quarta-feira, agosto 30

Eternidade

Assim não dá, aí é sacanagem, e não vem com esse papo de olha quem está aqui te esperando. Pô, estamos falando de eternidade, cara.
E t e r n i d a d e, entendeu? Skilja? Verstehen? Capito? Fui clara, agora?
O combinado, o trato, se bem me lembro, foi só até que a morte nos separe, e pronto. Hellouoooo, até que a morte nos o que mesmo? Morte, SEPARE. Fim, The End, É Finito!
Pronto, morreu, separou, acabou! Nem vem que não tem, seus anjinhos do pau oco, isso sim é o que vocês são.
Eternamente que eu saiba só a Yolanda caraca, e aposto, duvi-de-o-dó que o Pablo Milanês e ou Chico nem a conheceram. Pimenta nos olhos dos outros é refresco, né! Sei.

Quero falar com quem resolve, chama o líder, ou seja lá quem for. Tá bom, o chefe está ocupado? Ah, mas deve estar mesmo, aposto que nem Ele tem paciência de ficar inventando desculpas esfarrapadas para todos que chegam aqui de bobeira.

Dá para imaginar o trabalhão d’Ele. Então faz o seguinte, me arranja o número do SAC daqui para ligar, um Procon ou seja lá o que vocês tiverem nessa bagunça. Ou, se não for pedir muito, pelo menos alguém do sexo feminino, aposto que ela vai me entender. Se é que sobrou alguma, né! Com essa conversa mole de tirar o sexo de quem vem dar nessa porta e vira anjo…
Não, não falei que não foi bom. Não começa a fazer joguinho nem colocar palavras em minha boca.

E depois dizem que só chefão de vocês pregou no deserto. Parece que estou falando pras nuvens!

Foi ótimo, passou de bom. Valeu cada segundo. Mas é que nem produto de supermercado, cara, aqueles do setor de frios, aliás em tudo hoje em dia. Tem composição, modo de usar, tabela nutricional e prazo de validade. Ouviu bem esse último? Prazo de va-li-da-de! Soletrando, às vezes, vocês entendem. Que coisa mais chata!

Depois só pode fazer é mal, adoece, se é que me entendem. Não estou nervosa! Não estou nervosa coisa nenhuma! Detesto quando falam que estou nervosa! Aliás, quer saber, estou sim, agora fiquei P. da vida, nervosa pra caramba.

E xingo sim! Não me peçam para não xingar. Passei a vida toda me segurando, me contendo para não falar palavrões, pudica ao extremo. Politicamente correta uma vida toda e para que mesmo? Ser engambelada agora? Sai fora, quero o prometido. O combinado não é caro. Cumpra-se e fim. Olha só, vamos resolver isso logo, ou vocês acham que tenho todo o tempo do mundo? E não me faz essa cara de cínico, não! Pode tirar esse sorrisinho da cara.

Olha atrás de mim, olha o tamanho da fila de reclamação. O pessoal está começando a ficar nervoso e isso vai dar rolo, estou avisando, vai dar rolo. Depois vão colocar no B.O. que a culpa é minha.

Ah sei, estou começando a achar que esse papo de céu é pura embromação, propaganda enganosa, isso sim. Sacanagem da grossa.
Pode conferir outra vez esses registros, aposto que tem coisa errada. Alguém anotou coisa fora do lugar, mas também, numa desorganização dessa! Informatiza esse trem pelo amor do Sagrado, o Cara deixa os outros criarem, mas Ele mesmo não usa?
Valha-me Deus! Bom, valha-me se resolver esse caso, senão vou atrás de meus direitos!

Vocês são engraçados, a gente faz tudo direitinho, cumpre fielmente nossa parte do trato e agora vocês mesmos, os donos do contrato, os donos da verdade, da Palavra, querem roer a corda? Na-na-ni-na não! Agora é minha vez, mano velho, sem essa .

Tá certo, tá certo, uma vez ou outra chegamos até a dizer que queríamos ficar juntos para todo sempre. Mas foi meio assim, me deixa ver, metafórico, sabe como, coisa de momento, palavras soltas e pronto.

Ao pé da letra? Que papo é esse de que levaram nossas juras ao pé da letra? E você quer que eu engula essa? E o monte de outras coisas que dissemos, planejamos, pedimos? Cadê? Onde foram parar a casa na praia, as viagens para a Europa. O aumento de salário, a Ferrari zero? Aposentar e mudar para a Polinésia francesa e morar numa ilha vizinha do Marlon Brando ou da Zeta Jones, dependendo de quem puxava o assunto… Cadê, cadê? E o tanto de coisa menor que também não rolou, mas não vou nem perder tempo em listar, pois aí, sim, iria durar uma eternidade e meia.

E querem que eu acredite que só levaram a sério umas jurinhas de amor feitas no calor do ímpeto? Tenho cara de imbecil, por acaso?

Faça-me o favor outra vez! E um DESSE tamanho.

Teste drive? Que papo é esse de teste drive de eternidade para ver se acostumo? Em que parte do contrato que estava escrito essa besteira? Nem em letrinha miúda.

De jeito nenhum que quero essa sua “generosa” oferta. Generosa o caramba, conheço bem o tipo.

Isso tá me cheirando a esculhambação, falta de gerência, de mando. Depois ficam choramingando pelos cantos dizendo que estão perdendo a freguesia para os outros. Também, trabalhando desse jeito. Quando um ou outro consegue voltar só tem pra contar da desorganização!

E ainda vêm aqueles malas falando de vidas passadas. De vida de princesa e coisas e tal. Se vocês não estão dando conta de uma vida, já estão querendo avacalhar até com essa umazinha, imagina com outras. Só se estão dando outras para todo mundo que reclama, aí mano, vai faltar espaço lá embaixo ou sei lá onde.

Ninguém merece, quer saber? Parei de brincar, minha paciência estourou, me leva de volta agora mesmo antes que eu arrume o maior pampeiro aqui. Se é para ser assim prefiro lá embaixo onde já estava acostumada.

Compensação pelo engano? Ah tá! Agora vocês querem negociar? Não tem negociação coisa nenhuma, combinado é combinado. Se vocês não têm a mínima competência para cumprir a parte de vocês, eu estou fora. Me mande de volta agora. Eu e ele também. Sei lá se ele arruma um rabo de saia eterno por essas bandas! Ciúme? Você ficou besta? Eu estou achando que esse lance aqui é muito machista. Vai todo mundo às favas, ô palavra boa de falar depois de uma vida inteira me controlando! Queremos voltar e pronto.
Não senhor, não vou perguntar para ele se ele quer voltar, ele vai e pronto, era assim lá e por que iria mudar agora.

Olha, me faz um grande favor, tá. Chega de papo, me devolve nossos prontuários, ou seja lá o nome que vocês dão e manda a gente de volta ligeirinho. Volto aqui mais nunca e quer saber por quê? Vamos virar budistas, assim quando passar daquela que vocês vão nos devolver, para outra, voltamos grama, árvore, passarinho ou qualquer outra coisa. Pelo que sei, eles ainda cumprem seus tratos. Tem dó, tenha a santa paciência. Aqui para vocês, ó. Não me pegam mais nunca! Essa vocês podem escrever. E não precisa fazer essas caras de zonzos, de purinhos, não. Cara de santo não me comove hoje, não. Tô fora.





Jornal Uberlândia Hoje em 30 de agosto de 2017


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