domingo, janeiro 29

Presente


Foto Next page, new day...

Chegou à minha porta, um mensageiro para a entrega de um pacote embrulhado para presente. Papel de um cinza brilhante com listras brancas em uma das beiradas. O sol alto o fazia brilhar intensamente como se fosse luz refletida em espelho.

Já perceberam a sensação de quando chega uma encomenda inesperada? Se for via Correios, acredito que não tem aquele que consegue assinar o comprovante de recebimento sem certa ansiedade e sem desgrudar os olhos do pacote, seja ele grande ou pequeno, envolto em papel ou plástico amarelo e azul. De quem será? O que contém? Para quem da casa? Quando o encarregado da entrega é um mensageiro então, a sensação é ainda mais forte por pressupor-se que seja de alguém conhecido, principalmente se não lhe pedem para nada assinar. Geralmente apenas um curto comentário:

— Pediram para entregar.

Agradecemos meio sem jeito já com as mãos na encomenda, afoitos para saber quem é o destinatário. Todo mundo que está em casa vem espreitar para saber o que e para quem é. Desta feita, para minha surpresa, o escolhido fui eu. Quase não chega encomenda em meu nome. Contas, promoções de supermercados, imãs de venda de água e gás, estes chegam aos montes a mim endereçados. Neste ano então, vai chover santinho de candidato, vou me sentir “tão importante”. Temporada política tem dessas coisas. Mas encomenda, presente mesmo, raramente.

— É para você! E me entregaram aquele reluzente regalo.

Abri com o cuidado místico quase ritualístico: o momento assim exige, saboreando cada segundo. Antes apalpei cada pedaço na tentativa de adivinhar o que poderia conter. A cada presente nos tornamos outra vez criança, até o cheiro do papel é deliciosamente diferente e prazeroso.

A expectativa toma conta de todos que estão ali à sua volta

— Abre logo pai! Quem mandou?

Os filhos são sempre apressados. De propósito só para me divertir, faço tudo mais devagar ainda.
Era um livro. Maravilha. Adoro ganhar livros. Este me foi enviado por um grande amigo, de longa data, desde a época de escola. Ele estudando Medicina e eu Veterinária.

Conhecemo-nos há mais de 30 anos e, com uma série histórica dessa é fato que se pode traçar o perfil de uma pessoa que, mesmo não a encontrando todos os dias, os laços de amizade e admiração permanecem infatigáveis.

O que nos aproximou inicialmente foram nossas esposas que, como alguns números, são primas entre si. Hoje, Luiz Mauro se tornou renomado médico em Uberlândia e também embrenhou pelos difíceis mistérios dos estudos da sexologia o que, atesto, provavelmente, seja uma das causas que o leva a ver seus pacientes de maneira mais holística. O estudo do comportamento das gentes em área tão delicada, rica e profunda, humaniza sobremaneira o conhecimento técnico.

“Ostra feliz não produz pérola” de Rubem Alves, este foi o livro com o qual fui brindado. Na dedicatória, uma referência à lembrança de minha pessoa a cada releitura que fizera.

Começo com curiosidade mais aguçada a saborear este livro me procuro em cada dizer. Às vezes lisonjeado, às vezes cabreiro, olha eu lá.

Leitura cativante e direta, autor que consegue ser, prazerosamente, repetitivo sem entediar.

Ao final, certamente, muito teremos a prosear, Lula, e assim entender por meio de quais fragmentos e lentes caleidoscópicas você vê e avalia a alma desse velho amigo.




Publicado Domingo, 29 de Janeiro de 2012 no
Correio de Uberlândia



quinta-feira, janeiro 26

Crise na Grécia


Conseqüências: ( Recebi de Íris )

Zeus vende o seu trono para uma multinacional coreana.

Narciso vende seus espelhos para pagar a sua dívida do cheque especial.

Aquiles vai tratar o seu calcanhar no SUS.
Eros e Pan inauguram um prostíbulo.
Hércules suspende os seus 12 trabalhos por falta de pagamento.

