sexta-feira, fevereiro 7

Academia


Imagem  São Carlos, História e Cultura

Comecei academia. Carecia musculação para segurar o tanto de caminhadas e diários trotes. A curva agora é descendente, e perda de massa magra inevitável, então toca puxar ferro para fortalecer e facilitar o gosto do correr. A avaliação inicial mostrou-se satisfatória, quase nada de gordura, peso legal e a tal massa magra beleza. Senti-me um espaguete ao ponto.

Dia seguinte, cheguei para o primeiro treino. Aula? Sei não como chamar. Acabrunhado, mineiro desconfiado cheguei manso. Sorriso sem graça e sensação de que todos estão te olhando. Preferia olhar o chão, me aquietava. Logo, instrutora simpática e tranquila me abordou: - Primeira vez? Acho que corei. Afirmativo só com gesto de cabeça.

Vem comigo, vamos passar por todos os aparelhos para conhecer funcionamento. Vamos lá, três séries de doze em cada um. Fui correndo todo o espaço, com esforço de principiante.

Aos poucos e graças à simpatia de os todos instrutores, fui ficando mais à vontade. A moça não me deu trégua. De longe reparava que havia terminado uma série e só com o dedo mostrava outro aparelho. Fazia demonstração, me observava nos primeiros movimentos e corria acudir outros.

Paro aqui por minutos. Vou buscar repelente. Os Aedes estão devorando meus pés descalços. Todo ano, há muitos deles (anos), assim tem sido. Não tem quem dê conta de encontrar os focos de nossa região.

Houve ano que não aguentei e implorei UBV pesada (fumacê) e a tal Hatsuta, aquela bomba costal motorizada. Não peço mais. Morre muito bicho do bem. Só em casa tenho vários cachimbinhos de abelhas Jataí. Fico com dó. Passo a repelente e mosquiteiros, pois Aedes aqui em casa é boêmio, tem hora de atacar não. Mas como só as fêmeas nos atacam, presume-se que na espécie a liberdade feminina seja total. Toda noite tem repasto, e os machos nem ligam.

Gente, gente, vigiem seus quintais.

Toca a fazer um exercício com grau de dificuldade cinco, para um iniciante como eu. Suo a camisa. Dei conta. Boto reparo na moçada bonita a malhar. Todos saudáveis e sorriso no rosto. Fortes. Tanto eles quanto elas, mas nada descomunal lapidado à esteróides e bombas. Músculos e corpos adquiridos por esforço próprio. Sem a estupidez das químicas. Gente saudável preocupada com saúde.

Os ruídos e gemidos dos aparelhos, ainda novos para mim, às vezes assustam. Alguns parecem saídos de masmorras inquisitórias. Penso logo com fértil imaginação que surgira à porta ser imenso e musculoso com capuz preto. Que nada,“Carrascas” e “carrascos” são joviais, simpáticos e bonitos em suas camisetas verdes ou pretas. Ao contrário dos torturadores, só querem nos ajudar. Se bem que já vi pequenos sorrisos diante de meu sofrimento. Devo ser desengonçado, faço por merecer.

Vou me empenhar. Acredito que em alguns meses pego o jeito dos aparelhos e passo a dominá-los. Pelo menos não irão mais me dar trancos. Estarei preparado. Não quero me transformar em um Schwarzenegger – esse sobrenome ganha do meu – em seu tempo de The Terminator.

Quero mesmo é ficar de bem comigo, buscar qualidade de vida e um envelhecer tranquilo. O mais saudável possível, sem abrir mão de alguns gostos.

Ainda não começou a se mexer? Está esperando o quê? Garanto, vale cada gota de suor. Como diz uma das instrutoras lhe dando animo ao fim de muita malhação: “Beijo na bunda e até segunda”.






Publicado Jornal Correio em 07/02/2014


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