Deu a lógica. Surpresa zero. É a "acadêmia" fazendo das delas.
Quer saber mais? Vai até o Portal G1
"Se for falar mal de mim me chame, sei coisas horríveis a meu respeito" (Clarice Lispector)
segunda-feira, fevereiro 28
E daí? Eu adoro voar!
"Já escondi um amor com medo de perdê-lo, já perdi um amor por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade...
Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo.
Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram...
Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!"
Clarice Lispector
Canarinho
Não eram nem seis horas. Na rotina do amanhecer dessa segunda no quintal, sou brindado por canarinho da terra, ou chapinha para muitos a cantar nas grimpas de um oiti. O sol a incandescer mais ainda sua plumagem como holofote matutino. Palco. Pássaro de fogo. Anda raro a voar por essas bandas.
Encostei para não perder o concerto. Quase perdi foi a hora, mas ganhei inesquecível presente. Lembrei dos do Prata. Lembra Clara Clarice?
Encostei para não perder o concerto. Quase perdi foi a hora, mas ganhei inesquecível presente. Lembrei dos do Prata. Lembra Clara Clarice?
domingo, fevereiro 27
terça-feira, fevereiro 22
Repassando
domingo, fevereiro 20
Podocarpo
sexta-feira, fevereiro 18
quinta-feira, fevereiro 17
Férias - Parte 1
Pronto. Enfim, férias. Curtas é fato, apenas alguns dias,mas férias são férias. Tudo planejado, família reunida e rumo ao litoral em busca de sol, de um refresco diante de tanta chuva. E não é que lá choveu todo dia como nunca se viu antes para época? Plantações de jerimum a boiar, estradas destruídas, açudes rompendo-se. Para sorte nossa e do Estado, a chuva se fazia ver à noite e mais mansa. Durante o dia, calor e praia à vontade, verdadeiramente dignos do título de cidade do sol conferida a
este acolhedor município.
Absolutamente nada a reclamar dos horários de avião. Parecia coisa de britânico em céu de brigadeiro. Nem na ida nem na volta, nem um segundo de atraso sequer. Do caos aéreo escapamos; já do caos do serviço de bordo nem tanto. Na ida, bolachinhas salgadas, na volta, pacotinhos de amendoim. Isso sem contar um saquinho de batatas fritas quase que atirado ao nosso colo em função de uma turbulência brava que se aproximava. Fora isto, tudo normal e calmo nos céus desse gigantesco país. Mas bateu uma saudade de tenra infância de quando se serviam refeições de verdade em pratos de porcelana e talheres de prata. Tempos de quando os Constellations reinavam quase absolutos, disputando pistas de pouso apenas com o pé-de-boi do ar, o Douglas DC-3.
Tá certo, fui longe demais? Então tá. Me deu saudades das refeições servidas em bandejas de plástico e até do sanduíche quente de micro-ondas. Tudo em nome de diminuir custos. Mas se a medida serve para facilitar acesso a tão fantástico meio de transporte, que seja bem-vinda, a azia de fim de percurso sempre valerá a pena. Nunca se voou tanto. É bonito ver tanta gente marinheiro de primeira viagem. Marinheiro? Democratizou-se o “formoso céu, risonho e límpido”, maravilha, mesmo que incomode alguns mais arrogantes bem chegados aos pináculos. Mas, de verdade? Nada melhor do que voltar para casa, para nosso cantinho, para nossos cheiros, travesseiros, problemas e alegrias que só a rotina diária pode oferecer e que, em casa ou no trabalho, sempre nos espera. Ainda bem, pois cada desafio é crescimento. E avançar é preciso.
Um friozinho na boca do estômago e um aperto na garganta sempre acontecem quando se avista Uberlândia. Seja de cima, ao se ver imensa constelação de luzes, com nuances várias, a piscar. Seja de carro, quando no horizonte surge assim do nada, coisas do cerrado, uma linha iluminada que se estende majestosa e imponente.
