quarta-feira, dezembro 31

Pedido único

Para as pessoas que admiro e respeito,
alguns muito amigos, outros grandes conhecidos
ainda aqueles Irmãos sejam de sangue, sejam de Luz,ou do peito

Me perdoem as qualidades limitadas, meus inúmeros defeitos
Meu único pedido para 2009, é simples e só, nada mais
A todos, apenas e tão somente, para todos,
a mais pura e duradoura Paz

Para todo o restante, com alegria e dedicação dá-se
um jeito


Abraço fraterno
William H Stutz

terça-feira, dezembro 30

Previsão

Tosco

Tosco rouco e louco
abusado sim, perplexo nem um pouco

Tosco rouco insano
nem sopro nem abano

Tosco rouco cruento
puro amor, ciumento

Tosto, louco e rouco
Louco, louco, louco

Nem um pouco
Nem um pouco




dezembro, nos estertores de 2008

segunda-feira, dezembro 29

PS2 o jogo

Manifestações

Obrigado pelas visitas e comentários. Recebam meu voto de Boas Festas



O que disseram do nosso blog em 2008. Algumas manifestações e algumas, "advertências" nada sutis. Humildemente agradecemos, e avisamos: não nos intimidaremos jamais.








sábado, dezembro 27

Um segundo

2008, o ano mais longo

Li em um jornal que 2008 será um ano mais longo do que os outros. O último minuto do ano terá 61 segundos. Diz a reportagem que é para acertar pendenga entre os relógios atômicos e o tempo astronômico. Senhores do tempo assim determinaram.
Pode parecer um nada, mas pode ser decisivo.

Nesse um segundo pode acontecer tanta coisa... O vinho servido em taça de puro cristal pode entornar em alva toalha de mesa da ceia e mancha-la para sempre, a cerveja pedrar no freezer, um sacrilégio para seus apreciadores. Mais terrível,um dente pode começar a doer. Moço, vai ser agourento assim lá longe. Aquela música insuportável que você odeia que te irrita, que traz péssimas lembranças de amor não correspondido pode começar a tocar no meio da festa, e você naquele segundo se sentir o último dos seres vivos, o último dos últimos.Um segundo a mais no forno e lá se foi o peru assado, estorricado, virou carvão, restará pedir uma pizza que por um segundo não chegará a tempo: o pneu da moto de entrega furou e por exato um segundo a última borracharia da cidade acabou de fechar. E agora José? Pedra pura.

Num segundo uma nova guerra estúpida pode ser deflagrada em algum canto do mundo. Um despota maluco poderá incendiar outra Roma. Um doente da alma poderá desviar comida e remédios dos necessitados de alguma tragédia climática. Já vimos esse filme. Alguém carcomido em solidão e desespero pode naquele exato segundo, em gesto extremo, por fim a sua própria vida. Algumas tristezas doem demais.

Nesse um segundo se for de bobeira, pode-se dizer ou fazer uma besteira a qual nada, nem todos os outros segundos, minutos, horas vindouros poderão corrigir. Nesse um segundo seu time pode tomar um gol mortal e cair para a segunda divisão. Vascaínos que me perdoem, mas por um segundo também meu glorioso Galo mineiro lá já esteve.

Pode-se em impulso de amor proibido cometer loucuras, e nove meses depois aparecer a conseqüência daquele segundinho a mais que muitos desprezaram.

Mas por outro lado, o melhor lado da alma humana, nesse derradeiro segundo a mais oferecido de bandeja qualquer um de nós poderá loucamente se apaixonar. Poderá em gesto impensado estender a mão para alguém que você nem suspeitava que tanto carecia de atenção, poderá involuntariamente fazer alguém feliz, renascer. Não levaria mais do que esse lapso de tempo para decretar o fim de todas as guerras, da miséria, da tristeza.
É o tempo necessário para dirigir um olhar sincero e assim perpetuar paixões e amizades.

Segundo este que basta para se escolher ser feliz e ajudar a criar um mundo feliz, justo e perfeito. Descobrir e repartir o pão da tolerância e da fraternidade.
Basta um segundo, não mais do que um segundo.Não tomaria mais do que esse segundo para dizer a alguém o quanto ela é importante em sua vida. Bem fazer.

