é o lugar mais adequado, a pena sempre será mais forte do que a espada. Imagine o poder destrutivo de dez dedos em teclado – particularmente só uso três ou quatro.

Política. Sempre ela. Veneno como religião quando elevamos cânticos ao que cremos. Nestes campos, tolerância zero. Ou está comigo ou contra mim. Que horror. Pensando assim é melhor ter um grupo só de seus partidários. Só quer aplausos? Escreva unicamente para os seus correligionários.
Te garanto, não contribuirá em nada para um mundo plural, pacífico e melhor.

O famoso “perco o amigo, mas não perco a piada”, não funciona comigo. Amigo é coisa rara e séria. Deixe de lado releve e vamos, em mesa, olho no olho conversar sobre nossas divergências em todas as áreas sem pressa e obrigação de conversão. Eu te respeito como é e você, como sou. Podemos sempre estar em lados opostos nas arquibancadas dos estádios, nos palanques e comícios, nas estantes de livrarias ou nas prateleiras de videotecas. Eu vou sempre preferir as morenas às loiras, nem sempre e você sabe disso. Cerveja a uísque. Rock a seu sertanejo. Churrasco a pizza. E daí? Quantas vezes rachamos uma meia marguerita e meia catupiry. Outras tantas enfiamos a cara em rodízio, esbórnia carnívora e, entre risos e conversa jogada fora, nunca relia houve.

Pelo menos temos muito para conversar e assunto não faltar. Vamos nessa? Discordar não é deixar de gostar. Um conselho: se beber não poste (do verbo postar). Pode não dar multa nem perder pontos na carteira. Pode não matar, ferir carne, mas magoa atinge-se alma. Perdem-se bens muito preciosos por um simples dedilhar.

O relato acima é ficcional, mas não imagina quanta gente me conta que, por uma simples discordância, apaga, expulsa e cria inimizades. As redes sociais são ótimas, desde que continuem sociais. Quer brigar? Treina MMA.



Publicado Jornal Correio em 21/02/2014


https://drive.google.com/file/d/0B3a7BJIdLwOhTlM3RjlTZ1NtYkk/edit?usp=sharing

sexta-feira, fevereiro 7

Academia


Imagem  São Carlos, História e Cultura

Comecei academia. Carecia musculação para segurar o tanto de caminhadas e diários trotes. A curva agora é descendente, e perda de massa magra inevitável, então toca puxar ferro para fortalecer e facilitar o gosto do correr. A avaliação inicial mostrou-se satisfatória, quase nada de gordura, peso legal e a tal massa magra beleza. Senti-me um espaguete ao ponto.

Dia seguinte, cheguei para o primeiro treino. Aula? Sei não como chamar. Acabrunhado, mineiro desconfiado cheguei manso. Sorriso sem graça e sensação de que todos estão te olhando. Preferia olhar o chão, me aquietava. Logo, instrutora simpática e tranquila me abordou: - Primeira vez? Acho que corei. Afirmativo só com gesto de cabeça.

Vem comigo, vamos passar por todos os aparelhos para conhecer funcionamento. Vamos lá, três séries de doze em cada um. Fui correndo todo o espaço, com esforço de principiante.

Aos poucos e graças à simpatia de os todos instrutores, fui ficando mais à vontade. A moça não me deu trégua. De longe reparava que havia terminado uma série e só com o dedo mostrava outro aparelho. Fazia demonstração, me observava nos primeiros movimentos e corria acudir outros.

Paro aqui por minutos. Vou buscar repelente. Os Aedes estão devorando meus pés descalços. Todo ano, há muitos deles (anos), assim tem sido. Não tem quem dê conta de encontrar os focos de nossa região.

Houve ano que não aguentei e implorei UBV pesada (fumacê) e a tal Hatsuta, aquela bomba costal motorizada. Não peço mais. Morre muito bicho do bem. Só em casa tenho vários cachimbinhos de abelhas Jataí. Fico com dó. Passo a repelente e mosquiteiros, pois Aedes aqui em casa é boêmio, tem hora de atacar não. Mas como só as fêmeas nos atacam, presume-se que na espécie a liberdade feminina seja total. Toda noite tem repasto, e os machos nem ligam.

Gente, gente, vigiem seus quintais.

Toca a fazer um exercício com grau de dificuldade cinco, para um iniciante como eu. Suo a camisa. Dei conta. Boto reparo na moçada bonita a malhar. Todos saudáveis e sorriso no rosto. Fortes. Tanto eles quanto elas, mas nada descomunal lapidado à esteróides e bombas. Músculos e corpos adquiridos por esforço próprio. Sem a estupidez das químicas. Gente saudável preocupada com saúde.

Os ruídos e gemidos dos aparelhos, ainda novos para mim, às vezes assustam. Alguns parecem saídos de masmorras inquisitórias. Penso logo com fértil imaginação que surgira à porta ser imenso e musculoso com capuz preto. Que nada,“Carrascas” e “carrascos” são joviais, simpáticos e bonitos em suas camisetas verdes ou pretas. Ao contrário dos torturadores, só querem nos ajudar. Se bem que já vi pequenos sorrisos diante de meu sofrimento. Devo ser desengonçado, faço por merecer.

Vou me empenhar. Acredito que em alguns meses pego o jeito dos aparelhos e passo a dominá-los. Pelo menos não irão mais me dar trancos. Estarei preparado. Não quero me transformar em um Schwarzenegger – esse sobrenome ganha do meu – em seu tempo de The Terminator.

Quero mesmo é ficar de bem comigo, buscar qualidade de vida e um envelhecer tranquilo. O mais saudável possível, sem abrir mão de alguns gostos.

Ainda não começou a se mexer? Está esperando o quê? Garanto, vale cada gota de suor. Como diz uma das instrutoras lhe dando animo ao fim de muita malhação: “Beijo na bunda e até segunda”.






Publicado Jornal Correio em 07/02/2014


https://drive.google.com/file/d/0B3a7BJIdLwOhbDJ5ZlJZNzVqaTA/edit?usp=sharing