A natureza é sábia e perfeita, mas existem casos em que ela se supera. Este beija-flor albino é simplesmente um lampejo de uma das obras primas da criação. Darwin teria um ataque de choro de emoção se encontrasse essa jóia rara. Aliás, quem não teria.
Porém a sua beleza é sua condenação. O pequeno torna-se visível demais aos predadores sem a plumagem original que lhe confere certa camuflagem. Cuidado em dobro pela sobrevivência. Torço por ele.
Fotos de Marlin Shank em Staunton, Virgínia, USA
"Se for falar mal de mim me chame, sei coisas horríveis a meu respeito" (Clarice Lispector)
terça-feira, julho 31
sexta-feira, julho 20
Zagáia filhote
quarta-feira, julho 18
Ninguém merece!
Primeiro dia de curtas férias. Rompi os ligamentos do dedo médio e logo da mão direita. Rezando é que eu não estava.
Dedo em martelo disse o médico. Pareço venda de cidade pequena: Dedo em martelo, colédoco em ponta de lápis... Passei ontem por cirurgia. Estou agora sem poder fazer um monte. Seis semanas com fio de aço nos ossos. Seis semanas quase no estaleiro. Meus bichos, meus baculejos, minhas plantas, terra, água. Fico limitado em lidar com o que mais gosto.
É praga? Quebrando? E eu hein, cá a digitar com menos um dedo. Vou em busca de benzeção, Mãe de Santo forte para ajudar. Peço proteção aos Orixás.
Folha de arruda, erva-de-guiné ou mucuracaá, banho de sal grosso, defumadores.
E reza, muita reza
Aqueles que me tem apreço
Rezem por mim.
De coração agradeço
Dedo em martelo disse o médico. Pareço venda de cidade pequena: Dedo em martelo, colédoco em ponta de lápis... Passei ontem por cirurgia. Estou agora sem poder fazer um monte. Seis semanas com fio de aço nos ossos. Seis semanas quase no estaleiro. Meus bichos, meus baculejos, minhas plantas, terra, água. Fico limitado em lidar com o que mais gosto.
É praga? Quebrando? E eu hein, cá a digitar com menos um dedo. Vou em busca de benzeção, Mãe de Santo forte para ajudar. Peço proteção aos Orixás.
Folha de arruda, erva-de-guiné ou mucuracaá, banho de sal grosso, defumadores.
E reza, muita reza
Aqueles que me tem apreço
Rezem por mim.
De coração agradeço
"Leva o que trouxeste!...
Deus me benza com sua santíssima Cruz!..
Deus me defenda dos maus olhos e maus olhados
e de todo o mal que me quiserem fazer...
Tu és o ferro e eu sou o aço;
tu és o demônio e eu sou o embaraço...
Padre, Filho, Espírito-Santo."
segunda-feira, julho 16
Democratas de ocasião
Ferreira Gullar na Folha de ontem
Só um presidente já politicamente inviável
é impedido com o apoio unânime do Congresso
Deixei a poeira assentar para dar meu palpite sobre a polêmica surgida com o impeachment do presidente Fernando Lugo, do Paraguai. Ao saber da notícia, logo previ a reação que teriam os presidentes de alguns países sul-americanos, inclusive o Brasil.
E não deu outra. Hugo Chávez e Cristina Kirchner, como era de se esperar, reagiram de pronto e com a irreflexão que os caracteriza. Logo em seguida, manifestou-se Rafael Correa, do Equador, que, com a arrogância de sempre, rompeu relações com o novo governo paraguaio. Chávez decidiu cortar o fornecimento de petróleo àquele país. E o Brasil? Fiquei na expectativa.
Como observou certa vez García Márquez, o Brasil é um país sensato e, acrescento eu, talvez por nossa ascendência portuguesa, pé no chão. E assim foi que Dilma primeiro mandou seu ministro das Relações Exteriores qualificar o impeachment de "rito sumário". Ou seja, não teria sido dado a Lugo tempo para se defender.
Sucede que o próprio Lugo, presente à sessão do Congresso quando se votou seu impedimento, declarou: "Aceito a decisão do Congresso e estou disposto a responder por meus atos como presidente".