Portanto caros amigos desejo a todos um feliz segundo a mais deste longo 2008 e um ano novo apesar de mais curto, repleto de realizações e muita paz. Saibamos aproveitar bem aquele instante-brinde, aquele último suspiro. Façamos dele a nossa eternidade, a nossa felicidade. Num segundo a história da humanidade e principalmente a sua história poderá ser totalmente reescrita de um jeito ou de outro. A sorte está lançada. Saber como usar este cisco de tempo tão imenso só depende de cada um de nós.





Publicado em Correio de Uberlândia (Ponto de vista) 27/12/2008
Clique AQUI e confira (em .pdf)

quarta-feira, dezembro 24

Que em 2009

Amigos queridos, os antigos, os novos. Os presentes, aqueles ausentes. Os virtuais, hologramáticos. Os de carne e osso.
Que em 2009 possamos ser mais solidários. Menos gente, mais bicho

terça-feira, dezembro 23

Um conto, um Natal


Perdera a conta de quanto tempo estava apartado de casa.

O garimpo sempre fora seu sonho e, não importava onde nem como a um chegar. Embrenhava brejo, serra ou mata a dentro e na primeira visão de riacho ou barranco com sinais invisíveis de diamante montava morada.

Desta feita o lugar era estranhamente diferente de tudo que conhecia. Floresta fechada, agressiva com visitantes indesejados. Ele era um desses.

Apesar da lida diária, raros chibius brilhavam em suas bateias.

Corpo de velho em jovem idade. Esquecera também quantas malárias o fizeram tremer de frio em sol tropical do meio-dia.

Comia o que caçava e pescava. Da venda infinitamente distante, num lá impossível de alcançar num menos de quatro dias de andança firme, só o sal, o café já no fim, e a rapadura. Mais nada.

A rotina era sempre a mesma. Não foi diferente aquele dia. Acordava na ainda madrugada sempre. Os carapanãs não davam mesmo sossego, iam aos poucos sugando sua seiva, sua vida.

Pulava já cansado da rede que pendia alta, medo de onça. Seu garimpo apesar do córrego raso tinha dois sangradouros que, em desvios feitos à unha acabaram por formar profundo melechete, como aqueles em cata de ouro de aluvião e os de cassiterita. Movimentava-se naquela lama em lentidão de bicho doente.

Suspeitava que o mês era dezembro, não tinha folhinha. Mas a mata, os bichos e principalmente a chuva o ajudavam a calcular mais ou menos o tempo. Suspeitava.

Naquela manhã, azedo em febre desceu do pouso, empurrou goela abaixo dois comprimidos sujos de fundo de bolso de primaquina com um gole de café frio. Passou o canivete numa manta de carne de capivara seca e desceu fraco para o riacho. Tentou lembrar do rosto da mulher e dos filhos, não conseguia formar mais imagem de gente nem de lugares. Parecia ter nascido ali e nunca mudado.

Na memória apenas vultos, vultos e sombras. Sombras em eterno balançar como aquelas produzidas pelo reflexo da protetora fogueira noturna. Vultos envoltos, fumaça branca cheirando a alecrim do campo. Um balé triste e macabro, desfigurado. Tropical alegoria platônica em plena floresta, mas ele não sabia disso; sua luz, sua verdade tinham outro significado.

A bateia média pesava mais de cem quilos naquela manhã, mal sentia os braços. Nem se atreveu a tentar a cuia grande. Arrastava.

Já à beira do arroio afastou com o calcanhar o primeiro monte de cascalho e enterrou fundo n'água a surrada gamela. Em ritmo cadenciado passou as mãos por entre as pedras molhadas, gesto mecânico, sincronia dolorida.

O suor escorria grosso por sua testa, salgava os olhos. Sentiu vontade de chorar, não sabia mais como o assim fazer.

Num passar de manga de camisa, farrapo, por sobre o rosto pensou perceber um luzir diferente no meio da bateia. Com o coração apertado e rápido até aonde a terçã deixava, repassou a lavação das pedras.. Aflição.

Sonho de luz verdadeiro. A própria estrela guia dos Magos Reis estava ali ao alcance de seus dedos entre barro, pedras e pequenos e desavisados girinos.

Toda a clareira acendeu tomada por luz única de pureza jamais vista. Raios multicoloridos se espalharam por toda a mata ao redor. O ainda madrugada escura se transformou em dia claro, porém de um frescor beira-mar. Grilos e mosquitos se calaram num repente único e os primeiros pássaros em preguiça começaram seu piar. Se fez dia em noite quase finda.

