domingo, novembro 17

Intervenção urbana


Calçadas




Às vezes, somos apresentados ao óbvio para nos convencermos de que nem tudo está perdido, pelo menos em nossas cabeças e convicções.

Outro dia, a professora Ludmila Sandoval, em lúcido comentário, aqui mesmo no CORREIO, expressou o que acredito ser o sentimento coletivo. Ela nos conta que “o Ministério Público, baseado nos códigos de posturas municipal e federal recomendou que os bares de Uberlândia disponibilizem espaço de 1m75 livre de mesas e cadeiras nas calçadas, para passagem de pedestres”. E ainda: “Calçada não é extensão de bar, nem lugar para mesas e cadeiras.” E não é mesmo. Aquela cadeira onde podemos preguiçosamente esticar as pernas e trocar dedo de prosa com vizinhos pode: sinal de cidade tranquila, será? Ah! e me mostra uma calçada com mais de 1m75 aqui em Uberlândia!

Invasão de área pública é antiga e não é desprivilégio apenas de Uberlândia. Lembro bem de antigo bar na Rio Branco que todos frequentávamos à época (põe tempo nisso), no qual lá estavam as mesas na calçada. E olha que o bar era constantemente frequentado por servidores públicos, inclusive da Divisão de Posturas. Não é que faziam vista grossa, nada disso. Aquilo era considerado comum, normal. Portanto, legal, pelo menos aos olhos do clamor geral.

Ninguém nunca reclamava, desviava e pronto. Felizmente, os tempos são outros. Pessoas passam a conhecer seus direitos, questionam mais e querem respostas. Saudável é aquele que, além de saúde, detém informação.

Em cidades litorâneas, em muitos casos, foi necessária ação rigorosa do poder público para disciplinar barracas e bares. Em Salvador, a medida chegou ao extremo com derrubada dos quiosques invasores que teimaram em não se adequar às novas normas. Em Natal, Fortaleza e Maceió também houve intervenção pública. Mas sabe-se bem que as faixas de areia de praia são infinitamente maiores do que nossas calçadas. São Luís que não me deixa mentir.

Já aqui para nossas bandas parece que as cidades foram programadas para carros, não para gente. As já estreitas calçadas não poderiam, em hipótese alguma, permitir que áreas ditas públicas fossem tomadas por comércios de qualquer espécie. Temos bares que funcionam há anos em áreas públicas imensas, obstruindo o ir e vir das gentes, dificultando o livre direito de transitar por elas. Se for portador de necessidade especial, nem se fala.

O perigo de tragédia anunciada, descrita pela esclarecida professora, é apenas uma das facetas deste descalabro que se tornou um fenômeno cultural aqui.

Calçada é para caminhar. Não é lugar de mesa, cadeira, painel de propaganda, nem banca de venda de seja lá o que for. Queremos educação no trânsito, concorda? Pois nós, pedestres, estamos mais do que incluídos nessa confusão urbana. Portanto, para não invadir espaço de bólidos ameaçadores, criadores de tristes estatísticas, temos obrigação de atravessar sobre faixa de pedestre e direito de uma calçada livre de empachamentos. Mas não apenas.

Conhecemos bem a conservação da parte que nos cabe. Em muitos pontos parecem trilhas com obstáculos intransponíveis até para atletas experientes em “trekking”. Medalhista aquele que, em casa, chega sem torção ou queda. Antigo problema merecedor de solução imediata. Fim de mesas e outros obstáculos, e calçadas conservadas. Aí, sim, uma cidade educadora para cidadãos educados.







