quinta-feira, agosto 30

Civilidade

Disputa política não se dá necessariamente entre inimigos, mas entre adversários. A busca é o triunfo de idéias.

Esta foto publicado no "Confidencial" de hoje no Jornal Correio é um tributo à boa maneira de política fazer. Parabéns aos candidados. As rusgas ficam por conta dos miúdos.


terça-feira, agosto 28

Sapo-Jabba

No Face amiga Amanda MB postou foto de imenso sapo. A cara de Jabba de Star Wars





Canteiros

Em um andar à toa pelo quintal, um registro de pequenas jóias. São tantas. Aos poucos aqui mostro.





segunda-feira, agosto 27

Corrida do Cerrado


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Foto: Bia Stutz

Anjos


Quando se acredita que tudo viu, cena insólita em pleno e seco agosto. Bela ilha de verde jardim se apresenta aberta bem à frente. Em manhã bem cedo estava a andar pelo tempo em busca de nada fazer quando topei com cena insólita. O sol à minha frente e, como holofote de palco, momentaneamente me levava às cegas. Caminhava pesado, ligeiro, pensando em nada, ou talvez na morte da bezerra, o que dá no mesmo.

No ar fresco da manhã, um perfume cítrico/almiscarado me trouxe de volta.

Olhei bem contra o sol, por baixo da aba do boné, buscando a origem de tão magnífico aroma. O esplendor amarelo ouro explodiu nos meus olhos, mas, mesmo assim, deu para notar vultos brancos, esguios, com esvoaçantes véus soltos a vento manso formando longas ondas que flutuavam em harmônica dança. Tentei olhar de lado para tentar entender tamanha beleza e elegância, não seriam garças, pois eram bem maiores do que aquelas esculturas. Seriam anjos?

Será que morri e nem percebi? Contam algumas teorias que o tal morrer na realidade não existe. Acontece assim: quando se acha que morreu, na realidade, passa-se para outra dimensão imediatamente e, se para a dimensão anterior os que lá estão lhe veem morto, na outra para qual se deslocou continuamos tal e qual, vivos e funcionando. Se foi um tombo fatal lá, na da frente você levanta, resmunga e continua vivinho da silva. Meio confuso, não é?

Mas assim seria e, em um grão de areia, teríamos espaço para centenas de dimensões, todas funcionando normalmente e lá estaríamos presentes sempre, apenas pulando de uma para outra, eternamente.

Se foi isso e morri, então me enganaram todos. Não vi a tal luz, o tal túnel nem nada que sugerisse mudança de dimensão. O sol continuava a me castigar os olhos e o corpo.
Não, não fiz a tal passagem. Estava ali mesmo a admirar o que agora me pareciam fadas.
Uma gota de suor escapou do boné, desceu lenta pela testa, contornou a sobrancelha e escorregou têmpora abaixo em molhada cócega. Acabou seu trajeto nas costas de minha mão.

Segui um pouco mais cabreiro, olhar firme no chão. Uma sombra imensa de sucupira esparrama-se logo adiante, seria ali o firmar olhar sem a interferência do brilho maior. Assim foi e sob a fresca sombra firmei vista.

A cena parecia saída de um filme de Kurosawa. “Sonhos”, talvez?

À minha frente, em exuberante jardim bem cuidado, uma ilha de verde e flores, em meio ao seco de um agosto castigante, rodopiavam nada menos do que cinco lindas jovens vestidas de noivas, véus e grinaldas. Brincavam como ninfas gregas em jardins do Monte Olimpo, na longínqua Tessália. Riam, corriam elegantemente de um lado para outro. Uma festa de beleza, elegância e alegria.

Mas o que fariam tantas noivas em plena manhã, assim em bando, como raras aves? Haveria um casamento coletivo e elas ali se concentravam a esperar pretendentes? Pouco provável. Ainda sob o frescor da sombra da sucupira, admirando a bela cena, segui mais lentamente para não assustá-las, pois poderiam alçar voo ao notarem minha presença. Notei, ao virar a esquina, outro grupo de pessoas. Uma produtora pelo que percebi.

