terça-feira, outubro 9

Gente das leis






Conhece profissão mais ardilosa do que a de advogado? Quando o cara é bom, é bom mesmo e não tem aperto em situação alguma. O interessante é que não apenas em defesa de alguma causa, ele leva sua esperteza e poder de convencimento para sua vida, seu cotidiano na prosa mais simples com os amigos, nas calorosas discussões sobre qualquer assunto, política ou futebol.

Claro que há alguns que são um desastre, mas toda profissão os tem. Convivo muito com advogados, em suas mais diversas especialidades do Direito, tais como os mais tradicionais do Direito Civil, Comercial, Direito do consumidor, Direito tributário, Direito trabalhista, Previdenciário e Penal. Há também alguns bem à frente no tempo do que a maioria, que se embrenharam por novas áreas como o Direito virtual, eletrônico e o Biodireito. Este é louquíssimo e deve ser fantástico, pois tenta responder a perguntas tipo "Até que ponto devem ser utilizados recursos médicos e tecnológicos para o prolongamento da vida? Os transgênicos são realmente uma ameaça ao homem?"( Fonte: "Advogado"; Editora: Publifolha).
Ia me esquecendo: Com a dinheirama que rola não só pelos gramados, mas por todas as quadras e tabuleiros, aparece o Direito desportivo, um verdadeiro e intrincado jogo.
Ai de mim se não cito a fonte. O Direito autoral devora meu fígado.

Além dessas áreas fazem parte de meu círculo de relações, Juízes, Promotores e Defensores. Tenho na família que muito amo.
Admiro a profissão e pensei um dia em cursá-la, depois de formado em Medicina Veterinária. Porém, ficou só no querer, como muita coisa em minha vida. Muitos projetos e vontades. Estou tentando resgatar algumas antes impensáveis. Mas, o assunto aqui não sou eu, com minhas querências e pesares, são os advogados.
Ricos em histórias, muitas divertidas, outras nem tanto, em nossas longas prosas me municiam com material raro. Faço uso com a devida vênia dessa matéria prima recontando-as.

Já contei a história do bêbado que atormentou um delegado em pequena vila. Reconto o final para aqueles que já leram ou para aqueles que não. No bar, em pleno fim de semana, esse nosso amigo delegado resolveu tomar uma cerveja na única venda da currutela. Um senhor já de idade, totalmente embriagado, pegou a mangar do delegado: ─ O senhor pode me prender que eu saio, mas se eu prender o senhor sai não.
Paciencioso foi deixando. O velho ria que ria, com aquele olhar pastoso de todo bêbado (conhece algum que não o possui?).
Na tentativa de encerrar a conversa o Delegado falou firme ─ Mas afinal quem é o senhor que me prende e eu não saio!?
─ O Coveiro doutor, o coveiro. E destampou a rir que só. Foi o dia da caça, mas até o advogado delegado riu daquele tanto e trouxe a história.
Entretanto, deixaram outra que não poderia levar só comigo.

Vinha um advogado pela MS 240, beiraninho Porto Alencastro, quando do nada, em uma ligeira curva, viu um tatu prancheado no asfalto. Buscou acostamento e pegou o pobre bicho num morre não morre. Despejou água de sua garrafa companheira na cabeça do pequeno. Era um tatu galinha e esse logo virou o focinho e sorveu com sede de andarilho o litro todo.
Preocupado, colocou o bicho dentro carro e seguiu rumo. Pelo retrovisor observava que ele foi melhorando, ficando esperto daquele tanto. Foi nada não, alguns quilômetros a frente deu com bloqueio da polícia rodoviária que, lógico, o mandou parar.
─ Boa tarde senhor. Seus documentos.
─ Pois não, aí estão. Sua cabeça estava a mil por conta do bicho e do suposto crime ambiental cometido.
O policial ao contornar o carro viu o danado a pular no banco traseiro e endureceu.
─ E esse tatu? Sabe que é crime inafiançável carregar tais animais? Por favor, desça do carro.
O advogado desceu com um posso explicar já pronto. O guarda foi direto:
─ Conte a história. Se me convencer eu te libero.
─ É o seguinte seu guarda, tenho esse tatu há muito tempo e ele é até treinado.
─ Tá de sacanagem comigo?
─ Não, é verdade. É o seguinte, eu solto o bicho, ele vai longe e ai eu assobio, ele vem direto para minha mão.
─ Conversa! Isso não existe.
─ É a mais pura e sagrada verdade!
─ Bom, vamos fazer o seguinte, me prove e se for verdade te deixo ir. Combinado?
O Dr. advogado mansamente abriu a porta traseira do carro. O tatu vendo a liberdade guardou na capoeira que nem um risco, levantando poeira e embrenhou-se na mata fechada atrás de uma cerca de arame liso.
─ Muito bem, agora assobia para o tatu voltar.
O advogado, fazendo cara de paisagem, abriu os braços se fazendo de desentendido:
─ Você tá doido? Que tatu?








Publicado em Diário de Uberlândia em 07 de outubro de 2018

Nenhum comentário: