quinta-feira, janeiro 31

Desmatamento Zero







"Cada vez que vamos para o campo à procura de crimes ambientais, voltamos com uma certeza: o desmatamento está caindo ano a ano, mas continua bem vivo. As imagens de satélite confirmam. Segundo o Imazon, as derrubadas no último mês aumentaram em 107%, se comparadas com o mesmo mês do ano anterior.
Se pegarmos todo o segundo semestre de 2012, veremos um crescimento ainda maior: 127% a mais que o mesmo período de 2011. Isso significa um balde de 66,5 milhões de CO2 na atmosfera.
É contra esse cenário – que leva violência e injustiça às populações locais – que nasceu a aliança por um projeto de lei popular do desmatamento zero. Nós, do Greenpeace, nos unimos a várias organizações e movimentos sociais e ambientais, para exigir o fim dessa devastação.


Continue compartilhando essa ideia com seus amigos, familiares e conhecidos. A luta contra o desmatamento só vai chegar ao fim com o esforço de cada um de nós. Continue nessa corrente e junte-se a nós."
Um abraço,
Marcio Astrini
Coordenador da Campanha da Amazônia
Greenpeace

domingo, janeiro 27

Raios




Nada mais estranho do que o comportamento humano. O novo ano começou com gosto amargo de alívio e sufoco, e isso já vinha de longe. O tal fim do mundo marcado pelos maias não ocorreu. Pelo menos por aqui. Correu à solta nas redes sociais que, mesmo acontecendo em data e hora previstas, não nos afetaria e seria cancelado na última hora, pois “o Brasil não teria estrutura para um evento desse porte”. Ainda mais enquanto os recursos escoam ralo abaixo em preparação para copas de futebol. Nem se quiséssemos sobraria dinheiro para financiar a hecatombe derradeira.

Alguns se mobilizaram em aguardo do juízo final, buscando conversão em religião ou seita. Outros se enfiaram em dívidas, tipo assim, eu vou, mas vou devendo. Imagino a frustração e sufoco dos dois grupos. Deve ter muito pregador pregado de tanto correr e devedor correndo para não ser pregado.

O medo dá asas, já dizia Goscinny e Uderzo em uma de suas geniais histórias – “Asterix e os Normandos”-, em que um grupo de vikings desembarca na Gália com o objetivo de conhecer o medo por pensar que este os faria voar. O medo ou um energético, se asas criam, é na imaginação de quem os sente ou ingere. E, assim, milhares de pessoas, por receio ou deboche, só falavam de 21/12/2012.

Aliás, o fatídico dia deu as caras com um belo amanhecer, mas que logo virou para chuva, branda, é fato, entremeando o céu com seu azul anil.

Pois não é que nesse dia começou um pequeno calvário particular, mas que logo se tornaria coletivo?
Em férias, sem muito que fazer, cedo acordo. Talvez para ficar mais tempo à toa, talvez o costume tenha me puxado da cama mesmo ainda no escuro horário de verão.

Férias sem viajar. Não se desliga da rotina. Os telefones te chamam, os problemas de trabalho rondam sua porta e espiam por sobre seu ombro, não se tem descanso verdadeiro, fadiga companheira.

Por volta das oito e pouco, do nada, em imenso estrondo e clarão. Poderosa descarga elétrica proveniente de um raio se fez ver/ouvir. Quem estava na rua viu correntes em luz percorrer fiação de postes. Alguns a viram em tomadas. Uma vizinha, da janela de sua cozinha, se espanta com a intensidade da luz emanada por sobre as copas das árvores.
Começou o fim do mundo. Bem que podia ser a preliminar do tal, mas qual, foi em nosso humilde entender um raio que na rede elétrica caiu, percorreu caminhos à procura de terra e achou trajeto em inúmeras casas. Televisores, portões eletrônicos, aparelhos de DVD, centrais de alarme, liquidificadores, roteadores e outros tantos, em coisa de milésimo de segundos, fritaram placas e fios.

Segui cartilha. Liguei para a companhia elétrica, notifiquei o ocorrido, pelo menos em parte, pois, como não sabia os modelos de alguns equipamentos, a “simpática” atendente simplesmente negou registro. Foi o assunto da rua. Mesmo contabilizando prejuízos, a descrença nas instituições em um primeiro momento, fez muitos não registrarem o fato. A empresa elétrica dias depois enviou carta dizendo que não teve culpa no cartório, não é problema dela. Mobilizei vizinhos a registrarem o sinistro e com ajuda de empresa virtual de defesa do consumidor, a “Reclame aqui”, estamos reunindo dezenas de casos como o nosso. Vamos longe com isso. Depois conto o resultado. Exercer cidadania pode ser cansativo, mas se não o fizermos, quem por nós fará?


