sexta-feira, janeiro 12

Encomenda

Acordei às cinco da manhã assim do nada. Talvez o movimento dos bichos pois o dia anda a clarear cedo. Não pensei duas vezes, virei de lado, puxei a manta de tear e pensei lá com meus travesseiros – levantar que nada! O escuro do quarto e o ar-condicionado no 23 me compeliam a ficar quietinho a hibernar, os trovões e uma provável chuva acrescentavam um tempero de ali ficar. Sorri buscando o sonho não terminado. Queria saber o fim. Era de muita paz. Adormeci profundamente outra vez, não achei o sonho, mas vieram outros. Acho que sonhamos mais quando retomamos sono interrompido, assunto para especialistas em ritmo circadiano e coisas e tais. Acho. Não sei dizer quanto tempo passou quando em um susto o telefone tocou histérico.

 Assustado procurei do outro lado da cama, claro não achei nada. Tinha passado uma semana fora em viagem e o dormir em outra cama que não a minha descontrolou a rotina do levantar. Troquei a perna direita pela esquerda, o travesseiro escorregou pela falta de apoio. Dei uma guinada na cama como se estivesse abaixando para fugir de um rabo-de- arraia. Agarrei o celular a atender. Era da portaria. Um vizinho amigo ausente de sua casa solicitando se poderia pegar uma encomenda para ele. Claro que sim! Levantei-me de pronto, na afobação calcei apenas uma das velhas havaianas e, de pijama, isso mesmo que ouviu ou leu, pijamas, durmo assim, não consigo dormir pelado, me sinto nu, putz essa deveria ir para o concurso dos trocadilhos infames capitaneadas por Maurício Wincler, Flávio Pacheco, Edson Denisard e companhia - “a regra é clara” Não acho que seria desclassssifiiiicadaaaaaa!

 Levantei-me calçando apenas um pé das sandálias, olhos inchados de sonhos e o cabelo parecendo uma macega em terreiro mal carpido. Ah, e sem meus óculos displicentemente largados no criado mudo ou para ser politicamente correto no móvel servidor com carteira assinada incapaz de proferir palavra alguma (mundo ficando sem graça). Desci a passos largos para buscar o solicitado.

 

O rapaz da entrega me olhou de cima para baixo com estranhamento. Cabreiro, estendeu o pacote com as pontas dos dedos, olhos fixos no pé sem sandália, sei lá se “isso” vai me avançar, deve ter pensado. Ia quase indo embora quando de estalo se voltou a perguntar – será que poderia me dar número de um documento seu se não for incomodar muito? Quase uma súplica? Ainda meio tonto de sono e confuso pela claridade e pouco enxergando sem as lentes salvadoras, misturei CPF com RG. 

Ele, entregador, percebeu, mas acho que também pensou – vou cutucar esse doido mais não... Estava ele preste a subir em sua moto, falei eu: Pera aí! Ele gelou, percebi, pois tentava ligar a moto mas confundia com o pedal de partida. Por debaixo do capacete senti que ele empalideceu. Olhou com olhos quase a saltar da órbita. Perai, repeti, tá errado! Acho que ele pensou em largar até a CG 125 e sair na carreira... Não, tá tudo certo, deixa eu ir embora por tudo que há de sagrado! Ele não disse isso, mas a expressão corporal demostrada era como se tivesse dito. O número do RG não é esse. 

Ele quase chorou de alívio enquanto eu de cá ditava o número correto (acho que ele não anotou). Voltando, cruzei por moradores que pouco me relaciono. Me olharam com estranheza, dispensei o bom dia. Aqui já tenho uma fama de ser meio estranho, de ser o cara que conversa com bichos e plantas... Outro trovão e a chuva recomeçou mais grossa. Não entrei, à porta de casa me deixei ficar. A água lavou meu rosto, ajeitou meu cabelo e encharcou uma alma feliz e lógico o pijama. Depois disso, só banho e café quente. O dia mal começava. Abençoado dia! Que cheguem mil encomendas, se aqui estiver com prazer recolho.






Diário de Uberlândia 12/01/2024



sexta-feira, setembro 16

Morte

 


“Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu por mais ou menos meia hora. Então vi os sete anjos, que se acham em pé diante de Deus, e vi que lhes foram dadas sete trombetas.

Depois veio outro anjo e ficou de pé junto ao altar. Ele estava com um incensário de ouro e foi-lhe dado muito incenso para ser oferecido com as orações de todo o povo de Deus[a] sobre o altar de ouro que se encontra diante do trono. E a fumaça do incenso, juntamente com as orações do povo de Deus, subiu da mão do anjo à presença de Deus. E o anjo pegou o incensário, encheu-o do fogo do altar e o atirou à terra. E houve trovões, barulhos, relâmpagos e terremoto.”