Com as grossas e machucadas mãos em tremor doente agarrou a imensa e maravilhosa gema. Azul cristal, vermelho pálido, as cores variavam vivas em suas mãos. Bamburrou!

E nesse instante e só nesse instante, viu com clareza sóbria e sadia o rosto de seus filhos, de sua mulher. Viu seu casebre num sertão lá num longe. O alpendre de chão frio se fez sentir sob seus pés. O perfume dos manacás invadiu seus pulmões.

Cheiro do curral, das cabras. Se viu em casa farta e família segura.

Ouviu o som do balde subindo, batendo nas paredes de um poço cavado a quatro mãos com seu velho finado pai.

Viu um céu azul sem nuvens acordar lá longe em uma serra sem nome.

Se viu. Sadio, barbeado limpo, corpo e alma. Tudo, tanto sofrimento e solidão. Tudo tinha valido à pena. Finalmente!

Regozijo. Aos gritos e cambaleio, sem sentir se pôs a cair de costas. Braços abertos em seca e gigantesca raiz se aninhou. Braços em cruz. Virou eterno.

Olhos vidrados olhar perpétuo para o remanso do rego d'água que já não via nem ouvia.

O corpo, as mãos sem vida não soltariam jamais a pedra dos sonhos.

Rosto lívido, sorriso calmo, se foi morto como Ele crucificado, no exato dia do nascimento do Menino Deus.





dezembro - 2008

Ninho minimalista

Com uma simples cabaça faça ninhos de passarinhos para sua casa. Em pouco tempo eles serão ocupados por canários da terra, saíras e até andorinhas não migratórias.
Não pode é esquecer de fazer alguns furos no fundo para evitar acúmulo de água e assim, virar criadouro de Aedes.
A tinta deve ser de boa qualidade e livre de aditivos que possam causar danos aos pássaros, é só ler o rótulo da lata.

Vou fazer um monte e espalhar por minhas árvores em casa e na mata.
Vi a ideia em um blog incrível que acompanho via "feeds" o endereço é http://www.designspongeonline.com/

segunda-feira, dezembro 22

Feliz Bat Xmas

Recebi de Monik.


Erva-de-passarinho

Erva-de-passarinho abraça jabuticabeira.
Carinho mortal.
Árvore afobada afoga.
Sufocada, sucumbi.







Manoel de Barros

Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada de "O Guardador de Águas"


I

Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.

II
Todos os caminhos - nenhum caminho
Muitos caminhos - nenhum caminho
Nenhum caminho - a maldição dos poetas.

III
Chove torto no vão das árvores.
Chove nos pássaros e nas pedras.
O rio ficou de pé e me olha pelos vidros.
Alcanço com as mãos o cheiro dos telhados.
Crianças fugindo das águas
Se esconderam na casa.

Baratas passeiam nas formas de bolo...

A casa tem um dono em letras.

Agora ele está pensando -

no silêncio Iíquido
com que as águas escurecem as pedras...

Um tordo avisou que é março.

IV
Alfama é uma palavra escura e de olhos baixos.
Ela pode ser o germe de uma apagada existência.
Só trolhas e andarilhos poderão achá-la.
Palavras têm espessuras várias: vou-lhes ao nu, ao
fóssil, ao ouro que trazem da boca do chão.
Andei nas pedras negras de Alfama.
Errante e preso por uma fonte recôndita.
Sob aqueles sobrados sujos vi os arcanos com flor!

V
Escrever nem uma coisa Nem outra -
A fim de dizer todas
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.

VI
No que o homem se torne coisal,
corrompem-se nele os veios comuns do entendimento.
Um subtexto se aloja.
Instala-se uma agramaticalidade quase insana,
que empoema o sentido das palavras.
Aflora uma linguagem de defloramentos, um inauguramento de falas
Coisa tão velha como andar a pé
Esses vareios do dizer.

VII
O sentido normal das palavras não faz bem ao poema.
Há que se dar um gosto incasto aos termos.
Haver com eles um relacionamento voluptuoso.
Talvez corrompê-los até a quimera.
Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los.
Não existir mais rei nem regências.
Uma certa luxúria com a liberdade convém.

