“Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu por mais ou menos meia hora. 2 Então vi os sete anjos, que se acham em pé diante de Deus, e vi que lhes foram dadas sete trombetas.
3 Depois
veio outro anjo e ficou de pé junto ao altar. Ele estava com um incensário de
ouro e foi-lhe dado muito incenso para ser oferecido com as orações de todo o
povo de Deus[a] sobre
o altar de ouro que se encontra diante do trono. 4 E
a fumaça do incenso, juntamente com as orações do povo de Deus, subiu da mão do
anjo à presença de Deus. 5 E o anjo pegou o
incensário, encheu-o do fogo do altar e o atirou à terra. E houve trovões,
barulhos, relâmpagos e terremoto.”
Apocalipse 8:1-13
— Ei, acorda!
Hora de ir.
_ Ir? Ir aonde? Tá de madrugada! Pô, quem é você?
—Sou a morte e
vim te buscar.
—Como assim? Do
nada, sem sinal nem nada? Fiz check-up outro dia e está tudo normal!
—Pois é,
acontece.
— Mas eu morri de que?
— Olha sei não. Este não é meu
departamento, só me mandam e eu venho tá ligado, cumpro ordens. Chegando lá
você pergunta.
— Chegando lá? Lá onde?
— Em breve vai saber.
—Mas espera um
pouco aí, morte vestida assim? De jeans, camiseta e tênis? Para com isso, é
gozação!
—O que você
esperava?
—Uai, toda de
preto, sem rosto visível e uma...
—Já sei, uma foice
na mão!
— E, não é? Mais
ou menos isso.
— Cara, cada um
vê a morte do jeito que viveu. Você sempre usou roupa assim, relaxado, para não
dizer..., bom deixa de lado. Como não queria te assustar muito, vim como você
é. Além do mais, você não imagina os chiliques que tenho que ouvir toda vez que
apareço a caráter. Essa vida de morte não é fácil não.
— Para com isso.
Além de se dizer morte e que chegou minha hora, ainda vai me escrachar!? Quer
dizer que ando desse jeito? Tá de sacanagem, né?
— Desculpe se não consegui o efeito desejado, mas chega de papo, hora de
partir.
—Mas não vou
mesmo! Assim não. Tem muita coisa inacabada.
— Por exemplo?
— Te conto. Não
vi o final da série que estou assistindo e está na melhor parte. Tem a novela
que ninguém sabe ainda quem matou a mulher má...
Meu time está recuperando, tem o novo disco do Chico que não ouvi e
ainda tem quase dez cervejas na geladeira que não tomei.
— Não esquenta. Série,
novela e essas coisas, chegando lá outros te contam. Quanto ao seu time, reza
brava resolva. Vamos embora.
— Espera mais um
pouco. Tem mais trem amarrado.
— Não me dá
trabalho, vamos logo!
— Olha só, você sendo
a morte assistiu com certeza o filme Sétimo Selo, do Bergman.
— Faz tempo, mas
é claro que vi! Mas, não estou carregando nenhum selo e muito menos o Sétimo. Não
tenta me enrolar com essa de apocalipse não! Os tempos são outros, vocês podem
ter mil doenças hoje, mas a peste se foi há muito tempo. E ninguém se assusta
com esse papo de fim do mundo, pois sabem que vai acontecer mesmo, então vão
levando e destruindo o planeta. Perderam o juízo. Já pensou a trabalheira que
me aguarda?
— Então, se não rola
uma partida de xadrez, que tal um PlayerUnknown's
Battlegrounds (PUBG) ou talvez um Counter- Strike, para ver se vou ou fico?
É
antigo, mas é muito bom. Se eu ganhar fico, se
perder vou de boa.
—Tem essa de jogo não! Além do mais nunca fui
chegado em jogos online.
Vamos fazer o seguinte, abro um precedente perigoso e que ninguém saiba.
Te dou mais um fim de semana. Você pega suas cervejas, compra mais uma ou duas
caixas, umas belas picanhas, alguns quilos de carré de cordeiro, chama seus
amigos, seus filhos, todo mundo que você realmente gosta e faz um belo
churrasco. Que tal? Eles nem vão
imaginar que é despedida e aí, no dia seguinte, te busco. Todos irão ficar
comovidos e essas coisas.
— Churrasco? Você
tá doida? Aliás, é no masculino ou feminino? Deixa pra lá. Você enlouqueceu?
Viu o preço da carne? Está pela hora da morte...!
Mal terminou a frase, em assustada resignação, baixou os olhos e seguiu em lenta
marcha rumo ao seu indubitável, pessoal e intransferível destino.