sábado, julho 5

Trans-porre

A lei seca que passou a vigorar no trânsito brasileiro já começa a fazer lá seus efeitos tanto no comportamento de motoristas quanto nos valores humanos. Que fique bem claro que considero a mistura álcool-direção explosiva irresponsável e criminosa. Mas a celeuma criada não podia ser mais inspiradora.

Na toada que vai, não raro ouviremos conversas diferentes sobre futuros casamentos. É fim do antipático e nefasto requisito tão presente na conversa de mesquinhos e dos de coração de pedra: bonita e rica, perfeita para casar.

De agora em diante tende a ser mais ou menos assim:
- A moça é um partidão, até que não é muito bonita não, é remediada de dinheiro, mas tem carteira de habilitação e olha que lindo: não bebe nadinha e detesta bombons de licor.
Casal perfeito, será? Noites de sábado e futebol de domingo, o futuro maridão bebe em paz, patroa conduz.
Dia desses sentado em uma roda, tomando cerveja básica é claro, todos vizinhos a pouca distancia de casa e nenhum dirigindo, fica o registro, surgiu a idéia de implantarmos em Uberlândia e com pretensões de expansão para todo país, prestação de serviço inusitado especialmente para os fins de semana, sugestivo nome veio à baila: Trans-porre.

Isso mesmo, seria um serviço de vans adaptadas para os apreciadores de um boa cerveja gelada nos bares, nos clubes e mesmo nos churrascos e reuniões em casa de amigos sejam eles ainda solteiros ou cujas companheiras também ingerissem álcool. Assim todos poderiam sair tranqüilos e moderadamente apreciar suas bebidas preferidas e guloseimas etílicas sem correr risco de infringir a lei. Seria o transporte solidário dos boêmios de carteirinha, dos poetas, namorados e seresteiros, que por ação da bebida não podem, como cantou um dia o atual ministro Gil, correr, mesmo chegada a hora de sorrir e cantar talvez as derradeiras noites de luar.

Apesar do nome sugerido em reunião de boteco, o serviço não é dirigido àqueles que de forma irresponsável consomem bebidas alcoólicas. Serviço Vip para bebuns ou não Vips, enfim um serviço diferenciado para os que sabem realmente apreciar sabores, seja uma loura gelada, uma cachacinha mineira de engenho ou bombons de licor, biotônicos Fontouras e até para os usuários de desodorantes e perfumes que em sua composição contenham o ilícito álcool.

E para as oktoberfest da vida e outros eventos de vulto onde haja venda de bebidas já estamos pensando em grandes ônibus com ar condicionado e serviço de bordo: café quente extra forte, caldos variados e marmitex caprichados para repor energias e atenuar os efeitos da bebida; será o Trans-porrão da madrugada.
O mais importante é que deve sempre valer a importante e inquebrantável regra não só em função de leis mas em função do bom senso, da responsabilidade e da civilidade: Se dirigir não beba jamais, mas se beber chama o motorista abstêmio do Trans-porre, garantia de festa segura e tranqüila para todos.




Jornal Correio - Opinião do leitor
05/07/2008

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