Dia da criação – Vinícius de Moraes
Boas coisas, boas gentes, amores, parecem que duram pouco ou não foram feitos para mim, não é meu destino. Sina. Tive longa paixão, mas só eu acreditava nela. Diziam impossível paixão longeva. Pois tinha. Sou um desastre no relacionar, gênio ruim, estopim curto, um humor que sobe e desce. Não há quem aguente. Mudei muito. As perdas nos mudam. Pena que quem se feriu não acredita. Dou toda razão. Fui custoso. Fui, no sozinho pensar, refazendo meu pesar. Meu jeito de carinhar e gostar.
Tenho muito que provar, mas também não tenho pressa. De meu gato muito falei. Jurei falar mais não, nem que fosse por prazo. Mas hoje carece, me digam se não. Como um bicho pode ensinar. Confesso que conversei muito com ele. Bicho confidente e, gato, desconfiado que só, respondia com olhares/miados. Cumplicidade consolidada. Dois viventes livres e aventureiros.
Veio o desgosto. Morar em condomínio, prédio, casa que seja, pois ter vizinho é um exercício de paciência e tolerância. Criaram caso com meu gato. Queixa me chegou. Sou mineiro das alterosas e, como tal, sistemático. Pago minhas contas e nunca atrasei dia sequer. Não tenho dívidas, tenho compromissos e estes honro no dia e hora. Devo ninguém. Quieto mas fácil de fazer amizade sincera. Gosto de mentira nem de falsidade não. Sempre me mantive arredio e na minha. Cumprimento com sorriso e poucos lá com um bom dia/tarde/noite de voz. Ouço música baixa para não incomodar. Tento permanecer invisível.
Pois não é que desalmado, mal-amado, infeliz, se queixou do simples existir de meu gato!? Gato do bem, adorado pela criançada e vários adultos. Socializado ao extremo. Conto minha rotina nesse minúsculo condomínio de casas. Convivo com cachorro latindo dia todo, barulho de música alta em festa. Nunca reclamei, nem vou. Pois todos têm um dia ou outro de ligar o foda-se.
Ser feliz não é doença. Pois assim acharam. Meu gato, tranquilo e do seu jeito conquistou muitos. As crianças principalmente e adultos do bem, felizes. Tem gente que não merece o mundo, devia pedir desculpas pelo espaço que ocupa. Para a coisa não ficar feia, pois repito, estopim é curto, e por mais que exercite tolerância fico preocupado que hora me falte, principalmente frente a tanta mesquinhez de vida, levei meu gato para uma pessoa muito especial. Coração enorme, apaixonada com a vida e com o viver. Casa de verdade, nada de meias paredes sufocantes/confessionárias. Quintal belo, florido e arborizado. A morada mais linda do bairro. Sempre disse isto. Gato está lá muito bem, obrigado. Cercado de gente feliz, almas claras, de bem com a vida.
Fico pouco por essas bandas, queria viver entre pessoas resolvidas. Ao coitado que queixou, fique em paz, mesmo que esta jamais o alcance. O que não duvido. A vida é, mesmo que não acreditemos em alguns momentos, justa. Não o quero mal, o quero longe. Tento e sou paciente. Mas execraram meu gato, uma companhia e amizade a alegrar solidão, e eu, quero mais é ir embora. Se souber de cantinho, meia água com plantas e gente do bem, me avise via e-mail.
"And in the end the love you take is equal to the love you make"
The Beatles
Jornal Correio - Opinião em 08 de junho de 2016
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