terça-feira, outubro 31

Escorpião II






E não é que os caras viraram primeira página de jornal!
http://www.morcegolivre.vet.br/capa_correio_escorpiao.pdf

O líquido entre a pinça e o telson é veneno puríssimo, despejado em ataque ao metal que o ameaça.

Raluim



Acordei bem cedo não nem eram 5:30 da manhã. Por obra e graça do segundo turno das eleições o horário de verão foi adiado, portanto eu e os pássaros estamos acordando com os primeiros raios de sol em horário de criação humana um tanto quanto desumano para quem dormiu uma e meia da manhã. Eu por força do trabalho com meus morcegos, não os pássaros. Para estes o horário das gentes, felizmente, pouco importa.


Preparei farta mesa de café para meus filhos: Assei pão de queijo, um saboroso bolo de fubá de uma das melhores padarias da cidade que tem mania de doce. Queijo Minas fresquinho. Suco de pitanga bem gelado, frutas de nossa horta . Banana prata para quem quisesse comer com mel de minhas abelhas Jataí. Geléia de jabuticaba, frutos também do quintal de casa.
Café adoçado com rapadura é claro.

E nem era fim de semana ou feriado. Terça-feira brava, comum, dia de trabalho e escola. Mas este café da manhã tinha que ser especial, bem nosso, mineiro, brasileiro.

Afinal era um 31 de outubro.
Na parede bem em frente à mesa posta colei cartaz com letras imensas:



Que Raluim que nada! Hoje é dia do Saci. Viva nossa cultura popular!


Pode até não mudar muito, e que nossos filhos, continuem intoxicados com downloads, messengers, upgrades, Shopping centers, hamburguers, hot dogs, cookies, know-hows, lobbys e upgrades e milhares de outras raras peças tão distantes de nossa maravilhosa língua pátria em freqüente atentado ao nosso léxico.

Se a isso chamam globalização...

Mas sinto que meus pequenos não vão esquecer esse especial desjejum lúdico, debochado tão cedo, e se Deus quiser reproduzi-lo com meus futuros netos. Fiz minha parte.

Quantos se preocuparam com isso? Sei não, inquietante.

Se alguma criança bater lá em casa e pedir doce, já decidi; vai ganhar pé-de-moleque, doce de leite de cortar, goiabada e um retratinho do nosso perneta de touca vermelha.

Se não ficarmos atentos, ai sim como disse Millôr: " The cow will go to the swamp" ou seja a vaca vai pro brejo! Literalmente.

Viva o Saci! E não abro mão.

William H. Stutz
31 de outubro de 2006

segunda-feira, outubro 30

Gota de veneno

Escorpiões




Acreditem, existem muitos humanos bem mais perigosos, traiçoeiros e bem mais "peçonhentos" do que meus bichos.

Fotos: Manoel Serafim - Jornal Correio de Uberlândia

domingo, outubro 29

Vida

Augusto Branco

"Já perdoei erros quase imperdoáveis, tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis".
Já fiz coisas por impulso, já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também decepcionei alguém.
Já abracei pra proteger, já dei risada quando não podia, fiz amigos eternos, amei e fui amado, mas também já fui rejeitado, fui amado e não amei.
Já gritei e pulei de tanta felicidade, já vivi de amor e fiz juras eternas, "quebrei a cara" muitas vezes!
Já chorei ouvindo música e vendo fotos, já liguei só pra escutar uma voz, me apaixonei por um sorriso, já pensei que fosse morrer de tanta saudade e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo)!
Mas vivi!
E ainda vivo!
Não passo pela vida...
"Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é MUITO para ser insignificante".

Augusto Branco
Veja aqui recitado por Rodrigo Lombardi no YouTube

Quando a gente dorme

"Quando a gente dorme, vira de tudo:
vira pedras, vira flor.
O que sinto, e esforço em dizer ao senhor, repondo minhas lembranças, não consigo;
por tanto é que refiro tudo nestas fantasias.
Dormi nos ventos. Quando acordei, não cri: tudo o que é bonito é absurdo - Deus estável (...)
Sério, quieto, feito ele mesmo, só igual a ele mesmo nesta vida."

