Céu de marte em março. by Márcia Valle
O dia amanheceu quente. Sol pálido e embaçado se fez mostrar em céu vermelho marte sem graça. Fim de mais uma noite sem lua, sem estrelas. Estrelas, coçou a cabeça a pensar. A última vez que viu uma de verdade foi no museu de História Natural, no planetário. Lembra claramente da sensação de alegria e bem estar ao ver as constelações, a lua. Via Láctea fazendo jus ao seu nome, caminho de leite.
Pulou da cama, tomou seu banho a seco. Água pura era coisa rara e cara. Riu sozinho das mentiras contadas em pen drive, com memórias de parente longínquo. Dois banhos por dia com água! Vê se pode? Nem naquele tempo! E o falsocéu nas imagens de recordação, um azul de doer os olhos, nuvens brancas e pássaros para todo lado? Esses antigos tinham tempo!
Quanto a ele, não tinha tempo a perder. Vestiu rapidamente sua armadura protetora e, como sempre, a primeira missão do dia estava por fazer. Desembainhou sua raquete eletrônica e se pôs a fazer a inspeção diária de dez minutos por sua casa. Todos eram obrigados a fazê-la, sob pena de prisão e processo por omissão.
Os inimigos se escondiam por todos os cantos. Debaixo de camas, mesas e poltronas. Sentiu o primeiro ataque nos pés. Reagiu por instinto, brandindo sua raquete em golpe certeiro, “plect” rodopia como samurai, “plect” “plect” estalos indicam mais dois inimigos abatidos. Decorrido o tempo de busca e após algumas dezenas de “plects”, extenuado, suando feito cavalo de corrida, encostou-se para breve descanso. Sentiu as feridas. Estas coçam mais do que pó de mico. Os inimigos desenvolveram poderosas armas, não respeitando mais tecido grosso e muito menos repelentes ou venenos.
O século é o 23 e os Aedes estão maiores e mais vorazes. Aprenderam táticas de guerrilha. Transmitem centenas de doenças e agravos, de chulé a bico de papagaio. Reproduziam-se em barrancos e areia, seca, desenvolveram cérebro tornaram-se pensantes. Poças de chuva ácida não careciam. Darwin explicaria.
Dengue, zica, chikungunya? Coisas do passado.
Para cada vacina, em seus laboratórios nos mangues, charcos eles descobrem outras doenças e métodos para atacarem humanos. Atualmente estão desenvolvendo formas de transmissão da apatia e do desleixo, na tentativa de deter os gladiadores que lhes vem causando muitas baixas.
Assim, logo após a queda dos porcos e a malsucedida Revolução dos Bichos, virá o império Aedes aegypti. Brinca para você ver! Ficção de hoje é a realidade de amanhã. Cuide do seu pedaço, do seu quintal. Deixando criadouros do mosquito você está contribuindo para a evolução de super raça de Aedes.
Faça sua parte senão estamos com os dias contados. Isto se nós mesmos não resolvermos nos implodir antes, alimentando os Kim Jong-il da vida a caviar e Champanhe Goût de Diamants, enquanto ele brinca de bombas de nitrogênio.
Inspecione sua casa dez minutos por dia. O mosquito é democrático. Casa de rico ou de pobre, não dá bola para política ou futebol. A hora é agora, senão, nossos bisnetos verão o sol nascer embaçado em seu vermelho marte/morte.
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