Apocalipse 8:1-13 

 

Ei, acorda! Hora de ir. 

_ Ir? Ir aonde? Tá de madrugada! Pô, quem é você?

Sou a morte e vim te buscar.

Como assim? Do nada, sem sinal nem nada? Fiz check-up outro dia e está tudo normal!

Pois é, acontece.

— Mas eu morri de que?

— Olha sei não. Este não é meu departamento, só me mandam e eu venho tá ligado, cumpro ordens. Chegando lá você pergunta.

— Chegando lá? Lá onde?

— Em breve vai saber.

Mas espera um pouco aí, morte vestida assim? De jeans, camiseta e tênis? Para com isso, é gozação!

O que você esperava? 

Uai, toda de preto, sem rosto visível e uma...

Já sei, uma foice na mão!

E, não é? Mais ou menos isso.

Cara, cada um vê a morte do jeito que viveu. Você sempre usou roupa assim, relaxado, para não dizer..., bom deixa de lado. Como não queria te assustar muito, vim como você é. Além do mais, você não imagina os chiliques que tenho que ouvir toda vez que apareço a caráter. Essa vida de morte não é fácil não.

Para com isso. Além de se dizer morte e que chegou minha hora, ainda vai me escrachar!? Quer dizer que ando desse jeito? Tá de sacanagem, né?

Desculpe se não consegui o efeito desejado, mas chega de papo, hora de partir.

Mas não vou mesmo! Assim não. Tem muita coisa inacabada.

Por exemplo?

Te conto. Não vi o final da série que estou assistindo e está na melhor parte. Tem a novela que ninguém sabe ainda quem matou a mulher má...

Meu time está recuperando, tem o novo disco do Chico que não ouvi e ainda tem quase dez cervejas na geladeira que não tomei.

Não esquenta. Série, novela e essas coisas, chegando lá outros te contam. Quanto ao seu time, reza brava resolva. Vamos embora.

Espera mais um pouco. Tem mais trem amarrado.

Não me dá trabalho, vamos logo!

Olha só, você sendo a morte assistiu com certeza o filme Sétimo Selo, do Bergman.

Faz tempo, mas é claro que vi! Mas, não estou carregando nenhum selo e muito menos o Sétimo. Não tenta me enrolar com essa de apocalipse não! Os tempos são outros, vocês podem ter mil doenças hoje, mas a peste se foi há muito tempo. E ninguém se assusta com esse papo de fim do mundo, pois sabem que vai acontecer mesmo, então vão levando e destruindo o planeta. Perderam o juízo. Já pensou a trabalheira que me aguarda?

Então, se não rola uma partida de xadrez, que tal um PlayerUnknown's Battlegrounds (PUBG) ou talvez um Counter- Strike, para ver se vou ou fico?  É antigo, mas é muito bom. Se eu ganhar fico, se perder vou de boa.

Tem essa de jogo não! Além do mais nunca fui chegado em jogos online.

Vamos fazer o seguinte, abro um precedente perigoso e que ninguém saiba. Te dou mais um fim de semana. Você pega suas cervejas, compra mais uma ou duas caixas, umas belas picanhas, alguns quilos de carré de cordeiro, chama seus amigos, seus filhos, todo mundo que você realmente gosta e faz um belo churrasco. Que tal?  Eles nem vão imaginar que é despedida e aí, no dia seguinte, te busco. Todos irão ficar comovidos e essas coisas.

Churrasco? Você tá doida? Aliás, é no masculino ou feminino? Deixa pra lá. Você enlouqueceu? Viu o preço da carne? Está pela hora da morte...!

Mal terminou a frase,  em assustada  resignação, baixou os olhos e seguiu em lenta marcha rumo ao seu indubitável, pessoal e intransferível destino.

 

William H Stutz 

Diário de Uberlândia 

 


 

segunda-feira, agosto 15

O menino que carregava água na peneira, de Manoel de Barros

 Toda manhã, acordo esse menino, sou apaixonado pelos  despropósitos 



Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.

Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.

A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!

Manoel de Barros

quarta-feira, julho 20

Quanta Vergonha!



Quanta Vergonha!

