domingo, março 30

Mosquitos e balas perdidas




Há tempo existia uma discussão sem fim em relação ao dono ou responsável por certos problemas nacionais. Certa feita, dizem, reuniões intermináveis vararam dias e noites adentro para resolver um impasse com o jacaré. Isso mesmo. Com o jacaré, o bicho.

Diziam uns que se o jacaré estivesse no seco o problema era do agora extinto IBDF; se estivesse na água o problema era do IEF, ou o contrário, não sei ao certo. Agora, se o bicho fosse flagrado com o corpo fora d’água e o rabo na lagoa, não tinha dono. Ninguém podia fazer nada ou respondia por ele, e olha: não adiantavam memorandos, ofícios, carimbos, padrinhos, bravatas ou decretos. Lá ficava o sonolento réptil abandonado à sua própria sorte e, de cá, alguns esperando que ele se mexesse para poder jogar a culpa de ele existir em alguém.

Acho que foi daí que criaram o Ibama para cuidar do animal de corpo inteiro, vai saber. Pelo visto a experiência não adiantou, pois lá se foi o Ibama também, agora sendo fatiado, uma parte virando Instituto Chico Mendes — coitado do jacaré. Será outra vez dividido também? Mas essa é outra história. A situação repete-se agora com um mosquito no Rio de Janeiro e olha que isso já aconteceu em muitas e bem próximas cidades antes. Ninguém sabe ou finge não saber, se o mosquito é federal, estadual ou municipal. Cada qual atirando pedra no outro e como sempre a população carioca se encontra outra vez em meio ao fogo cruzado,só que desta vez, diferentemente das balas, não existe mosquito perdido.Eles conhecem muito bem o caminho.





Jornal Correio - Opinião do leitor. 30/03/2008
Mini crônica AQUI em .pdf


A charge é do genial cartunista Sinfrônio veja mais trabalhos do artista do traço AQUI

quarta-feira, março 19

Haiga (俳画) besouro

Belíssima criação de Clara Clarice e Valter Eugênio Saia. Lindos os dois, lírica e imagem em uníssona leveza. Besouro pierrot pousa no Cerrado de Minas autorizado pelos autores.

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quinta-feira, março 13

Ode à desilusão

Sei que não é e nem passa perto de minha praia, se é que alguma tenho, esta forma de construção poética, aliás nem sei se correta é.
Mas o gostoso da alquimia ou da culinária literária é a degustação.

Conto: uma semana de Guardador de Rebanhos de Fernando Pessoa ou Alberto Caeiro se lhe apraz, anoitece mineirice de qualquer um. Claro que este céu sem estrelas ou lua dura a força de curto eclipse, não me pega por muito tempo.

Sou mais o sorriso o humor matuto, matreiro, a boa cachaça com torresmo, a risada solta, a viola caipira, a boa moda em melhor e mais animada roda.
Mas ai está, é tira-gosto com tempero diferente, experimentação.
Pois assim me contem, se é que convém...
Boto reparo e assim descrevo, o escrito acima como muda de planta nova, daqui a um cadinho também vira prosa.


Mas agora sou cowboy
Sou do ouro, eu sou vocês
Sou do mundo, sou Minas Gerais

(Lo Borges)


Ode à desilusão

Quanto rancor, ódio ou desdém
o que te afasta tão repentinamente assim
se mal não fiz, posto que também nenhum bem
serão lembranças assim tão torpes de mim?

Quanto desdém, rancor ou ódio insano
minh'alma lamenta em prantos tal distância, tamanha displicência
qual teria sido o terrível engano
carrega assim a há tanto,vem assim de tão longe de remota e tenra adolescência?

Quanto ódio, desdém ou rancor
meu coração mesmo assim em serena paz descansa
sentimento por ti carinho, só amor
será que ainda resta no fundo ainda alguma cálida esperança?

Rancor, ódio ou desdém?
nenhum destes tão pequenos sentimentos a tão bela figura convém.





março-2008

segunda-feira, março 10

Predestinação

Deu no


"Portaria do ministério da Previdência define e regulamenta as taxas de juros dos famigerados empréstimos consignados. Agora, podendo até fazer leasing e utilizar cartão de crédito com a garantia da viúva, os bancos poderão cobrar dos aposentados, ao mês, até 2,50% naqueles, e 3,50% nestes. Mas o destino é implacável : a portaria tem o número 171".

sexta-feira, março 7

O retratista

- Junta as crianças, o retratista vem ai.
Calada a mulher arrumou as crianças. Uma a uma, da menorzinha de colo ao primogênito.
Penteou calmamente as madeixas da filha. Que mesmo diante do espelho de cristal reluzente parecia não se ver, olhar perdido em sonho adolescente.
Aos garotos os ternos engomados. Para elas os laços e cândidos vestidos de puro e alvo algodão com bordados, branco sobre branco.
Crianças prontas, pôs-se a arrumar. Soltou os longos cabelos e deixou-os escorrer por suas costas, nunca saia à rua ou à sala de casa com eles soltos. Em turbante os enrolou e em coque passou longo prendedor de marfim.

No jardim de inverno pose feita. Ele postado às costas da esposa, mão direita discretamente a repousar em seu ombro. A pequena no colo, o filho mais velho em pé ao lado do pai. A filha sentada no chão aos pés da mãe, em piso de tábuas corridas sobre tapete persa.

O retratista, experiente, já havia colocado a placa de filme em sua máquina, e num levantar de mãos que instintivamente roubou todos os olhares acionou o disparador congelando eternamente a família.
Nunca um sorriso, nunca nunca uma prosa. Assim foi em vida, longa vida, assim em redonda e lustrosa moldura ficariam para todo sempre em alguma parede descascada pelo tempo ou canastra empoeirada em algum canto de quarto.




março-2008

Quaresmeiras




Fotos Bia Stutz

quinta-feira, março 6

Pelo direito de bem viver

Faço parte com muito orgulho e convicção dos 75% dos brasileiros que apoiam o uso de células-tronco embrionárias em pesquisas para descobrir tratamentos para doenças graves. (Pesquisa IBOPE amostragem nacional), e você a quantas anda?