Viajar é bom, não, viajar é perfeito! Mas nada, nada mesmo como voltar para nossa Uberlândia, que, parece, só é valorizada pela maioria das pessoas quando vista de longe, retornando.
No mais, é desfrutar as belas lembranças e começar a planejar as próximas férias. Aquelas, as lembranças de viagens, por menor que seja a distância percorrida, é que fazem da aventura um bálsamo para a alma. É como carregador de celular. Você sai e se deixa encher de energia pulsante, volta novo, revigorado. Aí vem outro período de batalhas, leões diários a matar. A bateria vital retoma seu ciclo de desgaste permanente. Mas assim que chega ao vermelho, começa a piscar e emitir sonoros sinais de alerta. Hora outra vez de pôr o pé na estrada. As lembranças da última saída já não são combustível suficiente. Hora de reabastecer. Afinal, caro amigo, a vida é curta e ninguém é de ferro.
No Ponto de Vista do Jornal Correio veja AQUI
terça-feira, fevereiro 15
A história se repete
Recebi de Júlio
A história se repete... e se repete, repete, repete...
Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV:
Colbert:
— Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar (o contribuinte) já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar, quando já se está endividado até ao pescoço...
Mazarino:
- Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem!
Colbert:
— Ah sim? O Senhor acha isso mesmo ? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?
Mazarino:
— Criam-se outros.
Colbert:
— Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
Mazarino:
— Sim, é impossível.
Colbert:
— E então os ricos?
Mazarino:
— Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
Colbert:
— Então como havemos de fazer?
Mazarino:
— Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente situada entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais,sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tiramos. É um reservatório inesgotável!
Extraído de “Diálogos de estado”
A história se repete... e se repete, repete, repete...
Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV:
Colbert:
— Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar (o contribuinte) já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar, quando já se está endividado até ao pescoço...
Mazarino:
- Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem!
Colbert:
— Ah sim? O Senhor acha isso mesmo ? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?
Mazarino:
— Criam-se outros.
Colbert:
— Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
Mazarino:
— Sim, é impossível.
Colbert:
— E então os ricos?
Mazarino:
— Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
Colbert:
— Então como havemos de fazer?
Mazarino:
— Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente situada entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais,sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tiramos. É um reservatório inesgotável!
Extraído de “Diálogos de estado”
segunda-feira, fevereiro 14
Prosas de domingo
Então Bia assim me disse: Goethe respondeu quando estranharam sua
diposição para brigar por aquilo em que acreditava bela
alternativa:
"Querias, por acaso,
...Que eu odiasse a vida
E fosse para o deserto
Porque nem todos os sonhos
Em flor deram certo?"
...
KONDER, Leandro. Sobre o amor. São
Paulo: Boitempo, 2007).
diposição para brigar por aquilo em que acreditava bela
alternativa:
"Querias, por acaso,
...Que eu odiasse a vida
E fosse para o deserto
Porque nem todos os sonhos
Em flor deram certo?"
...
KONDER, Leandro. Sobre o amor. São
Paulo: Boitempo, 2007).
domingo, fevereiro 13
8 armas espirituais
Recebi do Ir.'. Murilo, compartilho
“Dentro de você há 8 armas espirituais. Conforme a situação, escolha a arma apropriada e use-a no momento certo. Experimente e veja como seus limites se ampliam.
(1) Interiorizar-se: busque o que você é realmente, não se perca no que você não é.
(2) Desprender-se: sinta que o passado é uma mochila pesada e desconfortável, solte-a.
(3) Tolerar: deixe de lutar contra o vento e passe a amá-lo.
(4) Ajustar-se: veja que a vida é elástica e seja elástico também.
(5) Discernir: escute sua consciência e entenda que tudo que vem é para o seu bem.
(6) Julgar: seja juiz de si e advogado dos outros, não o contrário.
(7) Enfrentar: faça as coisas pelas quais tem medo e o medo desaparecerá.
(8) Cooperar: trabalhe com outros e transforme o difícil em fácil.”