 

Vergonha número um


Passei alguns dias em Belo Horizonte e lhe digo, foram muito bons. O frio que por lá reinava foi o grande entrave para poder ser melhor ainda, mas, pelo que acompanhei, essa friagem também parou aqui em nossa cidade. No retorno, um chegar de manhãzinha, cinco horas da matina. Como sou bom de cama, dormi as mais de dez horas do trecho. Vim de Buser. Recomendo, pois é um conforto só. Dormi antes de chegar em Contagem e só lembro do susto que tomei ao acordar, ainda no escuro e sob chuva. Pronto! Errei de destino, pensei. Apreensivo fiquei. Chuva em junho aqui no cerrado? Observei a paisagem molhada e negra e, olhos ainda adormecidos, não reconhecia nada. Eis que me surge iluminada e verde a grotesca imitação tupiniquim da estátua da liberdade. Suspirei entre feliz por estar em casa e triste por tamanha agressão visual logo cedo. No caminho para casa, dia já clareando, notei alguns tantos outdoors. Será que não tem um nome em português para isso? Nestes painéis, os dizeres: Em Uberlândia bandido não é bem-vindo. Assina a grotesca e mal-educada mensagem um tal de “Grupo Direita Minas”. Fiquei sabendo depois que, um vereador cujo nome nunca havia escutado, se coloca como liderança desse grupo e tem a coragem de soltar uma pérola como essa enquanto representante de toda nossa gente. Tais “outdoors, segundo a mensagem, seriam uma maneira de demonstrar o “repúdio da população de Uberlândia com a presença de Lula na cidade.” Hora, meu senhor desconhecido, eu não te dei procuração para falar em meu nome e, pelo que sei, o senhor foi eleito com TODOS os seus 2012 votos e, portanto, só tem direito de falar por estes e nunca em nome de toda uma cidade.

 

Vergonha número dois

 

Seguindo o dia, me contaram sobre outro vereador, que após entrar como suplente com dois mil e pouquíssimos votos, em seu décimo terceiro dia por lá, soltou outra pérola em plena Casa do Povo, dizendo: “Não queremos xiitas e ambientalistas na nossa cidade”. Isto, em uma discussão importante sobre a derrubada de uma das mais belas áreas verdes da região sul. TUDO POR DINHEIRO!!!!

Acredito que este senhor não tenha a menor ideia do que significa Xiita, então vou ajudá-lo para que não mais agrida a fé de milhões numa demonstração clara de intolerância religiosa, típico: “Xiita no Islamismo, significa "partidários de Ali". Os xiitas consideram Ali (primo e genro do profeta Maomé) o sucessor legítimo da autoridade islâmica.

Os xiitas acreditavam que a liderança da nação muçulmana deveria continuar entre a família do profeta, de modo que Ali Bin Abi Talib, genro de Maomé, se tornaria o novo líder. Já os sunitas, acreditavam que o povo muçulmano deveria eleger seu novo líder. Fonte: Busca do Dr. Google. Contudo, recomendo leitura mais profunda e, se houver interesse, enviarei longa bibliografia.

 

Vergonha número três

 

Esta meus amigos foi a pior das piores e ocorreu apenas há alguns dias. Vi/ouvi em rede nacional. Que acanhamento alheio! Senti como se todos me olhassem em deboche. Olha isso: um cidadão me fez o favor de pegar seu drone de pulverização agrícola e jogar sabe-se o quê sobre as pessoas que participavam do comício dos candidatos a presidente e governo de Minas, Luiz Inácio Lula da Silva e Alexandre Kalill. O agro pode até ser “pop”, “top” e tais, mas tamanha desfaçatez aquele dia e logo aqui, para uns, o agro se mostrou imbecil.


Presos na hora pela Polícia Federal tiveram sorte pois, se Lula tivesse chegado esse cidadão seria enquadrado na Lei de Segurança Nacional e, aí sim, a porca torceria o rabo.  Essas crias da violência são a marca maior de um país de terceiro mundo em marcha a ré. Não dá para aceitar este tipo de atitude. Cara, você quer ser de direita? Problema seu, defenda seu ponto de vista com argumentos sólidos e racionais. Vá para o campo do debate limpo e respeitoso. Sei que o exemplo dessa irracionalidade vem de cima e vocês meros instrumentos, fantoches do mito, repetem animalescamente seu pensar e agir. Entretanto, por favor, parem de fazer nossa Uberlândia enrubescer de tanta vergonha. Uma cidade que tantos bons exemplos deu para o país, hoje é motivo de chacota.

Na minha tristeza e com sensação de estomago embrulhado, fico na retranca esperando a próxima besteira que nos levará para o caminho, um dia sem volta, da vergonha e do asco nacional. Como diria Mike, meu velho pai americano do Brooklyn, NY: Shame on you!

 






Diário de Uberlândia


Aguento?

 


sexta-feira, abril 1

Angústia





Angústia plena

 

“Nunca viram ninguém triste?
Por que não me deixam em paz?
As guerras são tão tristes,
E não tem nada demais!”

