quinta-feira, dezembro 19

Coruja





Tenho fascínio por animais estigmatizados. Carregam em si mitos e lendas. Não bastassem escorpiões, morcegos serpentes e aranhas, parte de meu dia a dia de trabalho, tenho paixão por corujas. Talvez pelo fato de eu mesmo, de vez em quando, ser um outsider. As mães-coruja, estas eu admiro com reservas, pois, normalmente, são dominadoras e acabam criando pestinhas. Cabem exceções. Jamais incorreria em injusta generalização. Pode-se muito bem ser mãe ou pai-coruja no amor, no cuidado, no carinho, sem deixar filho com manhas e sem norte. Pensando bem, as que estragam seus filhos são minorias. Minha paixão é pelas corujas. Estas aves de rapina imponentes que, além de seres viventes especiais, carregam o peso de forte simbologia, perdendo para poucos representantes do reino animal. Em minhas redes sociais, posto fotos, lá estão sempre presentes. Talvez percam para escorpiões e insetos, com suas cores, formas e belezas escondidas, às vezes, só detectadas por lentes macro, capazes de expor caprichos da natureza em detalhes deslumbrantes.

Como mascotes da divindade grega Athena, corujas conquistaram título de símbolo da sabedoria. Além disso, meu quase homônimo Willian Meng – diferença de uma letra – nos conta: ”Os gregos consideravam a noite como o momento do pensamento filosófico e da revelação intelectual e a coruja, por ser uma ave noturna, acabou representando essa busca pelo saber.” Para outros tantos, coruja é sinal de mau agouro, de azar e morte. Pio de coruja então, morte certa por perto. Na idade média, eram vistas como bruxas disfarçadas e, quando davam o azar de serem capturadas, eram amarradas e deixadas presas sem água ou alimento, para morrer em sofrimento.

Cada cultura via a coruja de uma maneira. Os romanos como sinal de derrota em batalha, já os gregos prenunciavam vitórias quando na sua presença. Não existe caracterização de Merlin sem poleiro dela em seu laboratório. Edwiges era o nome da coruja de Harry Potter, que de ruim nada tinha.

Gosto de corujas. Seu canto acalma e embalou anos a fio o sono de meus filhos. Toda noite, minúscula Caburé pousa no telhado de casa e lá fica a piar horas a fio. O dia que não vem, fico apreensivo com seu bem-estar. Sinal de chuva forte ou frio bravo.

Ganho tempo precioso observando corujas buraqueiras cuidando de toca e cria. As acompanho à caça. Certeiras no voo, dificilmente um rato foge de seu ataque. Quando em vez, vejo uma tomando couro de passarinho miúdo em defesa de seus próprios pequeninos. Certa feita, durante captura de escorpiões, descobri toca de coruja em cemitério, jazido abandonado. Quase me matou de susto. Cabeça baixa, cuidando de meu trabalho. Quando levantei o olhar, lá estava a palmo e meio de meu nariz. Arrepiada, asas abertas se fazendo o dobro em tamanho. Cai sentado, coração a mil. Depois, recuperado, apreciei e fotografei a bela em plenitude.

Discretas, silenciosas, fiéis. Assim são as corujas. No Brasil, existem 24 espécies de corujas, muitas ameaçadas. Não carece nem apontar culpados. Pesquisadores em corujas brasileiras relatam: “Um casal de corujas-buraqueiras consome de 12,3 mil a 26,2 mil insetos, e de 540 a 1,1 mil ratos por ano”. Muitos deveriam se espelhar nas corujas. Mais discrição, atenção, préstimo e lealdade.





Publicado Jornal Correio em 19 de dezembro de 2013




https://www.dropbox.com/s/8arck24h65wxgy6/Coruja%20jc.pdf

quarta-feira, dezembro 11

Do lar



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Novembro partiu e, daqui a alguns dias, completaremos oito anos em casa sem ajudante. Tudo começou num belo dia em que tivemos um feriado prolongado e, querendo ser justos, resolvemos estender essa folga para nossa auxiliar.

