sábado, março 24

Beijo

Beijo ligeiro
deixo um cheiro

Beijo esperto
sorriso aberto

Beijo maroto
de moleque garoto

Beijo rápido, por um triz ,
seja sempre feliz

william h. stutz
(sábado de manhã)

quinta-feira, março 22

Veneza dos sonhos




(Para um amigo que me indicou belo site de música italiana
Clique
AQUI e confira )


A internet é realmente surpreendente.
Um especial amigo me indicou recentemente belo site de música italiana, uma coletânea com mais de 692 músicas das mais variadas épocas e estilos: Achille Togliani, Adamo, Carla Boni, Peppino di Capri, Rita Pavone, apenas para citar alguns dos que lá se fazem presentes.

Ao ouvir algumas músicas me vi em plena Piazza di San Marco na mágica Veneza, cercado por belas pessoas e milhares de famintas pombas, algumas mais audazes a pousar em meu ombro como a suplicar migalhas de alimento.
Abro caminho entre elas, Columbias livia de pura linhagem, até o Palácio dos Duques, me encanto com suas colunas góticas.

Ao som boa música me aventuro a assistir a Regatta Storica uma popular e aborrecida, para mim, corrida de gôndolas, coisa para turista americano, coisa para inglês ver. Sigo.
Compro um jornal, Il Mattutino, e distraído me sento à sombra em pequena mesa, caprichosamente decorada com alva toalha bordada de uma típica cantina veneziana ou fritolin com por lá as chamam, onde, lentamente sorvo saboroso ombra, claro o vinho é da casa.
Já imagino o jantar, um delicioso Fegato alla Veneziana ou seja: fígado de vitela preparado com cebola, azeite, manteiga, salsinha, crouton de pão frito na manteiga e uva passa, servido com polenta.
Continuo minha caminhada.
Paro junto à maravilhosa Ponte Rialto,(a da foto ai no alto), sem dúvida a mais bonita de toda Veneza, a música de fundo, minha trilha sonora de vida naquele momento é uma composição de Ennio Morricone composta para o filme genial e único - Cinema Paradiso de Giuseppe Tornatore. Posso sentir, posso compartilhar da emoção do destemido aventureiro mercador Marco Pólo ao retornar depois de 24 anos de suas viagens fantásticas e, ao longe avistar seu encantador porto seguro, sua deslumbrante Veneza, a inesquecível e eterna cidade dos Dodges .
Valeu amigo, valeu. Muito obrigado.

Só para constar: Nunca estive na Europa, muito menos em Veneza. Mas sonhar, concordam, é preciso. Me alimenta o espírito. Me faz sobreviver. Meu Deus como a internet é incrível.

William Henrique Stutz

terça-feira, março 20

Bolsa encosto


Comentário: Crônica "Doutor me encosta" de Thogo Lemos, publicada no Jornal Correio em 16/03/2007 - Coluna Ponto de Vista


Prezado Thogo
a sua genialidade com as palavras, seu saboroso sarcasmo, "tipo assim", Paulo Francis em seus melhores momentos é cativante. Parabéns pela crônica Doutor, me encosta! (Jornal Correio - Ponto de vista 16/03/2007) foi um belo desjejum para uma sexta feira com prenúncio de encalorado entardecer, convite a merecido ócio semanal.

Retrata com clareza o país das mazelas e da pouca valorização humana. Encostar é preciso - viver não é preciso. Será o país do jeitinho ou país das desilusões?

Aproveitando a deixa: não dá para rolar um atestado de insanidade mental permanente, assim me encosto de vez?

Afinal todos que almejam e lutam por um mundo mais harmônico, feliz, equânime. Mais justo, mais perfeito, deveriam ser por força de lei "encostados" ou no mínimo, contrariando a lei antimanicomial, engaiolados numa Barbacena longe. O "trem do sertão" para lá nos levaria, assim como carreou filha e mãe de Sorôco o viúvo. Sempre Rosa, o Guimarães, o mestre João: "para o pobre os lugares são mais longe".

A lucidez, querido amigo pode ser , e quase sempre é incapacitante e, até merecedora, quem sabe de uma "Bolsa-encosto" a ser criada pela equipe econômica de sua majestade, o atual hóspede do Palácio do Planalto.

(Comentário publicado em 20/03/2007 - Jornal Correio coluna "Opinião do leitor)

William Henrique Stutz
Médico Veterinário Sanitarista
stutz@netsite.com.br

sexta-feira, março 16

Haja seu Papa, aja!