João Guimarães Rosa
in Grande Sertão: Veredas
joão Guimarães Rosa

quarta-feira, outubro 25

Dados Cadastrais

Dados Cadastrais

Fundação: 01/06/1976
Instalação: 07/08/1916
Sagração do Templo: 16/06/1979
Nascimento do Patrono: 01/04/1924
Utilidade Pública Municipal: Lei 6217 de 29/12/1994
Utilidade Pública Municipal Damas: Lei 6218 de 29/12/1994
Endereço: Rua Izaú Rangel Mendonça, 136 - Bairro Progresso
Uberlândia - Minas Gerais
Zona: Triângulo Mineiro
Fone: 34 219-9544
Caixa Postal: 648
Reuniões: Quintas-Feiras
Horário: 20:00

JURISDICIONADA

Grande Oriente do Estado de Minas Gerais - GOEMG
Sede: Belo Horizonte - Minas Gerais
Fone: 31 226-3720

FEDERADA

Grande Oriente do Brasil - GOB
Sede: Brasília - DF
Fone: 61 245-4555

segunda-feira, outubro 23

Manhã de sol




Dias lindos não merecem acontecer segunda-feira.
Sábado ou feriado, isso sim

Acordei cedo com sol e sabiás melódicos em minhas pitangueiras carregadas, verde puro cravejado de vermelhas-doces jóias.

De meu jambolão gigantesco bando de coloridos tucanos me dão bom dia.
Sanhaços azul turquesa aos pares em incomum canto matinal.

A vida é bela, não basta olhar, temos que respirar os dias.

Decreto pois que toda segunda-feira de sol brilhante seja vivido como feriado.
Revoguem-se as disposições e os calendários em contrário.

William H. Stutz
segunda(?) feira 23/10/2006

sábado, outubro 21

Cecília Meireles

"...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."

(Romanceiro da Inconfidência)

Desiderata

(de Max Ehrmann ou poema encontrado originalmente
na velha Igreja de Saint Paul, Baltimore em 1692 ? )

Go placidly amid the noise and haste,
and remember what peace there may be in silence.
As far as possible without surrender
be on good terms with all persons.
Speak your truth quietly and clearly;
and listen to others,
even the dull and the ignorant;
they too have their story.

Avoid loud and aggressive persons,
they are vexations to the spirit.
If you compare yourself with others,
you may become vain and bitter;
for always there will be greater and lesser persons than yourself.
Enjoy your achievements as well as your plans.


Keep interested in your own career, however humble;
it is a real possession in the changing fortunes of time.
Exercise caution in your business affairs;
for the world is full of trickery.
But let this not blind you to what virtue there is;
many persons strive for high ideals;
and everywhere life is full of heroism.


Be yourself.
Especially, do not feign affection.
Neither be cynical about love;
for in the face of all aridity and disenchantment
it is as perennial as the grass.


Take kindly the counsel of the years,
gracefully surrendering the things of youth.
Nurture strength of spirit to shield you in sudden misfortune.
But do not distress yourself with dark imaginings.
Many fears are born of fatigue and loneliness.
Beyond a wholesome discipline,
be gentle with yourself.


You are a child of the universe,
no less than the trees and the stars;
you have a right to be here.
And whether or not it is clear to you,
no doubt the universe is unfolding as it should.


Therefore be at peace with God,
whatever you conceive Him to be,
and whatever your labors and aspirations,
in the noisy confusion of life keep peace with your soul.


With all its sham, drudgery, and broken dreams,
it is still a beautiful world.
Be cheerful.
Strive to be happy.



Viva tranqüilamente, por entre a pressa e os ruídos, e lembre-se de quanta paz há no silêncio. Tanto quanto possível, sem se render, esteja em bons termos com as pessoas.
Diga sua verdade calma e claramente, e ouça os outros,
mesmo os mais medíocres e ignorantes – eles também têm a sua história.