Cazuza

 

Tanta coisa acontecendo e eu passando por fase louca, sem conseguir alinhar pensamento. Não vou falar de desgoverno, nem de politização de vacina contra a Covid, que aliás, como passe de mágica, quase some dos noticiários. Liberou geral e máscara não é mais necessária. Podem aglomerar! Gritam a plenos pulmões muitos tontos. Negacionismo me embrulha o estomago. Discuti à exaustão, perdi esperança. Cada um cada um e o coletivo perdeu espaço. Mas eu continuo firme com minha máscara e já aguardando uma quarta dose de esperança.

Quando acho que as tristezas estão consolidadas e que o mundo de Panglós é assim mesmo, me vem a máxima: “nada pode estar tão ruim que não possa piorar”. Pode, descubro em terror e sofrimento de alma. Um outro déspota, do lado de lá do mundo, em cirílico, e por pura gana de poder expansionista invade a Ucrânia. Não sou bom em política internacional. Por essas e outras, não adianta argumentar que o real motivo seria o avanço da OTAN para muito perto de Moscou, colocando em risco a soberania Russa. A Criméia foi anexada, ótima palavra para não dizer invadida, pela “simples” alegação de que Kiev iria “proibir” o uso da língua russa. Guerra a pleno vapor e o povo ucraniano em sofrimento. Agora alegam que a Ucrânia tem armas químicas e que pretendem usá-las. Você já ouviu uma história parecida contra um admirador do rei Nabucodonosor, que acabou enforcado e, mesmo assim, não se descobriu nada de armas químicas?

Vejo, estarrecido, bombas despencando como chuva grossa sobre as cabeças de inocentes. Corpos de crianças frias de vida deitadas em chão de neve. Choro em profunda tristeza.

Acostumado que estou em relatar um cotidiano morno de minhas andanças de interior matuto sempre com oi olhar ao que me cerca, não poderia me furtar ao silêncio frente a tamanha barbárie que vem se juntar às tragédias domésticas, a mil guerras internas travadas diuturnamente bem mais perto de nós e, quase sempre, ignoradas por maioria. Crimes sem castigo, para lembrar de maneira torta, mas não por acaso, o sublime escritor russo Dostoiévski. Quantos Raskólnikovs aqui e mundo afora tentando provar alguma superioridade estúpida! Só que agora os assassinatos não são a machado, são de uma pirotecnia maléfica e de alta precisão em misseis balísticos, a mirar escolas e hospitais. Ouvi outro dia a expressão “guerra ao vivo”. E é exatamente isso que todos os canais de comunicação nos mostram. Assistimos almoçando ou jantando como se tudo fosse normal. Passe para mim o arroz...

Perdemos o poder de nos indignar realmente? Em que estamos nos transformando? Será processo darwiniano ao contrário?

Falo com nó na garganta e profunda indignação, falo em oração ao D’us de cada um. Perdemos PERMANENTEMENTE o jeito para o amor e solidariedade?

Não quero me perder em total desesperança. Assim, recorro ao dramaturgo francês Jean Giraudoux para, literalmente, não perder de vez a sanidade que me é tão cara: Uma vez declarada a guerra, é impossível deter os poetas. A rima ainda é o melhor tambor.”

 

 




Diário de Uberlândia em 1º de abril 2022

sexta-feira, dezembro 3

Uma palavra pode derrubar o governo

A força da palavra somada à uma boa dose de tola curiosidade leva muita gente a ser guiada por uma simples “cabeça” de matéria. Segundo alguns Manuais de Redação, ou vocês acham que não pesquisei os principais jargões de redação jornalística? Bom, segundo destes manuais recomendam que a tal “cabeça” seja forte e impressionante a ponto, e é claro este é o objetivo, seja de tamanho impacto que possa chamar atenção do leitor e quase que automaticamente obrigá-lo a deitar olhos sobre o texto. Aí vem minha birra ou se preferir, implicância com alguns espertos que escrevem. 

Concordo que o Título é superimportante e deve mesmo ser isca boa para prender leitor, mas tudo tem limite. Não carece ser enganoso como tantos que por ai vemos. Se o noticiarista, seja ele diário ou “freela”, tem que ter certa noção do estrago ou da irritação que pode causar ao abusar do tal “impacto” ou isca de seu texto. Ora sejamos. Outro dia me deparei com uma “manchete” mais ou menos assim: “Famosa, bonita e rica, Ana Hickmann fatura prêmio acumulado da Mega e soma mais alguns milhões a sua conta bancária”. Em rápido pensar me pus a analisar o que li. Sei que existem muitos paparazzicorrendo mundo como um Labrador ou Golden Retriever (relaxa... a comparação não é nenhuma ofensa partindo de mim pois curto muito mais os animais do que os humanos) atrás de uma imagem inédita de alguma super celebridade em situação inusitada que possa lhe render alguns bons dólares. Mas sei também existem muito paparazzo, (pausa para um pouco de cultura inútil: paparazzo é o singular de paparazzi), estes eu chamo de retratistas.  Como seria a denominação de um jornalista especialista em cabeças de matérias enganosas?

