sexta-feira, junho 21

Crescer ou crescer












E ainda tem aqueles que se vangloriam com a real possibilidade de nossa cidade chegar ao número cabalístico de 1 milhão de habitantes. Um dos motivos que me levaram a sair de minha Belo Horizonte foi exatamente não ter mais espaço para as gentes. O furdunço dos carros, a frieza e impessoalidade da maioria das pessoas e relações. O andar a pé, dependendo da região, passou a ser um passeio por Bagdá ou tomar café “sossegado” em cantina no Cairo de Mohamed Mursi. Uberlândia cava a passadas largas seu próprio buraco de infelicidade, de insegurança, de grandes problemas. Isso sob o aplauso daqueles que acreditam que uma cidade para ser boa tem que ser grande em população. Qualidade de vida só no discurso, miudeza é para os fracos.

Em entrevista aqui mesmo no CORREIO, bem-sucedida empresária foi categórica ao afirmar que sentia falta dos muros baixos, das prosas e do café da tarde no alpendre. Posso apostar que muita gente nova, geração “BBB”, não tem a menor ideia do que seja alpendre. Esclarecendo: telheiro, como se diz em Portugal. Deu na mesma, não é? Pergunte a alguém com mais de 40. O fato é que espaços para crescer têm. Não existem serras, montanhas para bem olhar. Nosso horizonte é ancho e plano. Belo Horizonte teve que subir o morro, destruir matas nativas, pular a cerca para outros cantos, outros municípios.

Por acaso, bati olhos em anúncio de condomínio lá pelas bandas da capital das Alterosas e olha que morros e montanhas, que lhe deram tal majestoso e altivo nome, estão a sumir engolidos por condomínios horizontais e prédios colossais. Desculpem o pleonasmo lá atrás. Localização? No trevo da Rodovia dos Inconfidentes, aquela que liga a BR-040, antiga BR-3, a Ouro Preto. Pelo amor do Santíssimo, seria quase como chamar de Uberlândia um loteamento no Trevão. Tá certo, exagero. O Trevão é um pouco mais longe.
Será isso que queremos para nossas vidas e para nossos filhos e netos? A progressista Uberlândia tem o dom de atrair muito de bom, mas, também no vácuo, vem o pior.

Não sou nenhum urbanista nem entendo de planejamento de cidades, mas acompanho atento à expansão de Uberlândia e de seus problemas. Principalmente no que diz respeito ao nosso trabalho com a bicharada sinantrópica. Cada vez mais estamos disponibilizando casa e comida para estes despejados animais. Arrancamos suas moradas naturais em nome do progresso. Depois passamos literalmente o resto de nossas vidas a brigar contra eles, que teimam em viver de nossos restos. Como somos uma população extremamente “educada e cidadã”, jogamos lixo no terreno vizinho, cortamos sem dó nem piedade a última árvore da calçada. Folha “suja”. Plástico, latas e papéis não, mas folha, um horror. Impermeabilizamos com cimento e asfalto nosso entorno, assim a água pode correr e alagar livremente as partes mais baixas da cidade.
Recorro a dito popular para expressar este crescimento sem pé nem cabeça de Uberlândia: “se tamanho fosse documento, o elefante seria dono do circo”. Cidades médias e pequenas, alternativa para bem viver. Cercas baixas e café no alpendre, bom-dia de vizinho. Caderneta na venda, passarinho na janela. Ou prefere trânsito agarrado, enchentes, violência de sair em rede nacional? Cidade grande tem dessas coisas. Faça sua escolha.





Publicado em Jornal Correio em 21/06/2013



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