quinta-feira, fevereiro 11

Nomes



Amigo Júlio Penna, assim mesmo com aristocrático duplo N, me deu um alerta. Nomes. Todo cuidado é pouco na hora de escolher nome de filho. Ser criativo, pode gerar constrangimentos e bullying.
Encontrei alguns tantos, mostro poucos: Maiquel Edy Marfy, Patrick Itambé da Silva, Erripóter, Romixinaide, João Lenão, Milquesheiqueson. A lista é imensa.

Poderiam ter me batizado João. Meu filho assim foi, segue composto em Lucas, iluminado João Lucas. Ah, João Batista, João de Barro. Tantos Joões. Poderia ser José, nome que por si só transmuta, vira Zé e não tem quem tire. Zé das Couves, gente do povo. Talvez Maria, Vidente ou das Graças, Aparecida, de Fátima, das Dores, horrores. Da Penha. Maria das Luzes, Maria. Tantas uma só. Maria Cristina, ou apenas Cristina, Tina, Cri, como o cantar dos grilos. Com sorte Mariana, como minha filha, nome forte.

Poderiam ter me dado Pedro, pedra bruta, pronta a lapidar. Mas dei sorte, pois poderiam ter me agraciado com nomes vários e diferentes: Dosolina, Tazinasso, Elvis Presley da Silva, Eraldonclóbes Souza, Espere em Deus Mateus, Benedito Camurça Aveludado ou quem sabe Maycom Géquiçom ou Franklestan? Djennypher estaria de bom tamanho?

Sendo filho de pai gringo do Brooklyn, NY, não posso reclamar. Na verdade adoro meu nome e já o encontrei abrasileirado para Uilhan. Há tempos guardo grafias do mesmo: Uiliam, Wilian, Wilha, Uilen, raramente com dois “Ls e M com é. O sobrenome então, dá zica sempre. Stutz é um arraso, só soletrando ou mostrando documento. — Por gentileza pode copiar? A que mais gosto das variações vem das gentes simples a me chamarem de Seo Uila. Cheiro de mato, sopro de vento de sonoridade e pureza de alma. Sinto-me figura de Rosa, o Guimarães. Orgulho que só.

Nomes marcam época, modismo. Os anos 60, com o belo movimento de contracultura hippie, fizeram brotar nomes como Brisa, Estrela, Mel, Flor, Sol, Dilan, Demian, Iris e Jasmim. Estes sempre soam bem e trazem vibrações de paz e amor.

Já outros, do gracejo ao trauma, a distância é pequena, como beijo de pulga. Mas fique tranquilo, se não gosta de seu nome, mude, pois é só ir ao cartório. Tenho uma amiga que detestava seu nome. Chamava-se Mari Onete. Não teve dúvidas, mudou para Títere dos fios. Está feliz da vida andando com as próprias pernas.

Caso ouvi, contado de moço que chegou para tirar de identidade. Perguntas de sempre. Endereço, estado civil ou militar e nome completo. — Papaulo Persegonha. Como é que é? Estranhou funcionário da delegacia. — Papaulo Persegonha, repetiu com cara de poucos amigos e conhecedor do estranhamento. Meu caro, você por acaso é gago? — Não senhor, mas meu pai era e o escrivão um tremendo de um gozador.

Pois então amigo Júlio, diz bem, com propriedade. Nome de gringo, mas alma e espírito de total brasilidade, matuto desconfiado de Minas, sem ufanismo, olho observando. Aprovando o que acho bom, sem mais julgar o errado ao meu atentar. Aprendi, contei, reconto com João meu filho.
Ficamos assim, sem muito mais. Se seu nome é Bond, James Bond, o meu bem pode ser uell, Manoel, reza a troça. Cada um com sua sina.








Jornal Correio em 07 de fevereiro de 2016   (Um domingo de carnaval)




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