E assim, mais um ano faz a curva e deixa para trás momentos bons e ruins. Alguns destes, como galhadas e lixo em enxurrada, ficam presos na curva e teimam em nos acompanhar novo ano adentro. Faz parte. Ciclos não encerrados devem seguir seu curso, desencalhar e chegar a algum belo e vasto delta em resolução.
Vamos pensar com calma. Se você está lendo esta crônica significa que sobreviveu a 2013, para o curso da vida, fato por si só, um milagre. Quantos não tiveram o prazer ou a solidão acompanhada de ouvir os fogos anunciando o novo que, em vários aspectos, já nasce velho.
Tive o privilégio de ter sido criado sob égide de duas religiões. A cristã e a judaica. Ambas deixaram marcas muitas boas, outras, nem tanto. Do lado judeu, aprendi que devemos sempre rir de nós mesmos, alegria garantida para vida toda. As histórias cômicas sobre mães judias são famosas, assim como são de conhecimento geral as piadas versando sobre o judeu rico e o judeu pobre, assim como aquelas que relacionam os judeus ao dinheiro, à avareza.
Jacques Attali em “Os Judeus, o Dinheiro e o Mundo” nos conta:
“Numa e noutra (judeus e cristãos), acredita-se nas virtudes da caridade, da justiça e da oferenda”. “Mas, para os judeus, é desejável ser rico, ao passo que, para os cristãos, é recomendável ser pobre. Para uns, a riqueza é um meio de melhor servir a Deus; para os outros, ela só pode ser nociva à salvação. Para uns, o dinheiro pode ser um instrumento do bem; para os outros, os efeitos são desastrosos. Para uns, todos podem usufruir do dinheiro bem ganho; para os outros, ele não deve ser acumulado em nossas mãos. Para uns, morrer rico é uma bênção, desde que o dinheiro tenha sido adquirido com moralidade e que a pessoa tenha cumprido todos os seus deveres em relação aos pobres da comunidade; para os outros, morrer pobre é a condição necessária da salvação”.
Particularmente gosto muito da história do judeu que foi se queixar a seu rabino sobre o tamanho de sua casa. Acredito que muitos a conheçam. Segundo ele, era uma casa minúscula, que mal dava para comemorar o Rosh Hashaná como determinado. Após a queixa, o Rabi coçou a barba e disse ao homem:
— Compre um bode e deixe-o morando dentro de sua casa por sete semanas! Feito. O novo hóspede aprontou todas. Subiu em móveis, roeu livros e jornais, fez suas necessidades por todo canto. E como fedia! Não havia banho que tirasse o peculiar cheiro caprino. E o balido insuportável, ritmando, noite após noite? Enlouquecedor.
Já na quarta semana, o homem voltou desesperado:
— Rabino, por favor, não aguento mais, a casa está uma sujeira. Minha amada Ethel ameaça me abandonar! O que faço?
— Certo, tire o bode de lá e o presenteie para alguém, respondeu o rabino. Feito isso, ao chegar em casa, o homem sentiu inimaginável alegria. Seu lar tornara-se imenso, parecendo o maior palacete do mundo, sobrava espaço e alegria.
Não seja o bode do novo ano gregoriano que aí está novinho. Tire o bicho de dentro de você, deixe-o partir, respire aliviado. Alma imensa e livre. Todos temos muito a comemorar. Feliz 2014 para nós. Ria mais de si mesmo, divirta-se, produza, compartilhe. A vida é bela. As adversidades sempre existirão. Façamos delas empurrões proativos de um viver harmônico. Sejamos felizes. Depende apenas de cada um de nós. Mazal Tov.
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