Ao retornar, ela pediu conta e ainda tripudiou, de forma cínica, sobre nossas cabeças. Com sorriso de canto de boca, nos disse que, graças à folga recebida, tinha conseguido emprego melhor. Deixou-nos a ver navios em momento crítico em meio à correria de horários malucos e falta absoluta de tempo. Em nenhum momento sentimos raiva ou rancor, ao contrário, sabemos muito bem que todos podem e devem procurar melhoras na vida, nesse palco selvagem de competição e puxadas de tapete. Ela agiu com o justificável instinto de preservação. Faz parte do jogo. Ficou, na época, apenas um resquício de tristeza, pois saiu sem aviso e não carecia troça. Passou, pronto. Se ela precisar de carta de recomendação estamos aqui para fornecê-la, boa trabalhadora. Bom, lá se foram oito anos e agora mais nada dela sabemos, nem por onde anda. Esperamos que esteja bem e feliz. É de coração.

Daquele momento em diante, resolvemos conquistar alforria, acertar horários e, nós mesmos, cuidarmos de tudo. Do lavar ao cozinhar, do arrumar, varrer, jardinar e tudo mais. Sempre tive comigo que empregada é luxo. Filho de americano do Brooklyn, NY, e tendo morado por lá bom tempo, só vim a conhecer empregada doméstica no Brasil. Lá, tínhamos faxineira no máximo uma vez por mês. E olha, o carro dela, um Cadillac rabo de peixe, dava de mil na Station Wagon de meu pai, com laterais em detalhes de madeira.
Todos em casa fazendo sua parte. Crianças arrumando o próprio quarto. A lei do “sujou, lavou” começou cedo em casa. O caçula com 10 anos fazia muito bem sua parte. A irmã, pouco mais velha, também. Foi pedagógico. Alguma lição de liberdade deve ficar para o futuro deles.

Harmonia e economia. Claro, sempre entreveros existem, até hoje. Quem não tem dia de preguiça? Em relação à economia, lembro-me de caso contado.
Dois amigos, já por volta dos 50, ex-namorados de infância, se encontraram num bar. Há muito não se viam. Sentaram-se. A primeira coisa que um faz é acender um cigarro. Meio espantada:

— Fumando até hoje?
— Quase dois maços, acredita!?
— Sabe que, se tivesse economizado essa grana durante esses anos todos, você hoje poderia comprar uma Ferrari zero?
Ele pensou um pouco, bateu levemente os nós dos dedos com mão sobre a mesa e na lata e perguntou:
— Você nunca fumou, não é?
— Claro que não! E você bem sabe disso.
Olhada entorno, testa franzida:
— Uai, então cadê sua Ferrari?

Sabemos que, sempre que se economiza, pode-se planejar outros destinos para o não gasto. Mas isto não é o principal. O grande aprendizado foi redescobrir que podemos viver plenamente, sem dependência visceral de alguém para fazer por nós as entediantes e repetitivas tarefas domésticas. Põe tédio nisso. Vencer a preguiça e lá vamos nós. Existe vida plena sem ser patrão. E tempo, nós fazemos o nosso.
Com disciplina e participação de todos ninguém fica sobrecarregado e, detalhe passa-se a conhecer e valorizar cada cantinho da casa. Prazer ao terminar faxina, é imensurável. Sensação imensa de bem-estar.
Não compramos Ferrari, mas apostem suas fichas, ganhamos prazer, cumplicidade e união. Vale muito mais do que o carro.





Publicado Jornal Correio em 11 de dezembro de 2013


https://www.dropbox.com/s/fi3xnneu6gr3byc/Do%20lar%20JC.pdf

segunda-feira, dezembro 9

Rua da Paz em guerra


Projeto lei tramita na câmara municipal propondo transformar a Rua da Paz no Bairro Morado da Colina, para mim ainda Patrimônio, em rua de comércios mil. Nada demais se esta rua estivesse em bairro colado no centro ou em lugar estratégico e, principalmente, não se tratasse de bairro iminentemente residencial por natureza e tradição. É certo que por lá já funcionem algumas atividades diferentes das que se enquadram no plano diretor de nossa cidade.

Tem uma academia de não sei o quê, tem uma outro não sei o quê tipo zen com portais de madeira e tudo mais, tem inclusive uma de nossas Unidades Básicas de Saúde funcionando em casa alugada.
Tem uma simpática igrejinha, Nossa Senhora do Bom Parto, que todos os anos festeja na rua sua festa de São João
E lá na esquina com a Nicomedes um centro comercial muito bem instalado, esteticamente bonito e que, na realidade está virado para a Avenida Nicomedes Alves dos Santos, portanto nada tem haver com a Rua da Paz.

