Angústia plena
“Nunca viram ninguém triste?
Por que
não me deixam em paz?
As
guerras são tão tristes,
E não tem
nada demais!”
Cazuza
Tanta coisa acontecendo e eu passando por fase louca,
sem conseguir alinhar pensamento. Não vou falar de desgoverno, nem de
politização de vacina contra a Covid, que aliás, como passe de mágica, quase
some dos noticiários. Liberou geral e máscara não é mais necessária. Podem
aglomerar! Gritam a plenos pulmões muitos tontos. Negacionismo me embrulha o
estomago. Discuti à exaustão, perdi esperança. Cada um cada um e o coletivo
perdeu espaço. Mas eu continuo firme com minha máscara e já aguardando uma
quarta dose de esperança.
Quando acho que as tristezas estão consolidadas e que
o mundo de Panglós é assim mesmo, me vem a máxima: “nada pode estar tão ruim
que não possa piorar”. Pode, descubro em terror e sofrimento de alma. Um outro
déspota, do lado de lá do mundo, em cirílico, e por pura gana de poder expansionista
invade a Ucrânia. Não sou bom em política internacional. Por essas e outras,
não adianta argumentar que o real motivo seria o avanço da OTAN para muito
perto de Moscou, colocando em risco a soberania Russa. A Criméia foi anexada,
ótima palavra para não dizer invadida, pela “simples” alegação de que Kiev iria
“proibir” o uso da língua russa. Guerra a pleno vapor e o povo ucraniano em
sofrimento. Agora alegam que a Ucrânia tem armas químicas e que pretendem
usá-las. Você já ouviu uma história parecida contra um admirador do rei
Nabucodonosor, que acabou enforcado e, mesmo assim, não se descobriu nada de
armas químicas?
Vejo,
estarrecido, bombas despencando como chuva grossa sobre as cabeças de
inocentes. Corpos de crianças frias de vida deitadas em chão de neve. Choro em
profunda tristeza.
Acostumado
que estou em relatar um cotidiano morno de minhas andanças de interior matuto
sempre com oi olhar ao que me cerca, não poderia me furtar ao silêncio frente a
tamanha barbárie que vem se juntar às tragédias domésticas, a mil guerras
internas travadas diuturnamente bem mais perto de nós e, quase sempre,
ignoradas por maioria. Crimes sem castigo, para lembrar de maneira torta, mas
não por acaso, o sublime escritor russo Dostoiévski. Quantos Raskólnikovs aqui
e mundo afora tentando provar alguma superioridade estúpida! Só que agora os
assassinatos não são a machado, são de uma pirotecnia maléfica e de alta
precisão em misseis balísticos, a mirar escolas e hospitais. Ouvi outro dia a
expressão “guerra ao vivo”. E é exatamente isso que todos os canais de
comunicação nos mostram. Assistimos almoçando ou jantando como se tudo fosse
normal. Passe para mim o arroz...
Perdemos
o poder de nos indignar realmente? Em que estamos nos transformando? Será
processo darwiniano ao contrário?
Falo
com nó na garganta e profunda indignação, falo em oração ao D’us de cada um.
Perdemos PERMANENTEMENTE o jeito para o amor e solidariedade?
Não
quero me perder em total desesperança. Assim, recorro ao dramaturgo francês Jean
Giraudoux para, literalmente, não perder de vez a sanidade que me é tão cara:
“Uma vez
declarada a guerra, é impossível deter os poetas. A rima ainda é o melhor
tambor.”