Evite as pessoas espalhafatosas e agressivas, pois essas são um insulto ao espírito.
Não se compare com os outros, para não se tornar vaidoso ou amargo, e saiba: sempre haverá pessoas melhores e piores que você.
Desfrute tanto de suas realizações quanto de seus planos.

Cultive seu trabalho, mesmo que ele seja humilde; esse é um bem real, frente às variações da sorte. Seja cauteloso em seus negócios, pois o mundo é cheio de armadilhas.
Mas não deixe que isso o torne cego para a virtude, que está sempre presente; muitas pessoas lutam por ideais nobres e, por toda a parte, a vida é sempre exemplo de heroísmo.

Seja sempre você mesmo. E sobretudo nunca finja afeição.
Nem seja cínico em relação ao amor, pois, apesar de toda a aridez e desencanto, ele é tão perene quanto a relva.

Aceite serenamente os ensinamentos do passar dos anos, renunciando suavemente àquilo que pertence à juventude.
Fortaleça seu espírito para que ele possa protegê-lo diante de uma súbita infelicidade.
Não antecipe sofrimentos pois muitos temores são apenas fruto do cansaço e da solidão.
Mesmo seguindo uma disciplina rigorosa, seja leniente consigo.

Você é filho do Universo, tanto quanto as árvores e as estrelas; e tem o direito de estar aqui.
E mesmo que isso não seja muito claro para você, não tenha dúvida de que o Universo segue na direção certa.

Portanto, esteja em paz com DEUS, não importa a maneira como você O concebe, e sejam quais forem as suas lutas e aspirações, na terrível confusão que é a vida, fique em paz com sua alma.
Pois, apesar de toda a falsidade e sonhos desfeitos,
este ainda é um lindo mundo.
Seja cauteloso.
Lute para ser feliz.

quarta-feira, outubro 18

Breve esclarecimento

Estimados Irmãos e Amigos

Recebi alguns comentários jocosos e irônicos, poucos é verdade, sobre a mensagem que enviei versando sobre o Portal 818.
Não que tenham verdadeiramente me incomodado. Mas me trouxeram à reflexão e cabem aqui alguns esclarecimentos.

Os que me conhecem bem, sabem de minhas convicções e opções. Sempre fui curioso e tento ter a mente aberta. Ler, estudar, ter curiosidade investigativa são verdadeiros prazeres para mim.

Posso ficar dias e noites debruçado sobre os sagrados escritos do Pentateuco, assim como posso permanecer períodos imensos, contemplativo, a observar minúsculas abelhas jataí a campear pólem, fileiras nervosas de formigas a buscarem freneticamente sustento. Posso e com freqüência me pego a pôr atenção e reparo aos variados cantos de pássaros que todos os dias me envolvem em minha casa, tentando decifrar o significado de seus mistérios e segredos musicais assim como saber de que espécie são. Se estão acasalando, nidificando, criando seus filhotes ou preparando a maravilhosa e mágica migração sazonal.
Emociono-me facilmente. Olhos rasos d’água por qualquer manifestação de pureza, felicidade, dor ou sofrimento. Não costumo esconder o que sinto.

Por mais bem-vindas as críticas que volta e meia recebo, e olha que às vezes partem de verdadeiros Amigos, portanto sinceras, continuo sempre total partidário do SER e nunca do TER.

Minha ambição material sempre foi pequena. Os que verdadeiramente me conhecem são testemunhas, Deus em sua infinita bondade me mantenha assim, por isto oro diuturnamente. Que eu possa com a ajuda Dele seguir este caminho que escolhi. De ver meus filhos crescendo íntegros, justos, no caminho do bem, mesmo vivendo as permanentes pressões de uma sociedade altamente competitiva onde a matéria sobrepõe o espírito, onde o poder material parece sempre prevalecer, de uma futilidade de dar dó.