Não disse que o Congresso agira fora da lei nem que tinha sido impedido de se defender. De acordo com as normas constitucionais paraguaias, recorreu à Suprema Corte e ao Tribunal Superior de Justiça, que não atenderam a seus recursos por considerarem constitucional a deposição e legítima a entrega do governo ao vice-presidente.
Só depois que os vizinhos tomaram a inusitada atitude de repelir a decisão do Congresso paraguaio foi que Lugo mudou de opinião e decidiu formar um governo paralelo, este, sim, destituído de qualquer base legal.
Fala-se em golpe, mas só um presidente já politicamente inviável é impedido com o apoio praticamente unânime do Congresso: 76 votos a 1 na Câmara de Deputados e 39 a 5 no Senado. Fora isso, nem os militares nem o povo paraguaios se opuseram. Pelo contrário, o impeachment de Lugo parece fruto de uma concordância nacional. Nessa decisão pesou, sem dúvida, o Partido Liberal, de centro-direita. Mas foi com o apoio deste que ele se elegera presidente da República.
O que houve então? Um complô de que participaram todos os partidos e quase a totalidade dos deputados e senadores? Se fosse isso, o povo paraguaio teria saído às ruas para protestar e denunciá-los. Só uns poucos o fizeram. As Forças Armadas, os intelectuais, os sindicatos protestaram? Ninguém.
O inconformismo com o impeachment de Lugo veio de fora do país: de Hugo Chávez, Cristina Kirchner, Evo Morales, Dilma Rousseff, que se apresentam como defensores da democracia. Serão mesmo?
Vejamos. Hugo Chávez suspendeu o funcionamento de 60 emissoras de rádio e televisão que se opunham a seu governo, criou uma espécie de juventude nazista para atacar seus opositores e fez o Congresso mudar a Constituição para permitir que ele se reeleja indefinidamente. Cristina Kirchner apropriou-se da única empresa que fornece papel à imprensa argentina, de modo que, agora, jornal que a criticar pode parar de circular.
Já Rafael Correa processa um jornal de oposição por dia, exigindo indenizações bilionárias. Democratas como esses há poucos. Dilma mandou seu chanceler a Assunção para pressionar o Congresso paraguaio e evitar o impedimento de Lugo, como o faziam antigamente os norte-americanos conosco.
Como se vê, há um tipo de democrata que só defende a democracia quando lhe convém. Mas, mesmo que Chávez, Cristina, Morales, Correa e Dilma fossem exemplos de líderes democráticos, teriam ainda assim o direito de se sobrepor às instituições paraguaias e à opinião pública daquele país?
Como o impeachment de Lugo consumou-se de acordo com a Constituição paraguaia e pela quase unanimidade dos parlamentares, o único argumento do nosso chanceler foi o de ter sido feito em "rito sumário". No entanto, que chance deram eles ao Paraguai para se defender das sanções que lhe foram impostas? Nenhuma. Essas sanções, além de sumárias, são também ofensivas às instituições do Estado paraguaio e a seu povo.
Ferreira Gullar na Folha de ontem
Só um presidente já politicamente inviável
é impedido com o apoio unânime do Congresso
Deixei a poeira assentar para dar meu palpite sobre a polêmica surgida com o impeachment do presidente Fernando Lugo, do Paraguai. Ao saber da notícia, logo previ a reação que teriam os presidentes de alguns países sul-americanos, inclusive o Brasil.
E não deu outra. Hugo Chávez e Cristina Kirchner, como era de se esperar, reagiram de pronto e com a irreflexão que os caracteriza. Logo em seguida, manifestou-se Rafael Correa, do Equador, que, com a arrogância de sempre, rompeu relações com o novo governo paraguaio. Chávez decidiu cortar o fornecimento de petróleo àquele país. E o Brasil? Fiquei na expectativa.
Como observou certa vez García Márquez, o Brasil é um país sensato e, acrescento eu, talvez por nossa ascendência portuguesa, pé no chão. E assim foi que Dilma primeiro mandou seu ministro das Relações Exteriores qualificar o impeachment de "rito sumário". Ou seja, não teria sido dado a Lugo tempo para se defender.
Sucede que o próprio Lugo, presente à sessão do Congresso quando se votou seu impedimento, declarou: "Aceito a decisão do Congresso e estou disposto a responder por meus atos como presidente".
