domingo, agosto 12

Prerrogativa

Deu no Jornal Correio de hoje.

Prerrogativa 12/08/2007

Depois de tantas notícias trágicas, resolvi me fechar em copas por um tempo. Faltava vontade de escrever. Exílio voluntário, triste. Fiquei vazio de tanta coisa ruim. A escrita, porém, faz falta, é terapêutica. Liberta o espírito, cura o corpo. Faz muita falta. Repensar o cotidiano recicla a vida. Durante ausência, dentre tantos, três fatos nossos me franziram a testa. Enumero. A parada de orgulho gay de Uberlândia. Mais uma vez demonstração de tolerância e respeito para com as diferenças, pelo que sei, felizmente, tudo aconteceu na maior paz. O "day after" bem cedinho, no entanto, não tinha nada do que se orgulhar. Ao olhar aquela praça, palco recente de belo movimento pela liberdade plena de ser, o que se via era puro lixo espalhado por todos os lados numa demonstração clássica de total falta de educação e civilidade. Fosse um fato isolado vá lá. Mas não, todo evento público termina da mesma forma, demonstração clara do despreparo de um povo em ocupar o espaço que é seu por direito.

O segundo fato tem relação direta com o primeiro, só mudou a praça: menina em uniforme de renomado colégio particular, religioso. Seguia faceira a mastigar quilos de balas, deixando imenso rastro de papéis pelo caminho, feio caminho de lixo. Tão jovem e já preparada para o descuido com a coisa pública, como se essa de ninguém fosse. Deu pena e preocupação pelo futuro de nossa cidade. Retrato esculpido em Carrara do que somos de verdade. Como será a casa dessas pessoas? Jogam lixo pela sala e quartos? Limpam os quintais? O fato terceiro nada tem a ver com lixo, mas me impressionou artigo na Coluna "Opinião do leitor", de quarta-feira, 8/8/2007, na qual o jornalista do CORREIO Ivan Santos leva um pito, injustamente e sem sentido, quando afirmam que o mesmo é contra os direitos das mulheres, dos negros e dos pobres apenas porque de forma lúcida se posicionou contra delegacias especiais e outros privilégios das ditas minorias. Alhos com bugalhos. Sem contar que foi condenado ao degredo. Destinos propostos: Cuba ou Iraque, sem escalas ou direito às filas em nossos aeroportos. Por Tutatis! Nada mais discriminatório e vergonhoso do que esses privilégios, se é que assim podem ser chamados.

O fim de qualquer discriminação passa necessariamente pelo fim de instituições e privilégios que nada mais são do que a confirmação absoluta do preconceito e das desigualdades. Quanto às cotas, por favor, prefiro as cotovias. Pois é voltei, pena que não foi em grande estilo. Me imponho penitência.

2 comentários:

Lilly Falcão disse...

Ah, boa volta!
Penitência? Muitas letras, muitas letras, cá estávamos ávidos e famintos das mágicas letras do Uíu! E que sejas bom penitente, por Deus!:-)

Lilly Falcão disse...

ps: também andei no exílio...menos voluntário que triste! "Fiquei vazio de tanta coisa ruim..." Você falou por mim muitas vezes e mais esta...!