Partidário sou da busca plena pela UNIDADE maior e da PAZ VERDADEIRA. Busca utópica? Acho que não.
O poder em qualquer de suas formas nunca me seduziu – mais críticas por ser assim constantemente recebo.
Não, Irmãos e Amigos, com certeza não represento ameaça a ninguém. Não almejo o que não tenho por conquista e direito.

Quando enviei a mensagem sobre o portal 818, minha intenção era apenas de chamamento dos Irmãos e Amigos para uma reflexão maior e de participarem, acreditando ou não, na possibilidade – mesmo que fantasiosa – de ir ao encontro de verdadeira harmonia universal. Não é isso que todos nós desejamos?

Me desculpem aqueles que me acharam “antigo” demais.
Raios cósmicos, metafísica, luz mística, para alguns é coisa de hippie(!?), doido, lunático ou de sonhador.

Apostem suas fichas me encaixo de corpo e alma na terceira categoria, sou sim um sonhador incurável. Um pouco doido e lunático não nego, mas acredito que na dose certa, sanidade mental absoluta – acreditem – é pouquíssimo criativa. Além de ser extremamente chata e enfadonha, é claro.

Mas bem cá para nós e voltando ao cerne da questão, desejar o bem nunca irá prejudicar ninguém e bons pensamentos só acrescentam e harmonizam corações e mentes.

Particularmente acredito que cada vibração positiva emanada em prol de outro pode sim carrear energia vital capaz, senão de cura plena, gerar conforto e serenidade.
O que seria de nós sem as orações, os mantras, os cânticos, a poesia e a música, as artes em todas as suas esplêndidas formas de manifestação?

Irmãos e Amigos, se os ofendi ou superestimei me perdoem. Não seria esta jamais minha intenção.

Finalizando, para não cansá-los mais ainda:
Como o Beija-flor da história diante da floresta em chamas e em desespero a carregar no bico gotículas de água na tentativa insana de deter o terror da destruição.
Não, ele jamais irá conseguir sozinho apagar aquela destruidora força. Mas, importante lembrar, pelo menos fez a parte dele, pelo menos tentou, se envolveu em algo maior e muito importante.

Com as orações e bons fluidos com certeza é a mesma coisa.
Que Deus nos abençoe.

Um abraço fraterno

William H. Stutz

terça-feira, outubro 17

Portal 818 - Missão 1017

É o começo de um dos eventos ativadores que chegam até ano 2013. Um Raio pulsante ultravioleta (UV), que irradia desde as dimensiones mais Altas do Universo-2, cruzará caminhos como o da Terra nesse dia. Sendo que a Terra permanecerá neste raio UV entorno de 17 horas de Vosso tempo.

Este raio ressoa com o chakra do coração. É de natureza radiante Fluorescente, de cor azul magenta. Ainda que ressoa nesta banda de freqüência, está mais longe do espectro de cores de vosso universo-1, No qual vós e a Terra os organizais. No entanto, será efetivo devido à Natureza de vossa alma e grupos de almas que operam desde as bandas de freqüência do Universo-2.

O efeito é que cada pensamento e emoção serão multiplicados Intensamente por um milhão. Isso mesmo, repetimos: Todo será Amplificado um milhão de vezes ou ainda mais. Cada pensamento, cada emoção, cada intenção, cada desejo, sem importar O que seja: bom, ruim, insalubre, positivo ou negativo, será Amplificado um milhão de vezes em potencia.

O que significa isto?

Dada que toda a matéria manifestada é o resultado dos vossos Pensamentos, significa que este raio potenciará os pensamentos focados No que deseja, os materializando a um ritmo acelerado e os Manifestando um milhão de vezes mais rápido do que é normal. Para quem não compreende: Vossos pensamentos, naquilo em que os Concentrais, cria vossa realidade. Assim que este raio UV pode ser uma Ferramenta perigosa. Si focados em pensamentos que são, a vosso gosto, Negativos, eles se manifestaram em vossa realidade quase Instantaneamente. Mas também este raio pode ser um presente, si Desejares que assim seja.