Não disse que o Congresso agira fora da lei nem que tinha sido impedido de se defender. De acordo com as normas constitucionais paraguaias, recorreu à Suprema Corte e ao Tribunal Superior de Justiça, que não atenderam a seus recursos por considerarem constitucional a deposição e legítima a entrega do governo ao vice-presidente.
Só depois que os vizinhos tomaram a inusitada atitude de repelir a decisão do Congresso paraguaio foi que Lugo mudou de opinião e decidiu formar um governo paralelo, este, sim, destituído de qualquer base legal.
Fala-se em golpe, mas só um presidente já politicamente inviável é impedido com o apoio praticamente unânime do Congresso: 76 votos a 1 na Câmara de Deputados e 39 a 5 no Senado. Fora isso, nem os militares nem o povo paraguaios se opuseram. Pelo contrário, o impeachment de Lugo parece fruto de uma concordância nacional. Nessa decisão pesou, sem dúvida, o Partido Liberal, de centro-direita. Mas foi com o apoio deste que ele se elegera presidente da República.
O que houve então? Um complô de que participaram todos os partidos e quase a totalidade dos deputados e senadores? Se fosse isso, o povo paraguaio teria saído às ruas para protestar e denunciá-los. Só uns poucos o fizeram. As Forças Armadas, os intelectuais, os sindicatos protestaram? Ninguém.
O inconformismo com o impeachment de Lugo veio de fora do país: de Hugo Chávez, Cristina Kirchner, Evo Morales, Dilma Rousseff, que se apresentam como defensores da democracia. Serão mesmo?
Vejamos. Hugo Chávez suspendeu o funcionamento de 60 emissoras de rádio e televisão que se opunham a seu governo, criou uma espécie de juventude nazista para atacar seus opositores e fez o Congresso mudar a Constituição para permitir que ele se reeleja indefinidamente. Cristina Kirchner apropriou-se da única empresa que fornece papel à imprensa argentina, de modo que, agora, jornal que a criticar pode parar de circular.
Já Rafael Correa processa um jornal de oposição por dia, exigindo indenizações bilionárias. Democratas como esses há poucos. Dilma mandou seu chanceler a Assunção para pressionar o Congresso paraguaio e evitar o impedimento de Lugo, como o faziam antigamente os norte-americanos conosco.
Como se vê, há um tipo de democrata que só defende a democracia quando lhe convém. Mas, mesmo que Chávez, Cristina, Morales, Correa e Dilma fossem exemplos de líderes democráticos, teriam ainda assim o direito de se sobrepor às instituições paraguaias e à opinião pública daquele país?
Como o impeachment de Lugo consumou-se de acordo com a Constituição paraguaia e pela quase unanimidade dos parlamentares, o único argumento do nosso chanceler foi o de ter sido feito em "rito sumário". No entanto, que chance deram eles ao Paraguai para se defender das sanções que lhe foram impostas? Nenhuma. Essas sanções, além de sumárias, são também ofensivas às instituições do Estado paraguaio e a seu povo.
Ferreira Gullar na Folha de ontem
Prisão
Outro dia comentei sobre a morte de Beto, o peixe, e seu funeral nobre e ritualístico no vaso sanitário do banheiro. Mencionei também que para ocupar o vazio deixado pelo mal-humorado e brigão, trouxe dias depois, três lebistes, um macho e duas fêmeas. Ali estão eles, levando sua vidinha submersa em vai para lá e vem para cá sem fim.
O aquário fica em uma estante e, como boa estante, há de ter livros. Ontem ao buscar “Morte e Vida Severina”, o braço não chegou a cruzar o trecho que me separava das obras literárias. Os olhos, sem motivo aparente nem por ordem minha, fitaram os peixes em sua clausura aquática. Fiquei preso ao chão a observá-los. As fêmeas de lebiste são feinhas e sem graça, não possuem nenhum atrativo estético especial. Já o macho, esse parece um carro alegórico. Sua imensa e multicolorida cauda lembra os estandartes de legiões romanas em marcha ou bandeiras de embarcações de hordas vikings a partir de seus portos nórdicos em busca de tesouros e de saborear, em homenagem a Odin, bom vinho sorvido em crânios de seus inimigos.
