sábado, março 27

Morte - Reminiscências


Nada sei
tudo quero perceber, tudo sentir
aprender.
Nada sei - humilde aprendiz das querenças da vida.
Olho encantado para os pequenos viventes no meu entorno.
A formiga, a abelha, a aranha a joaninha;
todos mestres no ensinar a qualquer que queira aprender.
A arte de viver, com eles aprendi, se resume apenas em pelo menos tentar
ser feliz.
Uma teia, uma trilha, uma folha.
A gota de orvalho, serena lágrima da silenciosa madrugada,
o vento frio vindo do riacho, a voar assombro de uma bela Alma-de-gato,
aulas.
Em cada movimento uma lição, em cada passagem pura paixão.
Nada sei, mas sei que procuro um lugar este é o meu destino, minha sina.
Lugar onde reina a tranquila paz das igualdades humanas, talvez junto ao
mar.
Se a questão é tempo, tanto faz, não me assusta não me afobo
Para algo aprender, primeiro temos que amar.
A água o céu, o ar, simplesmente amar
Aprendo com os pequenos viventes as grandes lições da breve estadia.
Assim sigo aprendiz, nada sei. Será?
O tempo, esse sim com certeza me dirá.
William H Stutz ( Poemas)


Assunto delicado, ainda mais em tempos de pandemia onde a morte é
noticiada vinte e quatro horas por dia como se desse IBOPE, o descaso de
governantes em todos níveis levados a extremos. Poucos gostam de passar
olhos sobre o tema. Medo do certo, do que a todos espera? Ter medo da
morte, ponto de vista meu, é ter medo mesmo é da vida.

Raro o poeta ou escritor que deixou de falar, em muitos casos
apaixonadamente, sobre ela e seus desígnios. Fernando Pessoa nos encanta
em “Cancioneiro”: “A Morte Chega Cedo A morte chega cedo, /Pois breve
é toda vida /O instante é o arremedo /De uma coisa perdida”.
Vinícius de Moraes em “Poética”: “A oeste a morte/ Contra quem vivo/Do
sul cativo/O este é meu Norte”. E assim vai. Shakespeare, Kant, Neruda,
Guimarães Rosa. Todos eles deixaram tributos ou menções a ela, a senhora
do tempo, a morte. Muito me marcou no cinema “O Sétimo Selo” do
diretor sueco Ingmar Bergman, onde um cavaleiro ao retornar das
Cruzadas, se depara com a morte, mas curioso e descrente propõe a ela uma
partida de xadrez que definirá sua partida ou não, mas a busca mesmo é
pelo significado da vida. Um épico.

Outro que muito me chamou atenção foi “Meet Joe Black”, com os geniais
Anthony Hopkins e Brad Pitt o título em português me saiu como
“Encontro Marcado”. Uma pausa. Nunca entendi a lógica ou a falta total
dela, na tradução de títulos de filmes no Brasil. Imaginação zero, beira ao
ridículo. Quer um exemplo do absurdo? Se você estuda inglês deve
imaginar que para dizer “Os brutos também amam” basta um “Shane”.
Como é simples a língua de Allan Poe e Mark Twain! Só vendo. Títulos
não deviam ser travestidos apenas para ganhar público, deviam criar uma
lei contra tal prática.
O que imagino e ouço é que o esqueleto envolto em mortalha, armado de
foice apavora muita gente.
Ao longo da vida, ufa enfim dela falamos, perdi muitos para aquela magra
senhora. Minha mãe se foi há poucas semanas, por favor não compadeçam,
ela viveu muito e como sempre quis, voou feliz, podem acreditar. Grandes
amigos, e não foram poucos partiram cedo demais, deixaram saudades
doídas. Esta precocidade é que me incomoda. Tanto ainda para dar, para
ver, para compartilhar e, por algum mistério pegam o rumo antes da hora.
Mas existe outro tipo de morte e este é o pior de todos, é a morte em vida.
Esta é a mais terrível delas. E ela se apresenta de várias formas.

Ultimamente tenho acompanhado com assombro uma de suas piores
formas. A falta de caráter, a covardia, o egoísmo estão no mesmo pacote do
fim de tudo.

Com a mudança de governo municipal, muitos que se diziam fiéis até a
morte aos que saem, assim do nada pularam como cabritos montanheses
para o outro lado e do nada cantam odes e louvores aos vencedores, e
atacam e desprezam aqueles aos quais juravam fidelidade. Obviamente não
são bons profissionais, não dominam o conhecimento mínimo para
cumprirem as missões que a eles foram confiadas e, imagino, só se
sustentaram em seus cargos vampirescamente sugando o conhecimento
alheio, pela bajulação e se aproveitando das benesses do poder. Para estes
quaisquer poderes serve, nômades sempre sequiosos por novas pastagens...
no popular? Traíras mesmo. Hoje empoleiram aqui, amanhã no quintal
vizinho. Onde acham que tem lucro, lá estão como sanguessugas.
Infelizmente não são homens livres, e muito menos dados aos bons
costumes
De longe observo, espero envergonhado por tais pessoas a missa de sétimo
dia.
É por essas e outras que me apego à vida mas, sem medo, susto e de cabeça
erguida repito Milton Nascimento: “Nasci com minha morte e dela não
abro mão”, com honra e firmeza. Procuro a cada segundo de minha
existência o justo e, trabalho minha alma em busca da inatingível perfeição.
Há esperança!

 


 

 

 Jornal Diário de Uberlândia  26 de março 2021