A missão-1017 necessita entorno de um milhão de pessoas focadas em Pensamentos positivos, saudáveis, de boa vontade, para ancorá-las pra Si próprias, na Terra e na Humanidade nesse dia. Vossos pensamentos Podem ser de quaisquer natureza, que escolheres, mais lembre que seja O que for o enfoque, será feito manifesto num marco de tempo Relativamente mais rápido do que o previsto.

Todo o que pedimos é pensamentos de amor, prosperidade, cura, riqueza, Bondade e gratidão.

Este raio UV entrará em plena atividade o dia 17 de Outubro de 2006. Sem importar em que região horária estejais, acontecerá desde as 10h17 (a.m.) do dia 17 de Outubro até 1h17 (a.m.) do dia 18 de Outubro. A Hora cúspide será ás 17.10 (5.10 p.m.) do dia 17 de Outubro. Não é necessário estar em estado meditativo todo este tempo, ainda que seja útil. A hora clave principal, sem importar os fusos horários de donde Viveis, será a cúspide às 17h10 (5.10 p.m.)

Talvez a essa hora possas encontrar um sitio ou lugar tranqüilos para Se concentrar. Melhor em meio à natureza, como se fosse uma enorme árvore ou as ondas do oceano (mar). Se concentre no que desejeis. O Que se necessita para o serviço a toda a Terra e a Humanidade, são Pensamentos positivos de natureza amorosa.

Nós chamamos este evento ativador de "Portal 818". Pedimos o envio Desta mensagem a todos vossos conhecidos, quem utiliza este evento Ativador cósmico para se concentrar em pensamentos positivos de boa Vontade. Necessitamos entorno de un milhão de personas no mundo todo Para que participen activamente en este evento. Utilizado, ao vosso Favor, quaisquer meio de comunicação a vossa disposição para chegar a Quantas pessoas possais. Necessitamos pelo menos um milhão de pessoas Ou mais para ativar na humanidade uma troca da separatividade e da fragmentação à unificação e a unicidade.

Esta é vossa oportunidade de Recuperar o que es vosso por direito, isto é, a Paz e a Prosperidade Para toda a Terra e o gênero humano.

Isto é um presente, um salva-vidas proveniente de vosso universo, por
Assim dizer, resposta a vossas preces.
O que façam com ele e escolher participar ou não, é da vossa eleição.

quarta-feira, outubro 11

O trecho - terceiro ato

A vila tinha também seu Pedro Talarico, auto-intitulado oficial da madeira. Italiano, olhos azuis sumindo pela idade, fez maravilhas de bancos, cantoneiras e cadeiras para nós usando apenas ferramentas primitivas, quase todas por ele mesmo criadas.

Diz que inventou a mesa com parte giratória no centro. E inventou mesmo, dono dos créditos, mesmo atrasado alguns anos, nunca tinha visto uma, pois seja e é verdade — é dono da idéia. Desmente? Não tem jeito. Melquíedes de uma Macondo mineira. Cigano.

Um pouco abaixo, no mesmo corredor de gado onde morávamos tem seu José casqueiro, — isso, casqueiro de descascar postes para cerca. No machado e facão. Ambientalista sem saber. Batia firme contra cana e capim “vamos comer o quê” suspirava, mas irritado com tanto pasto e cultura. Letrado de uma leitura só, tinha sempre consigo uma revista velha, de 1945 que falava da guerra, da bomba, ele acreditava que era ontem.

Na vila tem simpatia para desvesgar os olhos. Simples.
Num pilão acende vela, pega a cabeça da infeliz criança e soca lá dentro. Segura o esperneio, gritaria e choro. Pura maldade, tortura. Adianta falar que não funciona? Usávamos o pecado. Às vezes, mãe ou outra parava com medo do fogo eterno. Ignorância.

Luz elétrica era pouca e rara, uma fase só. As raras lâmpadas de poste eram de cor avermelhada. Acrescentavam penumbra à escuridão. Criavam fantasmas, lendas e superstição. O breu total era mais seguro.