Publicado no Jornal Correio em 27/01/2013










sábado, janeiro 26

Tempo

E meu tempo vai se desfazendo em voos noturnos
Será hora de recolher os cacos e buscar rumo?
Estou oco de tanto não saber.






Uberlândia  26/01/2013







segunda-feira, janeiro 21

Fundo do baú

Essa é do fundo do baú, recebi de Marcão. Éramos tão jovens, cabelos pretos, energia. Sonhos e mais sonhos. Assim tudo começou. O Ano? Talvez 1983 ou final de 1984...
Mudamos da Duque de Caxias para a Góias, dona da fachada ai na foto

"Minha linda juventude/páginas de um livro bom..."



Linda Juventude
Flávio Venturini


Zabelê, zumbi, besouro, vespa fabricando mel
Guardo teu tesouro, jóia marrom, raça como nossa cor
Nossa linda juventude, página de um livro bom
Canta que te quero cais e calor, claro como o sol raiou
Claro como o sol raiou

Maravilha, juventude, pobre de mim, pobre de nós
Via Láctea, brilha por nós, vidas pequenas da esquina

Fado, sina, lei, tesouro, canta que te quero bem
Brilha que te quero luz andaluz, massa como o nosso amor
Nossa linda juventude, página de um livro bom
Canta que quero cais e calor, claro como o sol raiou
Claro como o sol raiou.

Maravilha, juventude, tudo de mim, tudo de nós
Via Láctea, brilha por nós, vidas bonitas da esquina.

domingo, janeiro 20

Consumidor





Gisele, Miriam, Joelma (essa é fogo), Carla, Graça, Deisarina. Estas foram apenas algumas das autointituladas “consultoras” de certa companhia de telefonia com as quais falei, em apenas um dia, para não resolver meu problema. Conto. Tinha eu um telefone celular normal, desses que você usa e, no fim do mês, vem a conta, simples assim. Um belo dia recebo carta de que corria o risco de ter meu nome incluído na lista do Serasa ou coisa que o valha, caso não pagasse certa fatura supostamente atrasada.

Como tento ser bom pagador, fiel aos meus compromissos, corri procurar a tal conta. Caixas de sapato, pastas reviradas e achei a dita-cuja. Muito bem paga por sinal, com carimbo de banco e tudo mais. Toquei a ligar para as “consultoras”. Depois de muita musiquinha e digite isso e aquilo, recebi como resposta um: — senhor, o engano foi nosso!

Quem paga o estresse, a vergonha de passar por mau pagador? Bacia das Almas. Imediatamente, cancelei o tal plano e migrei para o pré-pago. Agora quem controla meus gastos sou eu, pensei lá com minhas plantas enquanto delas zelava.
Ledo engano, caro amigo, ledo engano.

E não é que, ao tentar fazer uma ligação de feliz Ano-Novo me vem lá mensagem: “O seu saldo é insuficiente para efetuar chamadas”.
Como assim? Coloquei alguns tantos outro dia mesmo, uma quantidade razoavelmente alta para não ter exatamente esse tipo de problema! Passei por isso, explico: em certa viagem a trabalho com grupo multi-institucional, ministrando capacitação em manejo de escorpiões no Rio Grande do Norte, fiquei sem os tais créditos. Também não sabia da cobrança de deslocamento ou rooming para usar o linguajar técnico. Pronto. Algumas poucas chamadas e zerei. No próprio hotel, com cartão de crédito poderia fazer recarga. Poderia. Quem disse que conseguia conexão com a operadora?

Fiquei literalmente a ver navios, jangadas e outras embarcações de minha janela.
Voltando à vaca fria. Lá vou eu para minhas Giseles, Mirians, Joelmas (essas são fogo), Carlas, Graças e Deisarinas, junto a mais um alfabeto de “consultoras”.
— Senhor, em que posso ajudá-lo?
Juro por tudo quanto há de sagrado, me senti em país de primeiro mundo. Fui muito bem atendido e depois de passar inúmeros dados, faltando apenas os números do tênis e da camisa polo, a resposta:
— Senhor, a falha foi da operadora, houve cobrança indevida, seus créditos serão estornados em 30 minutos.
Agradeci emocionado, elogiei atendimento. Em avaliação dei nota máxima de satisfação. Orgulho. Ainda temos instituições sérias. Passados os minutos, corri verificar saldo, nada. Bom deve ser por conta do volume de serviço, deixa quieto, amanhã verifico outra vez. Assim fiz e nada. Já amigo das moças, retornei a ligação me sentido em casa, até que ouço estarrecido:
— Senhor, o saldo está correto, o saldo foi gasto.