Medusa transforma pessoas em pedra e vende na Cracolândia.

O Minotauro está puxando carroça para ganhar a vida.

Acrópole é vendida e em seu lugar é inaugurada uma Igreja Universal do Reino de Zeus.

Afrodite teve que montar uma banquinha de produtos afrodisíacos para pagar as contas.

Eurozona rejeita Medusa como negociadora grega: "ela tem minhocas na cabeça".

Sócrates inaugura Cicuta's Bar para tentar ganhar uns trocados.

Dioniso vende seus vinhos na beira da estrada de Marathónas.

Lula recomenda demissão de Zeus e indica Zéus Dirceu para o cargo.

Hermes está entregando o currículo para trabalhar nos correios. Especialidade: entrega rápida.

Caronte anuncia que a partir da próxima semana passará a aceitar o bilhete único.

Afrodite aceitou posar para a Playboy.

Sem dinheiro pra pagar os salários, Zeus libera as ninfas pra trabalharem na Eurozona.

Ilha de Lesbos abre resort hétero.

Para economizar energia, Diógenes apaga sua lanterna.

Oráculo de Delfos vaza números do orçamento e provoca pânico nas Bolsas.

Vênus de Milo promete dar uma mãozinha a desempregados.

Áries, deus da guerra, foi pego em flagrante desviando armamento para a milícia carioca.

Sócrates, Aristóteles e Platão negam envolvimento na rebelião da USP: "Estamos na pindaíba, mas ainda não descemos a esse ponto"

A caverna de Platão está abrigando milhares de sem teto.

Descobri o porquê da crise: os economistas estão falando grego !!!

domingo, janeiro 22

Contemplação


Vocês devem ficar a imaginar porque tanto falar de pôr de sol, amanhecer, passarinho, céu e sonhos. De uns tempos para cá resolvi ir a pé para o trabalho. Não que tenha levado em conta, pelo menos conscientemente, o aquecimento global, campanhas do tipo deixe seu carro em casa ou aquelas do transporte solidário. Mas, pensando bem, ponto indireto para mim.

Na realidade, dois motivos me levaram a tomar essa decisão. O primeiro e mais importante é que, em casa, estão todos de férias, menos eu. Não seria justo alguém acordar só para me trazer ao laboratório. O outro, é que acordo cedo demais, com o primeiro canto de sabiá ou grito de curicaca. Faço o café e, nos dias de coleta, coloco o lixo para fora.

Até hoje, não me acostumei com o péssimo costume de muitos aqui. Colocam o lixo nas lixeiras em dia que o caminhão não passa a recolher. Considero isso uma falta de civilidade absoluta. Resultado, cães conseguem rasgar sacos, catadores mal-educados vasculham de qualquer jeito e o que se vê é lixo espalhado pelas ruas, horror.

Mais uma vez, a velha ladainha: somos donos do lixo que produzimos e, assim sendo, ele deve obrigatoriamente ficar sob nossa guarda e responsabilidade em casa, para ser entregue à coleta nos dia em que ela passa. Mas essa é prosa para outra crônica.

Café tomado e lixo entregue, pego rumo do trabalho.
Outro detalhe, minha CNH venceu e para renová-la tenho que fazer o tal curso de primeiros socorros, legislação e não sei o que mais. Estou atrás das apostilas, vou estudar em casa e fazer a prova, apesar de não gostar nem um pouco de dirigir. Lá em casa, todos adoram seus carros, eu gosto mesmo é do banco do carona, assim posso apreciar pôr do sol, amanhecer, passarinho, céu e sonhar.

Assim, impedido de dirigir, vindo a pé, me liberto de dependência de outrem e, ao mesmo tempo, meus horizontes ficam maiores.

A caminhada é curta, coisa de meia légua de distância aproximadamente, mas já é suficiente para começar o dia desperto e pronto.