Voltando a atriz e apresentadora Ana Hickmann e sua suposta mega sorte.

O “corpo” da matéria continha uma história besta sobre um cartomante, ou vidente sei lá, sapecou “Segundo o espiritualista, a apresentadora pode ganhar na Mega Sena e ficar ainda mais rica.” Ou seja, nada de verdadeiro o peixe-leitor foi fisgado direitinho

Tudo não passa de um belo “Nariz de Cera” – o Dicionário do Foca explica: “Tenha certeza de que não tem nada a ver com museus ou esculturas. Segundo o “Manual do Foca: guia de sobrevivência para jornalistas”, o termo “nariz de cera” dá nome a introduções de matérias que são muito longas e vagas, sem dados exatos. Basicamente é a famosa “enrolação”. (*)

Passear na web é uma aventura e um grande exercício de interpretação e malícia se assim não for você vai passar horas sem querer nas chamadas do tipo bela Ana Hickmann ou em outra tipo “Você se lembra de fulano de tal? – se controle para não chorar quando ver como ele vive hoje”

A última que do nada apareceu num site de busca estrategicamente colocado entre os resultados de busca – algum algoritmo  deve ter me identificado como imbecil e me persegue web a fora – Mas a ultima foi cômica simplesmente dava um alerta: “ Globo encerra atividades na TV aberta, emite comunicado ao público e confirma último dia no ar: “31 de dezembro”. Cocei o queixo antes de clicar no link. Matutei, como que um povo tão culto e antenado vai viver sem a novela das oito, sem os “inéditos” Vale a pena ver de novo? Sem o mais grave, sem dar o sonoro boa noite para o Bonner ao fim do Jornal Nacional? Apesar de destorcida não pode ser caracterizado como uma “Barriga” ou fake. Pura esperteza isso sim!

Mesmo sabendo que lá vinha sacanagem cliquei sim a Globo encerra atividades na TV aberta, emite comunicado ao público e confirma último dia no ar: “31 de dezembro” mas em países como Alemanha, Espanha, França e Itália.... - https://www.otvfoco.com.br/globo-deixa-tv-aberta-e-confirma-ultimo-dia-no-ar-31-de-dezembro/

Comecei foi a rir, pois cai a armadilha sabendo. Mas o que importa para a TV Foco da própria Globo são os clicks e visualizações e assim ajudei a “Vênus platinada ” apelida da assim segundo o apaixonado pela história da televisão no Brasil, Márcio Menezes: “Esse apelido surgiu em 76, quando funcionários da Globo trocaram de sede após um incêndio na antiga, a faixada do prédio foi pintada de prata a pedido de Hans Donner e ai o apelido acabou pegando.”   Assim pois, repito ajudei nas suas estatísticas mercadológicas e estas sim interessam muito pois abre os olhos de patrocinadoras.  Todo cuidado é pouco fica esperto. 

Aproveitando as dicas do Manual do foca” vou ficar atento para saber qual será o “olho” desta crônica e ainda, para agradar a Redação passo a seguir o conselho “a produção é feita dentro do padrão “Arial 12”. Já em jornais e revistas, os tamanhos geralmente são 10” Me corrija Redação se estiver errado

Pois então se você acredita em tudo até que “uma palavra derruba o governo” redobre atenção duas vezes

 “Nota pé”

(*) Os termos de redação de jornalismo e significados foram coletados no site DICIONÁRIO DO FOCA - Anatomia dos jargões: da cabeça à nota pé - http://facopp.unoeste.br/facopp/anatomia-dos-jargoes-da-cabeca-a-nota-pe/





03/12/2021

segunda-feira, junho 28

Domingo, palco azul

 



— O medo que tens— é que faz, Sancho, que nem vejas, nem ouças às direitas, porque um dos efeitos do medo é turvar os sentidos, e fazer que pareçam as coisas outras do que são. Se tão medroso és, retira-te para onde quiseres, e deixa-me só, que basto eu para dar a vitória à parcialidade a quem ajude.

Dom Quixote de la Mancha - Miguel de Cervantes

 

Se fosse minha velha Remington, o inexistente cesto de papéis e seu entorno estariam cheios de folhas amassadas, rasgadas, arrancadas à força do carro da máquina e atiradas longe junto com a falta de inspiração.

