sexta-feira, novembro 28

Tocaia

Ansiedade assumida, suor a escorrer pela testa. Arapuca armada – quirela amarelinha como a encantar e colorir a festa.

Por de trás da moita nas mãos a linha grossa, já suja e remendada – o gatilho da espreita, da tocaia. Horas a fio vendo a bela trocal a pastar perto, rodeia/arrulha mineira, desconfiada. Um sem ciscar de busca pelo milho na sombra, vem devagar, observa. Aos poucos perde o medo, a mão do barbante se retesa, joelho raspa a
terra molhada, está quase de pé. Só mais um pouco, paciência.

O suor agora embaralha a vista, em cachoeira passa pela sobrancelha e corre solto por sobre os olhos. Coração agora bate na garganta, é hora.
Arapuca-algoz pronta, quase treme, cordão teso. Pomba passa rente, esbarra na taboca que estala, um súbito parar, bico para o alto olhos aflitos como a procurar.
Um leve bater de asas sem voar, procura, pressente.

Moleque fica pálido sente arrepio e dor de posição. Já não agüenta segurar a própria mão, geme, arfa baixinho. A correia da sandália de plástico parece querer cortar seu pé que já formiga adormecido.

A trocal ainda parada olha de soslaio a quirela na sombra da arapuca. Determinada com seu jogar de cabeça avança, estica o pescoço para dentro, assunta.
Futrica chega esbaforida e em espalhafatosa busca acha o dono, pula/late/lambe, irresponsável, é só o tempo de um olhar por sobre a planta para ver a trocal em assoviado vôo se ir barulhenta.
Menino e cão rolam pelo chão, raiva passa rápida, aos risos brinca de outra coisa.
Criança é assim por natureza – feliz.

quinta-feira, novembro 27

Psicografia



Como soco seco em vazio estômago, sobe em peristaltismo contrario e acaba na garganta como sufocante bolha de ar.

O escrever. As letras mansas como gado tangido em corredor de terra, a vontade, a ideia, a vontade que conduz vem rápida. Ou se guia o gado ou o rebanho, como as palavras, se desfaz em nuvem pó, cada uma toma um rumo. Nunca mais

Eu queria ter mais letrinhas na cabeça assim escreveria uma história que de tão grande a boiada sonora seguiria em longa fila. Das gerais das Minas ao sertão de imenso Goiás sem pedágio que a interrompesse. A caneta meu berrante, meus óculos minha visão.

De tão grande que o tropel levantaria nuvem de poeira densa. Se faria noite por seis dias, apagando estrelas por seis noites. E quando cortado o trecho e o pó em mansidão se assentasse, não haveria sujeira e tristeza, mas sim colorida e imaculada paisagem. Seria como se as mais puras das geladas brisas da montanhas em julho, lá da serra por ali fossem sopradas e a escuridão do tropel seria substituído por sol em invulgar brilho. Reinando. As gentes seriam felizes, belas e doces.

Eu queria tanto ter mais letrinhas na cabeça e o dom de junta-las em harmônico conto.Seria conto de amor a longa história. Eu queria.

O escrever sem ter lido. Estranho. Descobrir Kant, ou a saga de Tristão e sua salvadora e venenosa lingua de dragão, troféu.

É como conduzir caminho vazio, sem carga. Porém o condutor se sente feliz pois para ele, seus olhos e seu corpo, a carga é farta em algo que alimenta, irá satisfazer almas.

Entre arrumações de camas, vassouras e faxinas, as ideias vão brotando. Entre trocas de pês e bês atrabalhando e atrapalhando. As histórias se formando, os poemas nascendo assim como que sozinhos, alguns cheirando a detergente outros a temperos raros: Anis estrelado em céu azul?

Psicograficamente, do nada, é o vazio da criação. Se algum valor literário pode ou não a escritos assim serem conferidos, se ruins ou bons podem assim soar, não importa. Quem escreve, quem compõe lava a alma, limpa a casa.

Vive de idéias só suas sem sorver sentimentos alheios, sem se alimentar da alma do outro. Pensamento completo, só seu, difícil, inteiro, completo/completo/completo. Vampiro de suas próprias emoções.




novembro/2008

terça-feira, novembro 25

Micos

Falta de chuva na hora certa fez jabuticabas darem miúdas.
Mas os miúdos micos deram nelas com gosto.
Pequenos os frutos, mas de um doce imenso.

Clica nas fotos, elas aumentam











segunda-feira, novembro 24

Premio Dardos

Recebi da amiga Vera Vilela. A condição para usar o selo é a indicação de blogs que você gosta.
Os meus indicados estão Outras Viagens ai ao lado.
Obrigadão pelo carinho Vera!

Infelicidade, TV e pescaria

Estudo recente realizado pela Universidade de Maryland, EUA, comprova que pessoas infelizes ficam mais tempo à frente da televisão. Quem sou eu para duvidar de pesquisas sérias e com base científica? Mas constatações dessa natureza me levam sempre a um devaneio.

Os tempos atuais, que daqui a pouco já serão versão beta, mudaram radicalmente nosso comportamento. Calma, sei, eu não disse nada de novo. Os perigos mudaram de endereço. Saíram dos quintais e das ruas pacatas de outrora, onde o maior risco era uma queda de muro ou de uma árvore, uma briguinha por causa de um jogo de bete ou pique bandeira, no meu caso, um tombo de carrinho de rolimã nas ladeiras ainda seguras de uma Belo Horizonte que, drumonianamente, virou retrato na parede e, estão agora vivendo lado a lado conosco em nossas casas. O mundo virtual transformou-se em campo minado, com grande poder de fogo, ameaça para nossos filhos, atraindo-os para armadilhas por vezes fatais. Paradoxalmente desenvolvemos diariamente mecanismos para patrulhar um mundo autorizado a entrar sem cerimônia em nossas alcovas.

Até o então inocente telefone virou arma de crime, e não estou me referindo às agressões cinematográficas com aqueles aparelhos pretos enormes não, falo de golpes variados praticados com o uso da invenção de Graham Bell. O isolamento familiar aumenta a olhos vistos. Raras as famílias que podem desfrutar de um almoço de domingo juntas. Não que todos não estejam em casa, mas um está no computador, outro, esse deve ser o mais infeliz, vendo televisão.

A prosa doméstica vem diminuindo. Se o filho quer falar com o pai, que mande um e-mail, ou que o adicione ao MSN. Viu as fotos de meu filho? Não? Estão no Orkut. O garoto está crescendo sô, tem tempo que não o vejo off line.

Até boletim escolar é virtual e pais só têm acesso se tiverem a senha. Se tiver nota vermelha fica uma semana sem computador ou sem ver televisão. Isso é que é castigo severo. Realmente as janelinhas de plasma, ficam mais tempo abertas do que as da casa, e o sol, a vida de verdade, presos do lado de fora. Também, quem liga?
Levantar da cama e correr para o quintal é coisa do passado na maioria das residências.

Abrir as cortinas, deixar os sonhos ou pesadelos saírem e se dissiparem à luz do dia está cada vez mais difícil. Cá pra nós, tem coisa mais estranha do que levantar e ficar de pijama até a hora do almoço? E luz acesa de dia? Mas voltemos à televisão como indicador de infelicidade e por tabela da falta de prosa doméstica. Outro dia um amigo me contou história que demonstra que os tempos modernos estão contaminando até nós mineiros de alma simples e caipira. O caso:

Dois compadres estão na barra do rio Tijuco pescando, bebendo uma cervejinha gelada e observando com atenção a bóia, quando um deles diz:
- Tonho, vou me separar da minha mulher. Já faz três meses que ela num fala comigo.
O outro, após refletir por alguns momentos, lhe diz:
- Pensa bem Zé, hoje em dia é muito difícil achar uma mulher assim, com essas qualidades...

Quanta tristeza. Estes dois devem ver televisão demais da conta.

Resta ainda uma dúvida a ser esclarecida pela tal pesquisa: se a felicidade leva as pessoas a ver menos TV, ou se o tempo em frente à TV leva à infelicidade.
Portanto, amigos, há esperança.







Novembro- 2008

No Jornal Correio AQUI

História das Coisas

Aproveitando o gancho do "Verde que te quero ver" apresentamos a História das Coisas

Veja, divulgue, mude!

História das Coisas, versão brasileira do documentário The Story of Stuff, de Annie Leonard:

O que é História das Coisas ?
Da extração e produção até a venda, consumo e descarte, todos os produtos em nossa vida afetam comunidades em diversos países, a maior parte delas longe de nossos olhos.

História das Coisas é um documentário de 20 minutos, direto, passo a passo, baseado nos subterrâneos de nossos padrões de consumo.

História das Coisas revela as conexões entre diversos problemas ambientais e sociais, e é um alerta pela urgência em criarmos um mundo mais sustentável e justo.

História das Coisas nos ensina muita coisa, nos faz rir, e pode mudar para sempre a forma como vemos os produtos que consumimos em nossas vidas.



sexta-feira, novembro 21

quinta-feira, novembro 20

Na mosca


"Existem dois tipos de pessoas que dizem a verdade: as crianças e os loucos. Os loucos são internados em hospícios. As crianças, educadas."

Jean Paul Sartre (?)

quarta-feira, novembro 19

Ainda o café

(Para Luiz Antônio)

Todo o entorno do terreiro de café é mata e pasto sombreado, um encanto para todos os sentidos, a pele respira verde e o ar é de um amargo/doce indescritível.
Os cheiros se misturam como em receita de Vó: uma pitada disso, um punhado daquilo, um tanto e pronto, o mais nobre sabor da simplicidade.