O frescor do ar matinal aguça nossos sentidos para as boas coisas e as ruins também. No trajeto, não raro, deparo com trechos sem calçada que me obrigam ou a pular mato adentro ou a tomar o asfalto, onde, com cuidado, tenho que bailar para não ser atropelado por incauto motorista ou motoqueiro que parecem mirar a gente. Acordaram de mau humor, penso cá com meus botões. Muitas calçadas obstruídas por material de construção também são um desafio. Relevo é cedo e quero manter o astral alto. Motivos não me faltam. Pelo caminho encontro canários-da-terra aos casais em festa de trinados e as curicacas da madrugada em terrenos a ciscar desjejum. Uma placa de escola reflete brilho intenso do sol nascendo às minhas costas como se tivesse luz própria. Cheiro de pão fresco. Sorrisos passam por mim. Volta e meia um terrível odor de fumaça de cigarro. Um carro com som a toda altura. Um cidadão aperta a buzina apressado assim que um sinal abre. Tento ignorar e boto reparo em bando de maritacas que voam rumo leste.

Descobri mais esse prazer, ir a pé para o trabalho. Cobrem-me a história do velhinho com as rolinhas, encontro diário que durou anos.
Estes são alguns motivos pelos quais, como de costume, me levam a falar de pôr do sol, amanhecer, passarinho, céu e sonhos.
E haveria razões mais óbvias?








Publicado no Jornal Correio em 22 de janeiro de 2012


quarta-feira, janeiro 11

Deus me proteja de mim

Deus me proteja de mim
Chico César



Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa.
Da bondade da pessoa ruim
Deus me governe e guarde ilumine e zele assim

Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa.
Da bondade da pessoa ruim
Deus me governe e guarde ilumine e zele assim


Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa.
Da bondade da pessoa ruim
Deus me governe e guarde ilumine e zele assim

Caminho se conhece andando
Então vez em quando é bom se perder
Perdido fica perguntando
Vai só procurando
E acha sem saber
Perigo é se encontrar perdido
Deixar sem ter sido
Não olhar, não ver
Bom mesmo é ter sexto sentido
Sair distraído espalhar bem-querer

domingo, janeiro 8

Profissão: Ladrão

Imagem abaixo: Parte da capa brasileira de DVD do filme Sindicato de Ladrões
(On the Waterfront, 1954)
com Marlon Brando, Karl Malden, Lee J. Cobb, Rod Steiger.





Já que a situação de segurança chegou a ponto extremo, talvez a única saída ou uma delas, seja regulamentar a profissão de ladrão. Assim, eles se organizariam, teriam código deontológico que regeria toda a classe e um código de conduta que respeitaria os cidadãos.

Para obter o registro permanente, os pretendentes a esta carreira deveriam passar por rigorosa avaliação psicológica, exame psicotécnico, prova teórica e prática, além de exame físico para saber se está apto ao “pernas para que te quero”. Tipos violentos, psicopatas, pedófilos, criminosos do colarinho branco, agentes públicos corruptos, não seriam aceitos de forma alguma e sua eliminação seria imediata.

A violência seria totalmente proibida e seu uso, motivo de perda de registro, mediante sindicância que apuraria os fatos.

Educação e compostura seriam primordiais. Cursos de inglês, francês e claro, espanhol, pontuariam na obtenção da carteira profissional para que se pudesse atuar credenciado entre cidadãos do Mercosul e obviamente de olho na Copa do Mundo e nos Jogos Olímpicos. Isso sem esquecer as altas temporadas do turismo internacional. Os cursos intensivos de línguas, para que os visitantes estrangeiros não levassem uma má impressão de nossos larápios, seriam do tipo EaD.

Aparência é tudo e andar bem vestidos, com roupas de grife, seria de suma importância.
Teriam FGTS, seguro-desemprego e, em caso de sinistro ou de recolhimento aos costumes durante o trabalho, teriam direito ao auxílio-funeral e a família do finado passaria a receber pensão vitalícia ou bolsa-ladrão.