Mas será possível? Trabalho de encruzilhada, mandinga. Os créditos evaporaram?
Um Brasil de todos, mas não como na Bahia, não de todos os Santos.
“Quero mostrar a quem vem aquilo que o povo diz/ Posso falar, pois eu sei, eu tiro os outros por mim”. Fico com Gil.

Depois conto da descarga elétrica que caiu perto de casa, queimou aparelhos de muitos. Cemig com seu batalhão de Giseles, Mirians, Joelmas (essas são fogo), Carlas, Graças, e Deisarinas. Deixaram-me a ver faíscas, raios e trovões. Haja!





Publicado no Jornal Correio em 20/01/2013



quarta-feira, janeiro 16

sexta-feira, janeiro 11

Aviões


Foto web

Uberlândia cresce a passos largos. Se isso é bom ou ruim vai de cada um. Se dependesse de minha vontade, ficaria do tamanho que está ou, talvez, até menorzinha um pouco. Menos carros, mais sossego, mais paz.
A passagem por essas bandas de mundo é rápida e seria bom curti-la com qualidade de vida invejável e muita tranquilidade.

Um sinal claro e barulhento desse crescimento desenfreado são os aviões. Isso mesmo, aviões. Estamos acostumados ao aranzé, ao furdunço das nossas avenidas em horário de pico, mas poucos se dão conta da movimentação que há sobre nossas cabeças. Crescimento ruidoso, mas invisível à percepção quase geral.

Gradualmente aumentam pousos e decolagens em nosso humilde aeroporto. Beleza. Mais e mais pessoas estão aprendendo e, principalmente, podendo desfrutar de um dos melhores, mais rápidos e seguros meios de transporte do mundo, depois do elevador é claro. O problema são as rotas e os horários.

Hora do jornal, você aí atento esperando aquela notícia importante, matéria pela qual passou o dia ansioso pelo desfecho prometido para aquela edição. O jornal vai rolando, desfiando um monte coisas desinteressantes, como casamentos de celebridades e a nomeação da rainha da bateria de uma escola de samba. As tragédias vêm em seguida. Mortes nas estradas, assaltos, caixas eletrônicos em explosão. Bonnies and Clydes em versões patropi. Sonolência. O apresentador finalmente anuncia a esperada notícia, claro, após os comerciais.

Anunciantes aos gritos vendem geladeiras, guarda-roupas, máquinas de lavar. Nunca entendi o porquê de tanta gritaria em propagandas. Pensam-nos surdos?

Volta o jornal. Como abaixamos o volume em função da gritaria de mercado persa dos anúncios, fica um pouco baixo, mas perfeito aos ouvidos. A notícia. Mal o jornalista abre a boca um estrondo; ruidoso e nervoso avião passa exatamente naquele instante. Parece que o céu vai cair sob nossas cabeças. Da matéria, só o mover de lábios do apresentador. Não se reconhece palavras sequer. Quando o último assobio da turbina se faz longe, ouve-se o irritante “Boa noite” e sobem os caracteres. E você, com cara de tacho, com o controle remoto na mão ainda perplexo, sem ação. Tenho que fazer curso de leitura labial, pensa resignado.

Outra situação. As tais das novelas e seus capítulos finais. Meses acompanhando aquela lenga-lenga, o disse me disse de alguma Doralice e um assassinato inexplicável. Na hora crucial da revelação, adivinhem! Imenso, em estalos de lata, quase roçaga a cumeeira de seu telhado, rugindo. Corre a ligar para parente que mora longe para saber o esperado desfecho ou aguarda os horrorosos, pouco criativos e enchedores de linguiça “Vale a pena ver de novo”.

“A praça é do povo! Como o céu é do condor.” Escreveu Castro Alves. Caetano trocou condor por avião e deu frevo. Ele não mora em rota de avião.

Tenho sugestão a dar. Se fizemos um rodoanel, por que não um aeroanel? Assim, os aviões fariam uma volta longe de nossas casas e pousariam silenciosamente ao longe, ficando para nós apenas o apreciar de suas luzes piscando.

As aerovias sobre nossas cabeças já começam a ficar congestionadas. Barulho só. Alguns em regozijo dirão: “Isso sim é progresso, incomodados que se mudem!”.

Para roça não, mas vou-me embora para Pasárgada, desde que lá não seja rota de avião. Combinado, Manoel Bandeira?






Publicado Jornal Correio em 11/01/2013



quarta-feira, janeiro 9

Invocação à Yemanjá

Olhos com brilho de bicho
Banho de descarrego nos primeiros segundos 1º de janeiro 2013. Sem mar desta vez, mas sempre na água.