A ideia demora a se fazer vista em sua plenitude e ficarem devidamente alinhadas como linha de papagaio bem esticada deixando suas cores da ave de papel a tremular pairando em um céu azul de tempos de inverno que acabou de chegar. Mas não. Mais uma vez a linha se faz em barrigada perigosa. Presa fácil para uma laçada. E eu chorando “de cara suja/ Meu papagaio o vento carregou/ E lá se foi pra nunca mais/ Linha nova que pai comprou…” a espera de uma Maria Solidária a me salvar.

Fico a imaginar se todos que escrevem passam por isso. O dia da folha totalmente branca. Ideias são muitas, porém nem sempre se consegue arrancá-las do fundo da alma e deixá-las expostas em sua nudez pura. Sim, as ideias, assim como os pensamentos, estão eternamente despidos à espera de que você, eu, ou alguém os vista da forma imaginada. Podem ser fantasticamente coloridos, risonhos bailarinos ou artistas de circo, onde podemos preencher o palco e a plateia conforme nossa vontade. Hoje tem marmelada !???? Tem sim senhor!!! Ou podemos deixá-los às escuras, puras sombras sem movimento, sem risos, sem aplausos. Hoje tem goiabada!? Agora em murmúrio. Tem não senhor... em coro de vozes tristes e sussurradas das coxias: Tem não senhor... Tem não senhor...

Luzes! Cores! Música! Que entrem os mais belos e ricos pensamentos em forma de lindos cavalos brancos enfeitados de ouro e prata a contornar um picadeiro repleto de gritos e aplausos! Que entrem os palhaços com suas cambalhotas e brincadeiras, que atirem baldes de pétalas de flores ao respeitável público! Acrobatas lindas com seus cabelos em cachos negros e vestes reluzentes a cortar os céus com perícia e delicadeza, arrancando suspiros apaixonados ou gritos de medo! Sei bem que muitos torcem pela queda, pela tragédia. Mas eles que vistam os seus pensamentos ruins com a roupagem que lhes aprouver. No meu circo, meu palco de sonhos não tem lugar para o assim pensar. Sim, pode como já disse, ficar escuro e sem goiabada em alguns momentos. Mas sempre haverá esperança de sons, risos e cores...

Se me propusesse a falar apenas sobre um tema toda semana, ficaria mais simples. Não apenas seria extremamente maçante e sem graça, seria triste e vazio. Mesmo em momentos tão confusos e de pouca esperança como estes que estamos vivendo, mesmo frente a tanta discórdia e inimizades surgindo a cada dia por um nada. Acredite, cada um tem seu palco, seu jardim, sua estrada e o caminho e as peças que quiser ali colocar são sempre aquelas que você escolher por companhia. Nem todos os dias serão de sol e céu de pleno azul. As tormentas e tempestades tem sua hora e lugar. Elas passarão. Assim, não tenha medo jamais do trovão, pois ele e seu rugido/rolar significam que o raio já caiu em outro lugar longe e você venceu mais um dia. Recolha as bolas de papel atiradas no seu cesto, remende as folhas rasgadas. Para seu espanto, a até então folha em branco mostrará o quanto pode existir felicidade e criação a partir do vazio. Sonhos são para ser não apenas sonhados, viva-os intensamente. Avante, sempre.

 

“À força de tanto ler e imaginar, fui me distanciando da realidade ao ponto de já não poder distinguir em que dimensão vivo.” — Dom Quixote







Diário de Uberlândia - Junho 2021

sexta-feira, maio 7

Como morrem as amizades

 



Como morrem as amizades

Título pesado não é mesmo? Talvez seja mais para chamar atenção de incauto leitor, que passaria os olhos sobre meus escritos no jornal como um trator. Jogada de marketing digital, posto que não temos mais o espaço em papel às sextas? Pescaria de leitura, tendo como isca títulos atrativos que, como uma “chamada de capa” e sua frase impactante sobre a matéria, na maioria das vezes em nada condizem com o conteúdo? Ou será uma sensação verdadeira que estou experimentando? Caras e caros, julguem vocês, por favor.

O lance é que estamos vivendo o período mais louco de nossas vidas, mesmo para aqueles que têm TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) como o “rei” Roberto Carlos, segundo ele próprio declarou em uma entrevista por videochamada na comemoração de seus oitenta anos. Não é fofoca de folhetim ou invenção.

