“Noé foi um homem justo e perfeito em sua geração”, afirma a Torá. Sua vida e suas ações se entrelaçam com o Grande Dilúvio que varreu a Terra no início da história, destruindo toda a humanidade, à exceção dele e de seus familiares.” Revista Morasha Edição 43 - Dezembro de 2003.
"O remédio para o mal sempre precede o próprio mal.”
Uma singela charge que recebi pelo WhatsApp me trouxe um pensar diferente. Nela, se via ao fundo a Arca de Noé e os casais de animais enfileirados, tranqüilos, esperando sua vez de entrar. Em primeiro plano um casal de unicórnios se afastava em direção oposta, enquanto o macho sussurrava aos ouvidos de sua companheira de longos cílios e olhar tenro: “Preocupa não, vai ser uma chuvinha”
Relata a Torá, que desde a época de Enosh, filho de Seth e neto de Adão, os homens haviam progressivamente se desviado do caminho do bem, corrompendo-se moralmente. A geração que vivia na época de Noé, conhecida como a "Geração do Dilúvio", era depravada e degenerada em todos os sentidos (a Torá, conhecida também como Pentateuco, é o conjunto dos primeiros cinco livros da Bíblia e é a base da religião judaica).
Depois de muito tentar, penso eu que já de saco cheio, “D’us finalmente decide pôr um fim à maldade reinante, eliminando da face da Terra todos os seres vivos (Gênese 6:7). Após a destruição, Ele daria início a uma nova geração de homens.”
Não meu caro leitor, minha cara leitora, não pretendo aqui falar de religiosidades. Respeito todos aqueles que professam o bem independente de matrizes religiosas, seja ela indígena, ocidental, africana ou oriental. O fato de ser gnóstico me permite essa liberdade de pensar.
Voltando à charge da Arca e dos unicórnios, me deixei levar pelas mensagens ali contidas. Poderia ser uma referência darwiniana (chutei longe) a explicar a extinção de animais mitológicos e fantasiosos, como dragões, fadas, gnomos, caiporas, sacis e tantos outros que povoam o imaginário popular mundial. Mas não, viagem descartada, pois estes foram salvos e eternizados nas profundezas das arcas mentais dos povos que viriam e renasceriam como Fênix. Ela própria pensava-se perdida sob as águas do Diluvio “purificador”.
Porém, a verdade é que não dá nem para duvidar do recado dado. Vejam, e aí é outra viagem minha, o Brasil como sendo o mundo e na pressa de construir uma “Arca”, encontramos sim uma verdadeira Babel. Olha aí eu novamente me remetendo às escrituras, em particular ao capítulo onze de Gênesis, no qual o conflito de ideias é fomentando por lideranças de comportamento tresloucado, insensível e que chega às raias do sadismo. Negacionistas de berço e que preferem a confusão de uma Babel ao entendimento racional, científico e lógico da situação pré-diluviana que estamos vivendo. Meu receio maior é pelo que está no porvindouro dessa triste história. Poderíamos classificar a atual pandemia como o dilúvio contemporâneo, mas seria uma injustiça, para não dizer um insulto, jogar a culpa na Divindade Maior, como se D’us outra vez quisesse punir a humanidade. Não! Em pleno século XXI, a raça humana cada vez mais depreda, esbanja os já parcos recursos e quem deveria zelar pela natureza, pelos ecossistemas agredidos, pelo planeta em agonia, tange boiada para rápido ir passando. Criminosos! Não, o Sars-CoV-2, causador da atual pandemia de covid-19, não é um “castigo Divino”. Castigo e cruel é a inoperância em seu combate, a politização da doença: Quem é de esquerda usa máscara e apoia a vacina, quem é direita, em sua maioria, como unicórnios em extinção, a considera uma “gripezinha”. Há aqueles que diziam em tom de deboche que os mortos não passariam de uns 800 (?). Total falta de respeito com toda uma população. Hoje, quando já ultrapassamos 370.000 vidas levadas e nosso país ainda continua acéfalo de uma coordenação única, capaz de unir a todos em discurso e posturas proativas, que podem muito bem reduzir radicalmente o avanço da doença. Ao contrário, as lideranças maiores continuam agindo em parceria com o vírus. Seus seguidores, como que hipnotizados ou drogados pelas posturas inadequadas, irresponsáveis, perigosas, continuam a aplaudir com os olhos vidrados todas as perversidades de seu mito.
Nossa gente recebendo vacina às migalhas por falta de responsabilidade gestora e diplomática.
Nos falta urgente, como dito lá no começo “(...), um homem justo e perfeito em (nossa) geração (...). Falta-nos um Noé. Que venha o Dilúvio e leve a boiada água abaixo.
Post Scritum: Todas as referências à Torá e a Noé foram retiradas do site http://www.morasha.com.br, da própria Torá e da Revista Morasha da qual sou assinante.
Publicado em Diário de Uberlândia en 23 de abril 2021 ( Dia de São Jorge/Ogum)