(autor desconhecido)
“Dentro de você há 8 armas espirituais. Conforme a situação, escolha a arma apropriada e use-a no momento certo. Experimente e veja como seus limites se ampliam.
(1) Interiorizar-se: busque o que você é realmente, não se perca no que você não é.
(2) Desprender-se: sinta que o passado é uma mochila pesada e desconfortável, solte-a.
(3) Tolerar: deixe de lutar contra o vento e passe a amá-lo.
(4) Ajustar-se: veja que a vida é elástica e seja elástico também.
(5) Discernir: escute sua consciência e entenda que tudo que vem é para o seu bem.
(6) Julgar: seja juiz de si e advogado dos outros, não o contrário.
(7) Enfrentar: faça as coisas pelas quais tem medo e o medo desaparecerá.
(8) Cooperar: trabalhe com outros e transforme o difícil em fácil.”
(autor desconhecido)
quinta-feira, fevereiro 10
segunda-feira, fevereiro 7
Carta a frei Betto
Republico
Prezado frei Betto
sei que não devia usar texto seu, aliás texto algum, sem autorização prévia. Mas fala sério, como te reencontrar para pedir permissão?
Desde os tempos da rua Gonçalves Dias com Ceará, pertinho da praça da ABC, lá em Belo Horizonte que não te vejo!
Lembra das prosas gostosas de Seu Aristides seu tio avô? As histórias que nos contava sobre as expedições pelas matas do Acre nos idos, e como idos anos de 1919-1920?
Lembra do enorme quintal, das jabuticabeiras, do bananal, da horta gigantesca? Lembra do galo que corria atrás da gente, esporas em riste, por ciúmes de seu harém galináceo?
Você era bem mais velho do que a gente, nada contra os mais velhos que fique bem entendido apenas uma constatação biográfica, chamemos assim, para situar algum leitor mais desavisado.
Admirávamos seu jeito de falar e, sempre que estava por perto nós, crianças, nos calávamos atentos.
O tempo, sempre ele, se encarrega de aproximar as idades e estreitar laços e convívio.
Explico: dá para imaginar um jovem de vinte anos proseando, discutindo Kant ou Nietzsche de igual para igual com um menino de dez? Difícil. Porém esta mesma pessoa aos quarenta nem percebe que o outro agora tem trinta.
Pois é o tempo nivela, democratiza as relações humanas. Até os amores e as paixões.
Tenho muita vontade de voltar a te encontrar, com certeza iremos discordar de muitas coisas, comungar da mesma opinião outras tantas vezes vezes, mas o que importa é que mesmo nas diferenças, mesmo que pequenas, sempre existirá o mesmo respeito a admiração que havia quando a criança erguia alto os olhos para enxergar os seus.
Fica aqui um sincero e saudoso abraço frei Betto, quem sabe este mesmo tempo que nos aparta das gentes, um dia nos surpreende e nos aproxima novamente?
Continua a ser o que é, sempre.
Publico seu texto, se por acaso aqui o encontrar e não gostar, me avisa, tiro na hora.
Todo meu respeito e admiração
William h. Stutz
INDAGAÇÕES A BENTO XVI
por Frei Betto
Vossa Santidade ressuscitou o que o Concílio Vaticano II havia enterrado: a missa em latim. Uma exigência de monsenhor Lefebvre, arcebispo francês excomungado em 1988 por se recusar a aceitar as inovações conciliares.
Criança, assisti a muitas missas em latim, com o celebrante de costas para os fiéis, segundo o rito tridentino de meu confrade, o papa Pio V, que foi dominicano. Por que permitir a volta do latim? Quantos fiéis dominam este idioma? Jesus não falava latim. Falava aramaico. Talvez um pouco de hebraico. E por viver numa região dominada por Roma, com certeza conhecia alguns vocábulos latinos, como a saudação romana Ave, que se introduziu na oração mais popular do catolicismo, a Ave Maria.