"Oh! Iemanjá, sereia do mar.
Canto doce, acalanto dos aflitos.
Mãe do mundo, tenha piedade de nós.

Benditas são as benções
que vem do teu reino.
Meu coração e minha alma se
abrem para receber as suas bênçãos.
Mãe que protege, que sustenta,
que leva embora toda dor.
Mãe dos Orixás, mãe que cuida
e zela pelos seus filhos
e os filhos de seus filhos.
Iemanjá, tua luz
norteia meus pensamentos
e tuas águas lavam minha cabeça"




quinta-feira, janeiro 3

Estorninhos em festa

Foto garimpada na web, não descobri o autor, se souberem me contem para conferir os devidos créditos


quarta-feira, janeiro 2

Descaminhos




Foto: Olhares

Nunca tinha saído da roça. Mudava de fazenda em fazenda sempre embarcado, sentindo-se o próprio boia-fria, escravidão. Chegando aos novos destinos, o povo punha-se a gritar com ele e com seus companheiros de sina. Como se não estivessem todos acostumados com aquele corriqueiro ritual. Fingia paciência para não sofrer agressões. A maioria, mesmo, assim descia em azáfama agonia.

Pelo menos água e comida estavam sempre lá a esperá-los e, curiosamente, em abundância, como se quisessem compensar todo o estrago feito em seus corpos durante as jornadas. As viagens, em algumas circunstâncias, eram terríveis. Estradas mal cuidadas, muitos atalhos perigosos para fugir de fiscalização. Asfalto, muito pouco. Terra, poeira, lama, predominavam. Dias e mais dias mal acomodados, às vezes, agarrados em atoleiros gigantescos. Terra massapé, quem conhece sabe, é chuviscar e a armadilha está pronta. Visgo puro, às vezes, nem trator passa. Mas é só abrir um tempinho, sol fraco mesmo, poeira brota do nada. Terra de cultura, rica e cobiçada, hoje mais pelos donos da cana.

Já se sentia meio velho, sem forças para tantas idas e vindas. Queria quietude.

A fazenda em que morava agora era pequena, sítio mesmo. Mas bom pasto havia, fartura de água e o pessoal era aparentemente mais tranquilo. O serviço mais maneiro.

Na madrugada sofria com isso, mal dormia, as noites eram tormentos recheados de pesadelos e agitação. Ouvia miados da besta e sentia com intensa realidade a pele sendo cutucada com ferrões, estalar de chicote. Lembranças de uma infância doida.

A mãe perdera para uma onça e viu o pai aos berros ser levado para nunca mais.

Naquela noite de lua clara, em suas andanças, topou com porteira alta aberta. Empurrou leve. Dobradiças velhas chiaram que nem morcego em forro de tapera. Tomou coragem de moleque, resolveu aprontar uma e saiu a meio trote, rompendo estrada afora. Ao longe, brilho de cidade. Como mariposa em transe, seguiu direto para as luzes.

Andou muito, a serra dava voltas, muitas cercas a furar.

Passado muito tempo, chegou aonde queria.

O primeiro susto foi o barulho ensurdecedor. Música sertaneja às alturas em cada esquina, sentiu-se em casa, mas desconfortável; conhecia bem aquela toada. O chão preto e duro o conduzia a lugar algum tantas eram as opções de caminhos. Bateu arrependimento. Onde fora se meter? E pior, como sair disso? Como voltar? Sentiu saudades dos grilos, da harmônica cantoria dos sapos e rãs, o piado do urutau, os sons de suas noites.
Perdeu o norte, não sabia que rumo tomar. Foi invadido por súbito ataque de ansiedade, pânico mesmo. Calma, pensou. Aqui cheguei, daqui saio.

Tanto fuçou que, como miragem bem à sua frente, surgiu, como passe de mágica, o que lhe pareceu ser as plataformas com as quais estava acostumado a lidar. Certo, era mais moderna, muito iluminada e limpa, mas não custava tentar. Os cheiros lhe eram estranhos.

Subiu a rampa meio confuso, desconfiado. As pessoas dele se afastavam como se doente fosse. Botou a cara dentro do embarcadouro high tech, era ali o caminho ou estava danado.

Alguém gritou ao fundo: “A vaca quer pegar o ônibus!”.

Ofendido deu de lado e se foi perdido.

Vaca? Cara doido, macho que era de pura linhagem! Cobridor oficial de novilhas escolhidas a dedo! Genética apurada, pedigree disputado. Vaca?

“Ora, seu moço, tem dó. Vai amolar o boi!”.

Inspirado em vídeo publicado no Correio Online, caderno Cidade e Região em 11/12/2012:
Boi é flagrado “passeando” por estação do transporte coletivo de Uberlândia.