"Se for falar mal de mim me chame, sei coisas horríveis a meu respeito" (Clarice Lispector)
segunda-feira, julho 9
A Copa do mundo é nossa. Será?
Gente de Deus, que ressaca! Não, não é de excessos, não é de cerveja e afins. Ressaca existencial e da brava. Tá certo, tenho que falar de copa do mundo. Cobraram. Não vou lançar olhar para os primeiros jogos do Brasil, no time apequenado, de futebol medíocre, várzea mesmo, apresentado no jogo de estréia contra a Suiça. Este país que já nos goleia por mil a zero em todos indicadores de vida e riqueza possíveis, mas até então, no futebol não seu João. Futebol é nosso, era nosso. O Brasil mostrou um futebolzinho medíocre e o que se via em campo era um bando de mauricinhos, com seus saltos altos e cabelos de Walking dead em temporada russa.
Veio a Costa Rica e eu cá muito desconfiado.
A seleção saiu do camarim, ops, do vestiário, com jeito diferente, mas faltando alguma coisa. Não consigo descrever, senti. Resolvi não ir à festa maravilhosa na casa de amigos como no primeiro jogo - essa reunião salvou aquele dia. Vi o segundo jogo com a patroinha, quieto em casa. Melhor escolha não poderia ter feito. Bateu uma saudade da copa de 1970, em que eu, moleque, mesmo sem entender muito, me envolvi de tal forma que jurava que ia ser um torcedor de primeira linha da camisa amarela. Não deu liga, peguei gosto não.
Por enquanto, só jogo do Galo me envolve, mexe comigo, me tira do sério.
Torcedor fervoroso do Clube Atlético Mineiro, aí sim me transformo. Grito, xingo, choro, orgulhosamente visto a camisa e certamente estarei rouco no dia seguinte. Galo na veia.
Bom, vem nosso segundo jogo da copa contra a "terrível" Costa Rica.
Já pensou quanta tradição no esporte bretão aportou em terras brasilis, em belo dia de sol, céu azul, ar puro e mar de uma beleza pouco vista de um 1895 e que rapidamente tornou-se nosso por direito e valor?
Costa Rica, um paraíso caribenho, onde ar, terra e mar são tratados com respeito. Um dos países detentor de uma das democracias mais consolidadas da América e o único da América Latina incluído na lista das 22 democracias mais antigas do mundo. Acabou com exército em 1949.
Assim, ao contrário da maioria dos países da América Central, a Costa Rica nunca vivenciou golpes de Estado e guerras civis tão comuns pelas bandas das Américas. Não posso deixar de cantar Bituca:
"São José da Costa Rica, coração civil/Me inspire no meu sonho de amor Brasil/ Se o poeta é o que sonha o que vai ser real/ Bom sonhar coisas boas que o homem faz/E esperar pelos frutos no quintal/ Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço, cadê poder ?/
Viva a preguiça viva a malícia que só a gente é que sabe ter/ Assim dizendo a minha utopia eu vou levando a vida/Eu viver bem melhor/ Doido pra ver o meu sonho teimoso, um dia se realizar."
Quanto ao futebol, sem essa, futebol é nosso. Nenhum país pode ter tudo. Pois não é que se não houvesse acréscimos iríamos amargar outro humilhante empate?
Ontem foi a gota d'água. Que nos venha a Sérvia, um país de governos bélicos e um passado recente negro e triste.
Pois a seleção deles entrou em campo como se fosse um amistoso e a nossa jogou como se treino fosse. Ganhou, que bom, mas não convenceu. Ouvi alguém chamá-la de Seleção Rivotril.
Certo, façamos um trato. Quando essas mal traçadas linhas forem lidas nossa seleção já terá enfrentado o México, em um tudo ou nada. Se for o tudo passamos para as quartas de final e prometo me desculpar por tanto ceticismo, descrença e saudade de nosso futebol arte. Se for o nada, nos restará fazer o que fizemos até agora. Vibramos mais contra a Argentina e Alemanha - aliás, comemoramos a saída dela como se fosse vitória nossa, terceirizamos a vingança, que horror. A nossa seleção estava até agora em segundo plano.
Aí meus compatriotas, só nos restará voltar para nosso campeonato brasileiro. Eu com meu Galo, você com seu Flamengo, o outro com o Corinthians dele e esperarmos quatro anos repensando o quanto o futebol é realmente nosso.
Tudo que eu quero é soltar o grito preso no peito e com orgulho comemorar um hexa. Mas não depende de nós, não é mesmo?
Pô, seleção canarinho, murmuro Cazuza para você: "Brasil mostra a tua cara quero ver quem paga/ Pra gente ficar assim./ Brasil, qual é teu negócio/ O nome do teu sócio/ Confia em mim / O meu Brasil!"
Publicado em Diário de Uberlândia, 8 de julho de 2018
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