sexta-feira, agosto 14

Enfado tropical

Não é de hoje que países do primeiro mundo despejam seu lixo por estas paragens e outros locais por eles desprezados. Recordando: em 1988 toneladas de produtos altamente contaminantes,os PCBs provenientes da Itália, foram jogados na Nigéria. No mesmo ano toneladas de cinzas de resíduos tóxicos remanescentes dos Estados Unidos foram despejadas em uma praia no Haiti.

Aqui, a começar pelo lixo cultural que, desde o descobrimento nos chegava em latas de prata e agora nos é entregue em imensas caixas de lata, vinha também o lixo humano enviados pela imperial matriz.Eram condenados, mandriões e outros malas sem alça. Escória.

Aliás, em latas também nos chegam, abarrotando prateleiras, “arte” com qualidade e prazo de validade vencidos. Saudosa Elis cantou a pedra em 1978 no Vox populi. Isso sem contar certos programas exibidos a exaustão em nossas TVs que, não por acaso, se tornam medíocres sucessos de público. Desde os ignóbeis realitys shows até os desprezíveis qualquer coisa por dinheiro.

Em nem tão longínquo 2005, projeto de certo senador escancarava as portas de nosso Brasil para importação de pneus usados. Hoje sabemos o resultado dessa maluquice. Dentre outros problemas como o de destinação final e contaminação de nosso ecossistema, ainda nos damos ao luxo de ter criadouros de Aedes importados, chique não é?

Do lixo comportamental ai estão, entre centenas de peças e costumes, os encalorados ternos, a desfilar por nossas vias tropicais como se fossem confortáveis vestimentas nativas apropriadíssimas para nosso clima e conforto.

Hábitos alimentares pouco saudáveis como os fast-foods e refrigerantes, também foram literalmente empurrados goela abaixo de nossa gente, alterando hábitos, encurtando o dia e a vida. Que almoçar em casa que nada. Hambúrguer em pé gera mais riqueza, além de stress, infartos e derrames, é claro.

Depois veio a fase do lixo autoritário, golpes e mais golpes financiados e arquitetados por estrelados cérebros gringos em sonho e ganância de transformar e manter nosso gigante país e vizinhos em republiquetas de banana.

O lixo científico também ancora em nossas praias. Quando não há onde testar algo, manda pra cá pois somos tão bonzinhos! Alimentos, medicamentos e cosméticos proibidos em seus países de origem encontram porto seguro no que eles consideram seu aterro sanitário continental.

No recente caso do lixo dos containeres, o ministro Carlos Minc, como bom carioca zona sul, esbravejou e gesticulou em teatro para as câmaras e microfones jurando processo internacional e bravatas outras. Se fosse mineiro, caladinho, sem muito alarde, aposto que quando menos se esperasse estas caixas estariam frente aos portões do palácio de Buckingham com um bilhetinho do tipo: Dona rainha, agradecemos, mas já temos preocupação demais com o nosso. Cuidem do seu.

O importante, caro ministro, seria uma postura dura para que isso não mais acontecesse e que o mundo desenvolvido nos respeitasse de verdade, pois se eles se dão ao luxo de despachar lixo, o que de pior virá depois?

Releitura da Convenção de Basiléia para o Controle dos Movimentos de Resíduos Perigosos seria de bom alvitre.

Não, caros estrangeiros, senhores das armas e de pouco ou nenhum amor, nossa terra irá sim cumprir seu ideal, mas não será se transformando em imenso lamaçal.





agosto 2009

Publicado no Jornal Correio - Veja aqui

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