VII
Nas Metamorfoses, em 240 fábulas,
Ovídio mostra seres humanos transformados
em pedras vegetais bichos coisas
Um novo estágio seria que os entes já transformados
falassem um dialeto coisal, larval,
pedral, etc.
Nasceria uma linguagem madruguenta, adâmica, edênica, inaugural

- Que os poetas aprenderiam -
desde que voltassem às crianças que foram
às rãs que foram
às pedras que foram.
Para voltar à infância, os poetas precisariam também de reaprender a errar
a língua.
Mas esse é um convite à ignorância? A enfiar o idioma nos mosquitos?
Seria uma demência peregrina.

IX
Eu sou o medo da lucidez
Choveu na palavra onde eu estava.
Eu via a natureza como quem a veste.
Eu me fechava com espumas.
Formigas vesúvias dormiam por baixo de trampas.
Peguei umas idéias com as mãos - como a peixes.
Nem era muito que eu me arrumasse por versos.
Aquele arame do horizonte
Que separava o morro do céu estava rubro.
Um rengo estacionou entre duas frases.
Uma descor
Quase uma ilação do branco.
Tinha um palor atormentado a hora.
O pato dejetava liquidamente ali.

sexta-feira, dezembro 19

Fartura

Carga verde roça o chão, peso doce.
Ao lado as mangas, como estrelas cadentes sem rumo esborracham na terra batida.
Lá no alto passarada faz a festa.
Perigo passar debaixo.





quinta-feira, dezembro 18

Sou anjo

Sou anjo
sou de ouro
sou anjo do duro couro

Sou anjo
sou de prata.
sou anjo de rica cantata

Sou anjo
sou de cobre
Nada fica que me sobre

Quer saber? Nem de ouro muito menos de prata
sou repito, anjo sim,
o mais puro vira-lata







Dezembro - 2008

quarta-feira, dezembro 17

Abacaxi do campo

Em quintal de tapera abandonada tomada por barba-de-bode e capim colonião de mais de metro, tropicamos em pés de abacaxi miúdos e perdidos. Cara de doce, mel largado.
Olho maior do que a fome, em um sem pensar descascamos e mordemos ávidos.
Azedo que doi. Matou a sede sapecou os lábios.



terça-feira, dezembro 16

Cupins

Vorazes cupins devoram lembranças e sonhos
Deixam a descoberto desejos e vidas.
Curta vida, passagem.

segunda-feira, dezembro 15

Empinando a carroça





E quem garante que a história
É carroça abandonada
Numa beira de estrada
Ou numa estação inglória

A História é um carro alegre
Cheio de um povo contente
Que atropela indiferente
Todo aquele que a negue

É um trem riscando trilhos
Abrindo novos espaços
Acenando muitos braços
Balançando nossos filhos.



Cancion por la Unidad de
Latino America
Pablo Milanes e Chico Buarque de Hollanda

De volta

Depois de uma semana fora em árdua expedição de trabalho retornamos.
Muito para contar. Aos poucos vou mostrando.
A inofensiva cobrinha ai embaixo passou susto. Pesada e medida foi logo solta de volta em seu espaço.
Saiu em rápida carreira.





sexta-feira, dezembro 5

Fabergé

Besouro casaca, traje de gala para baile de verão
galante, desajeitado andar
Verde e dourado, deslumbrante combinação.

Vivo Fabergé, forjada por natureza
esplendor presente para bela czarina
Esmeralda e puro ouro, apurada pureza

Desfila imponente em pasarela decorada
flores, folhas, frutos a coroar
Lá no alto canários em revoada

Vaidoso narciso, esforço em toar
em orvalhadas pétalas de flores
Busca atento, nem que seja seu, admirado olhar




Fotos de Bia Stutz



quinta-feira, dezembro 4

quarta-feira, dezembro 3

Então!

"Brasil esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros,
que
nós queremos SAMBAR!"

Recebi de Chico muitas. Dentre elas, duas das melhores



Cirque du Soleil

Em vestimenta de líquido cristal
Equilibrista.
Tênues fios de artista aranha amparam queda livre





segunda-feira, dezembro 1

Lady Laica

Lady Laica do alto dos seus quase 14 anos cochila mas não perde a pose.
Cochila/desperta/cochila/desperta.
Anciã canina. Nem chuva, nem passarinhos atrevidos que teimam em se aproximar, nem rasantes de morcegos mais a incomodam. Sabedoria da idade.
À noite porém, continua vigilante. Às vezes fala em sonhos. Ficou meio humana. Convívio?



sexta-feira, novembro 28

Tocaia

Ansiedade assumida, suor a escorrer pela testa. Arapuca armada – quirela amarelinha como a encantar e colorir a festa.

