quinta-feira, agosto 5

Que mundo

Outro dia deu no jornal daqui: "Ladrão de carro acusa vítima de lesão corporal". Ah, meu Jesus Cristo! Mais essa. O dono do carro tentando defender seu patrimônio, adquirido a expensas de muito suor e trabalho, dinheiro economizado, que seguramente foi motivo de sonhos, sendo acuado por puxador de carro ruim de serviço. Para tentar ligar carro com chave de casa tem que ser um tanto quanto desinformado, passou colando na escola do crime.

Fiquei pensando em nosso primeiro carro, um imponente Fusca 69, que recebeu o carinhoso apelido de Zubin Mehta em homenagem ao maestro indiano, pois só dava conserto com "S", mas o sonoro era de batuta.
Imagino se naquela época pegasse um cara tentando levar nosso tesouro de quatro rodas! Era confusão certa! E esse papo de que só iria pegar emprestado, pois estava sem dinheiro para condução, conta outra mano velho.

Imagine um cenário: O casal simples e trabalhador mora longe, mas longe mesmo. O lugar nem linha de ônibus regular têm. Ladrão resolve andar longe para roubar e encontra essa casa perdida no meio do nada. Pensa com seus podres botões que é ali que vai se dar bem. Mas qual não é a surpresa do meliante que nada consegue, pois nada de valor ali se faz presente. O mala fica enfezado com tanta falta de respeito para com uma das profissões mais antigas do mundo, tanto que o Filho Dele, foi crucificado entre dois representantes da classe. Conclusão: Vai ao PROCON reclamar reparação e processa os moradores por danos morais e ainda tem ação movida e acompanhada por seu sindicato. Tem dó.

Quer saber, está tudo atrapalhado, de pernas para o ar. Crimes hediondos dominam a mídia em destaque e volume desproporcionais não ao horror dos atos, mas aos níveis de tolerância humana à barbárie. Canalhas se tornam heróis, gente do bem é achincalhada sem a menor cerimônia ou pudor em programas de televisão que causam asco e pânico.

Palmadinha educativa, sem violência na popa de criança pode não, mas roubar e fazer pode, e é plenamente justificável à luz do julgamento de eleitorado de alguns estados e municípios. Não acho que palmadinha educa, mas isso é assunto para outra prosa.

Fuçar a privacidade seja por meio de escutas não autorizadas ou bisbilhotando as declarações de imposto de renda dos alheios pode. Focar no que realmente é importante e construtivo, isso não pode.

Controlar a miséria, a corrupção, e principalmente a violência verborréica arcaica e démodé, não pode.

Apoiar guerrilha, atazanar a paz continental, fechar emissoras de rádio, censurar jornais “sem querer querendo” rotina em país vizinho, pode.

Pelo andar da carruagem ou das milhares e milhares de novas motos a rodar por nosso imenso Brasil, a inversão de conceitos básicos de valores humanos, está a mudar à velocidade de avanço tecnológico, na toada de troca de celular. Assim, nesse novo e estranho universo o touro vira toureiro, a caça, caçador. O gato persegue o cão. O peixe se mostra travestido de pescador. Ética às favas horas bolas.

Quanto ao ladrão que processa vítima, seguramente não faltarão aqueles que lhe dêm razão. Afinal foi mais um atentado aos direitos humanos de um humano que não agiu direito.

Então está certo, mas vai preso assim mesmo. Como diria um jornalista amigo meu: Que mundo!

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