A cauda de nosso lebiste esvoaçava como se ao vento estivesse. E, é claro, o esnobe peixe bailava em galanteios às duas namoradas em majestosos movimentos coreografados. Muito brilho, um pequeno harém, liberdade nenhuma. Presos em ínfimo cubo de água.
Ainda parado, busquei cisma naquela cena. Os olhos não queriam desgrudar dos peixes, as pernas sem obediência, estáticas.
Quanta gente vive clausura semelhante. Tem o mundo à sua porta, mas se satisfaz com o limitado espaço oferecido por uma cidade, um bairro ou mesmo alguns quarteirões. O ir e vir, direito pétreo de todo ser humano livre, é cerceado, não por ditaduras e suas leis marciais, mas por elas próprias.
Alguns se limitam a suas casas, seus quartos. Que corrente invisível é essa que, como grilhões de titânio imobilizam em dor e sofrimento e trazem àqueles prisioneiros de suas próprias almas?
Uma das fêmeas do serralho do dono do pedaço dá um salto e quase cai fora do aquário. Tampa de vidro. O cubo se fecha sobre os seus ocupantes.
Outras pessoas se fecham em copas. Prendem em si mesmas. Seus limites passam a ser a própria pele. Tornam-se cativas e cativeiro. Se pudéssemos ver o que se passa em suas cabeças. O que deveria ser um universo infinito em luzes e iluminadas sinapses de ideias, sonhos, projetos e paixões, transformado em escuridão quase absoluta onde, ao acaso e sem ritmo, apagados quasares, um aqui, outro ali, longe, sem vigor, pulsariam desanimados.
Esta deve ser a pior das prisões. Alma na peia. Aos loucos houve tempo de lobotomia frontal. Alguns escolhem o mesmo caminho sem trepanações, seguem para a escuridão é lá se encolhem em cárcere.
Consegui sair daquele transe imposto pelos peixes, era como se quisessem me culpar pelo seu destino. Deixei o quarto com os pés pesando toneladas, suando frio e sem olhar para trás. Sei lá se me pegam outra vez.
Respirando aliviado, lembrei que não tinha pegado o livro. Quer saber, volto lá não pelo menos por um tempo.
Fiquei a imaginar, se um pequeno cubo d’água daquele tamanho me levou em viagem tão longe, imagina se visito o gigantesco Aquário de São Paulo ou o Sea Aquarium de Miami?
Entraria em catatonia eterna, prisão perpétua. Eu, hein? Tô fora. Amanhã solto os peixes no córrego.
Publicado no Jornal Correio em 16 de junho de 2012
Aqui crônica em PDF
O aquário fica em uma estante e, como boa estante, há de ter livros. Ontem ao buscar “Morte e Vida Severina”, o braço não chegou a cruzar o trecho que me separava das obras literárias. Os olhos, sem motivo aparente nem por ordem minha, fitaram os peixes em sua clausura aquática. Fiquei preso ao chão a observá-los. As fêmeas de lebiste são feinhas e sem graça, não possuem nenhum atrativo estético especial. Já o macho, esse parece um carro alegórico. Sua imensa e multicolorida cauda lembra os estandartes de legiões romanas em marcha ou bandeiras de embarcações de hordas vikings a partir de seus portos nórdicos em busca de tesouros e de saborear, em homenagem a Odin, bom vinho sorvido em crânios de seus inimigos.
A cauda de nosso lebiste esvoaçava como se ao vento estivesse. E, é claro, o esnobe peixe bailava em galanteios às duas namoradas em majestosos movimentos coreografados. Muito brilho, um pequeno harém, liberdade nenhuma. Presos em ínfimo cubo de água.
Ainda parado, busquei cisma naquela cena. Os olhos não queriam desgrudar dos peixes, as pernas sem obediência, estáticas.
Quanta gente vive clausura semelhante. Tem o mundo à sua porta, mas se satisfaz com o limitado espaço oferecido por uma cidade, um bairro ou mesmo alguns quarteirões. O ir e vir, direito pétreo de todo ser humano livre, é cerceado, não por ditaduras e suas leis marciais, mas por elas próprias.
Alguns se limitam a suas casas, seus quartos. Que corrente invisível é essa que, como grilhões de titânio imobilizam em dor e sofrimento e trazem àqueles prisioneiros de suas próprias almas?
Uma das fêmeas do serralho do dono do pedaço dá um salto e quase cai fora do aquário. Tampa de vidro. O cubo se fecha sobre os seus ocupantes.
