quinta-feira, novembro 27

Psicografia



Como soco seco em vazio estômago, sobe em peristaltismo contrario e acaba na garganta como sufocante bolha de ar.

O escrever. As letras mansas como gado tangido em corredor de terra, a vontade, a ideia, a vontade que conduz vem rápida. Ou se guia o gado ou o rebanho, como as palavras, se desfaz em nuvem pó, cada uma toma um rumo. Nunca mais

Eu queria ter mais letrinhas na cabeça assim escreveria uma história que de tão grande a boiada sonora seguiria em longa fila. Das gerais das Minas ao sertão de imenso Goiás sem pedágio que a interrompesse. A caneta meu berrante, meus óculos minha visão.

De tão grande que o tropel levantaria nuvem de poeira densa. Se faria noite por seis dias, apagando estrelas por seis noites. E quando cortado o trecho e o pó em mansidão se assentasse, não haveria sujeira e tristeza, mas sim colorida e imaculada paisagem. Seria como se as mais puras das geladas brisas da montanhas em julho, lá da serra por ali fossem sopradas e a escuridão do tropel seria substituído por sol em invulgar brilho. Reinando. As gentes seriam felizes, belas e doces.

Eu queria tanto ter mais letrinhas na cabeça e o dom de junta-las em harmônico conto.Seria conto de amor a longa história. Eu queria.

O escrever sem ter lido. Estranho. Descobrir Kant, ou a saga de Tristão e sua salvadora e venenosa lingua de dragão, troféu.

É como conduzir caminho vazio, sem carga. Porém o condutor se sente feliz pois para ele, seus olhos e seu corpo, a carga é farta em algo que alimenta, irá satisfazer almas.

Entre arrumações de camas, vassouras e faxinas, as ideias vão brotando. Entre trocas de pês e bês atrabalhando e atrapalhando. As histórias se formando, os poemas nascendo assim como que sozinhos, alguns cheirando a detergente outros a temperos raros: Anis estrelado em céu azul?

Psicograficamente, do nada, é o vazio da criação. Se algum valor literário pode ou não a escritos assim serem conferidos, se ruins ou bons podem assim soar, não importa. Quem escreve, quem compõe lava a alma, limpa a casa.

Vive de idéias só suas sem sorver sentimentos alheios, sem se alimentar da alma do outro. Pensamento completo, só seu, difícil, inteiro, completo/completo/completo. Vampiro de suas próprias emoções.




novembro/2008

2 comentários:

Murilo disse...

Por acaso você é o Billy? filho da Alda? irmão do Nino? se for, parabéns pelo texto, nem imaginava que você escrevia tão legal. se não for, parabéns também, merece um brinde de cana com orvalho. abração. MURILO ANTUNES

william h stutz disse...

Pois é Murilo sou eu mesmo o Billy de Alda, seu muito antigo companheiro de sinuca lembra?
E você anda por quais paragens?
Abração
Billy