Casamento de sobrinha. Linda cerimônia, a começar pela beleza natural dos noivos. Alegria contagiante, ar de felicidade ecoava pela igreja de imensa e sóbria nave, a acomodar com conforto família e convidados. A cerimônia transcorreu bela e em paz absoluta. Cantos e serena musicalidade.
Finda a solenidade o costumeiro e agradável zum -zum-zum de encontros entre gentes que há tempos não se viam, beijos, apertos de mãos e, claro, as repetitivas piadinhas dos mais próximos. As gozações de sempre de todos os encontros, casamentos, aniversários e tais.
Bora pra festa? Onde fica o local do rega-bofe? Putz, essa expressão é antiga. Juro, não é do meu tempo.”— Opa! Finalmente o pai da noiva colocou a mão no bolso!” Gracejo. Hoje vamos nos fartar às suas custas, brinca o primo.
Outro lado bom dos casamentos são exatamente esses reencontros, onde reina bom humor, companheirismo e obviamente muita gozação.
— Eu não sou daqui, sei chegar não. Vai à frente que sigo, decide outro.
Eu, mesmo daqui sendo não sabia direito como chegar. Conhecia bairro, ruas, caminhos, mas o exato não. Tentei apelar para o GPS, mas quem disse que ele, no caso ela, a voz, estava de bom humor. Queria nem marcar o trajeto. Outro sobrinho: — Me segue, te espero ali e aponta o dedo para um canto da praça. Beleza, respondo.
Alguns minutos imensos a caçar grana para o flanelinha, que nem estava lá quando cheguei. Vou ao lugar do encontro, para em caravana de dois seguir.
Encosto bem atrás do carro que fica alguns minutos parado. Esperando mais alguém, penso eu. Sem aviso prévio arranca e segue rua. Eu atrás. Vira à esquerda, sigo. Dobra em avenida larga, acompanho. Acelera, piso um pouco mais a imaginar o motivo de tanta pressa. Passa ponte, viaduto e eu ali grudado, em zig zag de fórmula 1.
Caramba, será que tem alguém passando mal ou com vontade louca de ir ao banheiro? Não posso perdê-lo de vista, piso também.
O caminho estava certo. Mas me pergunto, para que tanta volta? Do nada, parou quase em frente ao 36º Batalhão de Infantaria Motorizado, a Águia da Tubalina do EB.
Não entendi nada. Pus-me em parelha e baixei o vidro.
— Errou, a virada é para a esquerda, gritei. Ele nem se deu ao trabalho de baixar o vidro coberto com uma película tão escura, com a qual certamente seria parado em blitz.
Pensei comigo: sigo, viro e mostro o caminho. Assim fiz.
Dei o balão na rotatória e de lá ainda gesticulei meio sem paciência, pois o tempo ia encompridando.
Nada, ficou quieto. Bom, ele sabe o caminho sigo daqui.
Fui matutando, mas cisma do jeito que veio se foi. Depois de perguntar a duas, três pessoas no trecho se conheciam a rua e de constatar que ninguém conhece nada, nem o próprio endereço, parei numa farmácia e recebi direitinho a indicação do lugar.
E não é que para meu espanto o sobrinho já estava lá, sentando confortavelmente? Uai, disse eu, não entendi sua pressa e sua parada perto do quartel!
— Eu não parei no quartel, e você sumiu! — Sumi? Estava colado na rabeira do seu carro! Estava não! Que carro você seguiu? — Ora, um não sei das quantas branco.
Mas o meu carro é prata!
Não é que segui o carro errado o tempo todo! E se fossem malas preparando um malfeito? Poderia ter tomado um tiro!
Vai ser distraído prá lá. “Viver é muito perigoso”. Viraria estatística e pronto.
Jornal Correio 25 de setembro de 2016