terça-feira, dezembro 13

Mesa 15



Difícil em poucas linhas descrever a mesa 15. Um universo em miniatura, sempre em expansão. Alguns assíduos são os eternos guardiões do espaço ali reservado. Entorno deles, em variáveis estado de matéria, orbitam algumas centenas de sempre bem-vindos visitantes. Alguns sentados, outros em pé mesmo, trocam dedo de prosa e boas gargalhadas. Aliás, o que mais se faz ali na mesa 15 é rir. De tudo. O bom humor prevalece sempre. Discussões são comuns e acaloradas. Os assuntos, motivadores e variados: política, futebol, gosto musical. Se não estou enganado em relação a este é uma unanimidade: sertanejo não!

Sempre em pauta cinema, receitas de hambúrgueres, churrascos e tipos de bebidas. Aliás, aí um ponto interessante. Tem gosto para todas. Alguns só bebem a cerveja A, outros B, mais outros C. Reina sem problemas a democracia plena. Cada um pede o que gosta. Nada de cerveja? Refrigerante zero, colorido coquetel de frutas, vodca ou whisky, estão sempre presentes. Até água ali se toma!

Eclética, etílica e, repito, democrática. Não é uma confraria de homens. As mulheres estão sempre presentes e dão cor e graça à mesa 15, onde todos são iguais independente de tudo.

Ali é um lugar de integração absoluta. Ninguém se importa se você é de direita ou de esquerda. As referências são as mais variadas. Reina a falsa máxima de Voltaire. “Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”. Falsa sim, pois em obra alguma do grande iluminista foi encontrada tal citação. Poderia até ser atribuída a Panglós, ator principal de Cândido, o otimista, mas lá não está. Acalorado debate pode surgir à mesa 15 sobre o assunto, mas também ninguém está tão disposto assim, e com razão.

Ali, convivem também em plena harmonia, sempre sujeitos a gozações, corintianos, palmeirenses, atleticanos e até cruzeirenses e flamenguistas. Seu time perdeu? Tome sarro. Entenda sarro como “ato peremptório de divertir-se de outrem”, e não aquelas outras definições que de lampejo surgem à cabeça. Podemos chamar a mesa 15 de irmandade ou similar? Seguro que não, pois ali nada de estatutos ou regras rígidas prevalecem. confraria talvez. Impera sim o bom senso e a harmonia. Alguns foram criados perto de cachoeiras e falam aos berros. Parece briga, o que nunca é. Outros sussurram e ficam roucos com música alta.

A mesa vive plena era tecnológica. Tem grupo nas redes sociais onde, como em todos os grupos, amanhece com dez ou 12 bons dias, marca-se acontecimentos, festejos de aniversários e o tradicional de dezembro “inimigo invisível ou oculto”. Aqui só vale presente deboche. Mesa 15 não tem sinais ou toques, mas só de olhar um para outro se sabe o que rola. Diversão garantida, sem traumas.

Fui apresentado à mesa 15 por um amigo em comum, em um momento crítico de minha vida. Senti-me plenamente acolhido e falta me faz quando lá não posso estar. Laços reais de amizade por meio dela foram consolidados. Posso dizer com propriedade que aquele grupo me fez rir novamente. Fim definitivo de vivido luto e pronto! Quisera eu que todos tivessem uma mesa quinze para sentar. As gentes seriam menos solitárias, mais solidárias, menos tristes.

Vida longa à mesa 15!






Jornal Correio em 11 de dezembro de 2016

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