“Você já foi a Bahia? Não? Então, vá”. Pois então, não é que Caymmi, propositalmente ou não, vai se lá saber, vendeu e muito bem os encantos das terras que serviram como porta de entrada para os lusitanos nos descobrirem, ora pois.
Contam que Pedro, o Cabral, procurando as Índias se perdeu na confusão de placas de sinalização espalhadas mar adentro, errou o caminho e veio parar em nossas costas. Talvez o vento tenha virado a placa indicativa “Índia a cinco mil quilômetros, reduza a velocidade, cuidado com o quebra-mar, respeite a sinalização e boas descobertas pá”.
Se foi assim sei não, mas entre tempestades, calmarias e muito tédio, aqui chegaram. Missas e tais, depois só gandaia. Belas índias, a rodo, foram penas para todo lado. Assim foi e assim permaneceu, a fama pelo menos. Até os dias de hoje, a Bahia é uma festa, um fim de semana que começa na passagem de ano e termina no Natal. Imagine se os portugueses tivessem chegado pelo sul e no inverno? Das duas uma, ou teriam dado meia volta, tipo: — Ô, Vaz escreva nada não, estamos a voltar, isso cá não tem nada de Índia, vamos pegar o primeiro retorno, erramos em algum trevo.
Mas não é sobre isso que quero falar. A pródiga e maravilhosa Bahia fica para outro dia, tenho muito de lá a contar.
Há tempos não sinto tanto frio aqui em Uberlândia. Fico encarapinhado, que nem passarinho. Falta gosto até de conversar. Quero mesmo é cama. Como anda a escurecer muito cedo, chego de minha corrida diária e tomo um belo banho, inicialmente, frio. Ô vontade de gritar um belo e alto palavrão quando a água bate nas costas. Passo a morno e encerro em “departure” galope.
Contudo, mudei muito o pensamento sobre frio em junho. Quanto à chuva, que tanto me apaixona em época qualquer, descobri que é chuva verde criada longe, em região de mistérios e belezas escondidas, a espera de curioso encontrar lugar de Matinta Perera com seu assobio. Da Boiúna, a cobra grande, do Piripirioca, aquele cuja alma passeia pelo céu, entre as estrelas quando canta. Terra do Uirapuru e seu canto belíssimo, a chamar sua paixão destruída. Do boto e suas seduções. Pois conto, a Amazônia chove em mim. Mesmo trazendo frio, ligo não. Sinto cheiro da mata quando chove. Forte, doce superlativo, como tudo por lá eu vi. Conheci o paraíso.
Vem a pergunta: você já foi a Amazônia? Não? Então, saiba que ela vem até você dezenas de vezes ao ano. Não acredita, pois saiba, outra vez afirmo, que a Amazônia chove em mim e em você constantemente. Os climatologistas sempre nos dão esta maravilhosa notícia.
“São os ventos úmidos vindos da Amazônia, que trazem chuva para o Sudeste do País, em contato com as frentes frias secas que vêm do Sul. A tendência desse encontro é ocasionar queda na temperatura”. Palavras do xará William César Borges, do Instituto de Climatologia da UFU, outro dia.
As frentes frias vêm do Sul. Sim, misturo a mística floresta com belos tangos da Argentina, que tentam gelar minhas noites, mas são sempre bem aquecidas por belos vinhos de Mendonza.
Jornal Correio em 26 de junho de 2016