Outras pessoas se fecham em copas. Prendem em si mesmas. Seus limites passam a ser a própria pele. Tornam-se cativas e cativeiro. Se pudéssemos ver o que se passa em suas cabeças. O que deveria ser um universo infinito em luzes e iluminadas sinapses de ideias, sonhos, projetos e paixões, transformado em escuridão quase absoluta onde, ao acaso e sem ritmo, apagados quasares, um aqui, outro ali, longe, sem vigor, pulsariam desanimados.
Esta deve ser a pior das prisões. Alma na peia. Aos loucos houve tempo de lobotomia frontal. Alguns escolhem o mesmo caminho sem trepanações, seguem para a escuridão é lá se encolhem em cárcere.
Consegui sair daquele transe imposto pelos peixes, era como se quisessem me culpar pelo seu destino. Deixei o quarto com os pés pesando toneladas, suando frio e sem olhar para trás. Sei lá se me pegam outra vez.
Respirando aliviado, lembrei que não tinha pegado o livro. Quer saber, volto lá não pelo menos por um tempo.
Fiquei a imaginar, se um pequeno cubo d’água daquele tamanho me levou em viagem tão longe, imagina se visito o gigantesco Aquário de São Paulo ou o Sea Aquarium de Miami?
Entraria em catatonia eterna, prisão perpétua. Eu, hein? Tô fora. Amanhã solto os peixes no córrego.
Publicado no Jornal Correio em 16 de junho de 2012
Aqui crônica em PDF
sábado, julho 14
segunda-feira, julho 9
Domingo
sexta-feira, julho 6
Junho
Junho passou em ligeireza tamanha pouco vista. Pé nas costas de tão rápida. De todos os junhos que vivi este me pareceu o mais atípico de todos. Para começar, choveu a cântaros nos primeiros dias de um mês de seca. Quem se lembra de chuva nesse tempo aqui pelas bandas de nosso cerrado levante a mão. O que era para seco estar continua verde exuberante. Menos mal, as criminosas queimadas, pelo menos por enquanto, estão adiadas.
Depois vieram as festas. Poucas, mas vieram. Não senti cheiro de pólvora do foguetório no ar e estampidos de foguetes. Estes foram mais usados em jogo de futebol do que emlouvor aos santos das festas. Feliz dos cães, passarinhos e outros bichos. Sofreram menos com ensurdecedores estampidos.
Batata assada, milho verde e canjica não deram as caras para meus lados. As antes tradicionais fogueirinhas na porta das casas, iluminando a noite, enviando recados, juntando amigos, praticamente desapareceram. Nós mesmos, que nunca deixamos de acender a nossa para aquecer corpo e alma, fomos postergando até que passou hora.
É certo que as festas produzidas, de grife, aconteceram, mas até estas foram pouco divulgadas, quase passaram despercebidas.Decoração de festa junina só mesmo em propaganda de televisão e ainda assim não convenceram muito não.
De Santo Antônio pouco se falou. O santo casamenteiro anda meio desprestigiado. As moças casadoiras andam sumidas. O melhor mesmo é “ficar” ou relação high teck em full HD, disso santo não entende. São João, o mais celebrado, perdeu um pouco de espaço para outras “divindades”. São Pedro fecha festejos com pouco glamour. Repito, esse junho foi atípico e deveria ser estudado.
Ah, por falar em televisão, estas se encarregaram em seus noticiários e programas de variedades de mostrar as luxuosas festas no Nordeste. Mesmo elas perderam cunho popular e mais pareciam escolas de samba cariocas, onde luxo, brilho e néon se misturavam a um vazio de religiosidade, baile para turista. O sertão não virou mar, mas virou um Rio, de Janeiro.
No dia de São Pedro, o último dos santos homenageados, vi duas casas enfeitadas com bandeirinhas coloridas e um nem tão tradicional mastro com o estandarte do santo. Antes, os mastros eram de bambu e, além da imagem, traziam espetados em várias pontas limões china. Reza a lenda que, no mastro, eles ficam doces. Os mastros que vi eram de canos de PVC, decorados com fitas coloridas e iluminados com minúsculas lâmpadas LED.