Nada mais do que uma sessão de fotos para alguma revista, loja ou book.
Grata surpresa iluminou o dia, alegrou o bairro. Fez feliz quem as viu. Que tenham sorte com seus futuros consortes. Vida longa às fadas.







Publicado no Jornal Correio em 26/08/2012

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quarta-feira, agosto 22

Paina em neve

Paineira faz nevar no cerrado seco. Periquitos em eterna algazarra ajudam a espalhar o branco. É tempo de festa, o chão se enfeita de noiva




©2012 William H Stutz

terça-feira, agosto 21

Retrato de família

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©2012 William H Stutz

Ocaso

O ar seco e limpo céu produzem pôr do sol de animadas luzes.
Agosto ainda pelo meio. Chuva, nem sinal




©2012 William H Stutz

terça-feira, agosto 14

Matar morcego?

Há anos e anos batemos nessa tecla. Defendemos essa tese baseado em experiência própria. Controle de raiva em bovinos se dá através de vacinação anual e, eventualmente uso de pasta vampiricida no animal atacado apenas. Finalmente vemos nossa certeza comprovada cientificamente.

Matar morcegos é ineficaz contra propagação da raiva

PARA LER, REFLETIR E DISCUTIR....


Por Véronique Martinache

A destruição de morcegos-vampiro como medida para lutar contra a propagação da raiva, uma doença muito frequente na América do Sul, não reduz o risco de exposição ao vírus e pode ser contraprodutiva, informou um estudo realizado no Peru publicado nesta quarta-feira.

A raiva é um problema grave em vários países da América do Sul, onde além de ser um perigo para o homem também provoca a morte de milhares de cabeças de gado a cada ano.
A maioria das infecções humanas por raiva é atribuída aos morcegos vampiros, uma espécie que se alimenta de sangue.

Desde os anos 1970, os esforços para controlar a propagação da raiva no Peru focam na destruição de morcegos vampiros, sobretudo envenenando-os, partindo da hipótese de que uma redução do tamanho das colônias levaria ao desaparecimento do vírus.
Mas agora uma equipe de pesquisadores americanos e peruanos, dirigida por Daniel Streicker, da Odum School of Ecology (parte da Universidade de Georgia, Athens, nos Estados Unidos), questiona essa hipótese em um estudo publicado pela revista Proceedings da Royal Society britânica.

Os pesquisadores tomaram regularmente amostras de sangue de morcegos-vampiro em 20 lugares do Peru durante um período de 40 meses e também recolheram dados sobre o tamanho das colônias (de 16 a 444 indivíduos) e sobre a frequência das operações de destruição.

Os pesquisadores descobriram que o vírus da raiva estava presente em todas as colônias, independentemente de seu tamanho.
"Isso é importante, porque se não existe relação entre a densidade da população de morcegos e a raiva, reduzir a população de morcegos não reduzirá a transmissão da raiva nessas populações", explicou Streicker.

A equipe de pesquisa também concluiu que nas regiões onde esses animais foram eliminados de forma esporádica aumentou a proporção de morcegos expostos à raiva.
As colônias onde os morcegos foram eliminados regularmente tinham por sua vez uma taxa de exposição "levemente menor" e as colônias nas quais nunca se havia destruído animais tinham as taxas de exposição mais baixas.
Esta constatação poderá ter várias explicações, em particular o fato de que o veneno mataria apenas os morcegos adultos, que podem ser imunes à raiva, mas não os mais jovens.

"Quando matam os morcegos adultos, que podem ser imunes, estão dando lugar a morcegos jovens vulneráveis", disse Streicker.
Os pesquisadores também falam do "efeito vazio", que faria os indivíduos deslocarem-se das colônias vizinhas para encher o espaço vacante.
Os autores esperam que esse estudo sirva para ajudar as autoridades peruanas a colocar em andamento estratégias baseadas em realidades científicas para lutar contra a raiva, mas advertiram que ainda estão "nas primeiras fases" da pesquisa.
A cada ano, mais de 50.000 pessoas morrem de raiva no mundo.

Fontes:
Ciência Veja - Abril no Blog Animal Health/Sanidade Animal

segunda-feira, agosto 13

O brinco



De longe, o sol refletiu brilho diferente na calçada. Acostumado a andar sempre atento ao chão, pois o campo minado pelos cães está por toda parte, aquele luzir me chamou a atenção.

Era uma subida um tanto quanto íngreme para os padrões de nossa cidade. Assim, em dado momento, aquele pequeno fulgor estava à altura de meus olhos, como se no horizonte estivesse.

Segui em frente curioso. Uma moeda talvez? Uma tira de tampa de lata de cerveja ou, quem sabe, apenas um papel de maço de cigarros? Vemos isso por todos os cantos. Educação não é o forte para muitos de nossa gente. Há aqueles para os quais lixeira é a rua. Levam seus cães para sujá-las como se isso fosse normal e como se estivessem fazendo boa ação para o pobre animal.

Uma nuvem mais encorpada de poeira, ciscos e folhas passou ligeira e apagou momentaneamente o brilho.
Mais alguns passos e lá estava eu parado a observar a fonte de tímida luz. Era um solitário brinco dourado, perdido ali no meio do nada. Muitos haviam passado sobre ele sem notá-lo e por sorte ninguém o pisoteou.
Agachei e recolhi a pequena peça. Curioso, coloquei-a sobre a palma da mão. Era um brinco mesmo, bom pelo menos à primeira vista. Possuía o formato de uma flor, uma rosa talvez. Bem no centro um minúsculo brilhante a me olhar piscando multicor.

Era uma joia verdadeira e não bijuteria de camelô. Olhei ao redor procurando alguma moça desesperada com a mão na orelha. Nada.
Bom, poderia ser de algum moço, pois esse tipo de adereço deixou de ser exclusividade feminina já tem tempo. Mas pelas cores formato e delicadeza, tudo levava a crer ser de alguma mulher.

Talvez tivesse sido presente de namorado ou noivo. A falta desse poderia gerar separação ou briga homérica. Fiquei apreensivo.

Segui meu caminho atento agora às expressões femininas. Uma moça magra, melancolia estampada no rosto, passou por mim. Não tive dúvidas e a abordei com a mão aberta onde, como em porta-joias cintilava a flor: — Por acaso este brinco é seu?

Ela me olhou assustada. Foi como se a tivesse arrancado de forma violenta de um cismar longe. Olhos arregalados vi ali medo. Balançou negativamente a cabeça e se afastou ligeira. Que mundo esse! Pensei sem tirar os olhos na joia. As pessoas andam com tanto medo pelas ruas que uma simples pergunta, mesmo acompanhada de um sorriso, parece ameaça. Desconversam e literalmente fogem de qualquer contato por menor que seja com estranhos. Seguros? Apenas dentro de suas casas fortalezas, cercadas de alarmes, câmaras, cães bravios e frascos e mais frascos de ansiolíticos.

Bem mais à frente depois de muito procurar, em ato impensado, levei a mão com o brinco próxima à minha orelha, para um simples coçar a cabeça. Um murmúrio se fez ouvir.

Parei abruptamente e corri olhos de um lado a outro. Ninguém por perto.

Imaginação minha. Mas o som foi tão nítido. Novamente olhei à minha volta e, fingindo novo coçar levei novamente agora intencionalmente, o brinco junto à orelha. Um frio percorreu a espinhela e o coração acelerou. O brinco, simplesmente falou comigo!

Fechei rápido a mão e apressei o passo. Devo estar delirando. Coisas da imaginação. Brinco falante?!
Cheguei em casa esbaforido. Com olhos arregalados me tranquei no quarto. Brinco sobre a mesa. Puxei cadeira e fiquei bem perto a observá-lo.

Aproximei a cabeça de forma que minha orelha ficasse rente ao tampo de madeira, sentindo o cheiro de lustra-móveis. O sussurro pode-se ouvir agora um pouco mais nítido. Pude distinguir algumas palavras.

Estaria vivenciando uma experiência paranormal? Será que a dona daquela flor de metal queria fazer contato comigo? Talvez quem sabe, em ato de desespero por amor não correspondido, teria se atirado de alguma ponte, e agora, arrependia e do lado de lá, na escuridão das águas e a caminho
do andar de cima, queria, através do brinco enviar para seu amado pedido de desculpas e que ele não se sentisse culpado por nada?

Ou quem sabe seria um comunicador alienígena? Povos de outro planeta ou dimensão abrindo canal de comunicação. Através de observações de séculos descobriram que o melhor lugar de se colocar um sistema arrojado de contato seria, hora vejam, num brinco?

Analisando todas as hipóteses só havia uma coisa a fazer: colocar tal brinco na orelha, torcendo para que ninguém me visse com aquela peça pendurada no lóbulo da orelha
ou talvez no trago para melhor sintonia, e ir até o fim. Gente de outro planeta, contato com os que se foram e hoje habitam o andar de cima, de onde lá que viesse o contato, eu me via na obrigação de desvendar aquele mistério que poderia se tornar o acontecimento do século.

Vi-me dando entrevistas para todasas emissoras TV e rádio do mundo. Twitter e Facebook não falariam em outra coisa. Do anonimato para o mundo. O staff de Oprah Winfrey brigaria de tapa com pessoal do Larry King por uma entrevista exclusiva com este que vos fala.
A NASA me convidaria para trabalhar na área 51, bem no meio do deserto de Nevada, onde coordenaria um projeto de contatos de terceiro grau, já prevendo e programando
visitas mútuas a planetas distantes. As empresas de softwares me ofereceriam milhões pela tecnologia que ali se encontrava bem à minha frente. Seria recebido por presidentes, ministros de Estado, reis e rainhas. Condecorado com medalhas de
honra e com Prêmio Nobel de alguma coisa que, se não existisse, seria criado especialmente para mim.

Capa do “Times”, da “National Geographic”, do “BusinessWeek”. Seria entrevistado pelas revistas “Science” e pela “World Scientific”. Estúdios de Hollywood ofereceriam
milhões pela exclusividade da história que viraria fi lme e sério candidato a vários Oscar, além de Palma de Ouro em Cannes.

O livro sobre o acontecido seria best-seller mundial, traduzido para cento e tantos idiomas.
Durou pouco essa tempestade de pensamentos-relâmpagos. Estes caíram por terra assim que coloquei o suposto brinco do espaço ou orelhão para conversar com os mortos. Ouvi nitidamente a forte voz melodiosa de Billie Holiday, que, como ave do paraíso, cantava “Tenderly”.
O surreal, o sonho, virou foi braveza. O danado não passava de uma miniatura ou nano Ipod que alguma moça deixara cair durante um passeio.

Era o cúmulo da miniaturização. Virando a peça de um lado para outro, acabei por perceber os botõezinhos de liga/desliga e de volume e ainda, bem embaixo em canto oculto, a prova de origem: Made in China.Tem coisa que só acontece comigo.





Publicado no Jornal Correio em 12 (parte 1 ) e 13 (parte 2) de agosto de 2012


Em pdf AQUI

Dia dos pais

Felicidade maior? Tem não.

"Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!"

Poema Enjoadinho
Vinícius de Moraes




O brinco - Parte II



Estaria vivenciando uma experiência paranormal? Será que a dona daquela flor de metal queria fazer contato comigo? Talvez quem sabe, em ato de desespero por amor não correspondido, teria se atirado de alguma ponte, e agora, arrependia e do lado de lá, na escuridão das águas e a caminho
do andar de cima, queria, através do brinco enviar para seu amado pedido de desculpas e que ele não se sentisse culpado por nada?

Ou quem sabe seria um comunicador alienígena? Povos de outro planeta ou dimensão abrindo canal de comunicação. Através de observações de séculos descobriram que o melhor lugar de se colocar um sistema arrojado de contato seria, hora vejam, num brinco?

Analisando todas as hipóteses só havia uma coisa a fazer: colocar tal brinco na orelha, torcendo para que ninguém me visse com aquela peça pendurada no lóbulo da orelha
ou talvez no trago para melhor sintonia, e ir até o fim. Gente de outro planeta, contato com os que se foram e hoje habitam o andar de cima, de onde lá que viesse o contato, eu me via na obrigação de desvendar aquele mistério que poderia se tornar o acontecimento do século.

Vi-me dando entrevistas para todasas emissoras TV e rádio do mundo. Twitter e Facebook não falariam em outra coisa. Do anonimato para o mundo. O staff de Oprah Winfrey brigaria de tapa com pessoal do Larry King por uma entrevista exclusiva com este que vos fala.
A NASA me convidaria para trabalhar na área 51, bem no meio do deserto de Nevada, onde coordenaria um projeto de contatos de terceiro grau, já prevendo e programando
visitas mútuas a planetas distantes. As empresas de softwares me ofereceriam milhões pela tecnologia que ali se encontrava bem à minha frente. Seria recebido por presidentes, ministros de Estado, reis e rainhas. Condecorado com medalhas de
honra e com Prêmio Nobel de alguma coisa que, se não existisse, seria criado especialmente para mim.

Capa do “Times”, da “National Geographic”, do “BusinessWeek”. Seria entrevistado pelas revistas “Science” e pela “World Scientific”. Estúdios de Hollywood ofereceriam
milhões pela exclusividade da história que viraria fi lme e sério candidato a vários Oscar, além de Palma de Ouro em Cannes.

O livro sobre o acontecido seria best-seller mundial, traduzido para cento e tantos idiomas.
Durou pouco essa tempestade de pensamentos-relâmpagos. Estes caíram por terra assim que coloquei o suposto brinco do espaço ou orelhão para conversar com os mortos. Ouvi nitidamente a forte voz melodiosa de Billie Holiday, que, como ave do paraíso, cantava “Tenderly”.
O surreal, o sonho, virou foi braveza. O danado não passava de uma miniatura ou nano Ipod que alguma moça deixara cair durante um passeio.

Era o cúmulo da miniaturização. Virando a peça de um lado para outro, acabei por perceber os botõezinhos de liga/desliga e de volume e ainda, bem embaixo em canto oculto, a prova de origem: Made in China.Tem coisa que só acontece comigo.

Na orelha, boto não! Lá ficar um pouco estranho. Mas à noite, quando deito, ligo o rádio-brinco sob o travesseiro e ouço a seleção de muito bom gosto que a antiga dona gravou. Fica só uma preocupação: quando acabar a bateria, faço o quê?

Publicado no Jornal Correio em 13 de agosto de 2012

Página em PDF AQUI

domingo, agosto 12

Brinco - Parte 1


De longe, o sol refletiu brilho diferente na calçada. Acostumado a andar sempre atento ao chão, pois o campo minado pelos cães está por toda parte, aquele luzir me chamou a atenção.

Era uma subida um tanto quanto íngreme para os padrões de nossa cidade. Assim, em dado momento, aquele pequeno fulgor estava à altura de meus olhos, como se no horizonte estivesse.

