segunda-feira, fevereiro 4

Até breve


No assustar de uma manhã recebo a notícia da perda de mais um amigo. Se outro dia ainda trocávamos alfinetadas inofensivas, coisas de futebol e política sem a menor importância, mas que aproximam as pessoas pelo menos no brincar, num repente recebo telefonema de um compadre que mora em São Paulo para compartilhar o susto e o medo de amanhã aqui nesse plano já não mais estar.

Não meu amigo, minha amiga, não é nem de longe medo da morte! Essa é nossa por direito. E o dia em que nosso CPF for para alguém, ou algo lá no alto, ou lá embaixo puxar, não há quem segure. O medo é de não poder mais compartilhar de um mundo tão louco, tão confuso, mas dependendo de quem e do quanto é maravilhoso de se viver. "Morrer deve ser tão frio".

Talvez por isso criamos as religiões, para nós eximirmos da culpa da morte como destino inelutável. Alguns querem ser eternos. Nós somos eternos em nossos atos, em nossos filhos, nas árvores que plantamos, nas luas que admiramos, nas canções que cantamos, no amor a todo ser vivente que compartilhamos e, principalmente, no mal que não fazemos.

Um céu como prêmio ou um inferno como castigo, sinto muito, não dá para engolir. Somos pura energia e ai sim, quando energia que se finda nos juntamos a bilhões e bilhões de outras fontes de luz, somos feito de pó das estrelas como assim um dia disse Carl Sagan e, quando o corpo físico para seja de "susto, bala ou vício" voltamos para nossa verdadeira casa, as próprias estrelas. Sorte nossa que acreditamos no Grande Arquiteto do Universo e sua infinita criação, sem castigo ou prêmio, apenas o puro e calmo amor.

Não apenas nós, mas todo ser vivente, do mais escondido Peripatus do alto dos seus meros 1,5 cm de comprimento, ou a mais primitiva das criaturas como a velha Lampreia, ou o erado pinheiro a “árvore Matusalém” e seus 4.800 anos tem sua hora de voltar ao lar definitivo: o universo. Ilimitada fonte de energia.
Perdemos mais um amigo, bonachão, irreverente, teimoso, criador de casos, mas sempre generoso e dentro daquele imenso corpo físico uma alma do bem. Tudo defesa, tudo timidez, da teimosia à falsa arrogância. Claro, felizmente nunca foi unanimidade. E quem de nós o é? Esse misto de dor e alegria é que nós faz diferentes, alguns como nós nascemos para ironizar e debochar do establishment. Se assim não for nos algemam e nos tornamos criaturas rastejantes em lama criminosa como a de Mariana e agora de Brumadinho.

Engessados ficamos e não criamos, não contribuímos nem mesmo forma miúda para a construção de um ser humano melhor, mais caridoso, mais criativo. Nos deixem livres e voaremos ao ponto mais alto - a primeira das condições do pássaro solitário no contar de San Juan de la Cruz.

Neste particular, eu e meu querido amigo de poucos encontros físicos, mas frequentes em redes sociais, nos parecemos. Difícil colocar peia e bridão em gente como a gente. Ele mais no grito, eu mineiramente mais calado. Ambos observadores e espectadores atentos. Sentamos na mesma arquibancada ou na geral da vida. Vou sentir falta de nossas relias, nossas discordâncias em milhões de aspectos, da nossa amizade.

Lembro de você dentro de um fusca de uma rádio fazendo reportagens ao vivo! Era você e outro repórter quase do seu tamanho, a memória me fez tropeçar, não lembro o nome do cujo, era muito engraçado ver vocês tentarem entrar e sair do fusquinha. Não tinha entrevista por mais séria que fosse que não me dava acesso de riso e você ficava uma onça! Putz, foram tantas entrevistas, não foram? O tempo passou apressado e agora se achou no direito de te levar de volta ao céu. Pelo tamanho e energia, uma supernova vai explodir em intenso brilho em algum canto da imensidão.

Leva brilho aí para as galáxias, desequilibra as leis cósmicas, hora nos encontramos. Vai cara, vai bagunçar a calma do céu careta! Até um dia meu grande em todos sentidos amigo Alaor Barbosa Jr.

Não me canso de ver a sua caricatura feita pelo mestre Ziraldo e a dedicatória bem dele mesmo, sua cara, seu jeito.

Alá la ôr ô ô ô ô ô !!! Alá la ôr ô ô ô ô ô !!!






Publicado em Jornal Diário de Uberlândia em 03 de fevereiro de2019

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