Assim como o grego universalizou-se pelo Mediterrâneo graças às campanhas de Alexandre, o latim estendeu-se na proporção das conquistas do Império Romano. Por esta lógica, não seria mais adequado adotar, hoje, o inglês? Ora, a grande maioria dos fiéis católicos encontra-se, hoje, na América Latina. E não entende grego, latim ou inglês. Exceto poucas palavras, como paróquia, pedra e futebol. Não é bom que participem da missa em língua vernácula?
Considerado o empenho de inculturação da Igreja, não é contraditório voltar o latim à missa? Tenho um amigo, ateu até a medula, que adora freqüentar missas em latim. Para ele, a liturgia reduz-se a um espetáculo. É uma questão de estética, não a ponte comunitária entre o nosso coração sedento e o Transcendente.
Inquieta-me a sua afirmação de que é "uma praga" casar pela segunda vez e proibir os católicos que o fazem de acesso à eucaristia. Os evangelhos revelam que Jesus comungou com pessoas que, vistas de hoje, andavam distantes da moral vaticana. Ele defendeu uma mulher adúltera prestes a ser apedrejada pelos moralistas da época. Curou o fluxo de sangue de uma mulher fenícia sem, antes, exigir dela adesão à fé que ele propagava. Curou também o servo do centurião romano sem primeiro impor-lhe a condição de repudiar a seus deuses pagãos. Jesus fez o bem sem olhar a quem.
Tenho amigos e amigas que contraíram segundas núpcias. Todos por razões muito sérias, que seriam melhor entendidas por padres e bispos se eles, como na Igreja primitiva, tivessem mulher e filhos. (Convém lembrar que Jesus escolheu homens casados para apóstolos, pois curou a sogra de Pedro).
Contrair matrimônio é algo tão transcendente que a Igreja fez disso um sacramento. Ocorre que, antes de ser uma instituição, o casamento é um ato de amor. E há uniões que fracassam, pois somos todos frágeis e pecadores, e nossas opções, sujeitas a chuvas e trovoadas, deveriam merecer também a misericórdia da Igreja.
Tenho amigos e a amigas divorciados que reconstruíram suas relações afetivas e se recusam a aceitar a proibição de comungar. Minha amiga D., três meses após o casamento, sofreu com o marido um grave acidente de trânsito. Ele ficou tetraplégico. Dois anos depois, com a anuência dele, ela contraiu uma nova relação, pois ouviu do homem com quem se casou na Igreja: "Por te amar, quero-te plenamente realizada como mulher e mãe." Ela e o novo marido visitavam periodicamente o homem acidentado, que sobreviveu por sete anos e torno-se padrinho do primeiro filho do casal. Devo dizer a essa amiga que Deus, que é Amor, não está em comunhão com ela e, portanto, trate de manter distância da mesa eucarística, pois a Igreja a considera "uma praga"?
Certa noite eu me encontrava em Boca do Acre, em plena selva amazônica, numa celebração de Comunidade Eclesial de Base. Dona Raimunda, mãe de seis filhos, cujo marido havia partido para a Transamazônica em busca de trabalho - onde ficou quatro anos sem dar notícias (e ela soube que, lá, ela constituíra outra família) -, disse na missa, no momento da Oração dos Fiéis: "Quero agradecer a Deus por me ter dado um outro marido que é um pai bondoso para os meus filhos."
Dona Raimunda se uniu a outro homem que a ajudava na sobrevivência e na educação dos filhos numa situação de extrema penúria. Eu deveria dizer a ela para não se aproximar da mesa eucarística? Naquele momento, o papa João Paulo II, em visita ao Chile, dava comunhão ao general Pinochet.
Querido papa: leio na Primeira Carta de João que "Deus é Amor: aquele que permanece no amor, permanece em Deus e Deus permanece nele" (I João 4, 16). Essas pessoas que citei, e tantas outras que conheço, amam e, portanto, Deus permanece nelas. Devo adverti-las que não são amadas pela Igreja e, portanto, estão proibidas de receber o pão e o vinho transubstanciados no corpo e no sangue de Jesus, o Senhor da compaixão e da misericórdia?
Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Leonardo Boff,
de "Mística e Espiritualidade" (Garamond), entre outros livros.
Prezado frei Betto
sei que não devia usar texto seu, aliás texto algum, sem autorização prévia. Mas fala sério, como te reencontrar para pedir permissão?
Desde os tempos da rua Gonçalves Dias com Ceará, pertinho da praça da ABC, lá em Belo Horizonte que não te vejo!
Lembra das prosas gostosas de Seu Aristides seu tio avô? As histórias que nos contava sobre as expedições pelas matas do Acre nos idos, e como idos anos de 1919-1920?
Lembra do enorme quintal, das jabuticabeiras, do bananal, da horta gigantesca? Lembra do galo que corria atrás da gente, esporas em riste, por ciúmes de seu harém galináceo?
Você era bem mais velho do que a gente, nada contra os mais velhos que fique bem entendido apenas uma constatação biográfica, chamemos assim, para situar algum leitor mais desavisado.
Admirávamos seu jeito de falar e, sempre que estava por perto nós, crianças, nos calávamos atentos.
O tempo, sempre ele, se encarrega de aproximar as idades e estreitar laços e convívio.
Explico: dá para imaginar um jovem de vinte anos proseando, discutindo Kant ou Nietzsche de igual para igual com um menino de dez? Difícil. Porém esta mesma pessoa aos quarenta nem percebe que o outro agora tem trinta.
Pois é o tempo nivela, democratiza as relações humanas. Até os amores e as paixões.
Tenho muita vontade de voltar a te encontrar, com certeza iremos discordar de muitas coisas, comungar da mesma opinião outras tantas vezes vezes, mas o que importa é que mesmo nas diferenças, mesmo que pequenas, sempre existirá o mesmo respeito a admiração que havia quando a criança erguia alto os olhos para enxergar os seus.
Fica aqui um sincero e saudoso abraço frei Betto, quem sabe este mesmo tempo que nos aparta das gentes, um dia nos surpreende e nos aproxima novamente?
Continua a ser o que é, sempre.
Publico seu texto, se por acaso aqui o encontrar e não gostar, me avisa, tiro na hora.
Todo meu respeito e admiração
William h. Stutz
INDAGAÇÕES A BENTO XVI
por Frei Betto
Vossa Santidade ressuscitou o que o Concílio Vaticano II havia enterrado: a missa em latim. Uma exigência de monsenhor Lefebvre, arcebispo francês excomungado em 1988 por se recusar a aceitar as inovações conciliares.
Criança, assisti a muitas missas em latim, com o celebrante de costas para os fiéis, segundo o rito tridentino de meu confrade, o papa Pio V, que foi dominicano. Por que permitir a volta do latim? Quantos fiéis dominam este idioma? Jesus não falava latim. Falava aramaico. Talvez um pouco de hebraico. E por viver numa região dominada por Roma, com certeza conhecia alguns vocábulos latinos, como a saudação romana Ave, que se introduziu na oração mais popular do catolicismo, a Ave Maria.
Assim como o grego universalizou-se pelo Mediterrâneo graças às campanhas de Alexandre, o latim estendeu-se na proporção das conquistas do Império Romano. Por esta lógica, não seria mais adequado adotar, hoje, o inglês? Ora, a grande maioria dos fiéis católicos encontra-se, hoje, na América Latina. E não entende grego, latim ou inglês. Exceto poucas palavras, como paróquia, pedra e futebol. Não é bom que participem da missa em língua vernácula?
Considerado o empenho de inculturação da Igreja, não é contraditório voltar o latim à missa? Tenho um amigo, ateu até a medula, que adora freqüentar missas em latim. Para ele, a liturgia reduz-se a um espetáculo. É uma questão de estética, não a ponte comunitária entre o nosso coração sedento e o Transcendente.