Verde devaneio

sexta-feira, novembro 14

Bate

Bate chuva em terreiro de café
Cheiro de terra molhada e munha.
Abre o apetite, solta a preguiça.
Olhos pesados em bocejos.
Eu quero uma rede.

w h stutz/novembro 2008

(quer ver o que vi? Quer sentir o doce perfume? Clica na foto, ela amplia)

Sabiá



Sabiá de Clara Clarice (en)cantando.
Gato mia sabiá remeda como pode.
Sanhaço também deu o ar da graça, fez primeira.

Imponentemente tristonho sabiá prossegue, persegue.
Sinfonia urbana, louvor à vida, é época de procriar.

Dizem as crianças aqui nas Minas:
Você sabia que o Sabiá sabia assobiar?

quarta-feira, novembro 12

Sem pieguice

"para rimar utilidade"


"Caminhoso em meu pântano,
dou num taquaral de pássaros
Um homem que estudava formigas e tendia para pedras,
me disse no ÚLTIMO DOMICÍLIO
CONHECIDO: Só me preocupo com as coisas
Inúteis
Sua língua era um depósito de sombras retorcidas, com
versos cobertos de hera e sarjetas que abriam asas
sobre nós
O homem estava parado mil anos nesse lugar sem
orelhas."

(Manuel de Barros)

King of the Hill

Líder do bando.
Fez barulhão quando cheguei perto. Avisou todo mundo.
Fotografei ontem depois do pé d'água.

Prorrogação de inscrições

segunda-feira, novembro 10

Chuva


Vento forte ontem à noite. O calor do dia foi aviso, assim como o alvoroço de centenas de andorinhas num céu de doer de tão azul. Fazendo verão?
Vento soprou do norte. Luz apagou e levou mais de hora para voltar. Gosto do escuro, do vento e da forte chuva que no repente desabou. Curtinha, durou quase nada. A Invernada em plena primavera não deve demorar. Tomara.

domingo, novembro 9

sexta-feira, novembro 7

Tributo a Obama

Yes we can!

"Sim, podemos” para a justiça e a igualidade. “Sim, podemos” para a oportunidade e a prosperidade. “Sim, podemos” curar esta nação. “Sim, podemos” consertar este mundo.
[Fragmentos do discurso de Barack Houssein Obama]



Quando foi a última vez que você viu um trazer esperança a tantos?
Esse cara pode mudar o mundo para melhor se quiser. Que as luzes do Altíssimo o iluminem. O planeta pode ter ai sua última chance. Apesar do tal America for americans, não custa sonhar, quem viver, verá.

Quênia


Israel


Indonésia


Japão


Londres


Nova Deli


Paris


Pequim


Fotos:

quinta-feira, novembro 6

Micos

Sumidos por uns tempos, os micos voltaram e trouxeram o resto da família. Eram apenas dois. Ontem contei 8, duas das fêmeas estavam carregando filhotes nas costas, contando os pequenos, o bando agora é de 12.

O percurso aos pulos:
De um oiti para moita de areca, de lá para o telhado, seguiram em fila indiana - aqui faltou a máquina fotográfica, a foto abaixo é de meu arquivo - para a jabuticabeira depois amexeira, salto para o urucum, cruzaram maninha-de-porta, esta uma prima da paineira, aos gritos e pinotes cortaram por entre as goaibeiras e limões china.
Cruzaram pasto pelo chão até centenária mama-cadela, correram para um ipê, depois brigaram na copa de uma cariota, resmungaram nas sete-de-copas e, finalmente em meu gigante jambolão ficaram em algazarra até o anoitecer.

quarta-feira, novembro 5

Receita visual

Purê de cabotia ou cambutia você escolhe, com carne de sol de Montes Claros e requeijão. Isso foi domingo passado, agora aqui coloco. É bom demais da conta!






terça-feira, novembro 4

Bombas cluster




Tratado Cidadão

As bombas cluster causam previsíveis e inaceitáveis prejuízos aos civis tanto no momento de sua utilização e por muitos anos depois.
Tenho a forte convicção de que essas armas são moralmente inaceitáveis.
Apóio plenamente o novo tratado internacional de proibição do uso, armazenamento, transferência e produção das bombas cluster.
Através de suas assinaturas e ratificação deste tratado, os governos se comprometerão juridicamente não só à proibição das bombas cluster, mas também a limpar terrenos contaminados e prover assistência para as vítimas e comunidades afetadas.
Através da minha assinatura no Tratado Cidadão, eu me comprometo em trabalhar para garantir que os governos vivam de acordo com as suas obrigações.

Mines Action Canada

Clique aqui e assine o tratado/manifesto clicando abaixo:
The People's Treaty