Mas tinha sempre as estrelas, a lua. E claro, as mágicas luzes, misteriosas e lindas e é delas que ainda vou falar.

Televisão tinha em poucas casas. Na nossa quando tentávamos era um aranzé: “aponta a antena para Jales, chuvisco, aponta para Paranaíba, mais chuvisco”.

Às vezes, raras, debaixo do lençol, apertando os olhos via imagem. Confusa mas via, mas sem eira nem beira, som não havia. Desistimos para sempre, era mesmo só chuvisco.

A geladeira virou armário de livros, trocamos o motor por um outro velho, velho, imenso, trocou-se o gás. O chinês curioso. Sabe, virou nadiquinha de nada — para provar uma compra gelada, era só de mês em quando — mês mesmo pois raro íamos a uma cidade. Quando acontecia era empanturro de iogurte, presunto, sorvete. Mas tinha que comer tudo lá, pois guardar aonde? Era assim.


Mas tinha as luzes, as luzes, chego lá.

terça-feira, outubro 10

Desmanche

linda terça de feira alegre com seus temperos e cheiros
Linda terça de feira fértil gente atenta a apalpar frutos e vidas
lembranças fortes de pessoa querida
legumes, farinhas, especiarias, e é claro intransponíveis pensamentos absortos-fixos em mamões, alfaces e alvas sacarias.

Almas claras a passear entre gritos de tomates e caquis.
Quem dá mais?
Quem dá mais?

Frágil proteção para almas invadidas
Cheiro de tempero e peixe fresco
Feira alegre/triste, contemplativa, risonha

Fim de feira abusivamente enfadonha
restos e cascas, sujeira cinza colorida, desperdício e fome.

Fim de feira, resta a terça, esta se quiser se promete risonha,
não permita pois, amiga, o desmantelo
de sua apalpada e invadida alma,
muito menos por mãos bisonhas.

William H. Stutz
Outubro - 2006

segunda-feira, outubro 9

Amigo da onça

Pois não é de ver. Minha função se dá de recontar o acontecido, pois a história e a idéia não são minhas, nem se sabe se dono têm, pois vêm de longe.
É do gosto das gentes, das rodas de prosa. De fim de tarde na venda. Virou caso de rir, mas contam que é um fato ocorrido.
A região é a serra do Cipó, lugar de cachoeiras imensas, campos sem fim de sempre-vivas, sempre cor, sempre lá. Do brando vento friorento das montanhas, estas sem tamanho de bonitas, de córregos infinitos, frios, uns mansos outros apressados em seu caminho serra abaixo. Gelados. Nascidos com certeza em geleiras tropicais inexistentes.

Lugar de muita lenda e susto. Grutas e bocas de cavernas de onde volta e meia brotam discos voadores prateados e barulhentos. Assustam gente e bichos, secam o leite das vacas, cavalos se perdem na emprenhês das pedras. Alguns para nunca mais.

Este é o caminho: Conceição do Mato Dentro, bem depois do Alto do Palácio, do Morro do Pilar. Para frente de Conceição escolhe caminho: para um lado Guanhães, para outro ruma-se para o Serro.

Não sei bem se a história ocorreu pras bandas de Passabém ou mais para o ermo de Itambé que, curioso, também é do Mato Dentro. Ou foi no Morro do Pilar?

Faz mal não — a história faz a valia.
Ocorrida há muito, antes de se inventar ecologia. Paz verde era nome de fazenda, seita estrangeira ou cemitério de cidade urbana, grande e barulhenta. Tempos de quando bicho sobrava e ninguém punha vigia de raça desaparecer.
Caçar onça era profissão de homem macho, resolvedor de problema — a tinhosa acostumada a comer bezerro tinha de sangrar na bala ou zagaia. Era o tempo. Assim era.

Na vila aquele que por nome recebera e respondia era Zé da Carminha, nome herdado de mãe doceira famosa. Compota de dona Carminha atravessava o mar, ia longe fazer bonito em mesa da Europa, sempre levado por algum filho de fazendeiro ou político local que por lá estudava.