Para quem sofre as pressões horríveis do TOC estamos finalmente vivendo em um mundo que lhes é familiar, no qual as pessoas não mais se tocam, lavam as mãos infinitas vezes ao dia, se banham de álcool em gel, se evitam, não visitam e nem sentam em seu sofá. Em sua sofrência muitos têm seus truques e reservam sempre um copo, talheres e prato para “intrusos”. Depois de alguma visita incômoda, usam luvas e lavam estes objetos com bucha especial, separada para isto. Em seguida a este ritual ainda vem o spray de álcool salvador e, em suas mentes, matador de tudo quanto há de perigoso. Talvez isto se repita uma, duas ou até três vezes para que se sintam tranqüilos (as). 

Conheço bem o sofrimento de quem convive com esse transtorno. Tenho o maior respeito por eles e se sugestão pudesse dar seria que se tratem, procurem ajuda, pois a vida é muito curta para que a deixemos passar com tanto sofrimento. Posso falar de cadeira. Fui agorafóbico e tinha crises de pânico, que por anos a fio me incapacitaram e me fizeram perder muito. Demorou, mas venci e hoje tento o impossível, recuperar o tempo perdido. Difícil. O tempo você pode até pensar que recuperou, mas os sentimentos, oportunidades, pessoas que perdeu jamais.

Porém, se a situação está cômoda, em termos, para os portadores de TOC, para o resto da humanidade está um caos. Vivemos à flor da pele. O que antes passaria batido ou acompanhado de um simples suspiro, hoje gera reações de raiva, repulsa e revolta. 

Até bem pouco tempo se alguém em sua mesa de bar ou em alguma rede social fizesse apologia ao fascismo, que nos ronda e avança com força pouco vista depois do fatídico golpe de 64, o máximo que fazíamos era um balançar e coçar de cabeça e um deixa pra lá. Hoje? Não fica sem resposta agressiva e vira um quebra pau! Gente, gente, parem com isso! Nunca. Bloqueia-se. Exclui-se de sua lista

E isto depois de muito xingar. É de arrepiar quando ouvimos os argumentos reducionistas, sem base alguma sobre comunismo e socialismo, como se os dois fossem sinônimos. Só para ilustrar dou lista curtinha de alguns países socialistas Noruega, Suíça, Espanha e Dinamarca todos sociais-democratas socialistas e/ou trabalhistas e tem Israel no oriente médio também. 

Agora depois que ouvi da boca de fanáticos apoiadores do mito que o Caiado de Goiás era comunista pois bateu de frente com uma manifestação/aglomerada de apoio ao Messias presidente, encerrei qualquer tipo de conversa sobre política com essa gente. Palavras ao vento.

No futebol, outro assunto que era apenas motivo de gozações sadias e divertidas, eram as zombarias dirigidas aos Flamenguistas, odiados por quase todas as outras torcidas. Quando perdiam, qualquer coisa era motivo de mofa sem fim, até em disputa de remo (afinal é o Regatas que carregam no peito) ou mesmo em campeonatos de bolinha de gude. Nada escapava da zoeira. Hoje dá briga e criam-se inimizades facinho, facinho (diminutivo esse que usamos inventado, mas bom demais da conta de falar). Gozação virou coisa séria. 

Outra coisa que se tornou ainda mais perigosa nestes tempos difíceis foi a franqueza. Esta hoje é catalizadora em relações de qualquer espécie. Quer perder um amigo, seja franco. O apoie quando está com raiva e usa os piores adjetivos contra algo ou alguém, mas saiba que, assim que ele ou ela resolver seus conflitos e o objeto de seu ódio passar se voltará contra você.

 Todos aqueles xingamentos que ele (ou ela) professou serão creditados a você e aí meu caro, minha cara, a ira se voltará contra sua pessoa. A velha amizade, sentimento de fraternidade, “tamo junto”, vão para o espaço. Você sempre sairá perdendo. Vivendo e aprendendo, em alguns assuntos, seja em época doida ou normal, o melhor é ouvir e por mais provocado a compartilhar a dor e os desejos momentâneos do amigo/amiga, fique quietinho. No máximo balance a cabeça. E olhe, até esse movimento e sua melhor cara de paisagem podem futuramente pesar contra você.

Gente humana é muito esquisita, se cuide, pois o que foi construído em décadas pode ruir por uma bobagem que nem plantada por você foi.

Ah, meu amigo em espírito Guimarães Rosa, qual estrela lhe guiou a pena ao escrever “Amizade dada é amor. Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios.”

 




Publicado em  Diário de Uberlândia em 07 de de abril 2021

 

 

 

 

 

 

 


sexta-feira, abril 23

Noé o dilúvio e a Covid

 

“Noé foi um homem justo e perfeito em sua geração”, afirma a Torá. Sua vida e suas ações se entrelaçam com o Grande Dilúvio que varreu a Terra no início da história, destruindo toda a humanidade, à exceção dele e de seus familiares.” Revista Morasha Edição 43 - Dezembro de 2003.

