sexta-feira, julho 6

Junho

Junho passou em ligeireza tamanha pouco vista. Pé nas costas de tão rápida. De todos os junhos que vivi este me pareceu o mais atípico de todos. Para começar, choveu a cântaros nos primeiros dias de um mês de seca. Quem se lembra de chuva nesse tempo aqui pelas bandas de nosso cerrado levante a mão. O que era para seco estar continua verde exuberante. Menos mal, as criminosas queimadas, pelo menos por enquanto, estão adiadas.

Depois vieram as festas. Poucas, mas vieram. Não senti cheiro de pólvora do foguetório no ar e estampidos de foguetes. Estes foram mais usados em jogo de futebol do que emlouvor aos santos das festas. Feliz dos cães, passarinhos e outros bichos. Sofreram menos com ensurdecedores estampidos.

Batata assada, milho verde e canjica não deram as caras para meus lados. As antes tradicionais fogueirinhas na porta das casas, iluminando a noite, enviando recados, juntando amigos, praticamente desapareceram. Nós mesmos, que nunca deixamos de acender a nossa para aquecer corpo e alma, fomos postergando até que passou hora.

É certo que as festas produzidas, de grife, aconteceram, mas até estas foram pouco divulgadas, quase passaram despercebidas.Decoração de festa junina só mesmo em propaganda de televisão e ainda assim não convenceram muito não.

De Santo Antônio pouco se falou. O santo casamenteiro anda meio desprestigiado. As moças casadoiras andam sumidas. O melhor mesmo é “ficar” ou relação high teck em full HD, disso santo não entende. São João, o mais celebrado, perdeu um pouco de espaço para outras “divindades”. São Pedro fecha festejos com pouco glamour. Repito, esse junho foi atípico e deveria ser estudado.

Ah, por falar em televisão, estas se encarregaram em seus noticiários e programas de variedades de mostrar as luxuosas festas no Nordeste. Mesmo elas perderam cunho popular e mais pareciam escolas de samba cariocas, onde luxo, brilho e néon se misturavam a um vazio de religiosidade, baile para turista. O sertão não virou mar, mas virou um Rio, de Janeiro.

No dia de São Pedro, o último dos santos homenageados, vi duas casas enfeitadas com bandeirinhas coloridas e um nem tão tradicional mastro com o estandarte do santo. Antes, os mastros eram de bambu e, além da imagem, traziam espetados em várias pontas limões china. Reza a lenda que, no mastro, eles ficam doces. Os mastros que vi eram de canos de PVC, decorados com fitas coloridas e iluminados com minúsculas lâmpadas LED.

O que vejo agora é o anúncio de algumas festas "julinas". Não combina. Soa como comemorar Natal em abril. Bicho homem interferindo em assuntos da turma da diretoria lá do alto.

A política local para prefeito também anda fria e devagar. Acredito e espero, que logo esquente e torne-se fogueira. Daqui para frente todo cuidado é pouco no pisar por sobre as brasas e cinzas em busca da conquista do gosto popular.

Um enxame de gente busca vaga na Câmara Municipal. Se pouca festa aos santos houve, espero que estes pretensos candidatos a se tornarem edis tenham acendido muitas velas e elevado orações para pedir ajuda e proteção. Se não rezaram, devem, como se fazia, pagado e bem alguém para que o fizesse por eles. Penso cá comigo, é que, em tempo de eleições, até santo sai esquecido.

Saudades das verdadeiras festas. Que ano que vem as festas pululem em beleza singela e pureza de corações.
“São João acende a fogueira de meu coração.”






Publicado Jornal Correio em 6 de junho de 2012

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Junho
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