Sempre nutri grande admiração pelos textos da Psicóloga clínica Shyrley Pimenta, e não sem certa ansiedade que sempre folheio ou navego pelo Jornal Correio em busca de seus escritos. Os colecionava em uma pasta de meu computador, mas uma pane seguida de uma obrigatória formatação do mesmo pos tudo a perder, infelizmente não tinha ainda o hábito de fazer cópias de segurança. Lição aprendida, hoje carrego tudo em pen drives de cores e formatos diferentes, viva a evolução tecnológica do frágil disquete a um cisquinho de plástico e sílica mas com capacidade titânica de memória, de arquivamento.
O artigo
demônio do meio-dia (Ponto de vista -18/12/2007) é soberbo, ou apelando para a sinonímia para que não haja interpretação dúbia, é magnífico. Cativante de maneira especial.
Talvez pelo fato de acreditar que todos nós em algum momento da vida passamos por um estágio depressivo, não de simples tristeza, mas de perda absoluta de norte magnético e existencial, e que ler sobre nossas humanas fraquezas nos torna mais, digamos: humanos.
Apenas os tolos e os presunçosos não sentem tristeza ou melancolia, para estes a depressão quando chega é enorme perigo.
Com certeza o aumento de crianças e jovens que buscam na auto-imolação solução para seu sofrimento deve ser encarada como problema não apenas de saúde pública, mas de cultura ou contra cultura. A fragilidade dos conceitos que vem sendo passados aos jovens, e não me venham com o lugar comum de acusar a mídia apenas, mas as próprias famílias e a sociedade tem enorme parcela de culpa.
Me auto plagiando de outros escritos, a cultura do TER está vindo sempre à frente do SER e pode ser uma das razões dessas crianças buscarem nas químicas dos medicamentos e das drogas uma falsa válvula de escape. Tão falsa que com facilidade se rompe, a "venda dos olhos cai" e a vida se desnuda como ela é, para uns aparenta bem mais sombria, e o chão se abre, os
demônios internos passam a dominar, o desfecho desses episódios é tragicamente conhecido, anunciado.
"Desconstruir nossos monstros" implica acredito eu, em mudar a maneira de encarar o mundo, é abolir as futilidades, o egoísmo a soberba, aqui no sentido clássico, ou de "presunção exagerada para com bens materiais". Mudança radical de valores para muitos é quase impossível,
descobrir que não se é o centro do universo pode ser doloroso, mas é necessário.
A beleza da citada obra de Andrew Solomon talvez venha do fato dele próprio ter por vários vezes se deparado com o monstro sem face da depressão, ou me apropriando de suas palavras ou pensamento, o livro não é catártico, e não se enquadra na vulgaridade dos títulos rotulados como "auto ajuda". Merece ser lido sim, e não por acaso que O Demônio do Meio-dia – Uma Anatomia da Depressão, foi vencedor do Prêmio Nacional do Livrodos Estados Unidos e
finalista do importante Prêmio Pulitzer. A Shyrley Pimenta meus sinceros parabéns por mais esta importante e bela abordagem.
Publicado em
Jornal Correio 27/12/2007
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