"O remédio para o mal sempre precede o próprio mal.”

Uma singela charge que recebi pelo WhatsApp me trouxe um pensar diferente. Nela, se via ao fundo a Arca de Noé e os casais de animais enfileirados, tranqüilos, esperando sua vez de entrar. Em primeiro plano um casal de unicórnios se afastava em direção oposta, enquanto o macho sussurrava aos ouvidos de sua companheira de longos cílios e olhar tenro: “Preocupa não, vai ser uma chuvinha”

Relata a Torá, que desde a época de Enosh, filho de Seth e neto de Adão, os homens haviam progressivamente se desviado do caminho do bem, corrompendo-se moralmente. A geração que vivia na época de Noé, conhecida como a "Geração do Dilúvio", era depravada e degenerada em todos os sentidos (a Torá, conhecida também como Pentateuco, é o conjunto dos primeiros cinco livros da Bíblia e é a base da religião judaica).

Depois de muito tentar, penso eu que já de saco cheio, “D’us finalmente decide pôr um fim à maldade reinante, eliminando da face da Terra todos os seres vivos (Gênese 6:7). Após a destruição, Ele daria início a uma nova geração de homens.”

Não meu caro leitor, minha cara leitora, não pretendo aqui falar de religiosidades. Respeito todos aqueles que professam o bem independente de matrizes religiosas, seja ela indígena, ocidental, africana ou oriental. O fato de ser gnóstico me permite essa liberdade de pensar.

Voltando à charge da Arca e dos unicórnios, me deixei levar pelas mensagens ali contidas. Poderia ser uma referência darwiniana (chutei longe) a explicar a extinção de animais mitológicos e fantasiosos, como dragões, fadas, gnomos, caiporas, sacis e tantos outros que povoam o imaginário popular mundial. Mas não, viagem descartada, pois estes foram salvos e eternizados nas profundezas das arcas mentais dos povos que viriam e renasceriam como Fênix. Ela própria pensava-se perdida sob as águas do Diluvio “purificador”.

Porém, a verdade é que não dá nem para duvidar do recado dado. Vejam, e aí é outra viagem minha, o Brasil como sendo o mundo e na pressa de construir uma “Arca”, encontramos sim uma verdadeira Babel. Olha aí eu novamente me remetendo às escrituras, em particular ao capítulo onze de Gênesis, no qual o conflito de ideias é fomentando por lideranças de comportamento tresloucado, insensível e que chega às raias do sadismo. Negacionistas de berço e que preferem a confusão de uma Babel ao entendimento racional, científico e lógico da situação pré-diluviana que estamos vivendo. Meu receio maior é pelo que está no porvindouro dessa triste história. Poderíamos classificar a atual pandemia como o dilúvio contemporâneo, mas seria uma injustiça, para não dizer um insulto, jogar a culpa na Divindade Maior, como se D’us outra vez quisesse punir a humanidade. Não! Em pleno século XXI, a raça humana cada vez mais depreda, esbanja os já parcos recursos e quem deveria zelar pela natureza, pelos ecossistemas agredidos, pelo planeta em agonia, tange boiada para rápido ir passando. Criminosos! Não, o Sars-CoV-2, causador da atual pandemia de covid-19, não é um “castigo Divino”. Castigo e cruel é a inoperância em seu combate, a politização da doença: Quem é de esquerda usa máscara e apoia a vacina, quem é direita, em sua maioria, como unicórnios em extinção, a considera uma “gripezinha”. Há aqueles que diziam em tom de deboche que os mortos não passariam de uns 800 (?). Total falta de respeito com toda uma população. Hoje, quando já ultrapassamos 370.000 vidas levadas e nosso país ainda continua acéfalo de uma coordenação única, capaz de unir a todos em discurso e posturas proativas, que podem muito bem reduzir radicalmente o avanço da doença. Ao contrário, as lideranças maiores continuam agindo em parceria com o vírus. Seus seguidores, como que hipnotizados ou drogados pelas posturas inadequadas, irresponsáveis, perigosas, continuam a aplaudir com os olhos vidrados todas as perversidades de seu mito.

Nossa gente recebendo vacina às migalhas por falta de responsabilidade gestora e diplomática.

Nos falta urgente, como dito lá no começo “(...), um homem justo e perfeito em (nossa) geração (...). Falta-nos um Noé. Que venha o Dilúvio e leve a boiada água abaixo.

 

Post Scritum: Todas as referências à Torá e a Noé foram retiradas do site http://www.morasha.com.br, da própria Torá e da Revista Morasha da qual sou assinante.

 




Publicado em Diário de Uberlândia en 23 de abril 2021 ( Dia de São Jorge/Ogum)