O sindicato disponibilizaria um 0800 ou 0171 para reclamações.

Caso furtassem em local ermo e não obtivessem resultado, poderiam usar o SAC. A denúncia seria apurada, afinal, nenhum pobre gatuno pode ser exposto ao ridículo de trabalhar de graça.

Haveria preços regulamentados que teriam que ser afixados em locais públicos e divulgados em pelo menos dois jornais de circulação regional ou nacional, dependendo da categoria do larápio, estipulando os valores de resgates e extorsões

Subfaturar com intuito de ganhar mercado pode levar à advertência verbal e, em caso de reincidência, à perda definitiva de registro de meliante. Formação de cartel ou de quadrilha, mesmo fora de época de festas juninas, seria inadmissível.

Se for usar máscara, que não sejam aquelas de Jaison, Freddy Krueger, Justin Bieber ou de algum membro do Restart. Assustam demais crianças e adultos levando a traumas às vezes irreparáveis. O ideal é usar máscara do Mickey, dos Smurfs ou Teletubbies. São mais simpáticas.

Caso fossem flagrados pela polícia jamais deveriam resistir. Os policiais estão fazendo o serviço deles. Perdeu? Então se entregue sem resistência, pois, como é sabido, ninguém fica preso mesmo. Daí a pouco estará livre para seguir carreira, e ainda sai da cana pós-graduado.

Aposentadoria compulsória, além de umas belas férias de muitos anos em colônia penal a escolher, é direito adquirido. Basta requerer.

Caros amigos, só nos resta rir para não chorar. Enquanto a impunidade se mantiver à solta e nosso código penal não for refeito, funcionando de verdade, nossas polícias usando tacapes contra AK 47, só legalizando o ilegal. Só rindo, como todo bom brasileiro, de nossa desgraça, para não perder o juízo e assim engolir a revolta.




Publicado no Jornal Correio em 08/01/2012


sexta-feira, janeiro 6

Coca-Cola em Israel

Recebi de Henrique




Um desanimado vendedor de Coca-Cola volta de uma frustrada temporada em Israel.

Seu amigo lhe pergunta:

- Por que você não conseguiu ter sucesso com os israelenses?

O vendedor lhe disse:

- Quando eu fui designado para o Oriente Médio, eu estava confiante de que conseguiria vender muito bem nas áreas rurais. Mas havia um problema, eu não sei falar hebraico. Então, pensei em criar uma sequência de três cartazes para transmitir minha mensagem de vendas.

Primeiro cartaz:
- Um homem caído na areia do deserto... totalmente exausto, a ponto de desmaiar.

Segundo cartaz:
- O homem está bebendo Coca-Cola.

Terceiro cartaz:
- Nosso homem, agora completamente recuperado.

Então, mandei afixar estes cartazes em todos os lugares.

- Bem, me parece que isso deveria ter funcionado muito bem - disse-lhe o amigo.

O vendedor respondeu :

- Eu só não sabia que os judeus lêem da direita pra esquerda ...!!!

terça-feira, janeiro 3

Neblina

Uberlândia hoje bem cedinho cobriu-se de pálida/densa névoa. A pé para o trabalho enchi os pulmões com ar perfumado. Prenuncio de dia claro. Daqui a pouco céu limpo/sol forte, pelo menos nessa manhã esplêndida. As imensas miudezas à nossa volta fazem o dia, a vida, valer a pena.







segunda-feira, janeiro 2

Sofrimento não

Recebi de Helô lá Sampa

Dá-lhe Ferreira Goulart

"Não quero saber do sofrimento, quero é felicidade. Não gosto de fazer lamúrias. Uma vez, discuti feio sobre determinada situação. Fiquei sozinho em casa, cheio de razão e triste pra cacete. Então, pra que querer ter sempre razão? Não quero ter razão, quero é ser feliz!"

Faça sua parte

De minha amiga Monik Bats via Facebook

Caso seja míope ou padece do sindrome do braço curto, presbiopia, clique na tira para melhor visualização