Não quero nem entrar na seara das manobras políticas para que tal lei seja aprovada nos estertores finais da atual configuração da Câmara Municipal. Mas, se eu fosse edil em um momento desses faria como a nossa Prefeitura. Ficaria em "standby" para fatos polêmicos, porém trabalhando muito como pode ser observado cidade à fora. Empenhado-se  com o que ai está para fazer, não criando controvérsias à esta altura do campeonato.
Um bairro residencial que aos poucos está se tornando uma ilha, cercado de comércios por todos os lados. Um perigo pois aos poucos estes vão, devagar e sempre, contaminando ruas laterais, subindo, subindo, tomando os espaços e nada agregando de saudável ao bairro.
Falo com conhecimento de causa. Nasci e me criei no bairro Funcionários em Belo Horizonte, mais exatamente entre as Avenida Afonso Pena e Rua Ceará.
Vi de perto o rápido domínio das áreas comerciais e o crescimento vertical esmagarem um dos recantos da minha infância/adolescência.
Se antes brincávamos de  bente altas mas ruas, explico: Bente altas parece com o Bate daqui, só que lá jogamos com bola de meia, casinha de graveto e usa-se os pés – Joga no Google, aposto que encontra. Se as ruas de pedra eram nosso espaço de diversão naquele tempo, passa lá hoje. Horror cinza fuligem e concreto. Barulho horrível de carros e motos. Para minha tristeza, golpe de misericórdia: A casa em que nasci foi derrubada e virou pouso de veículos: estacionamento.
Passo pela Rua da Paz, de carro, a pé ou bicicleta a caminho da horta do japonês lá na beira do rio Uberabinha, na verdade acho que tem japonês nenhum, mas acostumou-se a assim ser chamada.

Querem acabar antes que comece com o pé de guerra que vai gerar a Rua da Paz? Façam consulta aos moradores do bairro Morada da Colina ou Patrimônio. Deixa quem por lá mora decidir se quer continuar em paz ou abafados por comércios e movimento. A escolha deveria ser unicamente deles e não cair como uma bomba em seus colos e noites de desassossego - palavra sibilante essa - diz em som exatamente seu significado. Decisões  nesses moldes costumam só, somente só desagradar muitos em prol da alegria de uns poucos.

Assim, do nada em futuro próximo e sendo tal lei aprovado me vejo desviando de carros em pleno sábado pela manhã. Eu hein, vou é comprar verduras é na feira, pelo menos lá aproveito para um pastel com café.



Dezembro

Pé d'água


Minutos depois...

quarta-feira, dezembro 4

Bebum consciente



Quatro horas da manhã, um homem com andar meio cambaleante caminha pela rua escura. Um carro da polícia se aproxima e os policiais resolvem averiguar a situação:
- Onde vai o cidadão a uma hora destas?
- Estou indo assistir uma palestra.
- Palestra?! A esta hora? Sobre o quê?
- Sobre os efeitos do álcool e das drogas no corpo humano. Os danos causados pela esbórnia. A farra na degradação da vida amorosa conjugal. Os impactos negativos sobre o sistema nervoso central eperiférico advindos dessa vida desregrada. Dos malefícios aos órgãos internos e também externos devastados pela ingestão desenfreada de fumo, álcool e drogas ilícitas. E a vida sem Deus no coração.
- Ô meu, fala sério! E quem vai dar uma palestra desta abrangência e relevância científica a esta hora da madrugada?
- Minha esposa, quando eu chegar em casa.

( Via Facebook de Mardones da Costa )

Férias

Depois de um ano de muito trabalho, entro em férias. Boas festas para todos e até 2014. São os votos de toda equipe do Laboratório de Animais Peçonhentos e Quirópteros da nossa SMS.

Parabéns a todos nosso grupo pelo empenho, compromisso e valentia para vencer adversidades inerentes ao trabalho e ainda brilhar como nunca como Servidores Públicos que somos, com muito orgulho.

Algumas fotos de nossa (minha) última ação do ano antes das férias. A convite do Ministério da Saúde, mais uma vez atuando como monitor em Capacitação de Manejo de Escorpiões desta vez em Palmas Tocantins.