Nunca pensei perder tempo com coisas vindas do Vaticano, mas não posso deixar
passar algumas "últimas" que de lá chegaram via BBC, por Deus, não deu para aguentar tanta sandice, tanto nonsense:

Acredite se quiser - ano 2007 - Seculo XXI
"O papa Bento XVI reafirmou a necessidade do celibato para os sacerdotes e a proibição de divorciados de receber a comunhão no Sacramentum Caritatis, documento divulgado pelo Vaticano, nesta terça-feira, que rege a celebração de missas."
(...)
"Ainda no documento, Bento XVI classificou como "uma verdadeira praga" o segundo casamento de pessoas já divorciadas."
(...)
"Ele defendeu também o uso do latim em grandes celebrações e pediu que se valorize o canto gregoriano na liturgia."
(...)
"Bento 16 deu um claro recado aos governantes europeus que discutem leis a favor da eutanásia, do casamento entre homossexuais e do aborto. "

E depois ainda perguntam porque a igreja católica está esvaziando...
Durma-se com um barulho desse!

Haja seu papa aja! (um com H outro sem mesmo)

(continua...)




william h. stutz - março 2007

quarta-feira, março 14

A Caixa

William H. Stutz

Certa feita ganhei uma caixa. Madeira de lei porém de rústico entalhe.
Era verde por pintura o lado de fora e, depois descobri, era estranhamente laranja por dentro.
Em sua tampa havia uma anônima inscrição:

A caixa sempre contém um segredo: encerra e separa do mundo aquilo que é precioso, frágil ou temível. Embora proteja, também pode sufocar.
Em suma, quer seja a caixa ricamente ornamentada ou de uma simplicidade absoluta, ela só possui valor simbólico por seu conteúdo, e abrir uma caixa implica sempre um risco.

Nunca descobri o autor. Triste.
Achei lindo. Corri o risco, abri a caixa, foi quando milagrosamente me atentei à sua mística cor interna .

Depois dela muitas caixas vieram dar em minhas mãos – nunca as busquei e como as latas de uma amiga, elas me encontram, me escolhem, tornam-se voluntariamente minhas. Próprio querer, vida.
De tantas nunca receei abrir alguma.
Pandoras caixas muito mal me fizeram e aos que amo. Com a alma, uma a uma estas fechei, força pra corrigir o mal feito.

Outras, a maioria, me trouxe leveza e poesia.
As caixas continuam a me encontrar. Não receio. Anseio em abri-las, afinal aqui estamos para riscos correr. Sem eles que graça há?

William H. Stutz - março 2007

domingo, março 4

De Rosa e Cárceres

Por Lia A. Falcão

"O mais importante e bonito do mundo é isto; que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou..."
João Guimarães Rosa


Sou descaradamente cativa desse trecho de 'Grande Sertões' de Rosa. A afeição por este gênio - que não me atrevo a chamar regionalista, posto que universal como só ele soube ser - é herança de meu pai e, talvez por isso, eu a tenha guardada entre tantas outras afetividades extraordinariamente hereditárias. A coleção, em papel-bíblia, não sai de minha cabeceira e, apesar do tempo, continua novinha em folha.

O conteúdo, tesouro verdadeiro. Viagens bárbaras que me acompanharam e acalentaram muitas noites de insônia até hoje e, com as idades, foram tomando vida própria, assumindo outras conotações, contornos vários, atrevendo-se a me encantar com novas matizes e paisagens inusitadas.

Assim como a própria vida, as idéias do autor continuam atuantes e dinâmicas, interagindo, movimentando-se: correm rios, gritam ecos, declamam poemas, reclamam dores e me aquecem a alma.

Ora afinamos, ora desafinamos. Mas nunca, nunca chegamos ao fim.
Verdade maior.

As idéias de Rosa, de Nietzsche e de tantos outros realistas pressupõem convicções como cárceres, pois as entendem avessas a mudanças e a novos paradigmas.

Com alegria, constato que as transformações constantes causadas pelo vício da leitura e pelo prazer curioso do conhecimento via Literatura, nos fazem menos néscios, menos beócios, menos velhacos e menos canalhas. Nos transformamos exatamente naquilo o que deveríamos ser - mais humanos.

Negar-se a essa experiência é tornar-se estático, é congelar-se ante a dinâmica vida que nos encerra. E toda estática – seja histórica, geográfica, filosófica, psíquica ou emocional – antecede ao último cárcere - o cárcere da estagnação.

E isso é o fim.


* Lia A. Falcão, matuta de interior pernambucano. Nascida à bordo de avião decadente. Cidadã dos ares. Nefelibata e Antropófaga. Adora políticos de fina reputação e sogras grossas ao ponto.

Publicado em Clube dos Cronistas Cotovelares

quinta-feira, março 1

Canção do amor imprevisto

Mario Quintana

"Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoista e mau.
E a minha poesia é um vício triste, Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.

Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos...

E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender nada, numa alegria atônita...

A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos."