sexta-feira, fevereiro 26

Escorpiões




Em um mês, foram registrados, em Uberlândia, 44 casos de acidentes com escorpião no período de dezembro de 2015 a janeiro de 2016. No ano passado, foram 20.015 ocorrências de pessoas picadas pelo aracnídeo em todo o Estado. Durante o período de chuva, os cuidados devem ser redobrados já que enchentes, alagamentos e enxurradas acabam obrigando o animal a deixar os esconderijos e procurar locais secos.

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Jornal Correio em 25/02/2016






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segunda-feira, fevereiro 22

Fantasia



Foto da protagonista da cronica por William H Stutz
Meu já conhecido hábito de observar as “insignifitudes”, para mais uma vez abusar de palavras de um dos maiores gênios da literatura brasileira, o mestre Manoel de Barros, me fez seu seguidor e com ele me sentir um “Apanhador de desperdícios.” Continuo a recitar mantra de Manoel: “Tenho em mim esse atraso de nascença./ Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos./ Tenho abundância de ser feliz por isso.”

Como bom cristão que reza, como bom pastor que pastoreia, pescador que lança rede ou simples/complicado como ser vivente que vive, esta terça de Carnaval existiu para me provar crença no belo que poucos enxergam, olham, veem (ortografia nova horrorosa, sem acento tipo chapéu Deerstalker). Tem dia que existe só para nos mostrar algo especial, que a vida vale o respirar.

Ando a sofrer com excesso de passado. Digo sofrer, pois é assim mesmo, “dilorido”/lamentoso atoleiro de lembranças. Areia movediça mental, quanto mais mexe mais fundo se vai. Quando dei por mim estava tão longe que até preguiça de voltar deu. Foi quando faceira ela borboletou casa a dentro. Quietou meu debater e a segui com a alma. Imaginei chegando das festas ou saindo para acompanhar bloco. Não, era novinha de roupagem e vida. Tinha acabado de sair de hibernação transformadora. Como sei? Ora, ela deitou pouso em parede branca e vagarosamente se pôs num abrir/fechar de asas. Tinha que secá-las para poder alçar voo de verdade.

Seu tempo de beleza é curto. Algumas poucas semanas. Se tiver sorte, um mês. Diferente dos humanos, se torna bela e assim se vai. As marcas do seu tempo não se dão em rugas ou casmurrices, mas em uma perda ligeira de brilho, imperceptível ao olhar comum, posto que poucos vão por atenção nela mesmo. Esta pequena joia me arrancou do mar de pensamentos e me trouxe de volta. Como “Quasimodo” de Victor Hugo ou Ferdinando, o touro de “Munro Leaf”, popularizado pelo desenho animado de Disney, me deixei levar pela miúda e estonteante beleza. O melhor antidepressivo é a contemplação. Me acode muito.

A propósito, o termo “excesso de passado” foi garimpado em publicação do Face. Garimpado sim, pois a grande maioria do que se vê ali segue a linha da falta de fonte, do “diga amém e compartilha”. Visito o Face como leria um antigo almanaque do Biotônico. Pouca ciência muita tolerância, muita informação desnecessária.

Carnaval. Concordo, sou ruim da cabeça e doente do pé, mas tento ser um bom sujeito. Não fico por aí a maldizer o ritmo. Gosta? Aproveite e se esbalde em “chuva suor e cerveja.” Não gosto de Carnaval plastificado, de camelô. Não consigo me imaginar vendo um desfile na televisão. Vi um, há vários anos atrás. Pelo que contam, vi todos. Muda nada.

Minha pequena visita aprumou e voou rumo a goiabeira. Foi procurar amor de sua existência. Tinha pressa de perpetuar a espécie. Sofria de “excesso de presente”. Tinha o que fazer. Desejei-lhe boa sorte, cantarolei marchinha que Tavinho Moura puxou um dia em Carnaval de praia, em um Espírito Santo de águas frias e limpas: “A minha fantasia ninguém muda. Esse ano vou sair de Buda, vai ser Buda prá lá, vai ser Buda pra cá (…)”

Penso agora em “excesso de futuro”.








Em Jornal Correio 21 de fevereiro 2016




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segunda-feira, fevereiro 15

A ponte





Ele sempre quis saber o que havia lá do outro lado. Ligando uma margem à outra havia uma ponte. Era uma ponte de madeira, beiral caído, algumas tábuas soltas; nada de especial, não chamava atenção. Construída há muito tempo, agora pouco era usada, pois, depois da mudança do traçado da nova rodovia, ela ficou meio que isolada, no meio do mato, ligando nada a lugar algum. Eventualmente, algum tropeiro ou peão-do-trecho a usava para cortar caminho, mas era raro, muito raro. Virou atalho. Não era muito alta, mas uma queda podia ser perigosa, pois o córrego era raso e as águas cristalinas que corriam sob sua estrutura abrigavam muitas pedras.

Em uma de suas cabeceiras a vegetação tomava conta, samambaias imensas, escondiam pequenas teias de aranha que pela manhã brilhavam orvalhadas como joias. Ele gostava de ficar observando a outra margem, sempre quis saber o que havia do outro lado.

Espiava curioso os aglomerados de árvores, os contornos, as sombras. Sons, muitos sons vinham da outra margem do rego d’água. Cantos, rugidos, piados. E ele queria saber o que lá havia, era seu sonho, sua obsessão. Toda tarde, apoiava-se em um galho e ali, quieto, ficava a olhar o lado de lá. Por várias vezes, criou coragem e ensaiava enfrentar o trecho e realizar seu desejo, mas, no derradeiro instante, desistia, esse medo o enfraquecia, sentia que se não o enfrentasse a sua vida não teria sentido. A ponte era seu desafio maior e único.

Naquela dia, acordou decidido, faria a travessia logo mais ao escurecer, saberia, enfim, o que havia do outro lado. Esperou ansioso a chegada da tarde, o sol estava diferente, as nuvens mais brilhantes, uma brisa fria tocou seu corpo; sentiu cheiro de chuva. Não se apoiou como de costume em seu galho preferido, com o pequeno coração em disparada recostou-se na própria ponte e esperou. A noite chegava convidativa, as primeiras estrelas já se faziam anunciar: tênue brilho, esmeraldas e turmalinas. Tinha chegado o momento, ele sabia disso, ia finalmente saber o que havia do outro lado. Ergueu a cabeça, respirou fundo, fechou os olhos, se postou para a arrancada.

Qual a sua decepção; bateu subitamente o medo, o seu incompreensível, irracional medo, não conseguiu se mover. Lutou desesperadamente contra esta força que o impedia de avançar, sem sucesso. Resignado deitou-se no chão e ali se deixou ficar por muito tempo — sofria. Se fez noite fechada e vaga-lumes riscavam o ar bem próximos de sua cabeça. Suspirou e deu uma última olhada para a ponte — apenas um vulto negro agora sem linhas, sem contorno, sem graça; obstáculo. Ainda não foi desta vez que conheceria o que havia do outro lado. Levantou-se amargo, sacudiu a poeira de sua colorida plumagem, passou o bico vagarosamente sob suas asas, sentiu o calor de sua pele, esticou as patas e voou para seu ninho.

Melodiosamente entoou triste canto noturno. Dormiu cansado e, mais uma vez, sonhou com a ponte, e claro, com o que haveria do outro lado. Alguns de nós somos assim, nunca atravessamos nossas pontes, uma pena.








Jornal Correio domingo, 14 de fevereiro 2016




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quinta-feira, fevereiro 11

Nomes



Amigo Júlio Penna, assim mesmo com aristocrático duplo N, me deu um alerta. Nomes. Todo cuidado é pouco na hora de escolher nome de filho. Ser criativo, pode gerar constrangimentos e bullying.
Encontrei alguns tantos, mostro poucos: Maiquel Edy Marfy, Patrick Itambé da Silva, Erripóter, Romixinaide, João Lenão, Milquesheiqueson. A lista é imensa.

Poderiam ter me batizado João. Meu filho assim foi, segue composto em Lucas, iluminado João Lucas. Ah, João Batista, João de Barro. Tantos Joões. Poderia ser José, nome que por si só transmuta, vira Zé e não tem quem tire. Zé das Couves, gente do povo. Talvez Maria, Vidente ou das Graças, Aparecida, de Fátima, das Dores, horrores. Da Penha. Maria das Luzes, Maria. Tantas uma só. Maria Cristina, ou apenas Cristina, Tina, Cri, como o cantar dos grilos. Com sorte Mariana, como minha filha, nome forte.

Poderiam ter me dado Pedro, pedra bruta, pronta a lapidar. Mas dei sorte, pois poderiam ter me agraciado com nomes vários e diferentes: Dosolina, Tazinasso, Elvis Presley da Silva, Eraldonclóbes Souza, Espere em Deus Mateus, Benedito Camurça Aveludado ou quem sabe Maycom Géquiçom ou Franklestan? Djennypher estaria de bom tamanho?

Sendo filho de pai gringo do Brooklyn, NY, não posso reclamar. Na verdade adoro meu nome e já o encontrei abrasileirado para Uilhan. Há tempos guardo grafias do mesmo: Uiliam, Wilian, Wilha, Uilen, raramente com dois “Ls e M com é. O sobrenome então, dá zica sempre. Stutz é um arraso, só soletrando ou mostrando documento. — Por gentileza pode copiar? A que mais gosto das variações vem das gentes simples a me chamarem de Seo Uila. Cheiro de mato, sopro de vento de sonoridade e pureza de alma. Sinto-me figura de Rosa, o Guimarães. Orgulho que só.

Nomes marcam época, modismo. Os anos 60, com o belo movimento de contracultura hippie, fizeram brotar nomes como Brisa, Estrela, Mel, Flor, Sol, Dilan, Demian, Iris e Jasmim. Estes sempre soam bem e trazem vibrações de paz e amor.

Já outros, do gracejo ao trauma, a distância é pequena, como beijo de pulga. Mas fique tranquilo, se não gosta de seu nome, mude, pois é só ir ao cartório. Tenho uma amiga que detestava seu nome. Chamava-se Mari Onete. Não teve dúvidas, mudou para Títere dos fios. Está feliz da vida andando com as próprias pernas.

Caso ouvi, contado de moço que chegou para tirar de identidade. Perguntas de sempre. Endereço, estado civil ou militar e nome completo. — Papaulo Persegonha. Como é que é? Estranhou funcionário da delegacia. — Papaulo Persegonha, repetiu com cara de poucos amigos e conhecedor do estranhamento. Meu caro, você por acaso é gago? — Não senhor, mas meu pai era e o escrivão um tremendo de um gozador.

Pois então amigo Júlio, diz bem, com propriedade. Nome de gringo, mas alma e espírito de total brasilidade, matuto desconfiado de Minas, sem ufanismo, olho observando. Aprovando o que acho bom, sem mais julgar o errado ao meu atentar. Aprendi, contei, reconto com João meu filho.
Ficamos assim, sem muito mais. Se seu nome é Bond, James Bond, o meu bem pode ser uell, Manoel, reza a troça. Cada um com sua sina.








Jornal Correio em 07 de fevereiro de 2016   (Um domingo de carnaval)




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segunda-feira, fevereiro 1

Aedes


Céu de marte em março. by Márcia Valle

O dia amanheceu quente. Sol pálido e embaçado se fez mostrar em céu vermelho marte sem graça. Fim de mais uma noite sem lua, sem estrelas. Estrelas, coçou a cabeça a pensar. A última vez que viu uma de verdade foi no museu de História Natural, no planetário. Lembra claramente da sensação de alegria e bem estar ao ver as constelações, a lua. Via Láctea fazendo jus ao seu nome, caminho de leite.

Pulou da cama, tomou seu banho a seco. Água pura era coisa rara e cara. Riu sozinho das mentiras contadas em pen drive, com memórias de parente longínquo. Dois banhos por dia com água! Vê se pode? Nem naquele tempo! E o falsocéu nas imagens de recordação, um azul de doer os olhos, nuvens brancas e pássaros para todo lado? Esses antigos tinham tempo!

Quanto a ele, não tinha tempo a perder. Vestiu rapidamente sua armadura protetora e, como sempre, a primeira missão do dia estava por fazer. Desembainhou sua raquete eletrônica e se pôs a fazer a inspeção diária de dez minutos por sua casa. Todos eram obrigados a fazê-la, sob pena de prisão e processo por omissão.

Os inimigos se escondiam por todos os cantos. Debaixo de camas, mesas e poltronas. Sentiu o primeiro ataque nos pés. Reagiu por instinto, brandindo sua raquete em golpe certeiro, “plect” rodopia como samurai, “plect” “plect” estalos indicam mais dois inimigos abatidos. Decorrido o tempo de busca e após algumas dezenas de “plects”, extenuado, suando feito cavalo de corrida, encostou-se para breve descanso. Sentiu as feridas. Estas coçam mais do que pó de mico. Os inimigos desenvolveram poderosas armas, não respeitando mais tecido grosso e muito menos repelentes ou venenos.

O século é o 23 e os Aedes estão maiores e mais vorazes. Aprenderam táticas de guerrilha. Transmitem centenas de doenças e agravos, de chulé a bico de papagaio. Reproduziam-se em barrancos e areia, seca, desenvolveram cérebro tornaram-se pensantes. Poças de chuva ácida não careciam. Darwin explicaria.
Dengue, zica, chikungunya? Coisas do passado.

Para cada vacina, em seus laboratórios nos mangues, charcos eles descobrem outras doenças e métodos para atacarem humanos. Atualmente estão desenvolvendo formas de transmissão da apatia e do desleixo, na tentativa de deter os gladiadores que lhes vem causando muitas baixas.

Assim, logo após a queda dos porcos e a malsucedida Revolução dos Bichos, virá o império Aedes aegypti. Brinca para você ver! Ficção de hoje é a realidade de amanhã. Cuide do seu pedaço, do seu quintal. Deixando criadouros do mosquito você está contribuindo para a evolução de super raça de Aedes.

Faça sua parte senão estamos com os dias contados. Isto se nós mesmos não resolvermos nos implodir antes, alimentando os Kim Jong-il da vida a caviar e Champanhe Goût de Diamants, enquanto ele brinca de bombas de nitrogênio.

Inspecione sua casa dez minutos por dia. O mosquito é democrático. Casa de rico ou de pobre, não dá bola para política ou futebol. A hora é agora, senão, nossos bisnetos verão o sol nascer embaçado em seu vermelho marte/morte.










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