Publicado Jornal Correio em 17/11/2013



https://www.dropbox.com/s/mpo36jh6y1838rb/Cal%C3%A7ada%20JC.pdf

quinta-feira, novembro 14

Virtualidades

O mundo virtual se torna cada vez mais real e eloquente em nossas vidas. Difícil algo em normal cotidiano no qual não se faz presente. Não lembro a última vez que enviei carta escrita à mão pelos Correios. Um de meus maiores prazeres era escrever longas cartas. Usava caneta Parker 51, herança de Vô. Tinteiro em forma de losango durava pouco. O cheiro da tinta, lembrança olfativa, volta em vez, o sinto em algum lugar. Agora, simplesmente abro uma folha branca virtual e dedilho cartas, ofícios, bilhetes, contos, poemas e prosas. Passei antes, é claro, pela boa e velha Remington, não a arma que, apesar de que, bem poderia ser considerada como tal. Pena e espada, duas poderosas formas de ferir, atacar, mas principalmente defender. Confesso, fui aluno relapso em aulas de datilografia e nunca passei do a, s, d, f, g – ç, l, k, j, h. Me viro com dois dedos, os indicadores. Às vezes, peço ajuda a um polegar ou ao médio, vulgo maior de todos, para os íntimos e as crianças. Erro todo tempo, exatamente a facilidade de usar um backspace e corrigir o que nos torna preguiçosos e desatentos. Lembro quando surgiu uma fitinha branca que colocávamos sobre a letra errada na máquina mecânica e, depois na elétrica, apertávamos a tecla, cobrindo o que queríamos esconder. Aí surgiu o Errorex.

Pincelavam-se os enganos. Os ofícios e memorandos mais pareciam filhotes de paca, tamanha a quantidade de pintas brancas saídas das mãos de datilógrafos ligeiros, mas fracos na língua-pátria. Só conheci um exímio e veloz mestre dos teclados e do domínio da gramática ao mesmo tempo. Tio Fábio Borges, escrivão do crime. Fera como poucos. Não creio que ele se acostumaria com a fragilidade dos teclados de plástico dos computadores de hoje. Saudade gigante dele. De seu bom humor, de seu coração de ouro, sempre preocupado com todos. Não se fazem mais tios Fábios como antigamente. A essas alturas, ele deve estar a reorganizar em alta velocidade os arquivos de São Pedro, colocando ordem na casa celestial. Pouco duvido que esteja empunhando sua velha companheira de tantos anos no Fórum, uma Olivetti Línea. Seu veloz dedilhar pode ser ouvido em dias de chuva, basta por atenção. Tantos recursos, novas tecnologias. Mas por mais incrível que pareça alguns destes, ao invés de ajudar a vida do cidadão, parecem tormento.

Quer um exemplo? Aquelas famigeradas letrinhas e números que temos que digitar para provar que somos seres viventes e não robôs alienígenas invasores. Sério, conte, você consegue mesmo ler com tranquilidade aquele emaranhado de garranchos onde um “R” misturado a um “N” mais parece hieróglifo? Letra “L” se colada a um “G” não tem decifrador de códigos secretos que a desvende. E, para piorar, alguns sites, depois de uma hora de tentativas, quando finalmente você consegue enviar, apresentam mensagem bem sacana: “acho que você já falou sobre isso”. Outros, em artimanha, bloqueiam qualquer envio após três tentativas erradas. Deveria haver outra forma de resolver isso. Tantas mentes brilhantes por aí. Se o pessoal do Obama desse com um reCAPTCHA, palavra esquisita em si mesma, não haveria espionagem mundial. Os caras iriam se suicidar de desgosto. Acho que, muito em breve, desenferrujo minha Parker 51 e compro pote “Super Quink” em formato de doce de leite de venda. Passarei a retomar os manuscritos e o lamber de selos. Sofre-se menos.





Publicado em Jornal Correio em 14/11/2013
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https://www.dropbox.com/s/bswn7iifzzpraic/Virtualidades%20JC.pdf

segunda-feira, novembro 11

Garden Run 2013

Fui mal, tempo líquido 36:17 confira aqui.  Meta baixar dos 30'. Domingo passado cheguei a 32' nas Milhas de Uberlândia. Devagar chego lá.
Dia 1º tem a Corrida das Cores, essa é uma festa ! Tô dentro !!!!!