Segui em frente curioso. Uma moeda talvez? Uma tira de tampa de lata de cerveja ou, quem sabe, apenas um papel de maço de cigarros? Vemos isso por todos os cantos. Educação não é o forte para muitos de nossa gente. Há aqueles para os quais lixeira é a rua. Levam seus cães para sujá-las como se isso fosse normal e como se estivessem fazendo boa ação para o pobre animal.

Uma nuvem mais encorpada de poeira, ciscos e folhas passou ligeira e apagou momentaneamente o brilho.
Mais alguns passos e lá estava eu parado a observar a fonte de tímida luz. Era um solitário brinco dourado, perdido ali no meio do nada. Muitos haviam passado sobre ele sem notá-lo e por sorte ninguém o pisoteou.
Agachei e recolhi a pequena peça. Curioso, coloquei-a sobre a palma da mão. Era um brinco mesmo, bom pelo menos à primeira vista. Possuía o formato de uma flor, uma rosa talvez. Bem no centro um minúsculo brilhante a me olhar piscando multicor.

Era uma joia verdadeira e não bijuteria de camelô. Olhei ao redor procurando alguma moça desesperada com a mão na orelha. Nada.
Bom, poderia ser de algum moço, pois esse tipo de adereço deixou de ser exclusividade feminina já tem tempo. Mas pelas cores formato e delicadeza, tudo levava a crer ser de alguma mulher.

Talvez tivesse sido presente de namorado ou noivo. A falta desse poderia gerar separação ou briga homérica. Fiquei apreensivo.

Segui meu caminho atento agora às expressões femininas. Uma moça magra, melancolia estampada no rosto, passou por mim. Não tive dúvidas e a abordei com a mão aberta onde, como em porta-joias cintilava a flor: — Por acaso este brinco é seu?

Ela me olhou assustada. Foi como se a tivesse arrancado de forma violenta de um cismar longe. Olhos arregalados vi ali medo. Balançou negativamente a cabeça e se afastou ligeira. Que mundo esse! Pensei sem tirar os olhos na joia. As pessoas andam com tanto medo pelas ruas que uma simples pergunta, mesmo acompanhada de um sorriso, parece ameaça. Desconversam e literalmente fogem de qualquer contato por menor que seja com estranhos. Seguros? Apenas dentro de suas casas fortalezas, cercadas de alarmes, câmaras, cães bravios e frascos e mais frascos de ansiolíticos.

Bem mais à frente depois de muito procurar, em ato impensado, levei a mão com o brinco próxima à minha orelha, para um simples coçar a cabeça. Um murmúrio se fez ouvir.

Parei abruptamente e corri olhos de um lado a outro. Ninguém por perto.

Imaginação minha. Mas o som foi tão nítido. Novamente olhei à minha volta e, fingindo novo coçar levei novamente agora intencionalmente, o brinco junto à orelha. Um frio percorreu a espinhela e o coração acelerou. O brinco, simplesmente falou comigo!

Fechei rápido a mão e apressei o passo. Devo estar delirando. Coisas da imaginação. Brinco falante?!
Cheguei em casa esbaforido. Com olhos arregalados me tranquei no quarto. Brinco sobre a mesa. Puxei cadeira e fiquei bem perto a observá-lo.

Aproximei a cabeça de forma que minha orelha ficasse rente ao tampo de madeira, sentindo o cheiro de lustra-móveis. O sussurro pode-se ouvir agora um pouco mais nítido. Pude distinguir algumas palavras. (Continua amanhã).







Publicado no Jornal Correio em 12 de agosto 2012 ( Dia dos Pais!!!)

Em PDF AQUI

segunda-feira, agosto 6

Domingo de ouro

Apesar de tanta prosa maravilhosa, nem 10% pode ser colocado em dia. Merecemos mais uns tantos encontros para compensar anos sem encontros.
Foi muito bom mesmo.



quinta-feira, agosto 2

Íris

Flor de um dia. Como pensamento breve, olha a vida e se vai. Deixa rastro de beleza e perpetua-se em lembranças.





Fotos: Bia Stutz