O que vejo agora é o anúncio de algumas festas "julinas". Não combina. Soa como comemorar Natal em abril. Bicho homem interferindo em assuntos da turma da diretoria lá do alto.
A política local para prefeito também anda fria e devagar. Acredito e espero, que logo esquente e torne-se fogueira. Daqui para frente todo cuidado é pouco no pisar por sobre as brasas e cinzas em busca da conquista do gosto popular.
Um enxame de gente busca vaga na Câmara Municipal. Se pouca festa aos santos houve, espero que estes pretensos candidatos a se tornarem edis tenham acendido muitas velas e elevado orações para pedir ajuda e proteção. Se não rezaram, devem, como se fazia, pagado e bem alguém para que o fizesse por eles. Penso cá comigo, é que, em tempo de eleições, até santo sai esquecido.
Saudades das verdadeiras festas. Que ano que vem as festas pululem em beleza singela e pureza de corações.
“São João acende a fogueira de meu coração.”
Publicado Jornal Correio em 6 de junho de 2012
A crônica em pdf no 4shared AQUI
ou clique no canto direito da imagem abaixo e veja a página em Fullsreen
Depois vieram as festas. Poucas, mas vieram. Não senti cheiro de pólvora do foguetório no ar e estampidos de foguetes. Estes foram mais usados em jogo de futebol do que emlouvor aos santos das festas. Feliz dos cães, passarinhos e outros bichos. Sofreram menos com ensurdecedores estampidos.
Batata assada, milho verde e canjica não deram as caras para meus lados. As antes tradicionais fogueirinhas na porta das casas, iluminando a noite, enviando recados, juntando amigos, praticamente desapareceram. Nós mesmos, que nunca deixamos de acender a nossa para aquecer corpo e alma, fomos postergando até que passou hora.
É certo que as festas produzidas, de grife, aconteceram, mas até estas foram pouco divulgadas, quase passaram despercebidas.Decoração de festa junina só mesmo em propaganda de televisão e ainda assim não convenceram muito não.
De Santo Antônio pouco se falou. O santo casamenteiro anda meio desprestigiado. As moças casadoiras andam sumidas. O melhor mesmo é “ficar” ou relação high teck em full HD, disso santo não entende. São João, o mais celebrado, perdeu um pouco de espaço para outras “divindades”. São Pedro fecha festejos com pouco glamour. Repito, esse junho foi atípico e deveria ser estudado.
Ah, por falar em televisão, estas se encarregaram em seus noticiários e programas de variedades de mostrar as luxuosas festas no Nordeste. Mesmo elas perderam cunho popular e mais pareciam escolas de samba cariocas, onde luxo, brilho e néon se misturavam a um vazio de religiosidade, baile para turista. O sertão não virou mar, mas virou um Rio, de Janeiro.
No dia de São Pedro, o último dos santos homenageados, vi duas casas enfeitadas com bandeirinhas coloridas e um nem tão tradicional mastro com o estandarte do santo. Antes, os mastros eram de bambu e, além da imagem, traziam espetados em várias pontas limões china. Reza a lenda que, no mastro, eles ficam doces. Os mastros que vi eram de canos de PVC, decorados com fitas coloridas e iluminados com minúsculas lâmpadas LED.
O que vejo agora é o anúncio de algumas festas "julinas". Não combina. Soa como comemorar Natal em abril. Bicho homem interferindo em assuntos da turma da diretoria lá do alto.
A política local para prefeito também anda fria e devagar. Acredito e espero, que logo esquente e torne-se fogueira. Daqui para frente todo cuidado é pouco no pisar por sobre as brasas e cinzas em busca da conquista do gosto popular.
Um enxame de gente busca vaga na Câmara Municipal. Se pouca festa aos santos houve, espero que estes pretensos candidatos a se tornarem edis tenham acendido muitas velas e elevado orações para pedir ajuda e proteção. Se não rezaram, devem, como se fazia, pagado e bem alguém para que o fizesse por eles. Penso cá comigo, é que, em tempo de eleições, até santo sai esquecido.
Saudades das verdadeiras festas. Que ano que vem as festas pululem em beleza singela e pureza de corações.
“São João acende a fogueira de meu coração.”
Publicado Jornal Correio em 6 de junho de 2012
A crônica em pdf no 4shared AQUI
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terça-feira, julho 3
Pique-esconde
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