Walmor chagas e Cacilda Becker em montagem
de Esperando Godot dirigida por Flávio Rangel
Foto: UOL
“Estamos sempre achando alguma coisa, não é, Didi, para dar a impressão de que existimos?”
Acho simplesmente geniais as constantes referências à instigante peça de Samuel Beckett “Esperando Godot” por parte do jornalista Ivan Santos. O que me intriga é quantos leitores de sua coluna sabem realmente do que e de quem se trata. Muitos têm o costume nada sadio de (literaturalmente, sei que essa palavra não existe), simplesmente, seguir adiante sem se preocupar em descobrir o significado de termo ou palavra desconhecida. Uma pena. Considerando que os dicionários não conseguem acompanhar em ritmo adequado o evoluir da língua, me valho da liberal e salvadora licença poética para usá-la. Retornando, pergunto-me e aos leitores de Ivan, quantos conhecem de fato a trama que envolve Godot?
Tomo a liberdade de avançar sobre o tema em uma colcha de pensamentos e análises alheias, sempre citando as autorias, como determina a ética, a educação e a lei dos direitos autorais, tão violada e agredida como a Geni de Chico.
Não custa lembrar que Samuel Beckett é considerado um dos principais nomes do chamado teatro do absurdo, em 1969 recebeu o prêmio Nobel de literatura. A Godot, pois.
“A obra artística mais importante de Beckett é um espelho da condição humana. Por meio de um diálogo cômico, o autor expressa a tragédia e a angústia de dois mendigos, Vladimir e Estragon, que se encontram diariamente para esperar pelo misterioso e sempre ausente, Godot.” (Mari Santoro)
Por acreditar que não se pode expressar racionalmente aquilo que é ilógico, o autor não faz uso do discurso racional e vale-se da expressão corporal de suas personagens para expressar a intenção de seu texto.
“Godot é uma parábola expressa como grande tributo ao poder do teatro, das artes cênicas. O texto é um exercício metafísico de reflexão sobre o ser, empreendido por personagens que têm séculos de saudável irresponsabilidade: os palhaços de circo, com suas duplas de clown – Didio e Gogô, Pozzo e Lucky -, Beckett remete o espectador ao mesmo tempo para a filosofia e para o antigo teatro de variedades europeu, o circo, o teatro de revista. Sem a inclusão desse humor, a peça seria mais que pessimista, intolerável”. (Alberto Guzik)
Enfim: “O tema é a espera por Godot; a espera da morte e do nada. Para o autor, a espera é o nosso estado natural, pois já nascemos condenados a morrer. A obra é uma reflexão sobre a condição humana e trata de assuntos como o abandono, a solidão e o medo da extinção”.
São aqui apresentados apenas fragmentos de “uma obra estreada pela primeira vez no Théâtre de Babylone, em Paris, Godot foi uma espécie de divisor de águas da história da dramaturgia”. Conhecê-la é quase imprescindível.
Dizem que conselho se fosse bom não seria dado, mas vendido. Segue, pois, uma sugestão. Leiam a peça. Ela pode ser baixada no site “Oficina de Teatro”. É um arquivo pequeno de apenas 1,61 MB, mas gigante e intrigante em conteúdo.
Oportunidade garantida de ótima leitura e cultural entretenimento e de, principalmente, agregar conhecimento e, quem sabe, momento de um despertar para uma nova de linguagem e expressão.
Nada a perder, pois, de uma forma ou outra, estamos todos, alegres ou tristes, palhaços ou equilibristas, esperando Godot.
Publicado Jornal Correio em 3/01/2013
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