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Uberlândia cresce a passos largos. Se isso é bom ou ruim vai de cada um. Se dependesse de minha vontade, ficaria do tamanho que está ou, talvez, até menorzinha um pouco. Menos carros, mais sossego, mais paz.
A passagem por essas bandas de mundo é rápida e seria bom curti-la com qualidade de vida invejável e muita tranquilidade.
Um sinal claro e barulhento desse crescimento desenfreado são os aviões. Isso mesmo, aviões. Estamos acostumados ao aranzé, ao furdunço das nossas avenidas em horário de pico, mas poucos se dão conta da movimentação que há sobre nossas cabeças. Crescimento ruidoso, mas invisível à percepção quase geral.
Gradualmente aumentam pousos e decolagens em nosso humilde aeroporto. Beleza. Mais e mais pessoas estão aprendendo e, principalmente, podendo desfrutar de um dos melhores, mais rápidos e seguros meios de transporte do mundo, depois do elevador é claro. O problema são as rotas e os horários.
Hora do jornal, você aí atento esperando aquela notícia importante, matéria pela qual passou o dia ansioso pelo desfecho prometido para aquela edição. O jornal vai rolando, desfiando um monte coisas desinteressantes, como casamentos de celebridades e a nomeação da rainha da bateria de uma escola de samba. As tragédias vêm em seguida. Mortes nas estradas, assaltos, caixas eletrônicos em explosão. Bonnies and Clydes em versões patropi. Sonolência. O apresentador finalmente anuncia a esperada notícia, claro, após os comerciais.
Anunciantes aos gritos vendem geladeiras, guarda-roupas, máquinas de lavar. Nunca entendi o porquê de tanta gritaria em propagandas. Pensam-nos surdos?
Volta o jornal. Como abaixamos o volume em função da gritaria de mercado persa dos anúncios, fica um pouco baixo, mas perfeito aos ouvidos. A notícia. Mal o jornalista abre a boca um estrondo; ruidoso e nervoso avião passa exatamente naquele instante. Parece que o céu vai cair sob nossas cabeças. Da matéria, só o mover de lábios do apresentador. Não se reconhece palavras sequer. Quando o último assobio da turbina se faz longe, ouve-se o irritante “Boa noite” e sobem os caracteres. E você, com cara de tacho, com o controle remoto na mão ainda perplexo, sem ação. Tenho que fazer curso de leitura labial, pensa resignado.
Outra situação. As tais das novelas e seus capítulos finais. Meses acompanhando aquela lenga-lenga, o disse me disse de alguma Doralice e um assassinato inexplicável. Na hora crucial da revelação, adivinhem! Imenso, em estalos de lata, quase roçaga a cumeeira de seu telhado, rugindo. Corre a ligar para parente que mora longe para saber o esperado desfecho ou aguarda os horrorosos, pouco criativos e enchedores de linguiça “Vale a pena ver de novo”.
“A praça é do povo! Como o céu é do condor.” Escreveu Castro Alves. Caetano trocou condor por avião e deu frevo. Ele não mora em rota de avião.
Tenho sugestão a dar. Se fizemos um rodoanel, por que não um aeroanel? Assim, os aviões fariam uma volta longe de nossas casas e pousariam silenciosamente ao longe, ficando para nós apenas o apreciar de suas luzes piscando.
As aerovias sobre nossas cabeças já começam a ficar congestionadas. Barulho só. Alguns em regozijo dirão: “Isso sim é progresso, incomodados que se mudem!”.
Para roça não, mas vou-me embora para Pasárgada, desde que lá não seja rota de avião. Combinado, Manoel Bandeira?
Publicado Jornal Correio em 11/01/2013
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