Fotos: Bia Stutz




sexta-feira, novembro 8

Disseminando ideias

Não importa a simplicidade das acomodações. Fomos muito bem recebidos e, em Água Limpa impossível descrever a maravilha da comida desse hotel feita com capricho em fogão a lenha.
Clica nas fotos para ampliá-las


Hotel em Água Limpa GO






Hotel em Araporã MG


segunda-feira, novembro 4

Deus existe?

Deixar de acreditar em Deus

Pode parecer amargura, acúmulo de tristeza e decepções. Pode parecer chão perdido. Agulha de bússola não acha meu norte magnético, nem emocional. Pode parecer um monte de coisas e um monte de coisas é. Olhos sem brilho ofuscam o mais belo nascer do sol. Dias atrás, deitado em rede, noite em claro passando a vida a limpo, do nada, em esplendor, o sol me aparece preguiçoso. Não consegui ver poesia ou encanto maior. Normalmente, ficaria a admirar os primeiros raios entre árvores, ganharia o dia. Banal demais, me pareceu desta vez. Todo dia a mesma coisa. Chatura. Tanto faz a Kepler e suas leis ou Galileu atormentado pela inquisição. Passarada começa a cantar. E daí? Passarinho foi feito para cantar o mesmo e repetitivo gorjeio, dia após dia. Não canta para nós. Canta a procurar fêmea e perpetuar seus genes.

Estou mais propenso a me apegar ao caos determinístico de Einstein e Langevin.

Sempre busquei beleza em tudo. Nas insignificâncias de Manoel de Barros, nas infinitudes, suas belezas da natureza. Um paraíso de vida à nossa volta. Meus olhos se tornaram opacos.

Não foi da noite para o dia. Foi a observação. A maldade humana explícita. Roubos e desvios de dinheiro que deveria ser aplicado em saúde e educação. Fome e miséria por toda parte, enquanto alguns se banqueteiam até implodir. Crianças morrendo envenenadas por bichos por falta de assistência e negligência médica. Os que acreditava bons, altruístas, humanos, deixando-se corromper pela ganância, pelo dinheiro. Guerras, desamores.

Distancio-me cada vez mais da raça humana.

Armas químicas na Síria eliminam com dor inimaginável inocentes civis, crianças, mulheres e idosos. Jovens com uma aquarela de vida por vir, queimam em chagas abertas garganta abaixo. Morte brutal. Sofrimento. Senhores e senhoras do mundo, da guerra, discutem se devem tomar atitude. Alguém resolve espionar todos. Paranóico povo em sua solidão e isolamento

Sempre acreditei na paixão eterna, no amor sem fim. Se alguém mais caiu nessa é hora de reconstrução. Rever dogmas, inverter paradigmas. O amor aqui não existe.

Alguém disse que Deus criou aqui um experimento e nunca mais voltou.

Se Ele não acredita na sua criação, me dê um motivo para acreditar Nele!?

Ah, as religiões. Outra perversa invenção humana. Cada uma com sua certeza absoluta de que só através dela se chegará ao almejado paraíso. Assim sendo e se tantas religiões existem, vários deuses devem estar de plantão. Ou desconectados. Quer Deus? Procure no Face, no Twitter.

Dirão que é questão de fé. Então, ao mesmo tempo em que deixei de acreditar em Deus, também perdi a fé. Um pequeno substantivo feminino, definido como “adesão absoluta do espírito àquilo que se considera verdadeiro”.

A vida um jogo. Sem regras ou manual de instrução. Os tropeços nos desgostos vão se acumulando de tal forma que o fardo se torna pesado demais a suportar. Recorre-se a Deus e ele, infalível, não dá as caras. Sem historinhas de anjo retirando água do mar com dedal e jogando em buraco de areia com intuito de secar o mar. Não cola mais.

Ando amargo. Penso no reencontro com o Altíssimo e rezo, exatamente, rezo em conversa com Ele, para tentar entender tamanho desprezo divino.

Converso como se conversa com um pai. Amargura e dúvida.

Amargo? Amargo é jurubeba. Cansei. Agora Serei ateu, graças a Deus.






Publicado Jornal Correio em 3/11/2013