Eu aqui no quintal em meio a um silêncio de feriado. O sossego aqui é normal, pois nossa rua liga nada a lugar nenhum e por ela só passa quem mora, visita ou está perdido, mas em dias de semana sempre tem uma conversa ao longe, uma famigerada makita ou betoneira fazendo algum conserto, já contei a implicância que tenho desses barulhos. Me trazem péssimas lembranças. Leio aqui no CORREIO que haverá mudança no zoneamento do uso e ocupação do solo pra os nossos lados.
Leio também que alguns moradores estão felicíssimos com as modificações, pois tais alterações “valorizarão” seus imóveis. Quanta pobreza de espírito. Trocam a paz de seus lares por alguns dinares. O bom é ter carro novo financiado em 60 meses, morar no fim do mundo e depois reclamar em programas de televisão e rádio que pautam tragédias que os serviços públicos ainda não chegaram à rua de terra onde conseguiu comprar casa. Reivindicam unidade de saúde, asfalto para ontem, escola, creche, posto policial, pois o tráfego de drogas manda e desmanda na região. E a culpa será de quem? Claro, do prefeito em exercício, obviamente.
E aqueles mesmos vereadores que decretaram as mudanças nos bairros de origem dessa gente aparecerão como moscas em carniça para tirar algum proveito político da miséria alheia, lançar sobre aqueles que diretamente traçaram o destino seus cabrestos e prometer mundos e fundos em troca de votos. E de novo, conto do vigário.
Descrença com os políticos que, a seu bel-prazer, mudam leis sem consultar os principais envolvidos. E eu que pensei que tudo estava restrito a uma lei estúpida que mudava as características apenas da rua da Paz ali na Morada da Colina.
Logo muitos não terão mais vista para a cidade, perderão o sol do amanhecer e sua suave brisa.
Os problemas não tardarão a aparecer. Imagine você uma face de quarteirão projetada para, por exemplo, dez casas. As redes de esgoto, a largura das ruas, dos passeios é dimensionada para aquele número de imóveis.
Rufem os tambores, soltem fogos de artifícios. Do nada, como passe de mágica, surgem gigantes edifícios de dezenas de andares, condomínios verticais aparecem como que plantados como os feijões mágicos de João e alcançam as nuvens. É o tal progresso a qualquer preço. As ruas não comportarão mais tantos carros e estacionar será um problema e, para piorar, é bom lembrar que cada módulo residencial terá em sua maioria mais de um carro. As ruas ficarão obstruídas e o movimento, o barulho transformarão a vida de quem por ali nasceu, viveu quando ainda existia quietação em um inferno. Pardais e pombas europeias dominarão os beirais. Não haverá mais canto de passarinho.
Sustentabilidade e qualidade de vida? Papo de bicho-grilo. Outro dia recomendaram a um especial amigo que, se não estava satisfeito, fosse morar em um condomínio fechado. Desaforo incomentável. Na verdade, não era nada disso que eu queria falar quando comecei no quintal a ouvir o silêncio profundamente reconfortante de um feriado. Queria mesmo é compartilhar o canto de mil passarinhos, o cheiro de churrasco que aqui me chega e a delicada voz de Billie Hollyday no vinil.
Mas não consigo deixar de imaginar a cena dantesca que poderá ocorrer se, em algum momento naquele cenário descrito, todos resolverem dar descarga ao mesmo tempo. Canos de 50 para vazão de 200. Vai dar caca.
William H. Stutz
Veterinário Sanitarista
whstutz@gmail.com
E aqueles mesmos vereadores que decretaram as mudanças nos bairros de origem dessa gente aparecerão como moscas em carniça para tirar algum proveito político da miséria alheia, lançar sobre aqueles que diretamente traçaram o destino seus cabrestos e prometer mundos e fundos em troca de votos. E de novo, conto do vigário.
Descrença com os políticos que, a seu bel-prazer, mudam leis sem consultar os principais envolvidos. E eu que pensei que tudo estava restrito a uma lei estúpida que mudava as características apenas da rua da Paz ali na Morada da Colina.
Logo muitos não terão mais vista para a cidade, perderão o sol do amanhecer e sua suave brisa.
Os problemas não tardarão a aparecer. Imagine você uma face de quarteirão projetada para, por exemplo, dez casas. As redes de esgoto, a largura das ruas, dos passeios é dimensionada para aquele número de imóveis.
Rufem os tambores, soltem fogos de artifícios. Do nada, como passe de mágica, surgem gigantes edifícios de dezenas de andares, condomínios verticais aparecem como que plantados como os feijões mágicos de João e alcançam as nuvens. É o tal progresso a qualquer preço. As ruas não comportarão mais tantos carros e estacionar será um problema e, para piorar, é bom lembrar que cada módulo residencial terá em sua maioria mais de um carro. As ruas ficarão obstruídas e o movimento, o barulho transformarão a vida de quem por ali nasceu, viveu quando ainda existia quietação em um inferno. Pardais e pombas europeias dominarão os beirais. Não haverá mais canto de passarinho.
Sustentabilidade e qualidade de vida? Papo de bicho-grilo. Outro dia recomendaram a um especial amigo que, se não estava satisfeito, fosse morar em um condomínio fechado. Desaforo incomentável. Na verdade, não era nada disso que eu queria falar quando comecei no quintal a ouvir o silêncio profundamente reconfortante de um feriado. Queria mesmo é compartilhar o canto de mil passarinhos, o cheiro de churrasco que aqui me chega e a delicada voz de Billie Hollyday no vinil.
Mas não consigo deixar de imaginar a cena dantesca que poderá ocorrer se, em algum momento naquele cenário descrito, todos resolverem dar descarga ao mesmo tempo. Canos de 50 para vazão de 200. Vai dar caca.
William H. Stutz
Veterinário Sanitarista
whstutz@gmail.com
Publicado no Jornal Correio em 1º de dezembro 2012 em Ponto de Vista
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Um comentário:
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