segunda-feira, maio 20

Encontros



Foto Jornal Correio

 Uma pequena explicação. Um levantar, ainda no escuro, para aproveitar silêncio e não deixar escapar pensamentos. Tentativa vã de salvar boas lembranças que à tona vieram depois de noite especial. Não adiantou. Invasão. Pedreiros armados de picolas, maquitas, radinhos irritantes em musica gospel alguns e funk outros. Conversas sem pé nem cabeça nos são impostas, do crime bárbaro de ontem, à tentativa de conversão como caminho. E o tal do dízimo? Pergunta, em jogar de telha para o alto. É a palavra, responde outro. Imagino que a prosa vai longe, mas um berro do pedreiro mor a pedir mais telhas interrompe a pregação. Esta até me interessou. Queria ver no que ia dar.

Fato é, este incrível exército de Brancaleone resolveu adiantar serviço de uma sexta-feira na qual, mais uma vez, a CEMIG, com comum desculpa de “melhor servir”, nos faz o hediondo favor de jurar corte de energia de 12 às 17. Não fosse o trocar de telhado no meio do qual me encontro não importaria. Muito calejados estamos com estas já corriqueiras interrupções. Esforço-me em sorriso de poucas amizades para receber os que, assenhoram-se em segundos e poeira ocupam meu espaço. Isso já dura uma eternidade de uma semana e ainda promete.

Ontem estourou cano na laje, sabe-se lá como. Cachoeira pelo globo de luz desaguou exatamente sobre nossa cama. Vivemos em obras, como João-de-barro, raro ano não se faz coisa ou outra. Juro, não acostumei.

Mas o amanhecer no escuro era para falar de assunto agradável. Deixemos o campo de batalha das reformas.

Fato é que, em dia de paz e casa em ordem, entre verduras, frutas e cheiros coloridos, capazes de confundir em êxtase qualquer passarinho ou abelha, assim em um repente, encontro Paganini, autor de “Contos de uma vida bancária”. Livro que degustei como sommelier frente à rara safra. Isso em pleno domingo em supermercado.

Entre tucanos, lembranças da ponte do Pau-Furado, flamboyants, casa de Cora Coralina, todos em suaves aquarelas da amiga de mil anos Ana Abdala, encontro Marília Cunha. Não careço perder em formas de tratamentos. Falta de educação não há em chamá-los de “você”, mesmo sabendo da imperiosa necessidade de agora em diante evocar concordâncias com verbo na terceira pessoa. Apesar de ser o primeiro encontro real, muito temos em comum, e não de hoje. Vem de longe. O que nos aproxima? O escrever. Foram momentos agradabilíssimos, curtos é fato, mas de intensa troca aproximadora. Com Agostinho Paganini a certeza de que os afazeres do cotidiano podem ser, e geralmente são, prazerosos. Com Marília, uma conspiração nasceu, mas essa ainda precisa mais corpo. Como a Inconfidência Mineira, está por nascer corrente contra opressão linguística, mas essa é outra prosa. JB Guimarães e sua taberna literária que nos aguarde para encontros onde, na surdina, traçaremos nossos planos. Aproveito para convidar a todos que cultivam a delicia do ler e escrever s para participarem de nosso movimento.

Noite perfeita, pessoas perfeitas. Terminou com jantar só para nós, em restaurante geralmente lotado e com fila de espera Nessa noite magicamente nos esperava em silencioso sossego. Claro, tive que explicar meu pedido para três garçons, pois o mesmo não constava do cardápio: filé mal passado, arroz, fritas e salada. Se batizado de Chateaubriand poderia constar entre os pomposos nomes da carta. O simples é tão complicado. Retorno a meu acolorado dia. Sei não, ou acabo fanqueiro, ou convertido o que,o que, realmente em se tratando das duas situações sinceramente duvido.




Publicado em Jornal Correio em 18/05/2013


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