Meu prezado e bom amigo, assim ainda te considero muito. Mesmo depois
de ter me excluído de seu Facebook e Whatsaap e jogado para escanteio
minhas mensagens. Poxa, até do Twitter me tirou! Não trocar 140 letras
comigo mais? Como marcar aquele encontro de boteco ligeiro, geriátrico
agora? Fiquei triste. Ainda não tentei o telefone, mas pelo que me
consta também não atenderá minhas ligações. Por um lado concordo com
você, também faço faxinas periódicas em contatos que não contatam,
apenas usam as redes sociais para te vigiar, saber de sua vida, coisa de
fofoqueiro baixo mesmo.
Tem muita gente que quer quantidade de seguidores. E lá sou algum
mestre guru, líder de seita ou outra coisa que o valha para ter
seguidores? Não quero números, queria e quero qualidade. Gente que sabe
postar com sabedoria, troca mansa de sentimentos, belas fotos, sugestões
de livros, lugares e ares, piadas de bom gosto, sarcasmo comedido e uma
gozação ou outra principalmente sobre nossos times de coração. Você
sabe que torço para dois times: O meu Galo vencer e o seu time perder.
Mas sempre brincamos a vida toda com isso e sabemos que não foi a razão
da fúria, da erupção que, como lava incandescente, levou a cinzas tão
antiga amizade. Pompeia com seus corpos petrificados, apenas pó e nada
mais?
Futebol não foi nosso caso. Raramente, uso as redes sociais para
debates mais acirrados, seja o assunto qual for: cinema, teatro,
televisão, futebol, política. Não uso e explico, não é o lugar mais
adequado, a pena sempre será mais forte do que a espada. Imagine o poder
destrutivo de dez dedos em teclado – particularmente só uso três ou
quatro.
Política. Sempre ela. Veneno como religião quando elevamos cânticos
ao que cremos. Nestes campos, tolerância zero. Ou está comigo ou contra
mim. Que horror. Pensando assim é melhor ter um grupo só de seus
partidários. Só quer aplausos? Escreva unicamente para os seus
correligionários.
Te garanto, não contribuirá em nada para um mundo plural, pacífico e melhor.
O famoso “perco o amigo, mas não perco a piada”, não funciona comigo.
Amigo é coisa rara e séria. Deixe de lado releve e vamos, em mesa, olho
no olho conversar sobre nossas divergências em todas as áreas sem
pressa e obrigação de conversão. Eu te respeito como é e você, como sou.
Podemos sempre estar em lados opostos nas arquibancadas dos estádios,
nos palanques e comícios, nas estantes de livrarias ou nas prateleiras
de videotecas. Eu vou sempre preferir as morenas às loiras, nem sempre e
você sabe disso. Cerveja a uísque. Rock a seu sertanejo. Churrasco a
pizza. E daí? Quantas vezes rachamos uma meia marguerita e meia
catupiry. Outras tantas enfiamos a cara em rodízio, esbórnia carnívora
e, entre risos e conversa jogada fora, nunca relia houve.
Pelo menos temos muito para conversar e assunto não faltar. Vamos
nessa? Discordar não é deixar de gostar. Um conselho: se beber não poste
(do verbo postar). Pode não dar multa nem perder pontos na carteira.
Pode não matar, ferir carne, mas magoa atinge-se alma. Perdem-se bens
muito preciosos por um simples dedilhar.
O relato acima é ficcional, mas não imagina quanta gente me conta
que, por uma simples discordância, apaga, expulsa e cria inimizades. As
redes sociais são ótimas, desde que continuem sociais. Quer brigar?
Treina MMA.
Publicado Jornal Correio em 21/02/2014