Assunto delicado, poucos gostam de passar olhos sobre o tema. Medo do certo, do que a todos espera? Ter medo da morte, ponto de vista meu, é ter medo mesmo é da vida.
Raro o poeta ou escritor que deixou de falar, em muitos casos apaixonadamente, sobre ela e seus desígnios. Fernando Pessoa nos encanta em “Cancioneiro”: “A Morte Chega Cedo A morte chega cedo, /Pois breve é toda vida /O instante é o arremedo /De uma coisa perdida”.
Vinícius de Moraes em “Poética”: “A oeste a morte/ Contra quem vivo/Do sul cativo/O este é meu norte”. E assim vai. Shakespeare, Kant, Neruda, Guimarães Rosa. Todos eles deixaram tributos ou menções a ela, a senhora do tempo, a morte. Muito me marcou no cinema “O Sétimo Selo” do diretor sueco Ingmar Bergman, onde um cavaleiro ao retornar das Cruzadas, se depara com a morte, mas curioso e descrente propõe a ela uma partida de xadrez que definirá sua partida ou não, mas a busca mesmo é pelo significado da vida. Um épico.
Outro que muito me chamou atenção foi “Meet Joe Black”, com os geniais Anthony Hopkins e Brad Pitt o título em português me saiu como “Encontro Marcado”. Uma pausa. Nunca entendi a lógica ou a falta total dela, na tradução de títulos de filmes no Brasil. Imaginação zero, beira ao ridículo. Quer um exemplo do absurdo? Se você estuda inglês deve imaginar que para dizer “Os brutos também amam” basta um “Shane”. Como é simples a língua de Allan Poe e Mark Twain! Só vendo. Títulos não deviam ser travestidos apenas para ganhar público, deviam criar uma lei contra tal prática.
O que imagino e ouço é que o esqueleto envolto em mortalha, armado de foice apavora muita gente.
Ao longo da vida, ufa enfim dela falamos, perdi muitos para aquela magra senhora. Minha mãe se foi há poucas semanas, por favor não compadeçam, ela viveu muito e como sempre quis, voou feliz, podem acreditar. Grandes amigos, e não foram poucos partiram cedo demais, deixaram saudades doídas. Esta precocidade é que me incomoda. Tanto ainda para dar, para ver, para compartilhar e, por algum mistério pegam o rumo antes da hora.
Mas existe outro tipo de morte e este é o pior de todos, é a morte em vida. Esta é a mais terrível delas. E ela se apresenta de várias formas.
Ultimamente tenho acompanhado com assombro uma de suas piores formas. A falta de caráter, a covardia, o egoísmo estão no mesmo pacote do fim de tudo.
Com a mudança de governo municipal, muitos que se diziam fiéis até a morte aos que saem, assim do nada pularam como cabritos montanheses para o outro lado e do nada cantam odes e louvores aos vencedores, e atacam e desprezam aqueles aos quais juravam fidelidade. Obviamente não são bons profissionais, não dominam o conhecimento mínimo para cumprirem as missões que a eles foram confiadas e, imagino, só se sustentaram em seus cargos vampirescamente sugando o conhecimento alheio, pela bajulação e se aproveitando das benesses do poder. Para estes qualquer poder serve, nômadas sempre sequiosos por novas pastagens... no popular? Traíras mesmo. Hoje empoleiram aqui, amanhã no quintal vizinho. Onde acham que tem lucro, lá estão como sanguessugas.
Infelizmente não são homens livres, e muito menos dados aos bons costumes
De longe observo, espero envergonhado por tais pessoas a missa de sétimo dia.
É por essas e outras que me apego à vida mas, sem medo, susto e de cabeça erguida repito Milton Nascimento :“Nasci com minha morte e dela não abro mão”, com honra e firmeza. Procuro a cada segundo de minha existência o justo e, trabalho minha alma em busca da inatingível perfeição.
Publicado no Jornal Correio em 3 /11/2012
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