Inquieta-me a sua afirmação de que é "uma praga" casar pela segunda vez e proibir os católicos que o fazem de acesso à eucaristia. Os evangelhos revelam que Jesus comungou com pessoas que, vistas de hoje, andavam distantes da moral vaticana. Ele defendeu uma mulher adúltera prestes a ser apedrejada pelos moralistas da época. Curou o fluxo de sangue de uma mulher fenícia sem, antes, exigir dela adesão à fé que ele propagava. Curou também o servo do centurião romano sem primeiro impor-lhe a condição de repudiar a seus deuses pagãos. Jesus fez o bem sem olhar a quem.
Tenho amigos e amigas que contraíram segundas núpcias. Todos por razões muito sérias, que seriam melhor entendidas por padres e bispos se eles, como na Igreja primitiva, tivessem mulher e filhos. (Convém lembrar que Jesus escolheu homens casados para apóstolos, pois curou a sogra de Pedro).
Contrair matrimônio é algo tão transcendente que a Igreja fez disso um sacramento. Ocorre que, antes de ser uma instituição, o casamento é um ato de amor. E há uniões que fracassam, pois somos todos frágeis e pecadores, e nossas opções, sujeitas a chuvas e trovoadas, deveriam merecer também a misericórdia da Igreja.
Tenho amigos e a amigas divorciados que reconstruíram suas relações afetivas e se recusam a aceitar a proibição de comungar. Minha amiga D., três meses após o casamento, sofreu com o marido um grave acidente de trânsito. Ele ficou tetraplégico. Dois anos depois, com a anuência dele, ela contraiu uma nova relação, pois ouviu do homem com quem se casou na Igreja: "Por te amar, quero-te plenamente realizada como mulher e mãe." Ela e o novo marido visitavam periodicamente o homem acidentado, que sobreviveu por sete anos e torno-se padrinho do primeiro filho do casal. Devo dizer a essa amiga que Deus, que é Amor, não está em comunhão com ela e, portanto, trate de manter distância da mesa eucarística, pois a Igreja a considera "uma praga"?
Certa noite eu me encontrava em Boca do Acre, em plena selva amazônica, numa celebração de Comunidade Eclesial de Base. Dona Raimunda, mãe de seis filhos, cujo marido havia partido para a Transamazônica em busca de trabalho - onde ficou quatro anos sem dar notícias (e ela soube que, lá, ela constituíra outra família) -, disse na missa, no momento da Oração dos Fiéis: "Quero agradecer a Deus por me ter dado um outro marido que é um pai bondoso para os meus filhos."
Dona Raimunda se uniu a outro homem que a ajudava na sobrevivência e na educação dos filhos numa situação de extrema penúria. Eu deveria dizer a ela para não se aproximar da mesa eucarística? Naquele momento, o papa João Paulo II, em visita ao Chile, dava comunhão ao general Pinochet.
Querido papa: leio na Primeira Carta de João que "Deus é Amor: aquele que permanece no amor, permanece em Deus e Deus permanece nele" (I João 4, 16). Essas pessoas que citei, e tantas outras que conheço, amam e, portanto, Deus permanece nelas. Devo adverti-las que não são amadas pela Igreja e, portanto, estão proibidas de receber o pão e o vinho transubstanciados no corpo e no sangue de Jesus, o Senhor da compaixão e da misericórdia?
Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Leonardo Boff,
de "Mística e Espiritualidade" (Garamond), entre outros livros.
sexta-feira, fevereiro 4
Dúvida cruel
De acordo com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, uma lauda equivale a 1.400 caracteres com espaços, li aqui ó.
Se um alqueire paulista tem 24.200 m² ou 2,42 ha e o alqueire mineiro tem 48.400 m² mineiro ou 4,84 ha. Quantos caracteres com espaços teria uma lauda em Minas Gerais ? Pela lógica dos números 2.800 caracteres com espaços, ou não!
terça-feira, fevereiro 1
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