Antes de mais nada grito aos ventos: não sou crítico de arte, não entendo de arte, não sou arte. Faço arte no sentido lúdico e infantil da palavra. Lanço-me em aventuras, algumas inconsequentes, sem trema ou trama, mas sempre inofensivas.
Sou espectador que põe atenção. Se me agrada gosto, se não me agrada me aquieto.
"Amou daquela vez como se fosse a última".
Tive o lampejo de ir ao teatro em uma quente quinta-feira, na qual a maioria gostaria de estar em um bar ou à beira de piscina ou, quem sabe, caminhando no parque. A peça, uma produção independente da até então para mim desconhecida Maria De Maria, cativou logo nos primeiros instantes.
“Beijou sua mulher como se fosse a última"
Bom, posso dizer que os longos primeiros minutos de silêncio e breu poderiam ter sido mais curtos. Criou um certo incomodo, proposital talvez.
O denso texto de Claudia Eid Asbun inspira. Impressionante a coragem de produzir e encenar Mulher de Juan.
Em árido cenário de obra, Maria De Maria se move com leveza bruta, contracena com o maravilhoso e fantasticamente harmônico e pontualíssimo violoncelo de Laura Millya.
“E cada filho seu como se fosse o único"
"O tempo não para/ Disparo contra o sol/
Sou forte, sou por acaso", cantou Cazuza.
Sou forte, sou por acaso", cantou Cazuza.
A plateia em silêncio absoluto. Se bem que, quando chegamos no esperar do escuro, duas tagarelas palreavam ao som de saquinhos de o que me parecia batatas chips. Mudamos de lugar e a paz voltou a reinar.
A direção de Adriana Capparelli é sóbria e libertadora para a atriz (acho eu, foi para mim é certo).
Se era crítica que Elena, mulher de Juan, buscava, eis a de um simples espectador, que em muito se viu no espetáculo.
Vi-me em suas falas e coreografias. Fui mulher, fui celo, fui Juan, fui você. Como é bom em plena quinta quente ser parte de uma peça tão envolvente. Mil vezes recomendo. Quem viu viajou, quem não viu não perca a próxima apresentação. Quando a peça chegar a Ouro Preto, e tenho certeza que vai rodar mundo, peço: não perca.
Só me resta dizer Bravo! Bravíssimo Maria de Maria! Espero te ver sempre em palco. Usando modernos tempos: curti e te sigo.
"E flutuou no ar como se fosse um pássaro"
(*) Intervenções grifadas da obra "Construção" de Chico Buarque não são meras coincidências
Publicado em Olha no Diário ( Diário do Comércio ) em 25 de outubro de 2017
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