Por de trás da moita nas mãos a linha grossa, já suja e remendada – o gatilho da espreita, da tocaia. Horas a fio vendo a bela trocal a pastar perto, rodeia/arrulha mineira, desconfiada. Um sem ciscar de busca pelo milho na sombra, vem devagar, observa. Aos poucos perde o medo, a mão do barbante se retesa, joelho raspa a
terra molhada, está quase de pé. Só mais um pouco, paciência.

O suor agora embaralha a vista, em cachoeira passa pela sobrancelha e corre solto por sobre os olhos. Coração agora bate na garganta, é hora.
Arapuca-algoz pronta, quase treme, cordão teso. Pomba passa rente, esbarra na taboca que estala, um súbito parar, bico para o alto olhos aflitos como a procurar.
Um leve bater de asas sem voar, procura, pressente.

Moleque fica pálido sente arrepio e dor de posição. Já não agüenta segurar a própria mão, geme, arfa baixinho. A correia da sandália de plástico parece querer cortar seu pé que já formiga adormecido.

A trocal ainda parada olha de soslaio a quirela na sombra da arapuca. Determinada com seu jogar de cabeça avança, estica o pescoço para dentro, assunta.
Futrica chega esbaforida e em espalhafatosa busca acha o dono, pula/late/lambe, irresponsável, é só o tempo de um olhar por sobre a planta para ver a trocal em assoviado vôo se ir barulhenta.
Menino e cão rolam pelo chão, raiva passa rápida, aos risos brinca de outra coisa.
Criança é assim por natureza – feliz.

quinta-feira, novembro 27

Psicografia



Como soco seco em vazio estômago, sobe em peristaltismo contrario e acaba na garganta como sufocante bolha de ar.

O escrever. As letras mansas como gado tangido em corredor de terra, a vontade, a ideia, a vontade que conduz vem rápida. Ou se guia o gado ou o rebanho, como as palavras, se desfaz em nuvem pó, cada uma toma um rumo. Nunca mais

Eu queria ter mais letrinhas na cabeça assim escreveria uma história que de tão grande a boiada sonora seguiria em longa fila. Das gerais das Minas ao sertão de imenso Goiás sem pedágio que a interrompesse. A caneta meu berrante, meus óculos minha visão.

De tão grande que o tropel levantaria nuvem de poeira densa. Se faria noite por seis dias, apagando estrelas por seis noites. E quando cortado o trecho e o pó em mansidão se assentasse, não haveria sujeira e tristeza, mas sim colorida e imaculada paisagem. Seria como se as mais puras das geladas brisas da montanhas em julho, lá da serra por ali fossem sopradas e a escuridão do tropel seria substituído por sol em invulgar brilho. Reinando. As gentes seriam felizes, belas e doces.

Eu queria tanto ter mais letrinhas na cabeça e o dom de junta-las em harmônico conto.Seria conto de amor a longa história. Eu queria.

O escrever sem ter lido. Estranho. Descobrir Kant, ou a saga de Tristão e sua salvadora e venenosa lingua de dragão, troféu.

É como conduzir caminho vazio, sem carga. Porém o condutor se sente feliz pois para ele, seus olhos e seu corpo, a carga é farta em algo que alimenta, irá satisfazer almas.

Entre arrumações de camas, vassouras e faxinas, as ideias vão brotando. Entre trocas de pês e bês atrabalhando e atrapalhando. As histórias se formando, os poemas nascendo assim como que sozinhos, alguns cheirando a detergente outros a temperos raros: Anis estrelado em céu azul?

Psicograficamente, do nada, é o vazio da criação. Se algum valor literário pode ou não a escritos assim serem conferidos, se ruins ou bons podem assim soar, não importa. Quem escreve, quem compõe lava a alma, limpa a casa.

Vive de idéias só suas sem sorver sentimentos alheios, sem se alimentar da alma do outro. Pensamento completo, só seu, difícil, inteiro, completo/completo/completo. Vampiro de suas próprias emoções.




novembro/2008

terça-feira, novembro 25

Micos

Falta de chuva na hora certa fez jabuticabas darem miúdas.
Mas os miúdos micos deram nelas com gosto.
Pequenos os frutos, mas de um doce imenso.

Clica nas fotos, elas aumentam