Pois seu Zé da Carminha tinha por hábito, ruim, o exagero e a contação de vantagem. De onça era mestre. Medo tinha não. Com carabina, espeto ou na unha dizia que enfrentava, era só vendo.

Dia desse vindo da Capela dos Marques lá das bandas de Joanésia, beiraninho o Rio Santo, apareceu por esses lados uma turma de caçadores de onça contratados. Vinham a mando de gente graúda, incomodada com o tanto de rês devorada.

Na venda onde estavam Zé da Carminha contava o que fazia e acontecia em caçada de pintada, voz alta pela pinga.

Os caçadores, eram quatro, sisudos e enrolados cada qual em sua capa Leal como a esconder armas, só escutando.

A trova do outro foi tanta que o convidaram para a empreita contratada. A zoada do álcool era tamanha que Zé aceitou não apenas seguir com a comitiva caçadora como também guiar até ceva grande onde onça dava em pau de tantas que lá havia.
Amanhecido o dia, e a bebedeira, Zé se viu entre a cruz e espada. Se refugasse viagem era tachado de medroso, mesmo o sendo, assim de assumido para si, queria era nunca a pecha. Se fosse se borraria no miado primeiro que de lonjura que fosse escutasse.

Pois foi. Calçou a cara de falsa coragem, bregeu dois conhaques logo cedo e abriu caminho para a tropa dos de fora.

Serra acima bem longe deram num rancho abandonado, daqueles comidos pelo mato — sobrando no que era-foi antigo, só terreiro emaranhado de goiabeiras imensas, pés de limão china, poucas e velhas tábuas do que tinha sido um chiqueiro, e muita, mas muita cachopa de marimbondo-cavalo, dono de ferroada venenosa de tão doída. O poço d’água, pelas mãos de muitos pernoitantes sem rumo, estava ainda rico e bem coberto, bem zelado.

O rancho tinha duas portas, uma servia a entrada outra o quintal.

Na sombra da serra escurece cedo, sol dura menos do que no descampado. Assim, logo que o avejão da pedra abraçou o casebre, toca-se a acender fogo para quentar matula, carne seca com farinha era a janta.

Diz então um dos de lá:

— Então Zé, aqui é onde elas se reúnem.

Zé, por mais prosa que pudesse ter na língua, mentiroso não era não. Aumentava isso sim, se incluía em vantagem dos outros, mas era sério no trato. Cumprira promessa, tinha levado os homens para o ninho das onças.

— Pois então — seguiu o dito, — mostra pra nós. Busca a bicha.

Sem poder falar não, saiu Zé pela porta da horta, não deu três passos e não é que topou com a bruta! Virou nos cascos da botina e tome a correr, sentindo o sopro da onça a fungar em seu cangote.

— Abre a porta! Abre a porta! — gritava com o pouco e apertado vento que ainda tinha nos bofes.

Pois assim aconteceu, Zé e a onça entraram pela porta dos fundos, na toada que estava vazou que nem corisco pela porta da frente, bateu com força fechando a onça lá dentro com os quatro. Gritou sem parar um pedacinho de segundo:

— Vocês aí, vão tirando o couro dessa que já busco outra!

Nunca mais.

quinta-feira, outubro 5

O trecho - segundo ato

Em São Sebastião tem um japonês dono de bar que se chama Jorge, um chinês que conserta tudo, mal fala português, um vereador e dezenas de outros que gostariam de ser.

Tem um diretor de escola que sabe tudo sobre absolutamente nada.
Tem duas pensões, quartos de meia parede, banheiro coletivo. Tem uma, digamos Avenida São Sebastião, tem uma venda São Sebastião, tem uma quase Praça São Sebastião e tem quase o próprio, tem o Seu Sebastião fundador da vila.

Tem uma zona, bordel modesto de tábua, longe, bem retirado da vila, teve até cata de assinaturas para expulsar as moças, às escondidas dos fiéis maridos é claro, para as bandas de Santa Albertina lá para os lados do estado de São Paulo, do outro lado do córrego. De certo lá podia.
Felizmente para os homens e frustração da imensa elite feminina de 6 ou 7 senhoras, a lista não deu em nada.

São Sebastião é pacata com seus quase 350 moradores urbanos.

Nos domingos os moradores das roças e olarias se dirigem à vila para compras e diversão. Diversão que se resume aos 3 bares e a um cinema improvisado no fundo de um deles, máquina antiga, barulhenta, duas barras de carvão fazem a geringonça girar, – lançamentos de 10, 15 anos atrás, acidentalmente alguns clássicos alugados em alguma cidade grande apenas pelo título.
Vi Casa Blanca, com toda certeza adquirido por engano. Fiquei só na sala, odiaram, não tinha tiro nem sangue, nem era colorido o maldito, um fracasso, seção única. Só minha, privilégio.

Num domingo uma bicicleta amanheceu na calçada, em frente ao bar do japonês. Na quinta-feira – o Jorginho, assim era chamado, no diminutivo, veio aflito conversar comigo, tirar opinião.
- Professor, já viu aquela bicicleta lá na porta de meu bar?
— Claro que sim, todos viram, virou assunto de conversa e aposta a semana inteira.
- Pois então sabe o que é, ela está lá há cinco dias, ando com medo que alguém a roube!
Ri baixinho.

Um dia um circo chegou à vila. Mambembe, pobre. Caminhões Ford, velhos, enferrujados, clandestinamente movidos a gás, gambiarra pura, contam que um explodiu perto da balsa do Porto Alencastro.
Lembro sempre da pequena, magra e triste equilibrista.
Em corda amarrada em dois cavaletes velhos a meio metro do chão, com sombrinha desbotada, sapatilha branca empoeirada pelo chão de seco julho, atravessava de lá pra cá. Nem um sorriso, nem uma expressão – silêncio e medo. Chorei escondido.

Um dia Milionário e José Rico lá se apresentaram, foi um frege, alvoroço total. Eles ficaram hospedados na Dona Mercês e fingiam não conversar um com o outro, inimigos mesmo. Cantar era trabalho, juntos podiam. Até no truco era um em cada dupla, funcionava o povo acreditava.

A equilibrista triste nunca vai sair de minhas lembranças.

Tínhamos dois cães, na verdade um; o outro, Tupã caçador de capivaras é que, por conveniência e fome tinha a nós. Nossa mesmo era Futrica, mestre em roubar ovo de galinha em todas as chácaras vizinhas, era jurada de morte.

Mas São Sebastião tem as luzes, mágicas luzes, misteriosas e lindas, e é delas que quero falar.

Dieta

"Comecei uma dieta, cortei a bebida e comidas pesadas e,
em catorze dias, perdi duas semanas"
(Joe E. Lewis)

terça-feira, outubro 3

Recado para um cotovelar amigo


Prezado Fernando Masini,

Já fumei e muito. Criançada pegou no pé. Parei de vez. Dizem que é coisa de gente ruim, consegue na primeira, volta mais não.

Adoro cheiro de fumaça de cigarro no ar e que perto de mim fumem. Cheiro de cinzeiro não, desse desgosto, mesmo quando fumava. A roupa defumada denunciadora também é intragável (sem trocadilhos).

Combinei com os filhos: quando aos 80 anos chegar, juraram de pés juntos que me dão um pacote de tabaco da marca que eu escolher.
Parar de fumar é a coisa mais fácil do mundo. Um compadre meu é a prova disso. Já parou 26 vezes! E já marcou o dia da 27ª .

E eu aqui por enquanto a tragar vento limpo e fresco. Limpando os bofes.
Fico esperando os 80 com água na boca.
Sorte na empreitada Masini muita sorte.

Sussurro: Se quiser com vontade pára , pode confiar.

Conversa minha para boi dormir: Fumo mais nunca! Juro.
Lá se vai quase meia década longe do vício, te garanto, tudo muda para melhor.

Post scriptum:

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